Como não houve notícia mais comentada e replicada nos
últimos dias do que a
novela das movimentações financeiras atípicas de Fabrício Queiroz,
duble de assessor de gabinete e motorista do deputado federal e ora senador eleito
Eduardo Bolsonaro, podemos ir direto aos finalmentes: quem foi eleito tendo o combate à corrupção
como principal mote de campanha não pode agir como os corruptos que prometeu
enquadrar.
É claro como água que por trás dos ataques contra o clã do
presidente eleito está o dedinho do PT
(*), e que a prática de contratar apaniguados para não
trabalhar e funcionários de gabinete que devolvem parte do salário aos
políticos é mais velha que a serra e tão comum quanto cachorro mijar em poste.
Aliás, não é possível aceitar que políticos possam ter tantos funcionários sem
controle de atividades, com salários altíssimos, sem nenhuma razão. Mas, de
novo: quem baseou sua campanha num discurso antilulopetismo e anticorrupção (o
que dá no mesmo) não pode alegar que fez o que todo mundo fazia. Bolsonaro e seus filhos estão em
evidência e na desconfortável posição de vidraça; para eles, o buraco é ainda mais
embaixo.
(*) Talvez seja o dedo mindinho que Lula perdeu num acidente de trabalho
pra lá de suspeito, já que o petralha nunca foi chegado no batente — clique aqui
para conferir o que diz o ex-engenheiro sênior da CSN Lewton Verri, que
conheceu o molusco eneadáctilo na década de 70 e o considera um sindicalista predador e malandro, que
traía os “cumpanhêros” começando e encerrando greves para ganhar dinheiro em
acordos espúrios, e aqui
para acessar uma postagem que revolve mais a fundo as vísceras desse caso
espúrio.
Até onde a vista alcança, ainda não se pode acusar Bolsonaro pai e Bolsonaro filho de qualquer malfeito. Mas o fato do tal assessor não apresentar uma
explicação plausível mina a confiança do eleitorado que acreditou nas promessas
de campanha do deputado capitão. A mídia está de olho, o que é bom, pois elucidar esse “mistério” é de fundamental importância, mas a imprensa cumpanhêra, que apoia a oposição ferrenha do PT e seus satélites — tipo “se hay gobierno soy contra” — quer
mais é ver o circo pegar fogo.
Não tenho procuração para defender Bolsonaro ou quem quer que seja, mas faço parte dos 75% de
brasileiros que acreditam que o país vá melhorar com o próximo governo. Afinal,
a última coisa de que precisaríamos é ser governados por um criminoso condenado
e preso — curiosamente, mesmo sendo público e notório que Haddad no Planalto seria Lula no poder, 47.038.963 de eleitores votaram boneco do ventríloquo, alegando que a vitória
de Bolsonaro ressuscitaria a
ditadura ou, no mínimo, seria uma séria ameaça à democracia, como cantam em
prosa e verso jornalistas, cientistas políticos, sociólogos, filósofos e outros
cérebros que habitam o bioma superior de Nova York ou Paris e dão a si próprios
a incumbência de explicar o mundo às mentes menos desenvolvidas.
Segundo Flávio
Bolsonaro, "há suspeitas nas
movimentações financeiras de assessores de vários partidos, incluindo o PSOL, mas a mídia só ataca a mim"
— o que não deixa de ser verdade, mas até aí morreu o Neves. Na quarta, 12, Bolsonaro
pai afirmou que, "se algo estiver errado, que paguemos a conta".
Ambos afirmaram em algum momento que os esclarecimentos do assessor se dariam ao
Ministério Público, mas seria melhor
para todos se o imbróglio fosse esclarecido o quanto antes, pois a suspeita que
paira sobre o clã arranha a reputação do presidente eleito antes mesmo de sua
posse (no famoso episódio envolvendo Francenildo
dos Santos Costa, acusado doze anos atrás de ter sido subornado para delatar
o Palocci, a origem do dinheiro foi esclarecida em questão de horas e Lula não teve alternativa que não exonerar o superministro).
Quando há justificativa, os fatos falam. Quando não há, as versões
sussurram e as suspeitas prosperam. Nos bastidores do Congresso, comenta-se que
nem Bolsonaro pai nem Bolsonaro filho conseguiram até o
momento dar uma explicação que estanque o prejuízo político gerado pelo caso, enquanto a oposição já sonha com a primeira CPI da
nova administração. Para além disso, o episódio tira a força de Flávio Bolsonaro na sua estreia no
Senado e traz implicações diretas nas articulações para a eleição do novo
presidente da Casa — sua fragilização fortalece
Renan Calheiros, que diz não ser
candidato e que a definição sobre quem postulará o posto só se dará na véspera
do pleito, mas vem atuando nos bastidores para viabilizar seu nome. O governo de
transição repudia o retorno do cangaceiro das Alagoas ao
comando do Congresso Nacional, e já articula uma candidatura alternativa,
na qual o nome mais forte é o do tucano Tasso
Jereissati.
Há mais elementos que aumentam as suspeitas do caso Fabrício: sete outros assessores que
estão ou foram vinculados ao gabinete do senador eleito, na ALERJ, realizaram depósitos na conta do dito-cujo, e a maior parte desses depósitos ocorreu em
datas próximas ao dia de pagamento dos funcionários da Assembleia. O relatório
do COAF identificou ainda transações
consideradas "atípicas" de assessores de outros 20 deputados da ALERJ de diferentes partidos, entre
eles PT, PSC e PSOL.
Nas redes sociais, Flávio
Bolsonaro se diz angustiado, e que é o maior interessado em que
tudo se esclareça “para ontem”. Com efeito. O estrago que as acusações podem gerar na base
de apoio ao futuro governo é reconhecido até mesmo por deputados que apoiam o
presidente eleito. "Se não ficar bem
esclarecido no recesso, a oposição já inaugura 1º de fevereiro com um pedido de
CPI", alerta o deputado Sóstenes Cavalcante.
Em entrevista ao ESTADO, a também
deputada eleita Janaína Paschoal, coautora
do pedido de impeachment da
rainha bruxa do Castelo do Inferno, defendeu a investigação do caso.
"Vamos apurar e o que tiver de ser
será. Não é isso que o presidente [Bolsonaro]
sempre fala? Que não temos que ter medo da verdade? Seja ela qual for. Nosso
País tem que amadurecer".
Comenta-se à boca pequena que Fabrício reaparecerá nos próximos dias e, ao que
tudo indica, sua versão da história deverá eximir Flávio Bolsonaro e o restante do clã de
qualquer responsabilidade. Os elementos colhidos até aqui pelos investigadores
apontam, porém, para uma prática conhecida nas sombras das casas legislativas, na qual funcionários de gabinetes são instados a devolver uma parte do salário como contrapartida à própria contratação. O dinheiro, na maioria dos
casos, é usado para bancar despesas dos titulares dos mandatos.
Para não
estender ainda mais este texto, volto ao assunto na próxima postagem.