A DESCONFIANÇA É A MÃE DA SEGURANÇA.
Quando eu comecei a me entender por gente, as crianças
perdiam os dentes de leite bem antes de deixarem de acreditar em Papai
Noel, e o “Espírito do Natal” dava ar da graça lá pelo final de
novembro — a princípio timidamente, depois num crescendo, como o do apito de um
trem que aproxima da estação.
Naqueles tempos, os “votos de boas
festas” pareciam mais sinceros. As pessoas desejavam um feliz Natal — e um
feliz Ano Novo — a torto e a direito, inclusive a desconhecidos com quem
simplesmente cruzavam na rua. E enfeitar a árvore, armar o presépio e pendurar
a guirlanda na porta de casa fazia parte da festa.
De uns anos para cá, o "Espírito do Natal" resolveu frequentar exclusivamente hipermercados, shopping centers
e assemelhados. No afã de fazer a clientela "entrar no clima", os
lojistas removem a decoração do Halloween e, ato contínuo, penduram os
ornamentos natalinos. Mas a coisa se tornou impessoal, sem graça, e com a
pandemia, então, nem se fala.
Ainda que as pessoas armem árvores de Natal e
pendurem redes de lampadinhas pisca-pisca nas janelas e varandas, o clima é
artificial e os votos carecem de calor humano. Em época de vacas magras, presente
virou lembrancinha e lembrancinha virou cartão virtual (para economizar o selo
postal).
Nem sempre dá para escapar de comprar um presentinho
cá, outro acolá, seja porque algumas pessoas realmente merecem, seja porque...
enfim, o fato é que é impossível evitar. Mas dá para evitar os tradicionais
engarrafamentos, transporte público lotado, lojas apinhadas e aborrecimentos
que tais recorrendo às compras online.
Em quase dois anos de convívio com a Covid, a maioria dos
brasileiros comprou pelo menos um produto pela Internet. Até quem era avesso ao
comércio virtual acabou se rendendo. Cerca de 13 milhões de pessoas fizeram
compras online pela primeira vez em 2020 no Brasil (número equivalente à
população do Estado da Bahia), e o pagamento com cartão de crédito é a
opção preferida, tanto por consumidores quanto por lojistas — o boleto bancário
e o Pix
disputam o segundo lugar, e as demais opções não vêm ao caso para efeito desta
abordagem.
Observação: Para saber mais sobre como surgiu
o "dinheiro de plástico", esta
postagem dá início a uma sequência que eu publiquei há alguns
anos.
O Brasil fechou 2020 com 134 milhões de cartões de
crédito (um aumento de 12% na comparação com o ano anterior). Por outro lado, a
proporção das famílias que se encalacraram com o uso do dinheiro de plástico
alcançou um recorde de 81,8% em junho deste ano — maior
patamar desde o início da pesquisa, em 2010. Mas isso é outra conversa.
Importa
dizer que a segurança no pagamento com cartão será maior se você não usar a
função débito e, em vez de informar os dados do cartão de crédito
"físico", utilizar uma "versão
virtual" do instrumento de crédito convencional.
Observação: O cartão de débito é vinculado
à conta corrente e utilizá-lo é o mesmo que fazer um pagamento à vista com
dinheiro, pois o valor da transação é debitado no ato. Se o saldo não for
suficiente, mas o portador do cartão dispuser de um limite de crédito
pré-aprovado (o famoso "cheque especial"), a compra será autorizada, mas
serão cobrados juros escorchantes sobre o limite e o tempo utilizados. A maior
inconveniência, por assim dizer, de pagar compras online "no débito"
é que fica muito mais difícil cancelar uma transação fraudulenta ou reclamar se
o produto não for entregue ou tiver um defeito qualquer. E o mesmo se aplica ao
pagamento
via Pix.
O cartão de crédito funciona como qualquer transação
financeira. No caso, a empresa emissora e o portador do cartão fazem um acordo:
a instituição concede ao cliente um limite de crédito para ser usado no
pagamento de compras e serviços, e o cliente se compromete a quitar a fatura na
data de vencimento. Quando a fatura mensal é paga, o limite contratual torna a
ficar disponível — em havendo compras parceladas, a liberação do limite total se
dá somente quando a última parcela for quitada.
Resista estoicamente à tentação de pagar
a parcela mínima e rolar o restante da dívida, pois os juros e demais
encargos são escorchantes. Só parcele o pagamento se o financiamento
for feito pela loja (preço à vista em "x" vezes "sem
juros", p. ex.), e fique atento para a "melhor data": compras
efetuadas 10 dias antes do vencimento da fatura são lançadas no mês
subsequente, de modo que você só desembolsará o dinheiro dali a 40 dias.
No que concerne à "anuidade", o valor e a
forma de cobrança (de uma só vez ou em parcelas mensais) variam de uma
instituição pra outra. Como a oferta de cartões sem anuidade é cada vez maior, você
pode conseguir um bom desconto (ou mesmo a isenção da anuidade) negociando com
a operadora. Via de regra, quanto o cliente usa o cartão, mais chances ele tem
de reduzir o valor da anuidade, que, como dito, pode até chegar a zero.
Quando você paga com cartão numa loja física, a leitura
dos dados é feita pela "maquininha" e a transação é autorizada depois
que você digita sua senha no teclado do dispositivo. Nas compras pela Internet
não existe maquinha. Você preenche um formulário online com seu nome, bandeira,
número e vencimento do cartão e, ao final, informa o CVV (sigla em
inglês para “Card Verification Value” ).
O CVV é um "código de segurança" — geralmente
formado por três ou quatro algarismos — que vem impresso no verso do cartão.
Nesse caso, para se passar por você, o fraudador não precisa da mídia (o cartão
propriamente dito) nem de sua senha, ou por outro, qualquer pessoa que tiver
acesso aos dados exigidos pelo formulário poderá fazer compras e pagá-las com o
cartão. Em tese, esse código não fica armazenado nos servidores das lojas em
texto puro, mas isso não significa que ele não possa ser descoberto. Daí ser
mais seguro usar um cartão virtual (ou um cartão
pré-pago, caso você não disponha de um cartão de crédito convencional
que gere uma versão virtual).
O cartão virtual é atrelado ao cartão "físico",
mas seu número é diferente do número da versão de plástico e muda toda vez que
ele é gerado. Via de regra, o limite de crédito, as cobranças e a fatura são as
mesmas do cartão ao qual ele é vinculado, mas a validade é limitada — ou seja, ele
"expira" minutos ou horas depois de ser gerado e só pode ser usado
uma única vez (para evitar clonagem e outros tipos de golpes).
Diferentemente dos cartões pré-pagos, que servem tanto
para pagamento em lojas físicas quanto em sites, os cartões virtuais só funcionam
em compras online. Alguns podem ser usados tanto em sites nacionais como
internacionais e permitem parcelar o pagamento das compras normalmente. Os
principais bancos comerciais disponibilizam seus próprios cartões virtuais, e
utilizá-los costuma ser muito simples. Na maioria dos casos, o próprio cliente gera
os dados (através do app do banco ou do serviço de netbanking).
As regras de utilização também podem variar de um banco
para outro — se as informações disponibilizadas no site não forem suficientes,
esclareça as dúvidas com seu gerente. O Itaú, por exemplo,
emite um cartão de crédito virtual para cada transação online, e
sua validade é de 48 horas. Findo esse prazo, o serial deixa de funcionar,
inibindo a ação de fraudadores e assemelhados.
Em suma, você pode gerar um cartão virtual sempre que
precisar e cancelá-lo se desistir de usar, sem pagar nada por isso. Também não há
limite quanto ao número de vezes que o recurso pode ser utilizado.
Boas compras e boas festas.