O problema da mentira não é tanto o mentiroso, pois a ele cabe apenas sustentar a invencionice adicionando ponto sobre ponto ao próprio conto conforme a conveniência. Mais complicada é a situação de quem trata com condescendência a mentira na ingênua fé de que a verdade é submissa ao poder soberano dos fatos. Nem sempre.
Disso vem dando notícia o PT desde que assumiu a Presidência qualificando de “herança
maldita” o legado da estabilidade econômica, enquanto se preparava para aderir
ao festim diabólico da roubalheira patrocinado havia décadas por seus novos
companheiros de uma jornada cuja meta seria a formação de um consórcio de poder
perpétuo.
De memória fraca, a maioria ignorou um fato: o ambiente
estável foi uma conquista coletiva, decorrente da adesão do país a um plano que
o governo sozinho não teria dado conta de executar. Inexperiente no exercício
do cotejo entre palavras e atos de seus governantes, ficou indiferente às
incongruências factuais, preferindo ser feita de boba pelo falatório diário
conversor de mentiras pela via da repetição.
Assim, sob consentimento quase geral, operou Lula durante anos, antes e depois do
poder. Daí não é de surpreender a capacidade do PT de não apenas se adaptar às vicissitudes como tirar bom proveito
delas. A mentira é obra que se constrói com muita facilidade. Difícil de
destruir, entre outros motivos porque tem como alicerce a desonestidade. O
trapaceiro não tem compromisso com a regra; já larga no lucro quando é aceito
no jogo, e na dianteira fica em relação aos demais que atuam dentro de
restrições legais, morais, educacionais, sociais e/ou institucionais.
Eis a razão pela qual Lula
e o PT permanecem no centro da cena
política apesar de todos os pesares: falta de escrúpulos. Contra o desrespeito
deslavado às leis, a afronta a decisões judiciais e a ausência total de
espírito público pouco há que fazer além de aguardar que o tempo dê seu jeito.
São tão emaranhados e erráticos os caminhos do fingidor que uma hora termina
prisioneiro do próprio labirinto.
Lula e o PT montaram esse tipo de armadilha e
seguem na direção dela. Mas como, se fazem o maior sucesso? Digo como:
apostando tudo na sobrevivência da fama de uma pessoa e confessando, assim, que
o partido só tem um ativo; com isso deixando de investir nas eleições estaduais
e parlamentares, o que equivale ao enfraquecimento da legenda e consequente
perda de importância no jogo político.
O petismo já largou a ponta da toalha, pois só quem se dá
por perdido admite correr tantos riscos. Quais sejam, os de perder espaço no
horário eleitoral, ficar reduzido a representação irrisória no Congresso,
transformar a preferência nas pesquisas numa montanha de votos nulos por
insistência em candidatura nula de origem, passar à história como campeão de
derrotas na Justiça e, o risco maior de todos, ganhar a eleição sem ter como
cumprir a promessa de fazer “o Brasil
feliz de novo”.
Essa canoa já virou, e foi a benevolência geral para com os
caprichos autorreferidos do PT o que
a fez virar.
Texto de Dora Kramer
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