George, o patriarca, tinha 40 anos completos no episódio de estreia — donde se conclui que ele nasceu em 2022. As videochamadas — corriqueiras para a família Jetson, mas que não passavam de ficção científica em 1962 — foram fundamentais durante a pandemia da Covid. Os televisores de telas finíssimas, comuns nos dias atuais, também não existiam na década de 60 — os volumosos aparelhos de tubo só deram lugar aos modelos com telas de LCD (maiores, mas muito mais leves) após a virada do século. Os relógios de pulso, por sua vez, estavam em alta nos anos 1960.
Além de exibir as horas, os relógios dos Jetsons faziam videochamadas e controlavam dispositivos domésticos — coisa que só se tornou possível na vida real depois que a Samsung lançou o Galaxy Gear, mas vale assinalar que o primeiro relógio "inteligente" foi o Seiko Ruputer (1998), que dispunha de processador de 8 bits a 3.6 MHz, 128 kB de RAM, 2 MB de armazenamento, tela de quartzo líquido (monocromática) de 102 x 64 pixels e um joystick em miniatura, que permitia interagir com o software interno. O gadget oferecia calendário com agenda, calculadora e games, mas sua baixa autonomia e a escassez de aplicativos decepcionaram os consumidores.
Em alguns episódios dos Jetsons, a matriarca da família, Jane, ativa um pequeno robô que aspira a casa — como fazem hoje os aspiradores inteligentes. Já a robô-faxineira Rosey, que divertia as crianças, era um sonho de consumo para os adultos — que pode virar realidade em breve: a Aeolus Robotics já anunciou um robô doméstico com formato humanoide semelhante ao do desenho.
Quando se trata de retratar o futuro em produções audiovisuais, o maior clichê são os carros voadores, que têm presença garantida nos mundo dos Jetsons. Na vida real, nós ainda não os vemos cruzando o céu, mas a promessa já existe: além do Genesis X1, da startup cearense Vertical Connect (detalhes no capítulo anterior), modelos da Eve — empresa de mobilidade aérea urbana da Embraer — devem ser lançados no mercado brasileiro em 2026.
Se as tecnologias do desenho conquistavam pela funcionalidade, o Jetpack ganhava as crianças pelo viés da diversão: colocar uma mochila nas costas e voar, assim como Elroy, era o sonho de consumo dos pequenos espectadores. Mas essa tecnologia já existe — em 2021, a empresa JetPack Aviation vendeu unidades para militares de um país do sudeste asiático.
No que concerne às viagens espaciais, um estudo científico que tomou como base o voo dos albatrozes — aves marinhas que costumam ser vistas em mar aberto — dá conta de que é possível aproveitar os ventos gerados pelo Sol para alcançar cerca de 2% da velocidade da luz, permitindo que espaçonaves ultrapassem os limites do sistema solar.
Um projeto capitaneado pelo pesquisador Mathias Larrouturou visa à construção de espaçonaves capazes de viajar pelo cosmos emulando o "voo dinâmico" dos albatrozes, ou seja, valendo-se dos ventos solares para ganhar impulso (em linhas gerais, trata-se de um fluxo de partículas lançadas pelo sol que cria uma bolha ao redor da heliosfera, permitindo atingir 0,5% da velocidade da luz durante 30 dias). Com diferentes velocidades de vento, o processo ganha energia sem o concurso do propulsor. Segundo Larrouturou, essa técnica abre as portas para a exploração de outros sistemas solares. A ver.