Em pouco mais de 3 meses, o governo federal já perdeu dois ministros e caminha para a terceira baixa.
A primeira, articulada por zero dois
— que é vereador no Rio, mas age como eminência parda no Planalto — foi a exoneração
de Gustavo Bebianno da secretaria-geral
da Presidência, e a segunda, de Ricardo
Vélez do Ministério da Educação. A terceira, pelo frigir dos ovos e o andar
da carruagem, deve ser a de Ernesto
Araújo do Itamaraty.
A meu ver, nenhum desses atores fará a menor falta ao espetáculo tacanho que a atual gestão nos vem proporcionando. O que me preocupa é a possibilidade de Paulo Guedes abandonar o barco. No último dia 27, numa comissão do Senado, o ministro declarou, sem ser perguntado, que não tem apego ao cargo e que sairá de cena se notar que seu "serviço" não é desejado (volto a esse assunto mais adiante).
A meu ver, nenhum desses atores fará a menor falta ao espetáculo tacanho que a atual gestão nos vem proporcionando. O que me preocupa é a possibilidade de Paulo Guedes abandonar o barco. No último dia 27, numa comissão do Senado, o ministro declarou, sem ser perguntado, que não tem apego ao cargo e que sairá de cena se notar que seu "serviço" não é desejado (volto a esse assunto mais adiante).
Na última sexta-feira, ao
suspender o reajuste que a Petrobras
havia anunciado para o óleo diesel e infligir à petrolífera uma perda
de R$ 3,4 bilhões em valor de mercado, Bolsonaro testou mais uma vez a paciência de Guedes. Apesar do dia positivo no exterior, o Ibovespa caiu a 92.875 pontos — menor nível desde 27 de março,
quando a preocupação era a reforma da Previdência —, e isso depois de ter quebrado
a barreira dos 100 mil pontos no dia 19 de março passado.
A decisão do presidente foi uma consequência direta da pressão dos caminhoneiros. Relatórios da Abin indicavam uma “preocupação” com uma nova greve, e Bolsonaro foi convencido por assessores palacianos de que a paralisação traria mais problemas políticos do que uma intervenção no preço do diesel. Nesta segunda-feira, haverá uma reunião com ministros e pessoal da área técnica para discutir demandas dos caminhoneiros e propor à Petrobras a ampliação da rede de decisão de aumento de preços de combustíveis — hoje, o gerente executivo de comercialização da estatal tem alçada para definir reajustes de até 7%.
A decisão do presidente foi uma consequência direta da pressão dos caminhoneiros. Relatórios da Abin indicavam uma “preocupação” com uma nova greve, e Bolsonaro foi convencido por assessores palacianos de que a paralisação traria mais problemas políticos do que uma intervenção no preço do diesel. Nesta segunda-feira, haverá uma reunião com ministros e pessoal da área técnica para discutir demandas dos caminhoneiros e propor à Petrobras a ampliação da rede de decisão de aumento de preços de combustíveis — hoje, o gerente executivo de comercialização da estatal tem alçada para definir reajustes de até 7%.
A política de reajustes diários implementada por Michel Temer desencadeou a greve do ano
passado. O formato atual leva em consideração a cotação internacional do
petróleo, o câmbio, o custo de importação do combustível e a margem de lucro da
empresa. Como o preço caiu no último trimestre de 2018, a pressão dos
caminhoneiros também amainou, mas voltou a orbitar
os US$ 70 neste começo de ano — o mesmo patamar de maio do ano passado, quando eclodiu o protesto. Com
isso, rumores de uma nova paralisação recomeçaram e não cessaram nem mesmo após o
anúncio de ajustes mais espaçados e de um cartão de abastecimento a
preços fixos. E a divulgação de um reajuste maior que a inflação acirrou os
ânimos, levando Bolsonaro a interferir, até porque sua popularidade cadente não
resistiria aos efeitos deletérios de outra greve daquela magnitude. Por outro
lado, ao ceder à chantagem, a vítima assume o risco de novos achaques do chantagista, que aumentará cada vez mais suas exigências. Se às vezes é preciso
dar os anéis para não perder os dedos, noutras se deve ser duro e tomar medidas duras
para “colocar cada qual no seu quadrado”.
Durante a campanha, Bolsonaro
disse “estar na fase de namoro” com seu "Posto Ipiranga". Mais adiante, declarou-se
“apaixonado” por Fernando Gabeira, que, com argumentação
moderada, procurava pontes de entendimento. Na viagem a Israel, ao justificar
que seu governo só levava um escritório a Jerusalém, disse estar “na fase de namoro”, à qual se
sucederiam o noivado e o casamento. Na mesma viagem, falando sobre a ditadura (aquela
que agora sabemos nunca ter existido), afirmou que “não foi uma maravilha, regime nenhum é”, e acrescentou: “qual casamento é uma maravilha?”. Na
semana retrasada, durante um café da manhã com jornalistas, perguntado sobre a
possível exoneração de Ricardo Vélez,
respondeu: “Na segunda-feira vamos tirar
a aliança da mão direita; ou vai para a esquerda ou vai para a gaveta”.
Segundo Josias de
Souza, o "casamento hétero"
que Bolsonaro diz manter com Paulo Guedes é o triunfo da esperança
sobre a lógica, pois o presidente parece empenhado em reforçar a impressão de que
a felicidade conjugal é uma utopia. Sua
decisão sobre o aumento do diesel foi a segunda bola quadrada lançada nas
costas do superministro em 100 dias de governo — a primeira foi a desavença
gratuita que eletrificou as relações do Planalto com o presidente da Câmara,
que não serviu senão como estorvo à tramitação da reforma da Previdência. No
mais novo desafio à paciência do ministro, o presidente insinua que a
felicidade conjugal só é possível a três. O intervencionismo do capitão trai o
ultraliberalismo do velho de Chicago numa aventura extramatrimonial com os
caminhoneiros: o telefonema ao presidente da Petrobras foi dado justamente quando seu ministro vendia o
"novo Brasil" em Nova York.
Observação: Perguntado sobre o assunto, Guedes respondeu que passara o dia
inteiro trabalhando e que não tinha informação suficiente. Questionado sobre
ter sido consultado, disse simplesmente: “Eu
tenho um silêncio ensurdecedor para os senhores”. Mesmo assim, ficou a impressão de "inferência
razoável" a suposição de que Bolsonaro
não consultou seu ministro antes de intervir na política de preços da petrolífera.
Ao perceber que a economia não aguenta desaforos, Bolsonaro tentou enquadrar seu ato
institucional num ambiente de normalidade econômica: "Nossa política é de mercado aberto e de não intervenção na
economia." Bolsonaro ensaiou a coreografia de um meia-volta, volver:
"O presidente da Petrobras, após nos ouvir, suspendeu temporariamente o
reajuste. Convoquei os responsáveis pela política de preços para reunião, junto
com os ministros da Economia, Infraestrutura e Minas e Energia." Mesmo
assim, o presidente produziu uma inarredável sensação de déjà-vu ao evocar o represamento dos preços de combustíveis e outras
tarifas públicas do nada saudoso governo Dilma.
Outra greve de caminhoneiros poderia acelerar ainda mais a
queda de popularidade do governo, mas intervenções como a de sexta-feira podem
levar a equipe econômica a abandonar o barco. É imperativo, portanto, deixar
patente que o episódio foi pontual e que as ingerências não se tornarão
recorrentes — aliás, foi a mudança na política de preços para atender aos caminhoneiros
que levou Pedro Parente a
deixar a presidência da Petrobras,
em junho do ano passado. O governo precisa usar de criatividade para reduzir a
volatilidade do petróleo, quiçá criando um fundo de estabilização, flexibilizando os impostos, quebrando o monopólio de refino da estatal e/ou chamando a atenção dos governadores para o fato de que as
alíquotas de ICMS são absurdas.
A despeito de repetir que não entende de economia — o que é
a mais pura exaltação do óbvio —, Bolsonaro
afirmou a jornalistas que quer ver detalhes de como é calculado o reajuste dos
combustíveis e qual o custo de produção da Petrobras.
Como dizia meu finado avô, muito faz quem não atrapalha.