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quarta-feira, 13 de agosto de 2025

DE VOLTA ÀS VIAGENS NO TEMPO — 41ª PARTE

O TEMPO NÃO PARA NO PORTO, NÃO APITA NA CURVA, NÃO ESPERA NINGUÉM. 

Colher o "fruto mais cobiçado da árvore da relatividade" exige saber o que é e como funciona o "tempo" — que os dicionaristas definem como "período sem interrupções no qual os acontecimentos ocorrem". Assim, se o hoje é o amanhã de ontem e o ontem de amanhã, e se as causas precedem as consequências, então o que aconteceu dita as regras do que acontecerá. 


É certo que avançamos para o futuro do momento em que nascemos até nosso último suspiro — se continuamos avançando nas vidas futuras, como sustentam os que acreditam em reencarnação, ou ao longo de toda a eternidade, como dizem os que creem em vida eterna, ninguém ainda voltou para contar. 


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Na política, a diferença entre a genialidade e a estupidez é que a genialidade tem limites. Eduardo Bolsonaro não sofre de insanidade; apaixonou-se por ela, aproveita cada segundo desse convívio e é plenamente correspondido: segundo a embaixada dos Estados Unidos no Brasil, Xandão usurpou o poder ditatorial ao ameaçar desafetos e seus familiares com prisão e outras penalidades. 

"Para quem ainda não entendeu”, explica o filho do pai, “os Estados Unidos estão dispostos a ir às últimas consequências para destruir todos os obstáculos ao resgate da harmonia entre os Poderes." Faltou definir "ultimas consequências", mas o que o rebento do refugo da escória da humanidade quis dizer foi mais ou menos o seguinte: "a iminente condenação de papai atiçará a fúria Trump, que não hesitará em decretar o Juízo Final para o bem do Brasil".

Segundo o Datafolha, 89% dos brasileiros avaliam que o tarifaço de Trump trará prejuízos para a economia, 77% acham que suas finanças pessoais serão afetadas, e 57% condenam a interferência dos EUA na Justiça brasileira. Traduzindo o que diz a pesquisa, "se a estupidez matasse, os políticos que defendem as sanções de Trump deveriam colocar pontes de safena no cérebro, e os que se acorrentam a Bolsonaro — como o governador paulista Tarcísio de Freitas — deveriam cagar ou sair da moita." 

A esta altura, matar o tempo equivale a cometer suicídio.


O romance A Máquina do Tempo — publicado por H.G. Wells em 1895 — inaugurou o conceito de uma tecnologia capaz de nos levar a outros pontos da linha temporal. A ideia, revolucionária para a época, já suscitava dilemas filosóficos e sociais, como as implicações morais de alterar o curso dos acontecimentos e a alienação do ser humano diante de um futuro incontrolável.


Supõe-se que um retorno ao passado produza mudanças que criariam um "novo presente" — como explica o célebre paradoxo do avô. Em última análise, o simples desembarque de um hipotético viajante no passado já alteraria o fluxo dos acontecimentos. Ou não.


Kip Thorne — laureado com o Nobel de Física em 2017 por seus estudos sobre ondas gravitacionais — e outros astrofísicos renomados acreditam ser possível viajar para o passado sem criar paradoxos. Não ao "nosso passado", mas a um passado alternativo de um universo paralelo. Segundo eles, se o espaço-tempo pode ser curvado, distorcido e expandido, então pode se desdobrar em múltiplas versões coexistentes. Nesse cenário, em vez de inviabilizar o próprio nascimento matando o avô, o viajante do tempo criaria uma nova ramificação da realidade para acomodar aquele evento — ideia que se alinha à interpretação dos muitos mundos.

 

Já o Princípio da Autoconsistência, formulado pelo físico russo Igor Novikov em 1980, sustenta que eventos causados por viagens no tempo devem ser consistentes com o passado já existente, preservando a lógica e a história tal como conhecemos. Se alguém tentasse matar o próprio avô, algo impediria o ato, pois o passado desse alguém está "selado", ou seja, escrito de maneira consistente com o presente do qual esse alguém partiu.

 

Einstein definiu o Universo como um bloco quadridimensional que contém todo o espaço e o tempo simultaneamente, sem um "agora" especial. Segundo Julian Barbour, o Universo tem dois lados, e o tempo corre simultaneamente nos dois sentidos. Se nada mudasse, o tempo ficaria parado, pois tempo é mudança. Mas se o que vemos acontecer não é o tempo, e sim a mudança, então o tempo não existe. E ainda existisse, o Universo está se expandindo em todos os lugares, de modo que não faria sentido ele fluir numa única direção. Ademais, o que determina a passagem do tempo não é o aumento da entropia, e sim o aumento da complexidade sem limites de tempo ou de espaço.

 

Roger Penrose, conhecido por suas contribuições à cosmologia e à compreensão da gravidade, afirma que Big Bang criou um "universo espelho", onde o tempo e a matéria se movem em direções opostas, retrocedendo em direção ao "momento zero". Carlo Rovelli, que se notabilizou por seus estudos sobre a gravidade quântica em loop, sustenta que a hipótese de o espaço ser um recipiente amorfo das coisas desaparece da física com a gravidade quântica. E se o espaço não é um "recipiente que contém as coisas", então o tempo não é uma linha reta pela qual as coisas fluem como uma sucessão de acontecimentos formados por passado, presente e futuro. 

 

Observação: Em 2012, Rovelli iniciou uma palestra dizendo que o tempo não existe. Em sua visão, ao invés de ser uma medida cronológica como a usada nos calendários, o tempo é na verdade uma variável resultante da crescente entropia do cosmo ao longo de seus quase 14 bilhões de anos de existência. Em A Ordem do Tempo, ele explora as concepções que a humanidade já teve acerca desse elemento crucial da realidade, de Newton, que teorizava duas formas de tempo, e Einstein, para quem o espaço-tempo resultaria de deformações do campo gravitacional até o atual estágio das pesquisas.

 

Para entender a teoria da gravidade quântica em loop, é preciso renunciar à ideia de espaço e tempo como estruturas gerais para enquadrar o mundo, mas compreender o mundo exige contrariar a nossa própria intuição: se realmente existe um limite para o espaço e o tempo, então a relatividade geral e a mecânica quântica deixam de brigar uma com a outra. 

 

A exemplo da Teoria das Cordas, a gravidade quântica em loop carece de comprovação experimental. Mas vale lembrar que tanto as ondas gravitacionais quanto o bóson de Higgs e as ondas eletromagnéticas permaneceram décadas no campo das teorias até sua existência ser provada.

 

Para atestar a irrealidade do tempo usando o pensamento lógico e um baralho, o matemático britânico J.M.E. McTaggart dividiu as cartas em duas pilhas, ordenou-as cronologicamente na primeira e aleatoriamente na segunda, e concluiu que a noção de tempo linear (como na primeira pilha) não basta para capturar a realidade dos eventos, e que sem a ordem temporal (na segunda pilha) eles ainda existem, embora não haja "antes" nem "depois". Num segundo experimento, ele introduziu uma terceira pilha cartas para demonstrar que, mesmo que se tente classificar os eventos em termos de passado, presente e futuro (como na segunda pilha), a realidade dos eventos (terceira pilha) independe dessa categorização. 


Se o tempo é um processo que precisa de tempo para acontecer, é preciso tempo para descrever o tempo. E se essa circularidade viola a lógica, então o tempo não existe de verdade. Mas possibilidade de o tempo não existir tornaria a vida muito sem graça — não teríamos aniversários nem réveillons para celebrar, nem datas como o Natal, o Dia das Mães, o Dia dos Pais, entre outras que se repetem ano após ano. Também seria difícil compreender o processo de envelhecimento. 


Sem o tempo, os eventos não teriam uma ordem definida, e tudo pareceria acontecer ao mesmo tempo — ou talvez nada acontecesse de fato, já que causa e efeito perderiam o sentido. Como perceberíamos mudanças, conquistas, amadurecimento? Como distinguiríamos passado, presente e futuro? Nossa memória e nossas expectativas deixariam de ter propósito, e até a própria noção de história se desfaria.


No livro Tempo: O Sonho de Matar Chronos, o físico italiano Guido Tonelli explica que o tempo é um elemento material que "ocupa o universo inteiro, que vibra, oscila e se deforma". Se dois astronautas viajassem em direção a um buraco negro supermassivo, um deles mantivesse a nave a uma distância segura do fenômeno e o outro cruzasse o "horizonte de eventos", o tempo pareceria continuar passando normalmente para este, mas um sinal de rádio que ele enviasse para o colega fora buraco negro levaria uma eternidade para ser recebida. Em outras palavras, o tempo flui diferente em diferentes regiões do Universo, e apenas tecnicidades nos impedem de dobrá-lo a nosso favor.

 

Voltando à questão dos paradoxos temporais, um evento capaz de alterar o passado e provocar uma inconsistência no Universo tem zero chance de ocorrer. De acordo com a conjectura da proteção cronológica — proposta por Stephen Hawking em 1992 — as leis da física obstam o surgimento de curvas fechadas do tipo tempo, impedindo que algo volte a um ponto do passado e continue se movendo até chegar novamente ao ponto de partida. Um dos mecanismos sugeridos para essa "conspiração" é a necessidade de energia negativa para estabilizar os buracos de minhoca. 

 

Na trilogia De Volta para o Futuro, o paradoxo do avô é o motor dramático da trama; em Dark, o tempo é apresentado como um ciclo fechado, onde causas e consequências se retroalimentam, alinhando-se à ideia de autoconsistência; em Interestelar vemos como a dilatação temporal pode tornar décadas num planeta em meros minutos dentro de uma nave; e obras como Rick and Morty e Tudo em todo lugar ao mesmo tempo exploram — com humor ou caos —,a ideia de múltiplos mundos e realidades paralelas coexistentes com a nossa.

 

Segundo a física teórica Lisa Randall, não se consegue provar definitivamente uma teoria; o que se consegue é validá-la empiricamente e excluir as alternativas que não se sustentam. Essa natureza provisória do conhecimento científico nos conduz a uma reflexão fascinante: quanto mais desvendamos o mundo, mais descobrimos que ainda muito por desvendar. Como bem observou Rovelli, "a única coisa realmente infinita no Universo é nossa ignorância".


Talvez nenhum de nós ainda caminhe entre os vivos quando a primeira máquina do tempo for finalmente construída, mas a ideia nos leva a questionar o que é real, o que é possível e até onde vai o poder das leis físicas. Se o tempo for apenas uma construção mental, então nossa noção de destino, memória e identidade pode estar baseada em algo ilusório, e o verdadeiro "viajante do tempo" pode ser o próprio pensamento humano, que se move livremente entre passado, presente e futuro — mesmo quando o corpo permanece inexoravelmente preso ao agora.


Continua...

sexta-feira, 1 de agosto de 2025

RELIGIÕES, VAGALUMES E MAIS UMA TEORIA SOBRE GRAVIDADE

DEBATES ENTRE PESSOAS RAZOÁVEIS NÃO GERAM CONFLITOS, GERAM NOVAS IDEIAS.

A exemplo dos vaga-lumes, que precisam de escuridão para brilhar, as religiões reluzem em meio à ignorância. Elas prosperam onde faltam respostas, o que as torna úteis para os poderosos, que lhes dão ares de verdade para ludibriar os incautos — que deveriam questioná-las, pois é a partir da reflexão que se alcança uma espiritualidade mais ampla e profunda. 

 

Toda religião é a verdade absoluta para aqueles que a professam e não passa de fantasia para os devotos das outras seitas. Em pleno século XXI, doutrinas as mais inverossímeis têm hostes de descerebrados que defendem seus rituais e liturgias como os fanáticos polarizados que, de um lado, defendem um ex-presidente golpista, e de outro, um "ex-corrupto descondenado por conveniência". 


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Em seu pronunciamento inaugural na Casa Branca, Franklin D. Roosevelt ensinou que "a única coisa de que devemos ter medo é do próprio medo". John Kennedy declarou, também num discurso de estreia: "Nunca negociemos por medo, mas nunca tenhamos medo de negociar". Lula declarou ao Times que "todo mundo sabe" que ele tentou entrar em contato com Trump e que o interesse não foi recíproco. Não há força no universo capaz de deter a maledicência segundo a qual o despresidente brasileiro não se esforçou para desfazer o mal-estar que ele próprio criou ao expor sua preferência por Kamala Harris durante a sucessão americana. 

Em meio ao faroeste tarifário, importa mais a qualidade da resposta do que a rapidez no gatilho. Ao abrir o paiol da Casa Branca, Trump atenuou a sanção econômica e potencializou o caráter político do ataque, impondo ao ministro Alexandre de Moraes uma asfixia financeira em resposta ao drama criminal de Bolsonaro, tratado pela calopsita do penacho alaranjado como vítima de uma ficcional "caça às bruxas". 

Ao abrir 694 exceções à lista de produtos sujeitos à tarifa de 50%, Trump sinalizou que não rasga dinheiro, proporcionando ao governo e à Bolsa de Valores um suspiro de alívio. Na política, o ataque grudou em Jair e Eduardo Bolsonaro a pecha de traidores da pátria e estilhaçou os planos da direita brasileira ao converter Bobi Pai e Bibo Filho em cabos eleitorais de Lula.

De resto, o aspirante a golpista conta os dias que faltam para seu julgamento e provável condenação. Não será uma decisão de Xandão, Trump tenta fazer crer, mas da Primeira Turma do STF. 

 

Ainda que a existência de um ente superior seja admissível, como conciliá-la com a figura burlesca de um "criador" que concede livre-arbítrio às criaturas para depois recompensar as "boas" com a vida eterna no paraíso e punir as "más" com o fogo do inferno? 


Aristóteles ensinou que "o sábio duvida e o sensato reflete", e Platão, no Mito da Caverna, que a sabedoria e o conhecimento estão além das aparências superficiais. Mas argumentar com quem renunciou à lógica é como dar remédio a defunto.

 

A verdadeira beleza da ciência não está nas respostas, mas nas novas perguntas que cada resposta suscita. Nos meus tempos de escola, o Sistema Solar era formado por 9 planetas e somente Saturno tinha anéis. Em 2006, Plutão foi rebaixado a "objeto transnetuniano". Hoje , sabe-se que Júpiter, Urano e Netuno também são circundados por anéis, embora menos proeminentes do que os de Saturno. 


Em outras palavras,  muito do que valia ontem pode não valer hoje, e muito do que vale hoje pode não valer amanhã.

 

Curiosamente, algo semelhante vem acontecendo com a matéria escura, que nunca foi observada diretamente, mas cuja existência é aceita porque sem ela as equações de Einstein perderiam o sentido. Isso nos leva à seguinte pergunta: será que os físicos a estão tratando - e a outros temas controversos - como dogmas científicos, furtando-se a questionar conceitos "não-pacíficos" simplesmente porque "eles já foram estabelecidos"?

 

A matéria escura e energia escura compõem 95% do cosmos; a primeira mantém as galáxias coesas e a segunda atua como uma força repulsiva, afastando as galáxias umas das outras e acelerando a expansão do Universo. No entanto, um estudo publicado recentemente por pesquisadores do Observatório Leiden, na Holanda, contesta a existência da matéria escura e questiona se não se está justificando um modelo que já não se sustenta.

  

Newton revolucionou o conceito de gravidade ao perceber que a mesma força que derruba uma maçã rege os movimentos celestes. Einstein expandiu essa ideia ao demonstrar que a gravidade deforma o espaço-tempo como uma cama elástica é curvada pelo peso de um corpo. E agora temos uma nova revolução.

 

A teoria do físico alemão tem aplicações práticas — foguetes, GPS, satélites, etc. —, mas falha ao tentar explicar o mundo subatômico. Para lidar com isso, a existência da matéria escura foi pela primeira vez em 1930 pelo físico Fritz Zwicky reforçada pelos estudos da astrônoma Vera Rubin


Assim, a exemplo do que fez o ministro Edson Fachin ao anular as condenações de Lula escorado numa incompetência territorial que ele próprio já havia rejeitado em pelo menos dez julgamentos, os cientistas teriam "fabricado" um conceito sob medida para dar sentido à teoria de Einstein e obter uma explicação quase perfeita para o Universo (quase, porque faltou explicar o mundo subatômico).

 

Recentemente, um artigo publicado pelo físico Erik Verlinde — especialista em Teoria das Cordas da Universidade de Amsterdam e autor da teoria da gravidade alternativa que foi testada com sucesso pelos pesquisadores do Leiden — sugere que a gravidade não é uma força fundamental da natureza, e sim um efeito emergente da tendência do universo ao caos (entropia). 


Segundo ele, os físicos não acreditam na existência da matéria escura com base em observações, mas por não haver evidência teórica ou argumento conceitual capaz de explicar as leis de Newton e Einstein à luz de novos fenômenos que vêm sendo observados. 


Se a gravidade não funciona no mundo subatômico, por que recorrer a conceitos artificiais para dar sentido a ela ao invés de pensá-la de modo diferente, unindo a Teoria das Cordas com a Termodinâmica? Para testar essa ideia, os pesquisadores analisaram a densidade de 33.613 galáxias, compararam os dados com os cálculos de Verlinde e conseguiram explicar as anomalias gravitacionais sem precisar da matéria escura, algo que Einstein nunca conseguiu. 


Como qualquer teoria emergente, ainda há questões em aberto, e enquanto elas não forem respondidas, Newton e Einstein poderão dormir tranquilos seu sono eterno.

 

Resumo da ópera: O avanço do conhecimento sempre encontra resistência. Assim como dogmas religiosos se impõem sobre a razão, certas ideias científicas se tornam intocáveis, mesmo quando novas evidências sugiram caminhos diferentes. 


Se a história da ciência nos ensina algo, é que nenhuma "verdade" é eterna. Afinal, a luz do conhecimento não brilha onde há certezas absolutas, mas onde há perguntas que ainda precisam ser feitas e respondidas.

quinta-feira, 24 de julho de 2025

SOBRE STEPHEN HAWKING

NA PRAIA, À NOITE, PREFIRA CONTAR ESTRELAS A GRÃOS DE AREIA.

Albert Einstein foi o maior físico de todos os tempos, e Stephen Hawking, o maior astrofísico do século XX. 


Em 1963, aos 21 anos, Hawking foi diagnosticado com Esclerose Lateral Amiotrófica. Os médicos previram uma sobrevida de apenas dois anos, mas ele morreu em 2018, dez dias após submeter ao Journal of High-Energy PhysicsTeoria dos Universos Paralelos, segundo a qual o Big Bang não teria sido um evento único, mas a origem de incontáveis universos, onde as leis da física poderiam ser completamente diferentes. 


Sua carreira foi marcada por contribuições que revolucionaram a física teórica e a astronomia. Uma das descobertas mais notáveis foi a de que os buracos negros não são eternos: ao emitirem uma forma de radiação — posteriormente batizada de Radiação de Hawking —, eles perdem massa e acabam desaparecendo após milhões ou bilhões de anos. Quanto às informações sobre o que cai nos buracos negros, Hawking teorizou que as perturbações quânticas poderiam preservá-las, oferecendo uma possível solução para o célebre paradoxo da informação — que ainda é objeto de debate na comunidade científica.


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Fica mais difícil a cada dia escrever sobre política nesta banânia. O cenário muda — quase sempre para pior — como imagens de caleidoscópio, e manter-se atualizado é como trocar pneu com o carro andando. Enfim, tomemos uma para rebater o empache, e bola pra frente.

Revitalizado pelo crime de lesa-pátria cometido por Bobi Filho em prol da anistia de Bibo Pai, Lula percorre tênue linha que separa "ir bem" de "ir longe demais". Acerta ao dizer que Trump "não foi eleito para ser imperador do mundo", mas escorrega ao afirmar que a calopsita alaranjada "poderia ser presa" se a invasão ao Capitólio tivesse ocorrido no Brasil (todos sabemos como a Justiça brasileira funciona), e joga para a plateia ao vociferar que o governo não aceita "ordem de gringo" e que vai taxar "as big techs americanas". O diabo é que falta quase um ano e meio para a eleição. Se nada for feito, o tarifaço de 50% entrará em vigor em pouco mais de uma semana. Nada em Trump cheira bem, mas quem confronta um gambá corre o risco de sair fedendo mesmo se ganhar a briga.

Mudando do desgostante para o vomitativo, Bolsonaro demora a entender que sua única saída é a porta (de entrada) de uma cela de cadeia, e age como se preferisse ir em cana antes da (cada vez mais) provável condenação definitiva. 

Na segunda-feira, o ex-aspirante a golpista foi à Câmara para mobilizar sua facção e fornecer às redes sociais de terceiros imagens de sua tornozeleira e o blábláblá da "humilhação". Xandão enxergou na coreografia uma violação à ordem de abstinência digital, e deu 24 horas para a defesa se manifestar. Os advogados ponderaram que o cliente não tinha conhecimento da proibição de conceder entrevistas e asseguraram que ele seguirá sem se manifestar. 

Bolsonaro tencionava levar sua pose de vítima para passear em duas comissões da Câmara, mas Hugo Motta levou o pé à porta, e o capetão deu meia-volta.  

A caminho da cadeia, Bolsonaro roda um filme repetido. Por um lado, cobra de sua facção na Câmara mobilização para aprovar sua anistia e o impeachment de seu algoz. Por outro, convoca o pedaço troglodita do agronegócio a entoar o hino nacional por ele e financiar o ronco de caminhões nas ruas. Alguém deveria alertá-lo de que roleta-russa também é suicídio, mesmo que na modalidade recreativa de um desafio constante à própria sorte.

Mas e daí? Eu não sou coveiro...


A obra de Hawking teve como ponto de partida a Relatividade Geral, da qual decorre uma solução específica para a estrutura do cosmos, que ficou conhecida como modelo de Friedmann-Lemaître-Robertson-Walker. Com os teoremas da singularidade Hawking-Penrose e com os estudos sobre a entropia Bekenstein-Hawking, o astrofísico demonstrou que o universo teve um começo associado a uma singularidade que deu origem ao Big Bang.


A princípio, acreditava-se que essa singularidade explicaria a origem do universo, mas a ideia perdeu força ao esbarrar nas limitações impostas pela mecânica quântica. Essa conclusão foi alcançada ao se "voltar no tempo" através das equações relativísticas e das condições do universo primordial. Mas há um ponto a partir do qual o espaço e o tempo desaparecem, tornando impossível retroceder ainda mais. Segundo Hawking, especular sobre o que havia antes do Big Bang é como perguntar o que existe ao norte do Polo Norte.


Durante séculos, achava-se que que o universo era eterno, infinito no tempo e no espaço. Hawking mostrou que houve um começo e que pode haver um fim — não apenas um fim cósmico, mas vários, representados por cada buraco negro, que funciona como um sumidouro onde espaço e tempo deixam de existir. Mais adiante, ele propôs uma ideia ainda mais radical: se o tempo fosse imaginário no início — um conceito matemático inspirado nos números complexos —, o universo seria finito em extensão, mas sem fronteiras, como a superfície de uma esfera. Nesse cenário, não haveria uma singularidade inicial e a origem do cosmos estaria inteiramente determinada pelas leis da física.


Em 1962, Hawking ingressou na Universidade de Cambridge como estudante de PhD. Já em 1979, tornou-se Professor Lucasiano de Matemática (cargo que foi ocupado por alguns dos maiores físicos da Inglaterra, como Isaac Newton). Em 2009, tornou-se Diretor de Pesquisa no Departamento de Matemática Aplicada e Física Teórica (cargo que ocupou até sua morte), e foi membro do Centro de Cosmologia Teórica da Universidade de Cambridge, fundado por ele em 2007.


Preferindo mirar o infinito do cosmos a olhar para as limitações do próprio corpo, Hawking se notabilizou por tornar conceitos científicos complexos acessíveis ao publico leigo em astrofísica. Em 1995, em um desafio promovido pelo Tomorrow’s World, fez previsões para os 30 anos seguintes — como os avanços na exploração espacial, a mineração de asteroides, o aumento do lixo orbital, as transformações digitais e o crescimento da robótica, a disseminação de assistentes virtuais e dispositivos inteligentes — hoje presentes nos smartphones, eletrodomésticos e assistentes de voz baseados em inteligência artificial.


A despeito de sua genialidade, ele era humano e, portanto, falível. Em 1975, apostou com o físico Kip Thorne que o objeto Cygnus X-1 não era um buraco negro. Mais adiante, apostou que a informação é perdida nos buracos negros, e que ninguém jamais descobriria o Bóson de Higgs. Perdeu todas elas.


Hawking dedicou anos de sua vida à busca por uma "teoria de tudo" — que combinasse a mecânica quântica com a física clássica para explicar as leis fundamentais do universo. Para muitos, ele foi a mente mais brilhante de todos os tempos, mas nunca revelou seu QI — questionado sobre isso por um repórter do New York Times, respondeu: "Pessoas que se gabam de seu QI são fracassadas." Pouco antes de morrer, destacou questões como o aquecimento global e o aumento populacional como fatores que dariam origem a uma crise ambiental severa, e previu que, sem a devida atenção, esses problemas poderiam transformar o planeta em um lugar inóspito para a vida humana, possivelmente até ao final do século XXVI.

 
Embora tenha ficado quase totalmente paralisado pela doença, Hawking foi uma das personagens mais influentes da ciência no século XX. Até que o universo — ou a humanidade — desapareça, suas descobertas continuarão gerando conhecimentos, inspirando gerações a olhar para as estrelas e a perguntar o que mais o tempo ainda esconde.

segunda-feira, 7 de julho de 2025

DE VOLTA ÀS VIAGENS NO TEMPO — 35ª PARTE

TUDO QUE RESPIRA TAMBÉM CONSPIRA.

Embora nasça das experiências humanas e influencie a maneira como percebemos a realidade, a arte inspira mudanças culturais e antecipa avanços científicos. Parafraseando Oscar Wilde, "a vida imita a arte", mas a recíproca também é verdadeira.

 

No livro Da Terra à Lua (1865), Júlio Verne descreveu em detalhes a proeza que a Apollo 11 realizaria dali a 104 anos, errando por poucas milhas o local de lançamento do Saturno V. O filme Star Trek (1964) previu celulares e impressoras 3D, e o profético desenho animado Os Jetsons (1962) antecipou de videochamadas e aspiradores de pó inteligentes a carros voadores e mochilas a jato.


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Lula venceu o pleito de 2022 graças a uma minoria de eleitores (1,8% do total de votos válidos) que queria mandar Bolsonaro para o diabo que o carregue. Agora, com a popularidade em patamares abissais, em paz armada com o Congresso e na bica de uma campanha que promete ser dura de roer, o macróbio não pode se dar ao luxo de rifar o voto dos "isentões". 

A guinada à esquerda e a ressurreição do slogan "nós contra eles" que animou a patuleia nas redes e levou a militância às ruas pode afugentar a minoria conservadora do eleitorado, que, por absoluta falta de opção, guindou o ex-presidiário ao Planalto pela terceira vez, e o fato de o capetão ter sido expulso de campo não significa que a extrema-direita não tenha alternativas tão imprestáveis quanto ele e dispostas a trocar seu apoio pela promessa de anistiá-lo em caso de vitória. 

Triste Brasil.

 

Filmes como De Volta para o Futuro (1985), Se Eu Não Tivesse Te Conhecido (2018) e Questão de Tempo (2013) nos levam a especular não se, mas quando o fruto mais cobiçado da árvore da relatividade será colhido. São inúmeros os obstáculos a superar, mas não custa lembrar que, no final dos anos 1990, o Concorde fazia em menos de três horas o que a esquadra de Cabral levou 44 dias para fazer. 

 

Tudo somado e subtraído, viajar no tempo pode ser... uma questão de tempo. E a chave pode estar nas hipotéticas cordas cósmicas — fios invisíveis ao olho nu, mas com massa equivalente à de milhares de estrelas e formatos variados, de tubos que se estendem ao infinito a laços fechados sobre si mesmos. 


teoria das cordas sugere que as partículas fundamentais do universo são cordas vibrantes que surgiram durante as transições cósmicas ocorridas nas primeiras fases do universo. Movendo-se a velocidades próximas à da luz, essas cordas cósmicas poderiam criar um loop no espaço-tempo que abriria uma passagem para o passado ou o futuro. No entanto, estudos recentes indicam que elas podem ser menos densas do que se pensava — e ainda mais difíceis de identificar. Uma alternativa seria observar o fenômeno de microlente gravitacional em estrelas individuais: ao passar diante de uma estrela, uma corda cósmica dobraria temporariamente seu brilho, criando pistas para sua identificação e ajudando a desvendar como viajar no tempo sem criar paradoxos.

 

Novas pesquisas sobre os loops temporais sugerem que as leis da mecânica quântica impõem uma autoconsistência capaz de anular incongruências como o famoso "paradoxo do avô", e estudos recentes indicam que a entropia dentro de um loop temporal pode se resetar ao estado original, permitindo que o tempo se inverta dentro do ciclo. Mas os buracos negros continuam sendo os candidatos mais promissores para a distorção temporal. Regiões próximas a esses corpos celestes podem criar efeitos de dilatação temporal extremos, e um viajante espacial que orbitasse um buraco negro supermassivo experimentaria o tempo de forma diferente de alguém longe dessa influência gravitacional. 


Isso pode parecer roteiro de filme de ficção científica, mas Einstein ensinou que o impossível só é impossível até que alguém duvide e prove o contrário; Carl Sagan, que ausência de evidência não é evidência de ausência; e Arthur C. Clarke, que desafiar limites é o único caminho para superá-los. Se a ficção já previu tantas revoluções, pode ser apenas uma questão de tempo até que uma descoberta que nos leve não só mais longe, mas também para trás e para frente no tempo.


Continua...