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segunda-feira, 7 de julho de 2025

DE VOLTA ÀS VIAGENS NO TEMPO — 35ª PARTE

TUDO QUE RESPIRA TAMBÉM CONSPIRA.

Embora nasça das experiências humanas e influencie a maneira como percebemos a realidade, a arte inspira mudanças culturais e antecipa avanços científicos. Parafraseando Oscar Wilde, "a vida imita a arte", mas a recíproca também é verdadeira.

 

No livro Da Terra à Lua (1865), Júlio Verne descreveu em detalhes a proeza que a Apollo 11 realizaria dali a 104 anos, errando por poucas milhas o local de lançamento do Saturno V. O filme Star Trek (1964) previu celulares e impressoras 3D, e o profético desenho animado Os Jetsons (1962) antecipou de videochamadas e aspiradores de pó inteligentes a carros voadores e mochilas a jato.


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Lula venceu o pleito de 2022 graças a uma minoria de eleitores (1,8% do total de votos válidos) que queria mandar Bolsonaro para o diabo que o carregue. Agora, com a popularidade em patamares abissais, em paz armada com o Congresso e na bica de uma campanha que promete ser dura de roer, o macróbio não pode se dar ao luxo de rifar o voto dos "isentões". 

A guinada à esquerda e a ressurreição do slogan "nós contra eles" que animou a patuleia nas redes e levou a militância às ruas pode afugentar a minoria conservadora do eleitorado, que, por absoluta falta de opção, guindou o ex-presidiário ao Planalto pela terceira vez, e o fato de o capetão ter sido expulso de campo não significa que a extrema-direita não tenha alternativas tão imprestáveis quanto ele e dispostas a trocar seu apoio pela promessa de anistiá-lo em caso de vitória. 

Triste Brasil.

 

Filmes como De Volta para o Futuro (1985), Se Eu Não Tivesse Te Conhecido (2018) e Questão de Tempo (2013) nos levam a especular não se, mas quando o fruto mais cobiçado da árvore da relatividade será colhido. São inúmeros os obstáculos a superar, mas não custa lembrar que, no final dos anos 1990, o Concorde fazia em menos de três horas o que a esquadra de Cabral levou 44 dias para fazer. 

 

Tudo somado e subtraído, viajar no tempo pode ser... uma questão de tempo. E a chave pode estar nas hipotéticas cordas cósmicas — fios invisíveis ao olho nu, mas com massa equivalente à de milhares de estrelas e formatos variados, de tubos que se estendem ao infinito a laços fechados sobre si mesmos. 


teoria das cordas sugere que as partículas fundamentais do universo são cordas vibrantes que surgiram durante as transições cósmicas ocorridas nas primeiras fases do universo. Movendo-se a velocidades próximas à da luz, essas cordas cósmicas poderiam criar um loop no espaço-tempo que abriria uma passagem para o passado ou o futuro. No entanto, estudos recentes indicam que elas podem ser menos densas do que se pensava — e ainda mais difíceis de identificar. Uma alternativa seria observar o fenômeno de microlente gravitacional em estrelas individuais: ao passar diante de uma estrela, uma corda cósmica dobraria temporariamente seu brilho, criando pistas para sua identificação e ajudando a desvendar como viajar no tempo sem criar paradoxos.

 

Novas pesquisas sobre os loops temporais sugerem que as leis da mecânica quântica impõem uma autoconsistência capaz de anular incongruências como o famoso "paradoxo do avô", e estudos recentes indicam que a entropia dentro de um loop temporal pode se resetar ao estado original, permitindo que o tempo se inverta dentro do ciclo. Mas os buracos negros continuam sendo os candidatos mais promissores para a distorção temporal. Regiões próximas a esses corpos celestes podem criar efeitos de dilatação temporal extremos, e um viajante espacial que orbitasse um buraco negro supermassivo experimentaria o tempo de forma diferente de alguém longe dessa influência gravitacional. 


Isso pode parecer roteiro de filme de ficção científica, mas Einstein ensinou que o impossível só é impossível até que alguém duvide e prove o contrário; Carl Sagan, que ausência de evidência não é evidência de ausência; e Arthur C. Clarke, que desafiar limites é o único caminho para superá-los. Se a ficção já previu tantas revoluções, pode ser apenas uma questão de tempo até que uma descoberta que nos leve não só mais longe, mas também para trás e para frente no tempo.


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quinta-feira, 3 de julho de 2025

DE VOLTA ÀS VIAGENS NO TEMPO — 34ª PARTE

SOMOS APENAS UMA ESTIRPE AVANÇADA DE MACACOS EM UM PLANETA MENOR DE UMA ESTRELA MUITO COMUM, MAS TEMOS NOCÃO DO UNIVERSO, MAS TER NOÇÃO DISSO NOS TORNA ESPECIAIS.

A ciência que estuda o tempo é chamada de cronologia em homenagem a Chronos — o deus do tempo da mitologia grega que devorava os próprios filhos —, mas ainda não se sabe se o tempo realmente existe ou se não passa de uma convenção criada para explicar fenômenos como o dia e a noite, as fases da Lua e as estações. 


Enquanto os físicos buscam decifrar esse mistério, escritores e roteiristas de ficção científica, inspirados no clássico A Máquina do Tempo, usam e abusam das viagens no tempo em produções como Interestelar, Feitiço do Tempo e De Volta para o Futuro, entre tantas outras.


Viajamos para o futuro desde o momento em que nascemos, e vislumbramos o passado quando observamos o céu noturno e vemos a luz que as estrelas emitiram há milhões ou bilhões de anos. Talvez não seja tão emocionante quanto o antigo seriado televisivo O Tunel de Tempo, mas é real. Como também é real a possibilidade de o tempo pode não ter uma direção preferencial no mundo microscópico — regido pela mecânica quântica — onde as partículas podem se mover livremente para frente ou para trás, como sustenta um estudo publicado na Scientific Reports por pesquisadores da Universidade de Surrey.


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Desde 1889, quando o primeiro de muitos golpes de Estado substituiu a monarquia parlamentarista do Império pelo presidencialismo republicano — houve um breve período de parlamentarismo após a renúncia de Jânio, mas isso é outra conversa —, 37 brasileiros ocuparam a Presidência da República, e o mais próximo de um estadista que tivemos desde a redemocratização foi Fernando Henrique. No entanto, como bem observou Lord Acton, o poder corrompe. 

Picado pela mosca azul, FHC comprou a PEC da reeleição. E como quem parte, reparte e não fica com a melhor parte, é burro ou não em arte, disputou e conquistou seu segundo mandato. No entanto, faltaram-lhe novos coelhos para tirar da velha cartola, e Lula derrotou José Serra em 2002, dado azo à tomada do poder pelos petralhas, que desgovernaram esta banânia até maio de 2016. 

Roberto Jefferson denunciou o mensalão petista em 2005, mas Lula não só foi reeleito no ano seguinte como elegeu um poste em 2010 — que deveria retribuir-lhe o favor em 2014, mas fez o diabo para se reeleger e acabou impichada. Em 2018, surfando no antipetismo, um mix de mau militar e parlamentar medíocre com vocação para golpista foi guindado ao Planalto. Em 2022, para livrar o país dessa excrescência, a minoria pensante do eleitorado se uniu à patuleia ignara para devolver a poltrona presidencial a Lula — que fora libertado da prisão, descondenado e reabilitado politicamente por togas companheiras. 

Hoje, a pouco mais de um ano das eleições, o xamã petista amarga índices de rejeição jamais registrados momento algum de sua trajetória política. Ao recorrer ao STF contra a derrubada do reajuste do IOF no Congresso, ele sinaliza aos rivais que não se deixará fritar. Mas a revogação do aumento do imposto — com votos de partidos que controlam ministérios — deixou-o bem passado, e a adição de fermento na articulação pró-Tarcísio inflou um bololô que reúne a direita patrimonialista e as viúvas de Bolsonaro. 

Com a impopularidade a pino, o macróbio vermelho faz uma guinada à esquerda e requenta o velho ramerrão do “nós contra eles”. “Acabará governando contra todos”, ironizou o presidente da Câmara durante um jantar na casa de João Doria, com mais de cinquenta empresários. 

No gogó, o ministro da Fazenda diz apostar num entendimento com o Congresso para aprovar medidas que ajudem a fechar as contas de 2025 e 2026. Na real, o que há na praça é uma campanha eleitoral prematura, não um ajuste fiscal tardio — e a única certeza disponível é que o próximo presidente, seja ele quem for, terá de gerenciar um orçamento federal inviável. 

A dúvida é se o apagão orçamentário virá antes ou depois da posse. Façam suas apostas.

 

O conceito de seta do tempo foi baseado na 2ª Lei da Termodinâmica, mais exatamente na entropia (desordem), que, num sistema fechado, sempre tende a aumentar. Mas as equações de campo de Einstein demonstraram que o tempo passa mais devagar para quem se move do que para quem está parado (princípio da dilatação temporal). Na visão do físico alemão, a distinção entre passado, presente e futuro não passa de uma ilusão teimosamente persistente, e viajar para o futuro é viável, ainda que voltar ao passado seja extremamente improvável. No entanto, essa possibilidade ganhou força com o avanço das pesquisas e experimentos no âmbito da mecânica quântica.

 

Diversas leis da física precisariam ser violadas para uma viagem ao passado se concretizar, mas um pesquisador da Universidade de Queensland, na Austrália, sustenta que o espaço-tempo poderia se adaptar para evitar paradoxos, e que loops temporais podem existir juntamente com o livre-arbítrio e os princípios da física clássica. Assim, mesmo que voltar ao passado implique mudar o futuro, a liberdade de ação impede o surgimento de paradoxos. No entanto, o fato de as equações mostrarem que sistemas quânticos abertos não privilegiam o passado ou o futuro não significa que estamos em via de viajar no tempo como nos filmes de ficção científica

 

Resumo da ópera: a irreversibilidade da passagem do tempo fica evidente quando um copo cai e se espatifa — já que os cacos não se rejuntam espontaneamente —, mas alguns fenômenos parecem não distinguir claramente uma direção nesse fluxo temporal. Se no mundo quântico o tempo pode realmente fluir em ambas as direções sem violar a relatividade, talvez ele não seja uma linha reta, mas um labirinto de possibilidades onde cada descoberta acrescenta novas bifurcações e atalhos. 


Não faltam exemplos de cientistas que foram ridicularizados por suas ideias heterodoxas — como Copérnico, que desafiou o geocentrismo, Lister, que revolucionou a medicina com a desinfecção, e Wegener, que propôs a teoria da deriva continental — até que o tempo provasse que eles estavam certos. Einstein previu em 1915 a existência de objetos celestes com gravidade tão intensa que nem a luz poderia escapar (o termo "buraco negro" só seria cunhado 52 anos depois), e morreu achando que tudo não passava de teoria, já que foi somente em 2019 que o Event Horizon Telescope fotografou o M87*, a 55 milhões de anos-luz da Terra.

 

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sexta-feira, 11 de abril de 2025

DE VOLTA ÀS VIAGENS NO TEMPO — 16ª PARTE

ÀS VEZES, O MÍNIMO É O BASTANTE.

 

Podemos comparar o passado a um lugar distante que gostaríamos de visitar. No entanto, enquanto uma viagem à Disneylândia ou ao Coliseu depende basicamente de quanto podemos gastar, viajar para tempos idos é bem mais complicado — mesmo sendo uma possibilidade matematicamente plausível à luz da Relatividade Geral.

Einstein teorizou que a experiência do fluxo do tempo é relativa (dependendo do observador e da situação), contrariando a ideia do relógio mestre de Newton, que mantinha o tempo sincronizado em todo o universo. Já o astrofísico Paul Sutter definiu o tempo como a progressão aparente dos eventos do passado para o futuro, numa evolução que parece contínua e irreversível. Por outro lado, embora esteja provado que o tempo passa mais lentamente conforme o observador se move mais depressa — como ilustra o paradoxo dos gêmeos e comprovam diversos experimentos feitos com relógios atômicos em satélites artificiais e sondas espaciais —, faltam explicações concretas e consensuais sobre a possibilidade de voltar no tempo. 

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Pesquisa Datafolha confirmou a tendência observado pela Quaest: 53% dos entrevistados são a favor da prisão de Bolsonaro e 56% são contra a anistia aos golpistas. Apesar disso, 52% acham que o "mito" não será preso, contra 41% que ainda têm fé na Justiça. A pesquisa ouviu 3.054 pessoas em 172 municípios entre os dias 1º e 3 de abril.

A despeito da rejeição popular, Bolsonaro reuniu 44,5 mil pessoas no último domingo, na avenida Paulista, num movimento pró-anistia orquestrado pelo pastor Silas Malafaia. Na Câmara, bolsonaristas pressionam o presidente da Casa para pautar a PL da anistia e, assim, livrar Bolsonaro da prisão. No entanto, Hugo Motta tem sinalizado que não pretende atender à demanda da extrema direita. 

Dias antes, o senador Sergio Moro marcou presença no evento de lançamento da candidatura de Ronaldo Caiado à Presidência. Questionado sobre a situação jurídica de Bolsonaro, o ex-juiz da Lava-Jato e ex-ministro da Justiça do crápula golpista preferiu não comentar. Mas ao dizer que espera a união da direita centro direita em torno do nome do governador de Goiás, Moro sinaliza que descarta qualquer apoio a Bolsonaro. Pelo menos isso. 


A maioria das leis e equações usadas pelos físicos é simétrica no tempo e pode ser revertida, mas basta falar em viagens no tempo para alguém abrir a torneirinha da entropia e aguar o chope. Ken D. Olum Allen Everett, do Departamento de Física e Astronomia da Tufts University, apontaram falhas na teoria de Ronald Mallet (vide capítulo anterior), mas nem tudo são críticas. 

No livro "Como construir uma máquina do tempo", o autor de artigos científicos britânico Brian Clegg escreveu que nem todos os físicos concordam que o dispositivo planejado por Mallet possa funcionar, mas que a possibilidade é interessante o suficiente para que se promova uma tentativa experimental. 
 
Mallet continua realizando experimentos, mas deixa claro que os resultados "não são como no cinema; não acontecem depois de duas horas, ao custo do que se pagou pelo ingresso". Perguntado sobre as implicações éticas de voltar ao passado, ele cita o filme de 1994 "Timecop — O Guardião do Tempo", no qual Jean-Claude Van Damme interpreta um policial que trabalha para uma agência que regulamenta viagens no tempo, e se diz fã de Interestelar, que lida com ideias sobre como o tempo impacta pessoas no espaço diferentemente de pessoas na Terra e cujo embasamento científico foi alavancado pelo envolvimento do Nobel de física Kip Thorne.
 
Às vésperas de completar 80 anos, Mallet dificilmente conseguirá voltar até a Nova York dos anos de 1950 e reencontrar o pai, mas a magia do cinema pode lhe oferecer um vislumbre do passado. E se tanto a arte imita a vida quanto a vida imita a arte, talvez um dia as viagens no tempo se tornem tão corriqueiras quanto os voos internacionais, que eram inconcebíveis até 1909, quando Louis Blériot partiu de Les Barraques, na França, e chegou a Dover, na Inglaterra, 37 minutos depois.

No livro A Ordem do Tempo, o físico Carlo Rovelli, pioneiro nas pesquisas sobre gravidade quântica em loop,  sustenta que o tempo como o percebemos pode ser apenas uma ilusão resultante de nossa interação com o Universo em grande escala, e que basta remover certas suposições clássicas (como a ideia de um fluxo universal) para entender a física fundamental sem a necessidade de um tempo absoluto. 

Em outras palavras, o tempo é como um truque de mágica — real para quem assiste, mas sem existência própria nos bastidores do universo quântico. Nesse contexto teórico, o tempo deixa de ser uma variável contínua e absoluta e se torna algo que emerge das relações entre os eventos quânticos. 

Um evento quântico comum pode envolver duas partículas que se movem para frente no tempo, alteram-se mutuamente em algum momento e seguem rumo ao futuro por caminhos diferentes. Se uma delas entrar numa curva fechada do tipo tempo, ela poderá voltar e reassumir a posição que ocupava antes da interação, influenciando a própria transformação e anulando os estados paradoxais que poderiam ter consequências inaceitáveis no futuro. 
 
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sábado, 5 de abril de 2025

SOBRE O "SENTIDO HORÁRIO" DOS PONTEIROS DOS RELÓGIO

NÃO EXISTE TEMPO ABSOLUTO ÚNICO; CADA INDIVÍDUO TEM SUA PRÓPRIA MEDIDA DE TEMPO, QUE DEPENDE DE ONDE ELE SE ENCONTRA E DE COMO ELE ESTÁ SE MOVENDO.

Quando pensamos em tempo, costumamos imaginar uma linha que se estende do passado para o futuro. No entanto, como eu mencionei várias vezes na sequência sobre viagens no tempo, a "flecha do tempo" (ou "seta termodinâmica do tempo") aponta do passado para o futuro porque a tendência do Universo para a entropia sugere que o tempo flua nesse sentido. Mas nem as equações de Einstein definem um sentido único para ela, nem as leis da física embasam tal interpretação.


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A avaliação geral é de que a denúncia da PGR contra Bolsonaro é robusta, embora a divergência de Fux do voto do relator sugira que a condenação possa não ser unânime. Mas mesmo que o STF tenha o entendimento de que decisões das Turmas possam ser levados ao plenário se dois ministros defenderem absolvição, nada indica haja um clima de divergência ou que alguém mais entenda que o processo deva ir ao plenário. O próprio Fux compôs a unanimidade que transformou em ação penal a denúncia da PGR e enalteceu a qualidade do voto ácido de Moraes, que "não deixou pedra sobre pedra". Não são, salvo melhor juízo, palavras de quem pretende inocentar culpados.

Bolsonaro e seus apoiadores continuarão tentando obter apoio popular, constranger o STF, tumultuar a instrução processual, visando procrastinar a sentença condenatória. No entanto, aínda que o acordo de delação de Cid fosse anulado, o prejuízo seria do delator, já que as provas obtidas a partir da colaboração permaneceriam válidas. Além disso, salta aos olhos que, não fossem alguns militares e políticos cientes de seus deveres e tementes à lei, talvez estivéssemos sob um regime de exceção ou em plena guerra civil. 

Reduzir a participação de Débora Santos à pichação da estátua da Justiça é negar óbvio, uma vez que a moça estava ciente do objetivo golpista de seus atos contra o Estado Democrático de Direito — se isso justifica ou não uma pena de 14 anos de prisão é outra conversa. 

O próprio Bolsonaro, encalacrado até o pescoço por provas materiais e testemunhais, o "mito" insiste que tudo não passa de narrativa, de "pesca probatória" dos "ditadores" que o perseguem.

Para desmontar essa falácia, bastaria perguntar ao ex-presidente se ele foi ou não ameaçado de prisão pelo então comandante do Exército, General Marco Antônio Freire Gomes, e se foi, por quê?


Num evento organizado pela revista New Scientist, o físico italiano Carlo Rovelli esticou uma corda de uma ponta a outra do palco, pendurou uma caneta no meio e disse: "É aqui que estamos; à direita fica o futuro e à esquerda, o passado. O tempo é uma sequência de momentos que podemos ordenar, que tem uma direção preferida e que podemos medir com relógios". E acrescentou: "Quase tudo que eu falei está errado. É como se eu dissesse que a Terra é plana."

 

Não se sabe exatamente onde fica a fronteira entre um tempo que não tem preferência de rumo e um tempo que nunca flui para o passado. Os princípios da termodinâmica, formulados no século XIX com base em máquinas a vapor, não se aplicam ao Universo, onde o que define a passagem do tempo é a expansão do cosmos em todas as direções. Mas o assunto deste post não tem a ver com a seta do tempo propriamente dita, e sim com os ponteiros dos relógios, que se movimentam sempre da esquerda para a direita. E a pergunta que se coloca é: por quê? 


A resposta simples é que se trata de uma convenção, e o princípio filosófico conhecido como Navalha de Occam sugere que, em havendo diversas hipóteses formuladas sobre as mesmas evidências, a mais simples deve ser a correta. No entanto, o assim chamado "sentido horário" não é ditado pelas leis da física ou da matemática, nem tampouco pela nossa percepção do tempo. A explicação mais simples é que a origem desse movimento remonta aos antigos relógios de sol. 


Os instrumentos criados pelos antigos egípcios para medir a passagem do tempo eram baseados na sombra produzida pela luz solar em uma haste. Mais adiante, modelos que usavam a água — como as clepsidras — e areia — como as ampulhetas — foram largamente utilizados por diversas civilizações antigas, mas isso é outra conversa.

 

Acredita-se que o primeiro relógio mecânico foi idealizado pelo Papa Silvestre II, no século IX da nossa era, e que o primeiro "relógio-pulseira" foi encomendado pela irmã do imperador Napoleão Bonaparte ao relojoeiro Abraham-Louis Bréguet (embora alguns historiadores atribuam sua criação a Antoni Patek e Adrien Philippe, fundadores da conceituada marca Patek-Phillipe). Já o primeiro modelo masculino teria sido criado por Louis Cartier a pedido do inventor mineiro Alberto Santos Dumont (na verdade, o que o joalheiro fez foi adaptar uma correia de couro ao maior relógio de pulso feminino de sua coleção). 

 

No final dos anos 1960, o mecanismo da maioria dos relógios de pulso continha uma mola — para gerar energia —, uma espécie de massa oscilatória — para oferecer referência de tempo —, dois ou três ponteiros, um mostrador enumerado e diversas engrenagens. Tempos depois, a Bulova substituiu a roda de balanço por um transistor oscilador que, alimentado por uma bateria, mantinha um diapasão vibrando a algumas centenas de hertz, e mais adiante o cristal de quartzo — cujas propriedades já eram conhecidas e usadas para proporcionar a frequência exata em aparelhos de rádio e computadores — substituiu o diapasão, agregando maior precisão ao mecanismo. Mas isso também é outra conversa.

 

Os ponteiros dos relógios se movem da esquerda para a direita porque foram inspirados nos relógios de sol, e estes foram criados por civilizações que habitavam o hemisfério norte, onde as sombras projetadas pela luz solar se movem da esquerda para a direita ao longo do dia. Em última análise, o sentido dos ponteiros é uma questão cultural — se os relógios tivessem surgido no hemisfério sul, o sentido horário seria o que hoje chamamos de sentido anti-horário. 

 

Com exceção de Vênus e Urano, os planetas do Sistema Solar giram no sentido "anti-horário". O movimento de rotação da Terra se dá de oeste para leste, o que é essencial para a alternância entre dias e noites, além de influenciar marés, circulação dos ventos e diversos outros processos naturais. Cada rotação completa leva aproximadamente 24 horas, e cada translação — volta completa que o planeta dá em torno do Sol —, 365 dias e 6 horas (esse acréscimo gradual de tempo resulta em um dia extra a cada quatro anos, nos assim chamados "anos bissextos").


Observação: Na Roma Antiga, o dia 24 de fevereiro era chamado de "sexto die ante calendas martias" (sexto dia antes das calendas de março). Quando Júlio César reformou o calendário para resolver problemas de desalinhamento com as estações, ficou decidido que a cada quatro anos seria adicionado um dia extra após esse "sexto dia",  ou "bis sexto die" (literalmente "o sexto dia repetido" ou "duas vezes o sexto dia"), daí o termo "bissexto". 

 

A Terra dá uma volta competa em torno do próprio eixo em 23 horas, 56 minutos e 4 segundos, mas também se move em torno do Sol, e a posição do Sol mo céu varia conforme a estação do ano. Assim, estabeleceu-se que a duração dia solar médio em 24 horas. Todavia, as variações que a Terra sofre devido a fatores como a interação gravitacional com a Lua e o Sol e a distribuição de massas no planeta exigem que um ajuste de segundos bissextos seja feito de tempos em tempos, para manter a sincronia entre os relógios atômicos e a rotação real da Terra. 

sábado, 29 de março de 2025

DE VOLTA ÀS VIAGENS NO TEMPO — 12ª PARTE

O SOL QUE DESPONTA TEM QUE ANOITECER.

A possibilidade de o tempo não ser uma linha reta é uma das questões mais debatidas e desafiadoras da física teórica e da filosofia. Várias teorias exploram essa ideia, algumas baseadas na relatividade de Einstein e outras na existência de dimensões extras e universos paralelos.
 
Einstein demonstrou como a gravidade pode "curvar" o espaço-tempo, afetando a passagem em regiões sujeitas à uma intensa atração gravitacional — como o horizonte de eventos de um buraco negro, onde o tempo se desacelera em relação a áreas mais afastadas. Isso, por si só, não atesta a reversibilidade do tempo, mas confirma que ele não é absoluto e pode ser influenciado por massas e energias extremas.

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Nesta quarta-feira, Bolsonaro e outros 7 denunciados por tentativa de golpe de Estado foram convertidos em réus pela 1ª Turma do STF, a despeito dos esforços de seus advogados, todos criminalistas experientes, conhecidos por atuar em casos como o do mensalão e da Lava-Jato.
Demóstenes Torres, que defende o ex-comandante da Marinha, é procurador aposentado do Ministério Público de Goiás. Ele teve o mandato de senador cassado em 2012, suspeito de ter recebido R$ 3,1 milhões do bicheiro Carlinhos Cachoeira.  
Celso Sanchez Vilardi, que coordena a equipe jurídica de Bolsonaro desde janeiro, atuou nas defesas de empresários investigados em operações como Lava-Jato e Castelo de Areia e defendeu o empresário Eike Batista e o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares no caso do mensalão.
José Luis Oliveira Lima, advogado do general Braga Netto, defendeu o petista José Dirceu no caso do mensalão. 
Eumar Novacki, advogado de Anderson Torres, foi secretário da Casa Civil do governador do DF Ibaneis Rocha e secretário-executivo do Ministério da Agricultura na gestão Michel Temer. 
Paulo Renato Garcia Cintra Pinto, que defende Alexandre Ramagem, foi advogado do PRD, atuou na Assessoria Jurídica Eleitoral do MPF e nas campanhas eleitorais do PT.
Andrew Fernandes Farias, que defende o general Paulo Sérgio Nogueira, é especialista em ações envolvendo a Justiça Militar e presidiu Comissão de Direito Militar da Ordem dos Advogados do Brasil do Distrito Federal.
Sem comentários.
 
A Teoria das Cordas (sobre a qual já falamos em outras oportunidades) propõe que, além das três dimensões espaciais e uma temporal que percebemos, existem dimensões extras onde o tempo pode ser manipulado de maneiras que ainda não compreendemos. Isso levanta a possibilidade de curvaturas ou acessos não-lineares ao tempo em certos pontos do universo.
 
A Teoria do Big Bounce sugere que o Universo passa por ciclos de expansão e contração, tornando o tempo uma sucessão de "recomeços" após cada colapso cósmico, em vez de uma linha contínua. Dessa forma, a história cósmica seria cíclica, e o tempo, uma sequência de eventos recorrentes em escalas cosmológicas.
 
Um dos desafios para a viagem no tempo é a manipulação da entropia (sobre a qual também já falamos), que tende a aumentar, estabelecendo a "seta do tempo" do passado (baixa entropia) para o futuro (alta entropia). Para reverter esse fluxo, seria necessário encontrar uma forma de reduzir localmente a entropia, um conceito fundamental na criação de buracos de minhoca — atalhos cósmicos que supostamente conectam diferentes épocas ou regiões do espaço-tempo, mas exigem condições extremas, como a existência de matéria exótica.
 
Diversos cientistas têm contestado a noção há muito aceita pela ciência de que a seta do tempo seja uma parte elementar da natureza. Entre teorias e experimentos, há propostas para todos os gostos, da confirmação da seta do tempo até a demonstração de que o futuro afeta o passado. Há inclusive quem sustente que o Universo não dá marcha-a-ré e que a causalidade não se aplica no reino quântico.
 
Por outro lado, algumas teorias contestam a ideia de que a seta do tempo seja uma propriedade fundamental da natureza. Considerar que o futuro surge do presente implica aceitar um presente "fixo", ao menos no momento específico chamado presente, mas a professora Joan Vaccaro, da Universidade Griffith, sustenta que suas equações demonstram que nunca há "fixidez", só fluxo que empurra o passado para o futuro, impulsionado pela "agitação" intrínseca do mundo subatômico. 
 
Ela argumenta que a assimetria do tempo pode ter origem no comportamento sutil das partículas subatômicas, e que o tempo não é apenas um fluxo unidirecional, mas um fenômeno emergente impulsionado pela "agitação" quântica. Se confirmadas, suas equações poderiam redefinir nossa compreensão sobre a dinâmica temporal e abrir novas perspectivas para o estudo das viagens no tempo. 
 
O futuro pode ser mais maleável do que imaginamos, mas as chaves para essa compreensão ainda estão escondidas nos mistérios da física quântica.
 
Continua...

segunda-feira, 24 de março de 2025

DE VOLTA ÀS VIAGENS NO TEMPO — 11ª PARTE

É O INSTINTO DO ABUSO DO PODER QUE DESPERTA TANTA PAIXÃO PELO PODER.

Publicadas na obra Philosophiae Naturalis Principia Mathematica em 1667, as leis da dinâmica de Newton explicam por que as maçãs caem das árvores e a Terra gira em torno do Sol, e, por não distinguirem passado ou futuro, funcionam tão bem de trás para a frente quanto de frente para trás, sugerindo que, teoricamente, qualquer evento poderia ser revertido. No entanto, o cotidiano não reflete essa reversibilidade, como evidencia um vaso quebrado que não se reconstrói. 

A chave para entender por que o futuro é diferente do passado foi abordada por Ludwig Boltzmann no século XIX, quando a ciência ainda engatinhava e a teoria segundo a qual tudo é feito de minúsculas partículas (átomos) ainda estava sendo discutida. Segundo o físico austríaco, o conceito de entropia (detalhes nesta postagem) descreve a tendência do universo de se mover de um estado de baixa entropia (organizado) para alta entropia (desordenado), o que explicaria a irreversibilidade dos processos.

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

A primeira turma do STF começa a decidir amanhã se promove Bolsonaro a réu. Para tentar se livrar da prisão, o ex-presidente promoveu uma manifestação na praia de Copacabana — que reuniu menos de 2% do público previsto — e seu filho Eduardo se licenciou da Câmara Federal para denunciar nos EUA os "abusos" cometidos pelo STF. Nos bastidores, porém, o que se fala não é se o capetão será condenado, mas a quantos anos e quando ele começará a cumprir a pena. 
A exemplo do que o PT fez em 2018, quando Lula foi preso pela Lava-Jato, o "mito" tenta emplacar a narrativa de que  será um preso político. O plano é semelhante ao ataque às urnas em 2022, com a diferença de que o objetivo atual é convencer o Brasil e o mundo que seu julgamento é um jogo de cartas marcadas. 
Enquanto o filho do pai busca apoio de congressistas trumpistas para "revelar ao mundo” o que considera um estado de exceção no Brasil, aliados do clã buscam organizar visitas de integrantes de organismos internacionais e acionar o Tribunal Penal Internacional contra os supostos abusos do STF. O efeito prático é nulo, pois a corte internacional não tem poder de reverter uma decisão do judiciário tupiniquim. 
Num ambiente altamente polarizado — 51% dos brasileiros declara ser contra anistiar os presos pelo vandalismo do 8 de janeiro — a estratégia deixa os ministros numa situação pouco confortável.  
Bolsonaro sabe que dificilmente escapará de uma condenação, independentemente do número de convertidos que trotarão até a Avenida Paulista no próximo dia 6, para ver seu mito, já então convertido em réu, criticar o STF por, entre outras coisas, manter o caso na  Turma para acelerar os trâmites. 
No processo do mensalão — que envolveu 40 autoridades —, foram cerca de 5 anos entre o recebimento da denúncia e o julgamento que a corte usou praticamente todo o segundo semestre de 2012 para concluir. A defesa deve insistir que a decisão fique a cargo dos 11 ministros, mas o relator da encrenca e o atual presidente so tribunal são contra, e os ministros com mais tempo de casa ainda se recordam quão árduo foi julgar o mensalão em plenário.
 
Boltzmann sugeriu que o Universo experimentou inicialmente um estado de baixa entropia, mas não conseguiu explicar como isso teria sido possível. Segundo a teoria do Big Bang, tudo que existe hoje se formou a partir de uma partícula incrivelmente quente e densa, que se expandiu rapidamente. Esse conceito evoluiu, e teorias modernas, como a de Sean Carroll sobre "universos bebês" emergindo de um "universo-mãe", sugerem que a entropia é globalmente alta, mesmo que partes do Universo possam ter baixa entropia. De acordo com a teoria das cordas, existem múltiplos universos, cada qual regido por leis físicas próprias.
 
A premissa de que a seta do tempo que aponta do passado para o futuro não é uma certeza universal. Experimentos demonstraram que a reversibilidade do tempo pode ocorrer 
em escalas microscópicas, ainda que a interação entre partículas tenda a criar uma irreversibilidade em escalas mais complexas, nas quais a experiência do tempo irreversível se deve à tendência do Universo à desordem (aumento da entropia).
 
Inúmeras evidências sugerem que a reversibilidade do tempo é possível em sistemas quânticos. A reversão poderia ocorrer em condições extremas, como em universos paralelos, ou por manipulação de partículas subatômicas. Tanto a teoria das cordas quanto experimentos de partículas admitem viagens no tempo para o passado, desde que haja condições adequadas para reverter a entropia ou manipular as leis que regulam a passagem do tempo.
 
Entre os experimentos quânticos que exploram a reversibilidade, o entrelaçamento quântico é um dos mais fascinantes. Trata-se de 
um estado em que as partículas se tornam intrinsecamente conectadas, e o estado de uma não pode ser descrito independentemente do estado da outra, inobstante a distância que as separa. Descrito por Einstein como "ação fantasmagórica à distância", esse fenômeno parecia violar o princípio segundo o qual a velocidade da luz é o limite máximo universal.

ObservaçãoPesquisadores do Caltech demonstraram o entrelaçamento quântico entre dois diamantes macroscópicos distantes um quilômetro um do outro, conforme artigo publicado na prestigiada revista Physical Review Letters. A possibilidade de objetos macroscópicos exibirem comportamento quântico desafia nossa intuição sobre o mundo físico e atenua a linha divisória entre o mundo quântico e o clássico, mas ainda há desafios significativos a superar antes que estas aplicações se tornem realidade.
 
O Teorema de Bell (1964) foi fundamental para testar a validade da mecânica quântica. Nele, o físico irlandês desenvolveu desigualdades matemáticas que permitiram a experimentação de fenômenos que, de outra forma, seriam inacessíveis. Experimentos subsequentes, como os do físico francês Alain Aspect, demonstraram que o entrelaçamento quântico realmente ocorre, e que a informação poderia ser transmitida de maneira não-local e instantânea.
 
Em 1993, o físico americano Charles Bennett e outros cientistas propuseram uma forma de teletransporte quântico utilizando entrelaçamento. Não se trata do teletransporte que se vê nos filmes de ficção, e sim da transferência de informações de estado quântico entre partículas. Mas esse fenômeno tem implicações diretas na reversibilidade, já que a informação que "viaja" instantaneamente pode ser vista como um tipo de reversibilidade de estados quânticos.
 
Vale destacar que, em nível quântico, a reversibilidade não significa "voltar no tempo" como vemos na ficção, mas à capacidade de recuperar informações perdidas em um sistema fechado. A possibilidade de, sob determinadas condições, os sistemas quânticos poderem ser manipulados para retornar a um estado anterior levanta questões sobre como o universo funciona e até onde a reversibilidade é possível — uma linha de pesquisa que se conecta diretamente com teorias de viagens no tempo.
 
Continua...