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segunda-feira, 15 de abril de 2019

SOBRE BOLSONARO, PAULO GUEDES, PETROBRÁS E CAMINHONEIROS


Em pouco mais de 3 meses, o governo federal já perdeu dois ministros e caminha para a terceira baixa. A primeira, articulada por zero dois — que é vereador no Rio, mas age como eminência parda no Planalto — foi a exoneração de Gustavo Bebianno da secretaria-geral da Presidência, e a segunda, de Ricardo Vélez do Ministério da Educação. A terceira, pelo frigir dos ovos e o andar da carruagem, deve ser a de Ernesto Araújo do Itamaraty.

A meu ver, nenhum desses atores fará a menor falta ao espetáculo tacanho que a atual gestão nos vem proporcionando. O que me preocupa é a possibilidade de Paulo Guedes abandonar o barco. No último dia 27, numa comissão do Senado, o ministro declarou, sem ser perguntado, que não tem apego ao cargo e que sairá de cena se notar que seu "serviço" não é desejado (volto a esse assunto mais adiante).

Na última sexta-feira, ao suspender o reajuste que a Petrobras havia anunciado para o óleo diesel e infligir à petrolífera uma perda de R$ 3,4 bilhões em valor de mercado, Bolsonaro testou mais uma vez a paciência de Guedes. Apesar do dia positivo no exterior, o Ibovespa caiu a 92.875 pontos — menor nível desde 27 de março, quando a preocupação era a reforma da Previdência —, e isso depois de ter quebrado a barreira dos 100 mil pontos no dia 19 de março passado.

A decisão do presidente foi uma consequência direta da pressão dos caminhoneiros. Relatórios da Abin indicavam uma “preocupação” com uma nova greve, e Bolsonaro foi convencido por assessores palacianos de que a paralisação traria mais problemas políticos do que uma intervenção no preço do diesel. Nesta segunda-feira, haverá uma reunião com ministros e pessoal da área técnica para discutir demandas dos caminhoneiros e propor à Petrobras a ampliação da rede de decisão de aumento de preços de combustíveis — hoje, o gerente executivo de comercialização da estatal tem alçada para definir reajustes de até 7%.

A política de reajustes diários implementada por Michel Temer desencadeou a greve do ano passado. O formato atual leva em consideração a cotação internacional do petróleo, o câmbio, o custo de importação do combustível e a margem de lucro da empresa. Como o preço caiu no último trimestre de 2018, a pressão dos caminhoneiros também amainou, mas voltou a orbitar os US$ 70 neste começo de ano — o mesmo patamar de maio do ano passado, quando eclodiu o protesto. Com isso, rumores de uma nova paralisação recomeçaram e não cessaram nem mesmo após o anúncio de ajustes mais espaçados e de um cartão de abastecimento a preços fixos. E a divulgação de um reajuste maior que a inflação acirrou os ânimos, levando Bolsonaro a interferir, até porque sua popularidade cadente não resistiria aos efeitos deletérios de outra greve daquela magnitude. Por outro lado, ao ceder à chantagem, a vítima assume o risco de novos achaques do chantagista, que aumentará cada vez mais suas exigências. Se às vezes é preciso dar os anéis para não perder os dedos, noutras se deve ser duro e tomar medidas duras para “colocar cada qual no seu quadrado”.  

Durante a campanha, Bolsonaro disse “estar na fase de namoro” com seu "Posto Ipiranga". Mais adiante, declarou-se “apaixonado” por Fernando Gabeira, que, com argumentação moderada, procurava pontes de entendimento. Na viagem a Israel, ao justificar que seu governo só levava um escritório a Jerusalém, disse estar “na fase de namoro”, à qual se sucederiam o noivado e o casamento. Na mesma viagem, falando sobre a ditadura (aquela que agora sabemos nunca ter existido), afirmou que “não foi uma maravilha, regime nenhum é”, e acrescentou: “qual casamento é uma maravilha?”. Na semana retrasada, durante um café da manhã com jornalistas, perguntado sobre a possível exoneração de Ricardo Vélez, respondeu: “Na segunda-feira vamos tirar a aliança da mão direita; ou vai para a esquerda ou vai para a gaveta”.

Segundo Josias de Souza, o "casamento hétero" que Bolsonaro diz manter com Paulo Guedes é o triunfo da esperança sobre a lógica, pois o presidente parece empenhado em reforçar a impressão de que a felicidade conjugal é uma utopia. Sua decisão sobre o aumento do diesel foi a segunda bola quadrada lançada nas costas do superministro em 100 dias de governo — a primeira foi a desavença gratuita que eletrificou as relações do Planalto com o presidente da Câmara, que não serviu senão como estorvo à tramitação da reforma da Previdência. No mais novo desafio à paciência do ministro, o presidente insinua que a felicidade conjugal só é possível a três. O intervencionismo do capitão trai o ultraliberalismo do velho de Chicago numa aventura extramatrimonial com os caminhoneiros: o telefonema ao presidente da Petrobras foi dado justamente quando seu ministro vendia o "novo Brasil" em Nova York.

Observação: Perguntado sobre o assunto, Guedes respondeu que passara o dia inteiro trabalhando e que não tinha informação suficiente. Questionado sobre ter sido consultado, disse simplesmente: “Eu tenho um silêncio ensurdecedor para os senhores”. Mesmo assim, ficou a impressão de "inferência razoável" a suposição de que Bolsonaro não consultou seu ministro antes de intervir na política de preços da petrolífera.

Ao perceber que a economia não aguenta desaforos, Bolsonaro tentou enquadrar seu ato institucional num ambiente de normalidade econômica: "Nossa política é de mercado aberto e de não intervenção na economia." Bolsonaro ensaiou a coreografia de um meia-volta, volver: "O presidente da Petrobras, após nos ouvir, suspendeu temporariamente o reajuste. Convoquei os responsáveis pela política de preços para reunião, junto com os ministros da Economia, Infraestrutura e Minas e Energia." Mesmo assim, o presidente produziu uma inarredável sensação de déjà-vu ao evocar o represamento dos preços de combustíveis e outras tarifas públicas do nada saudoso governo Dilma.

Outra greve de caminhoneiros poderia acelerar ainda mais a queda de popularidade do governo, mas intervenções como a de sexta-feira podem levar a equipe econômica a abandonar o barco. É imperativo, portanto, deixar patente que o episódio foi pontual e que as ingerências não se tornarão recorrentes — aliás, foi a mudança na política de preços para atender aos caminhoneiros que levou Pedro Parente a deixar a presidência da Petrobras, em junho do ano passado. O governo precisa usar de criatividade para reduzir a volatilidade do petróleo, quiçá criando um fundo de estabilização, flexibilizando os impostos, quebrando o monopólio de refino da estatal e/ou chamando a atenção dos governadores para o fato de que as alíquotas de ICMS são absurdas.

A despeito de repetir que não entende de economia — o que é a mais pura exaltação do óbvio —, Bolsonaro afirmou a jornalistas que quer ver detalhes de como é calculado o reajuste dos combustíveis e qual o custo de produção da Petrobras. Como dizia meu finado avô, muito faz quem não atrapalha.

terça-feira, 5 de junho de 2018

GREVE DOS CAMINHONEIROS ― O RESCALDO



Além de causar muita aporrinhação à população e um prejuízo bilionário à frágil economia tupiniquim, a paralisação dos caminhoneiros expôs a pusilanimidade de um presidente que assumiu o cargo como reformista, mas, sem apoio popular, cercado por assessores do quilate de Padilha, Moreira Franco e Marun e com as vísceras expostas pelas denúncias da JBS, ora claudica melancolicamente em direção a um futuro incerto, sem foro privilegiado nem a aura de poder que atrai os puxa-sacos de plantão.

Temer e seus asseclas não deram a devida importância à bomba de efeito retardado construída nos governos lulopetistas e armada quando Pedro Parente assumiu a presidência da Petrobras e alterou a política de preços dos combustíveis ― só nos últimos 3 meses, o diesel aumentou 11,8%. Assim, nem bem reconquistou o primeiro lugar no ranking das empresas de maior valor de mercado, a estatal ― que durante o governo Dilma amargou prejuízos de US$ 70 bilhões (50 bilhões por vender combustíveis abaixo do preço de custo e outros 20 bilhões devido à rapinagem do Petrolão) ―, a estatal perdeu quase 1/3 de seu valor de mercado e caiu da primeira para a quarta posição no ranking das empresas brasileiras mais valorizadas (ficando atrás da Ambev, Vale e Itaú/Unibanco).

Em meio aos esforços para se alcançar a composição com os caminhoneiros, Marcio França, atual governador de São Paulo e candidato à reeleição, propôs o tabelamento do preço do diesel (reduzido) e dos fretes (aumentado) ― nunca é demais lembrar que vários governos tabelaram muita coisa no Brasil, e o resultado foram escassez de produtos, preços em alta e fortalecimento do mercado paralelo. Para o governador, não é possível uma empresa brasileira, que também pertence aos brasileiros, “querer pensar em dólar”. Só que não se trata de “querer pensar”: a Petrobras compra em dólar, vende em dólar, toma empréstimos e recebe investimentos em dólar ― não porque quer, mas porque não tem como fazer isso apenas em reais.

Seja como for, o movimento paredista só foi debelado depois que o governo federal cedeu mais do que deveria ou poderia. E com a Petrobras vendendo diesel subsidiado, o futuro é incerto ― certo mesmo é que reduzir impostos sobre o diesel significa subsidiar o combustível, o que gera uma receita a menos e uma despesa a mais, deixando ao governo duas opções: aumentar impostos de outros setores ou reduzir gastos. 

Os ministros afirmam que não haverá aumento de impostos, mas sim uma “redução de incentivos” ― o que, em última análise, significa retirar um incentivo para subsidiar outro. Mas não importa o nome que se dê: no final das contas, é o contribuinte quem vai bancar o prejuízo, embora já trabalhe 5 meses por ano para pagar impostos.

Enquanto a Petrobras for “nossa”, estaremos condenados a comprar gasolina de qualidade inferior a preços exorbitantes. No dia em que a empresa deixar de ser “nossa”, o cenário certamente mudará. Basta lembrar o que aconteceu com o telefone, que era artigo de luxo quando controlado pelas “Teles” do grupo Telebras. Bastou que elas fossem privatizadas ― ou entregues ao “capitalismo malvado”, como gostam de dizer os apedeutas vermelhos ― para que o serviço ficasse ao alcance de todos, inclusive dos mais humildes.

Observação: Até a virada do século, era preciso aderir a um famigerado “plano de expansão”, vinculado à compra de ações do execrável Sistema Telebras, para se candidatar a uma linha telefônica (que era considerada um “bem” e, portanto, tinha de contar da declaração de imposto de renda). Além de caro, o serviço era de péssima qualidade. O prazo para a instalação (24 meses) raramente era cumprido, o que fazia a felicidade dos cambistas que atuavam no mercado negro de telefones. Na cidade marajoara de Cachoeira do Arari, no Pará, dez munícipes que aderiram ao plano de expansão esperaram 15 anos pela instalação das linhas. Alguns nem tiveram o gostinho de fazer uma chamada, pois morreram anos antes de a Telepará cumprir sua parte no contrato. Mesmo assim, há quem se declare contra as privatizações.

Além de expor a fragilidade do governo, a irresponsabilidade da oposição e a aridez de ideias dos presidenciáveis, a crise resultante da greve dos caminhoneiros levou a compras exageradas nos supermercados, estoques domésticos, filas nervosas nos postos de combustível ― teve muito comportamento na base de cada um por si. Cabem nessa categoria as greves e manifestações oportunistas. Governo fraco, cedendo, também vou buscar o meu ― tal foi o comportamento de muita gente. E isso sem mencionar a demissão de Pedro Parente e a ação de “intervencionistas”, que, por questão de espaço, ficam para a próxima postagem.

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segunda-feira, 4 de junho de 2018

MAIS UMA VITÓRIA DO ATRASO



ANTES DA MATÉRIA DO DIA, SEGUE BREVE ADITAMENTO AO POST ANTERIOR:

Mensagens dando conta de uma nova greve dos caminhoneiros, supostamente nesta segunda-feira, vem sendo propagada em tom alarmista nas redes sociais e pelo WhatsApp. Algumas associações que estiveram à frente do movimento encerrado no final da semana afirmaram não estar envolvidas em uma nova greve, mas um grupo reduzido de caminhoneiros autônomos se reuniu ontem, em Brasília, a pretexto de articular uma possível manifestação ou greve. O motivo seria um suposto veto presidencial à redução de R$ 0,46 no preço do diesel ― segundo fontes oficiais, não houve veto algum e a medida já entrou em vigor. O governo assegura que as mensagens não passam de boatos, e que, a princípio, não renovaria o decreto de Garantia da Lei e da Ordem que permitiu às Forças Armadas agir na greve dos caminhoneiros. Mas, pelo sim ou pelo não, monitora a situação, a despeito de ter publicado nas redes sociais um vídeo no qual nega uma nova greve de caminhoneiros

A demissão de Pedro Parente (*) da presidência da Petrobras foi uma baixa importante na guerra que as forças do atraso travam contra o País. Nas circunstâncias em que se deu, não representou apenas a perda de um valoroso colaborador do governo, mas principalmente o triunfo dos que parasitam o Estado e sabotam todos os esforços daqueles que trabalham duro para impor alguma racionalidade à administração dos escassos recursos públicos.

Fossem as coisas diferentes, o governo não aceitaria a saída de Parente, cuja retidão moral e capacidade profissional não serão encontradas em quase nenhuma sala do entorno da Presidência da República. O executivo foi responsável pela notável recuperação da Petrobras, que havia sido destroçada pelos governos lulopetistas. Naquela trevosa época, a estatal transformou-se na petrolífera mais endividada do mundo, à beira do colapso, quando passou a funcionar como máquina de dinheiro para financiar o populismo do PT, que se manifestou tanto na forma de subsídio para os combustíveis como na participação em empreendimentos controvertidos e mal planejados. O pressuposto era que o papel da empresa ― “estratégico”, como não se cansam de dizer os empulhadores ― era servir como motor do desenvolvimento nacional. O tal desenvolvimento não veio ― em lugar disso, o que essa política doidivanas gerou foi a ruína da maior empresa do País.

Munido de liberdade de ação, Parente pôde implementar uma administração austera e dinâmica, que em pouco tempo reequilibrou as finanças da Petrobras ― por meio da venda de ativos e, principalmente, de uma política de preços que dispensava os subsídios, por respeitar as variações de mercado. A greve dos caminhoneiros, contudo, colocou essa política na berlinda, pois a principal reivindicação do movimento era o restabelecimento do subsídio.

Diante da hesitação do Palácio do Planalto, que tremeu em razão das consequências de uma greve que não conseguiu prever nem soube conter, Parente ainda fez o possível para que o governo ganhasse tempo para negociar um acordo ― que, ao final, se revelou uma verdadeira capitulação ao movimento paredista. Em sua carta de demissão, ele deu a entender que a decisão do governo de restabelecer o subsídio, sem dar suporte firme para manter a política de preços por ele implementada, foi o fator preponderante para sua saída. “Diante desse quadro, fica claro que a minha permanência na presidência da Petrobras deixou de ser positiva”, escreveu Parente.

Ao aceitar a demissão, o presidente Temer também deu uma vitória aos petroleiros que haviam deflagrado uma greve política, na qual exigiam justamente a saída do executivo. E nem é preciso dizer que a decisão foi celebrada por todos os que trabalham incansavelmente em favor do subdesenvolvimento travestido de “justiça social”. “Já vai tarde”, disse Guilherme Boulos, candidato a presidente pelo PSOL. “Era o que a sociedade esperava”, declarou o presidente do Senado, Eunício Oliveira. “Finalmente!”, tuitou o PT.

Enquanto o governo perde quadros de imenso valor ― antes de Parente, Maria Silvia Bastos Marques deixou o BNDES depois que o governo lhe sonegou apoio contra os que sabotavam sua política de reorganização do banco ―, personagens notórios mais por escândalos que por capacidade administrativa continuam prestigiados no Palácio do Planalto. Nada disso augura um bom futuro. Nem para o governo, nem para o País.

sexta-feira, 25 de maio de 2018

SOBRE A PARALISAÇÃO DOS CAMINHONEIROS.



A paralisação dos caminhoneiros entra hoje em seu quinto dia. Como sói acontecer sempre que determinadas categorias realizam protestos, quem toma na tarraqueta é o povo, embora a “pressão” devesse ser dirigida ao governo federal, aos responsáveis pelas estatais, aos sindicatos patronais e aos donos de escolas particulares ― refiro-me à paralisação dos professores, na última quarta-feira, que deixou os alunos sem aulas, a despeito das caras mensalidades pagas pelos pais ou responsáveis, enquanto os donos dos estabelecimentos de ensino, ao que parece, não estavam nem aí.

Como sempre, quem “arde” é a população, pois as consequências imediatas desse lockout são congestionamentos monstruosos nas rodovias e marginais, filas quilométricas em postos de combustível, ágio no preço do litro cobrado nas bombas, caos no transporte coletivo urbano, atrasos e cancelamentos de voos nos principais aeroportos do país, desabastecimento nos entrepostos de alimentos (notadamente hortifrutigranjeiros), elevação de até 600% no preço de produtos como como cebola, batata, cenoura etc. nas feiras, sacolões e supermercados, e por aí vai.

Para tentar acabar com as manifestações, o presidente da Petrobras, Pedro Parente, anunciou na noite da última quarta-feira uma redução de 10% no preço do diesel nas refinarias, que seria mantida por 15 dias. Ele avalia que a medida resultará numa queda de 23 centavos no preço do litro nas refinarias e de 25 centavos para os consumidores, mas deixa claro que não produzirá efeitos sobre o preço da gasolina. Ainda segundo Parente, a petroleira não cedeu a pressões de movimentos sociais ou mesmo do governo federal, apenas reduziu temporariamente o preço do óleo como gesto de boa vontade, “para que o governo se entenda com os caminhoneiros”. Tá, me engana que eu gosto.

Os Correios ― que já foram considerados um “ponto fora da curva” na ineficiência das estatais tupiniquins, mas vêm prestando um serviço de merda de uns tempos a esta parte ― já suspenderam os serviços de postagem com dia e hora marcados (Sedex 10, 12 e Hoje) e avisaram que, enquanto perdurarem os efeitos dessa greve, haverá atraso nas entregas do Sedex do PAC e das correspondências em geral. Vai ser um festival de contas de consumo e boletos chegando após a data de vencimento, e o ônus (multas, juros de mora, etc.), como de costume, ficará a cargo do consumidor, que é “o último a falar e o primeiro a apanhar”.

A Câmara já aprovou a redução do PIS/COFINS sobre o diesel, mas falta o Senado votar a medida. Só que os senhores senadores debandaram para "suas bases" já na quinta-feira, insensíveis à situação caótica do país. Parece que Eunício Oliveira, que já havia embarcado para o Ceará, achou por bem voltar e marcar uma reunião de lideranças na noite de quinta-feira, mas até agora isso é tudo que eu sei (até porque estou escrevendo este texto no final da tarde da quinta-feira).

O presidente da Associação Brasileira dos Caminhoneiros afirmou nesta quinta-feira que os protestos continuarão até que a isenção da alíquota PIS/COFINS seja publicada no Diário Oficial da União. Segundo ele disse entrevista à rádio BandNews, a redução de 10% na cotação do diesel, anunciada na noite de quarta-feira pela Petrobras, não resolve a situação.

Cabe a Michel-Pato-Manco-Temer, seus assessores e conspícuos congressistas tomarem uma atitude, e com máxima urgência, pois não é admissível deixar o país paralisado por conta de um lockout como esse. No Planalto, há quem acredite que o desabastecimento de alimentos e combustíveis levará o povo às ruas, como em 2013. O temor é que, com a pressão popular, o Congresso vire uma panela de pressão e a reeleição de aliados fique comprometida. Até o início da Copa, governistas querem passar ao largo da crise. Então, por que não fazem alguma coisa?

Triste Brasil.

Atualização:

Governo e representantes de caminhoneiros anunciaram na noite de ontem um acordo para suspender greve. Mesmo assim, protestos seguem em ao menos 7 dos 26 estados e no DF. O acesso ao porto de Santos continua bloqueado, e a cidade de São Paulo não tem rodízio nem coleta de lixo. Ainda que o movimento termine hoje, levará dias até que o abastecimento e as rotinas voltem ao normal, sem mencionar os danos irreparáveis, como alimentos jogados fora, animais mortos de inanição nas estradas e pacientes que ficaram sem remédios. A conta de quanto o país perdeu nos últimos dias ainda será feita. A única já computada é a da Petrobras, que, depois que cedeu à pressão e reduziu o preço do diesel, perdeu 45 bilhões de reais na bolsa, na última quinta-feira.

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sexta-feira, 27 de maio de 2016

SOBRE DILMA, O “CASO GEMINI” E OUTRAS CONSIDERAÇÕES

CONFORME EU DISSE HÁ ALGUNS DIAS, O CASO DA GEMINI ― nebulosa parceria entre a Petrobras e a White Martins para produzir e comercializar gás natural liquefeito (GNL) ― é ainda mais delicado para Dilma que o de Pasadena. Primeiro, porque a maracutaia se deu quando ela era ministra de Minas e Energia do governo Lula e presidia o Conselho de Administração da Petrobras; segundo, porque inúmeras provas documentais irrefutáveis dão conta de que ela foi enfaticamente alertada sobre a rapinagem que estava sendo praticada na área que comandava. Dizer que não sabia não convenceria nem mesmo a finada Velhinha de Taubaté, e ainda que assim não fosse, só comprovaria (mais uma vez) sua total incompetência para exercer tão destacadas funções no governo (para mais detalhes sobre esse episódio, clique aqui).

E para atrapalhar ainda mais o sono dessa senhora ― que, vale lembrar, perderá o direito a foro privilegiado quando for definitivamente defenestrada ―, o episódio GEMINI é alvo de denúncia formal nos EUA, onde já está sendo analisado pela Securities and Exchange Commission norte-americana.

O mais curioso é que, mesmo assim, Dilma continua insistindo na tresloucada tese do “golpe” ― besteirol aplaudido pela “militância” que tanto a admira ―, como se ela não fizesse parte de um partido corrupto que há mais de uma década patina em sucessivos escândalos, não tivesse sido eleita e reeleita em campanhas financiadas com dinheiro sujo, e o crime que originou seu impeachment não fosse previsto em lei e seus ritos não tivessem sido chancelados pelo STF. Em síntese: falar em “golpe” a esta altura do campeonato, é afrontar a Câmara, o Senado e a nossa mais alta Corte de Justiça.

Todavia, em se tratando da mulher sapiens, admiradora do ET de Varginha e das Galáxias do Rio de Janeiro, nefelibata da mandioca e estocadora de vento, tudo é possível, até mesmo chegar à presidência do Brasil das Maravilhas. Falando nisso, é difícil entender por que o molusco de nove dedos, que deixou o Planalto com a popularidade nas alturas e, portanto, podia ter indicado praticamente qualquer pessoa para sucedê-lo, foi escolher justamente Dilma Vana Rousseff. Dizem que a criatura conhece segredos cabeludos do criador (e vice-versa), mas eu não sei até que ponto... Enfim, o fato é que, à luz de sua trajetória política (*), Dilma jamais deveria ter sido eleita presidente de coisa alguma, e muito menos reeleita. Aliás, só mesmo ela, que sempre se esmerou em não perder uma única oportunidade de errar, não enxergou o tamanho da encrenca que estava criando para si própria ao “fazer o diabo” para se manter no trono por mais quatro anos.

Dos 54,5 milhões de eleitores que votaram nessa fraude – fato que a presidanta não deixa de mencionar sempre que se refere ao “golpe” que resultou no seu afastamento ― não há muito o que dizer, pois, tirando os petistas de carteirinha, os demais que votaram nela foram engabelados pelo mais escandaloso caso de estelionato eleitoral da nossa história.

(*): Sem saber atirar, Dilma virou modelo de guerrilheira; sem ter sido vereadora, virou secretária municipal; sem passar pela Assembleia Legislativa, virou secretária de Estado, sem estagiar no Congresso, virou ministra; sem ter inaugurado nada de relevante, faz posse de gerente de país; sem saber juntar sujeito e predicado, virou estrela de palanque, e sem ter tido um único voto na vida, virou candidata à Presidência.

Por ter ocupado cargos gerenciais na maior parte da sua “vida pública”, a imprestável aprendeu a mandar e logo agregou às suas muitas “virtudes” o pedantismo, a arrogância e a agressividade. Subordinados afirmam que ela queria tudo “para ontem” e achava que entendia de qualquer assunto (“Te dou meio segundo para me trazer essa informação”; “O que ocê tá falando é besteira”; “Ocês só fazem merda, pô!”, e por aí afora). Se contrariada, interrompia prontamente o interlocutor (“Ô, ô, querido, negativo, pode parar já!), e em seus rompantes de fúria, chegava a atirar objetos nas pessoas (grampeadores do seu gabinete tiveram de ser repostos incontáveis vezes). Segundo um de seus assessores mais próximos, ela “jamais disputou uma prévia nem enfrentou uma campanha antes de virar presidente; recebeu o cargo numa bandeja e não teve de aprender a seduzir”. Nos dias que precederam o desembarque do PMDB do governo, ao sugerir que a chefa pedisse ajuda a Michel Temer, o esbirro Jaques Wagner obteve a seguinte resposta: Nunca ouvi uma ideia mais ridícula”.

Mas nada disso fará com que a mulher sapiens deixe de achar sua deposição injusta e, mais uma vez, como sói acontecer com os petistas em geral, terá certeza de que os outros é que estão errados.

Vade retro, Satanás!