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segunda-feira, 19 de maio de 2025

O PAÍS DA CORRUPÇÃO — 6ª PARTE

RELEMBRAR O PASSADO É VIVER DUAS VEZES

 

Lula disputou a presidência três vezes até finalmente se eleger. Em 1989, perdeu para Collor no segundo turno, e em 1994 e 1998, para FHC, que foi o único mandatário eleito e reeleito no primeiro turno desde a redemocratização.

 

Em 2006, a despeito do escândalo do mensalão, o petista renovou seu mandato. Em 2010, jactando-se de ser capaz de "eleger até um poste", escalou Dilma Rousseff para manter aquecida a poltrona que pretendia voltar a disputar em 2014. 


Até então, mesmo tendo sido ministra de Minas e Energia e ministra-chefe da Casa Civil nos (des)governos de seu criador, o "poste" de Lula não passava de uma ilustre desconhecida. Como bem sintetizou Augusto Nunes, crítico ferrenho das (indi)gestões petistas: 

 

"Sem saber atirar, Dilma virou modelo de guerrilheira; sem ter sido vereadora, virou secretária municipal; sem passar pela Assembleia Legislativa, virou secretária de Estado, sem estagiar no Congresso, virou ministra; sem ter inaugurado nada de relevante, fez posse de gerente de país; sem saber juntar sujeito e predicado, virou estrela de palanque; sem jamais ter tido um único voto na vida até 2010, virou presidente do Brasil e renovou o mandato quatro anos depois, mediante o maior estelionato eleitoral da história" (lembrando que Bolsonaro veio depois).

 

Com a "mulher sapiens" na presidência de seu Conselho de Administração, a Petrobras pagou US$ 360 milhões por metade de uma refinaria que companhia belga ASTRA OIL havia comprado um ano antes por US$ 40,5 milhões. Mais adiante, uma decisão judicial obrigou a estatal a adquirir a outra metade da sucata, aumentando o prejuízo para US$ 1,18 bilhão. 


Dilma disse que o negócio só foi aprovado porque "cláusulas fundamentais" lhe eram desconhecidas, e culpou Nestor Cerveró, que não só não foi punido como foi promovido a diretor financeiro da BR Distribuidora. Em delação premiada, ele revelou que a campanha de Lula à reeleição havia sido financiada com propina paga pelo contrato dos navios-sonda Petrobras 10.000 Vitória 10.000, que custaram cerca US$ 1,2 bilhão (valor equivalente ao da compra da igualmente inútil refinaria de Pasadena).

 

Dilma fez o diabo para se reeleger — e conseguiu, mas foi impichada em 2016. A promoção de Temer (um caso curioso de vampiro que tem medo de assombração) pareceu uma lufada de vento numa catacumba, mas sua "ponte para o futuro" se revelou uma patética pinguela, e seu ministério de notáveis, uma notável confraria de corruptos. 


Em maio de 2017, o vazamento de uma conversa de alcova com o dono da Friboi quase derrubou o governo, mas Temer foi demovido da ideia de renunciar por sua tropa de choque, que o escudou das "flechadas de Janot". Refém das marafonas da Câmara, o nosferatu concluiu seu mandato-tampão como "pato manco" e transferiu a faixa a Bolsonaro, o mau militar e parlamentar medíocre que sempre teve aversão à democracia e tendência ao golpismo. E deu no que deu.   

 

Resumo da ópera: 

 

Collor foi impichado em 1992 e Dilma, em 2016. O "caçador de marajás" de fancaria renunciou horas antes do julgamento, mas ficou inelegível por 8 anos. Dilma foi condenada e deposta, mas uma vergonhosa tramoia urdida por Renan Calheiros e Ricardo Lewandowski (então presidentes do Senado e do Supremo) evitou que ela fosse inabilitada politicamente. Em 2018, a "mulher sapiens" disputou uma vaga no Senado por Minas gerais, mas terminou em quarto lugar.


Lula foi preso em abril de 2018, solto em novembro de 2019, descondenado e reabilitado politicamente por togas camaradas, visando evitar mais quatro anos sob o pior mandatário desde Tomé de Souza. A despeito de vir amargando os piores índices de popularidade de sua trajetória politica, o macróbio petista se recusa a largar o osso. Dilma, que mal consegue juntar sujeito e predicado numa frase que faça sentido, foi agraciada com presidência do Brics (salário de R$ 2,13 milhões por ano).


Durante a campanha de 2018, Bolsonaro prometeu pegar em lanças contra a corrupção petista. Eleito, facilitou a vida de corruptos — começando pelo filho, que lavava dinheiro em loja de chocolate. Em 2022, tentou vender aos comandantes das FFAA um golpe de Estado travestido de medida constitucional. Deu com os burros n'água e devolveu o Brasil ao PT. Inelegível até 2030 e na bica de ser condenado por tentativa de golpe, insiste que disputará novamente a Presidência em 2026. 


Como desgraça pouca é bobagem, a polarização política segue firme e forte. Mesmo que o Sun Tzu de Atibaia e o refugo da escória da humanidade despertem de seus devaneios, é provável que o esclarecidíssimo eleitorado tupiniquim despache para o segundo turno um par de sacripantas indicados por seus bandidos de estimação. 


Como um país assim pode dar certo?      

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

AINDA SOBRE TRAGÉDIAS E FARSAS...

 

Visando manter aquecida a poltrona presidencial até poder voltar a ocupá-la, Lula criou um "poste" e o vendeu como "gerentona eficiente". Mas a cria se revelou um conto do vigário no qual próprio criador caiuEntre 2013 e 2016, a economia brasileira encolheu 6,8% e o desemprego saltou de 6,4% para 11,2%. Foram ao olho da rua algo como 12 milhões de pessoas. Se Lula passou à história como presidente que fez a sucessora, Dilma se imortalizou como a criatura que desfez a obra do criador.

 

Dilma foi um arremedo de guerrilheira que jamais disparou um tiro — a não ser no próprio pé, ao se reeleger, devido ao tamanho da encrenca que herdou de si mesma. Jamais foi política e tampouco demonstrou vocação para gerir o que quer que fosse. Não obstante, com Dirceu e outras estrelas do alto escalão petista no xadrez e sem peito para levar adiante o "golpe via emenda constitucional" que lhe garantiria um terceiro mandato, Lula achou que ela seria mais fácil de manipular do que Marina Silva e, por “não ser política”, não se apegaria ao cargo. Só que a cria tomou gosto pelo poder e "fez o diabo" para se reeleger, azedando suas relações com o criador.

 

Dilma foi um Pacheco de terninho que, sem ter sido vereadora, virou secretária municipal; sem passar pela Assembleia Legislativa, virou secretária de Estado, sem estagiar no Congresso, virou ministra; sem ter inaugurado nada de relevante, posou de gerente de país; sem saber juntar sujeito e predicado, virou estrela de palanque; sem ter tido um único voto na vida até 2010, virou presidente do Brasil em outubro daquele ano e renovou o mandato quatro anos depois. Lula chegou a dizer — em off, naturalmente — que ele próprio foi a maior vítima de Dilma. Sua escolha feriu de morte a relação com Marina, que abandonou o governo em 2008 e o PT em 2009, e disputou a presidência pelo PV em 2010 — quando ficou em 3° lugar, com 19% dos votos válidos.

 

Dilma tinha o apoio de Lula e de marqueteiros de primeiríssimo time, como João Santana e sua mulher, Mônica Moura — ambos foram presos na 23ª fase da Lava-Jato e soltos mediante o pagamento de fiança no valor de R$ 31,4 milhões. Com as velas enfunadas por recursos milionários (oriundos, em grande parte, do propinoduto da Petrobras), o "poste" derrotou Marina no primeiro turno e venceu José Serra no segundo (por 46,91% a 32,61% dos votos válidos). Marina votou a disputar o Planalto em 2014 — primeiro como vice na chapa de Eduardo Campos, e depois como titular, já que o cabeça da chapa morreu num acidente aéreo a dois meses do primeiro turno. 

 

Mesmo tendo obtido 2 milhões de votos a mais que em 2010, Marina não conseguiu superar Aécio, que perdeu para Dilma no segundo turno por uma diferença de 3.459.963 votos válidos. Assim, superando a si mesma em incompetência, a cria de Lula pariu a maior crise econômica da história deste país e acabou penabundada do Planalto presidência em 31 de agosto de 2016. Graças a uma vergonhosa maracutaia urdida pelos então presidentes do Congresso e do STF, a gerentona de festim não teve os direitos políticos cassados por 8 anos, ao arrepio da Constituição e da Lei do Impeachment. 

 

Menos de 24 horas após ser notificada de sua deposição, a eterna estocadora de vento conseguiu se aposentar com o estipêndio mensal de R$ 5.189,82 ("teto" pago pelo INSS naquela época), embora o tempo de espera para conseguir atendimento na agência do INSS onde ela fez o pedido fosse de 115 dias. Uma sindicância aberta pelo Ministério do Desenvolvimento Social concluiu que a ex-chefa não só se valeu da influência de servidores de carreira do INSS para agilizar sua aposentaria como conseguiu o benefício sem apresentar toda a documentação necessária. 

 

Segundo a revista VEJA, no dia seguinte ao julgamento do impeachment o então ministro da Previdência Carlos Gagas e uma secretária pessoal de Dilma entraram pela porta dos fundos do posto do INSS, foram atendidos pelo chefe do local e em menos de 10 minutos o processo foi aberto no sistema e concluído de forma sigilosa. De acordo com a sindicância, Gabas usou sua influência no INSS para agilizar a concessão do benefício, e a servidora Fernanda Doerl calculou o tempo de serviço com base em informações fornecidas verbalmente, sem comprovação documental.

 

Resumo da ópera: Num país onde o desemprego é preocupante (para dizer o mínimo) e o salário-mínimo é de R$ 1.212,00 — quando deveria ser de R$ 6.641,58 segundo o DIEESE — o salário que a pior presidente da história desta bodega (noves fora o assassino de emas) dever receber é mais uma cusparada na cara do contribuinte brasileiro.

 

Triste Brasil. 

terça-feira, 2 de agosto de 2022

O DESEMPREGADO QUE DEU CERTO (DÉCIMA PARTE)

Pelo que foi exposto até aqui, percebe-se que conferir a Lula um terceiro mandato é tão perigoso para nossa frágil democracia quanto reeleger Bolsonaro. Senão vejamos.


Como vimos no capítulo anterior, a "inocência" do ex-presidiário é uma falácia que busca atribuir a um político corrupto a aura de "preso político". No processo do tríplex, a despeito dos mais de 400 recursos apresentados pela defesa, o petista foi condenado por mais de 10 magistrados em três instâncias do Judiciário.


Lula teve a pena aumentada pelo TRF-4 porque se valeu do cargo para permitir a nomeação de diretores na Petrobras que dividiam propina com dirigentes partidários em troca de apoio ao governo. Segundo os desembargadores, o esquema de corrupção petista fragilizou não só a Petrobras, mas também "todo o processo político brasileiro", uma vez que parte do dinheiro bancou campanhas milionárias via caixa 2 eleitoral. 


A culpabilidade do petralha foi reconhecida também pelo STJ, onde a condenação transitou em julgado, e nada disso foi revisto pelo STF, onde os processos foram anulados porque o ministro Fachin entendeu (com quase seis anos de atraso) que a 13ª Vara Federal de Curitiba carecia de competência territorial para julgar Lula et caterva. Não obstante, o "ex-corrupto" posa de "salvador da democracia", como se o Mensalão não tivesse sido criado para comprar apoio parlamentar e o Petrolão não tivesse sido sua expansão para além do Congresso — com efeitos devastadores para a democracia no Brasil e em alguns países vizinhos. 


Lula apoiou regimes autoritários em Cuba e na Venezuela. Teceu rasgados elogios ao comunismo na China e na Coreia do Norte. Lamentou a morte de Fidel como "a perda de um irmão mais velho, de um companheiro insubstituível, do qual jamais me esquecerei". Disse (em entrevista à agência oficial de notícias Xinhua) que o governo de Xi Jinping era um "exemplo de que é possível cuidar da população por meio de um governo sério e com responsabilidade para com seu povo", e que vitória do Partido Socialista Unido da Venezuela "ocorreu em total respeito às regras democráticas" e que a reeleição de Ortega na Nicarágua foi "uma grande manifestação popular e democrática" (a despeito de todos os adversários do tiranete estarem presos ou exilados).

 

Lula já disse publicamente que um de seus maiores arrependimentos (noves fora a criação de Dilma, que ele só reconhece em off) foi não ter "democratizado os meios de comunicação", e vem ameaçando regulamentar tanto a imprensa formal quanto as mídias sociais: "Eu vi como a imprensa destruía o Chávez. Aqui eu vi o que foi feito comigo. Nós vamos ter um compromisso público de que vamos fazer um novo marco regulatório dos meios de comunicação". Em 2004, ele enviou ao Congresso projeto de lei para criar um Conselho Federal de Jornalismo para "orientar, disciplinar e fiscalizar" o exercício da profissão. 


Salta aos olhos que, quando fala em "salvar a democracia", Lula visa aos interesses dos petistas e de partidos aliados, todos seguidores incondicionais do "grande líder". Que o PT e seu discurso "democrático, inclusivo e pregador da diversidade" toleram tudo, menos a opinião que diverge da deles. Assim, reconduzir políticos dessa catadura ao poder é permitir a volta do criminoso à cena do crime, como disse Geraldo Alckmin — antes de se tornar o mais novo amigo de infância de Lula — e Bolsonaro parafraseou seis meses atrás.

 

Voltando a Dilma, a inolvidável, consta que essa senhora ingressou na resistência em 1967, quando era noiva de Cláudio Galeno, seu primeiro marido e um dos líderes da Polop na capital mineira. Que se uniu ao Colina no fim de 1968 e se mudou para São Paulo, onde participou das tratativas para fundir o Colina e a VPR (de Carlos Lamarca) na VAR-Palmares (depois de se casar com o gaúcho Carlos Araújo, que seria corresponsável pelo fiasco das lojinhas Pão & Circo em meados dos anos 1990, como foi detalhado no capítulo 7).


O grupo de Lamarca achava o Colina muito estudantil, e a turma de Dilma temia que o movimento se militarizasse. Para a polícia, a guerrilheira "chefiou greves e assessorou assaltos a bancos", mas ela nega, e não há acusação dos militares sobre ações armadas. Ao final de seu depoimento no Dops — que tem 19 páginas —, Dilma deixa claro que não se arrepende de nada.

 

Observação: Dilma foi presa em São Paulo em 1970, portando documentos falsos. Numa das raras vezes que falou sobre tortura, disse que foi submetida à "cadeira do dragão" — onde o preso era amarrado para receber choques elétricos nas orelhas, na língua e nos órgãos genitais. Acabou condenada em dois processos pelo mesmo crime, mas seus advogados conseguiram manter apenas a pena menor (13 meses). Segundo o SNI, a VAR-Palmares tinha planos para tirá-la da cadeia — consta que uma autoridade seria sequestrada e trocada por presos políticos, entre os quais a "gênia" que Lula transformaria, décadas depois, em presidanta desta republiqueta de bananas. 

 

Depois de deixar a prisão, Dilma fixou residência Porto Alegre. Daqueles que conviveram com ela, somente o então diretor do Presídio Central acreditou que a mulher do trabalhista Carlos Araújo — esse, sim, um ícone do PDT gaúcho — pudesse alçar voos mais altos. Consultado na época se autorizava uma série de projetos elaborados pelos presos políticos para a cadeia da capital, incluindo as aulas para presidiários comuns ministradas por Dilma, o clarividente profetizou: "Claro, os presos políticos de hoje podem ser os dirigentes do país amanhã." 


Depois que o marido foi solto, Dilma manteve as aulas particulares, mas apenas para um pequeno núcleo que pretendia reerguer o PTB no Rio Grande do Sul. Também trabalhou pela fundação do PDT sob a batuta de Leonel Brizola. Foi nessa época que a outrora Wanda, Janete, Luísa, Stela, Marina e Maria Lúcia — que os militares chamavam de Joana D'Arc e Papisa da Subversão — desenvolveu o estilo professoral que nunca mais a abandonaria. 

 

Dilma foi secretária municipal de Finanças no governo do gaúcho Alceu Collares e duas vezes secretária estadual de Energia e Comunicação. Fez grandes amigos e aliados fiéis, mas também deixou um saldo de brigas e inimizades — graças a seu estilo arrogante e a notória incapacidade de contornar crises ou acalmar correligionários. Em 2000, quando Brizola deixou de apoiar o governo do petista Olívio Dutra, ela rompeu com o PDT e se filiou ao PT.

 

Atribui-se a Carlos Lacerda a máxima segundo a qual "quem nunca foi comunista aos 18 anos não teve juventude, e quem continua comunista depois dos 30 não tem juízo" Numa situação ditatorial, uma postura combativa se justifica, mas eleger presidente da República alguém com uma vida pregressa como a de Dilma (ou de Collor, de Lula e de Bolsonaro) não tem cabimento. Triste Brasil. 


Em tempoMuita gente tem saudades de ouvir a presidanta perorando, especialmente de improviso. De fato, não havia programa humorístico melhor. Há até quem sofre de crise de abstinência e fica no YouTube babando, com as mãos trêmulas, buscando antigos pronunciamentos. Para esses saudosistas (ou seriam masoquistas?), relembro um discurso que madame fez em portunhol. Além da versão castelhana do "dilmês" ser tosco, o conteúdo também deixou a desejar. Segundo a "gênia", o "neoliberalismo" é o grande culpado por todos os males do mundo! Vale a pena assistir, até porque agora se pode rir sem ter de chorar depois (como acontecia quando ela ainda posava de presidente desta banânia).  

 

Continua...

sábado, 30 de julho de 2022

O DESEMPREGADO QUE DEU CERTO (SÉTIMA PARTE)

 

Um dia após a divulgação da carta em defesa da democracia, o número de signatários passou de 3 mil para 100 mil. No dia 29, já eram mais de 300 mil. Num primeiro momento, Bolsonaro tripudiou: "Não precisamos de 'cartinha' em favor da democracia". Mais adiante, porém, publicou sua própria carta: "Carta de manifesto em favor da democracia. Por meio desta, manifesto que sou a favor da democracia. Assinado: Jair Messias Bolsonaro, presidente da República Federativa do Brasil". Foram apenas 27 palavras, mas, segundo o historiador e youtuber Marco Antonio Villa, o vocabulário do presidente é limitado a 500 verbetesDito isso, passo à postagem do dia:


Em fevereiro de 1995, época áurea do Plano Real, Dilma Vana Rousseff abriu uma lojinha de bugigangas nos moldes das populares casas de $ 1,99. Batizado de Pão & Circo, o negócio em gestação cumpriu a liturgia comercial habitual. Ao registro do CNPJ na Junta Comercial seguiu-se o aluguel de um imóvel em Porto Alegre (RS) para instalar a matriz. A filial foi erguida 4 meses depois no centro comercial Olaria, também na capital gaúcha. 


O problema é que a "gerenta" que cuidou da contabilidade da empresa era a mesma que lidaria mais adiante com as finanças do país. A loja quebrou em apenas 17 meses; o Brasil continua resistindo, mas nada garante que sobreviva a mais 4 anos de bolsonarismo boçal ou à volta do lulopetismo corrupto (conforme o resultado das urnas em outubro próximo).

 

Tocar uma lojinha de quinquilharias baratas deveria ser algo trivial, principalmente para alguém que, 15 anos depois, Lula apresentaria aos eleitores como a "gerentona" capaz de manter o Brasil no rumo do desenvolvimento. Mas, ao administrar seu comércio, a mulher sapiens cometeu erros banais e em sequência. E qualquer semelhança com a barafunda administrativa do país e os equívocos cometidos na área econômica a partir de 2010, que levaram ao desequilíbrio completo das contas públicas e à irresponsabilidade fiscal, não foi mera coincidência. 

 

Para começar, a loja foi aberta sem que os donos soubessem ao certo o que seria comercializado ali. A empresa foi registrada para vender de tudo um pouco a preços módicos, entre bijuterias, confecções, eletrônicos, tapeçaria, livros, bebidas, tabaco e até flores naturais e artificiais, mas acabou apostando no comércio de brinquedos para crianças, em especial os "Cavaleiros do Zodíaco". Os artigos eram importados de um bazar localizado no Panamá, para onde a sumidade e uma de suas sócias — a ex-cunhada Sirlei Araújo — viajaram três vezes para comprar os produtos. No entanto, apesar do baixo preço das mercadorias, o negócio da Pão & Circo era impopular — tão impopular quanto a própria Dilma se tornaria ao longo de seu aziago governo. 

 

Ao abrir a vendinha, Dilma não levou em conta que o olho do dono engorda o porco. Ela só aparecia por lá eventualmente, preferindo dar ordens e terceirizar as tarefas do dia a dia — como fez mais adiante no governo, ao delegar a economia ao ministro Joaquim Levy e a política a Michel Temer. Na sociedade da Pão & Circo, era Carlos Araújo, ex-marido de Dilma, que a aconselhava sobre como turbinar as vendas. Mas ele era tão inepto quanto ela seria anos depois, por ocasião da negociata de Pasadena.

 

Durante as duas primeiras gestões petistas, Dilma foi presidenta do Conselho de Administração da Petrobras nos períodos em que respondeu pela pasta de Minas e Energia (2003-2005) e chefiou a Casa Civil (2005-2010). Nesse entretempo, a petrolífera tupiniquim pagou US$360 milhões por metade de uma refinaria que um ano antes havia sido comprada pela empresa belga ASTRA OIL por US$40,5 milhões, e uma decisão judicial a condenou a comprar a outra metade da sucata, o que resultou num prejuízo de US$ 1,18 bilhão


Como de costume, Lula e sua pupila negaram conhecimento da maracutaia. Dilma atribuiu o monumental prejuízo a "riscos subestimados e decisões equivocadas", afirmou que o negócio só foi aprovado porque "cláusulas fundamentais lhe eram desconhecidas" e botou a culpa em Nestor Cerveró — que, curiosamente, não foi punido, mas promovido a diretor financeiro da BR DistribuidoraMais adiante, Lindinho” — como Cerveró era chamado por seus comparsas devido à blefaroptose — declarou aos investigadores da Lava-Jato que a campanha de Lula à reeleição teria sido financiada com propina paga pelo contrato dos navios-sonda Petrobras 10.000 e Vitória 10.000, que custaram US$1,2 bilhão (valor equivalente ao da compra da igualmente inútil refinaria de Pasadena). 


Ao alegarem que foram ludibriados, Lula e Dilma reconheceram sua total inadequação aos cargos que ocupavam, e creditar nessa falácia demonstra uma indescritível ingenuidade. Mas num país onde Lula e Bolsonaro disputam pesquisa a pesquisa a preferência do esclarecidíssimo eleitorado, dizer o quê?


Mesmo assim, "o Pacheco de terninho" (detalhes no próximo capítulo) teve uma carreira meteórica: Sem saber atirar, virou modelo de guerrilheira; sem ter sido vereadora, virou secretária municipal; sem passar pela Assembleia Legislativa, virou secretária de Estado, sem estagiar no Congresso, virou ministra; sem ter inaugurado nada de relevante, fez posse de gerente de país; sem saber juntar sujeito e predicado, virou estrela de palanque; sem jamais ter tido um único voto na vida até 2010, virou presidente do Brasil. 
Quatro anos depois, mediante o maior estelionato eleitoral da história (que só seria superado em 2018 pelo "mito" dos bolsomínions), a calamidade em forma de gente renovou o mandato, mas acabou afastada do cargo em maio de 2016 e penabundada em agosto, depois de levar o país à insolvência, a inflação à casa dos 2 dígitos e o desemprego à das dezenas de milhão.


Vale relembrar o pronunciamento da petista em rede nacional, em janeiro de 2013, dando conta de que "a economia ia de vento em popa" e concitando os apedeutas a reelegê-la no ano seguinte:


Queridas brasileiras e queridos brasileiros,

Acabo de assinar o ato que coloca em vigor, a partir de amanhã, uma forte redução na conta de luz de todos os brasileiros. Além de estarmos antecipando a entrada em vigor das novas tarifas, estamos dando um índice de redução maior do que o previsto e já anunciado. A partir de agora, a conta de luz das famílias brasileiras vai ficar 18% mais barata. É a primeira vez que isso ocorre no Brasil, mas não é a primeira vez que o nosso governo toma medidas para baixar o custo, ampliar o investimento, aumentar o emprego e garantir mais crescimento para o país e bem-estar para os brasileiros. Temos baixado juros, reduzido impostos, facilitado o crédito e aberto, como nunca, as portas da casa própria para os pobres e para a classe média. Ao mesmo tempo, estamos ampliando o investimento na infraestrutura, na educação e na saúde e nos aproximando do dia em que a miséria estará superada no nosso Brasil.

No caso da energia elétrica, as perspectivas são as melhores possíveis. Com essa redução de tarifa, o Brasil, que já é uma potência energética, passa a viver uma situação ainda mais especial no setor elétrico. Somos agora um dos poucos países que está, ao mesmo tempo, baixando o custo da energia e aumentando sua produção elétrica. Explico com números: como acabei de dizer, a conta de luz, neste ano de 2013, vai baixar 18% para o consumidor doméstico e até 32% para a indústria, a agricultura, o comércio e serviços. Ao mesmo tempo, com a entrada em operação de novas usinas e linhas de transmissão, vamos aumentar em mais de 7% nossa produção de energia, e ela irá crescer ainda mais nos próximos anos. Esse movimento simultâneo nos deixa em situação privilegiada no mundo. Isso significa que o Brasil vai ter energia cada vez melhor e mais barata, significa que o Brasil tem e terá energia mais que suficiente para o presente e para o futuro, sem nenhum risco de racionamento ou de qualquer tipo de estrangulamento no curto, no médio ou no longo prazo. No ano passado, colocamos em operação 4 mil megawatts e 2.780 quilômetros de linhas de transmissão. Este ano, vamos colocar mais 8.500 megawatts de energia e 7.540 quilômetros de novas linhas. Temos uma grande quantidade de outras usinas e linhas de transmissão em construção ou projetadas. Elas vão nos permitir dobrar, em 15 anos, nossa capacidade instalada de energia elétrica, que hoje é de 121 mil megawatts. Ou seja, temos contratada toda a energia que o Brasil precisa para crescer, e bem, neste e nos próximos anos.

O Brasil vive uma situação segura na área de energia desde que corrigiu, em 2004, as grandes distorções que havia no setor elétrico e voltou a investir fortemente na geração e na transmissão de energia. Nosso sistema é hoje um dos mais seguros do mundo porque, entre outras coisas, temos fontes diversas de produção de energia, o que não ocorre, aliás, na maioria dos países. Temos usinas hidrelétricas, nucleares, térmicas e eólicas, e nosso parque térmico, que utiliza gás, diesel, carvão e biomassa foi concebido com a capacidade de compensar os períodos de nível baixo de água nos reservatórios das hidrelétricas. Praticamente todos os anos as térmicas são acionadas, com menor ou maior exigência, e garantem, com tranquilidade, o suprimento. Isso é usual, normal, seguro e correto. Não há maiores riscos ou inquietações.

Surpreende que, desde o mês passado, algumas pessoas, por precipitação, desinformação ou algum outro motivo, tenham feito previsões sem fundamento, quando os níveis dos reservatórios baixaram e as térmicas foram normalmente acionadas. Como era de se esperar, essas previsões fracassaram. O Brasil não deixou de produzir um único quilowatt que precisava, e agora, com a volta das chuvas, as térmicas voltarão a ser menos exigidas. Cometeram o mesmo erro de previsão os que diziam, primeiro, que o governo não conseguiria baixar a conta de luz. Depois, passaram a dizer que a redução iria tardar. Por último, que ela seria menor do que o índice que havíamos anunciado.


Hoje, além de garantir a redução, estamos ampliando seu alcance e antecipando sua vigência. Isso significa menos despesas para cada um de vocês e para toda a economia do país. Vamos reduzir os custos do setor produtivo, e isso significa mais investimento, mais produção e mais emprego. Todos, sem exceção, vão sair ganhando. Aproveito para esclarecer que os cidadãos atendidos pelas concessionárias que não aderiram ao nosso esforço terão, ainda assim, sua conta de luz reduzida, como todos os brasileiros. Espero que, em breve, até mesmo aqueles que foram contrários à redução da tarifa venham a concordar com o que eu estou dizendo.

Aliás, neste novo Brasil, aqueles que são sempre do contra estão ficando para trás, pois nosso país avança sem retrocessos, em meio a um mundo cheio de dificuldades. Hoje, podemos ver como erraram feio, no passado, os que não acreditavam que era possível crescer e distribuir renda. Os que pensavam ser impossível que dezenas de milhões de pessoas saíssem da miséria. Os que não acreditavam que o Brasil virasse um país de classe média. Estamos vendo como erraram os que diziam, meses atrás, que não iríamos conseguir baixar os juros nem o custo da energia, e que tentavam amedrontar nosso povo, entre outras coisas, com a queda do emprego e a perda do poder de compra do salário. Os juros caíram como nunca, o emprego aumentou, os brasileiros estão podendo e sabendo consumir e poupar. Não faltou comida na mesa, nem trabalho. E nos últimos dois anos, mais 19 milhões e 500 mil pessoas, brasileiros e brasileiras, saíram da extrema pobreza.

O Brasil está cada vez maior e imune a ser atingido por previsões alarmistas. Nos últimos anos, o time vencedor tem sido o dos que têm fé e apostam no Brasil. Por termos vencido o pessimismo e os pessimistas, estamos vivendo um dos melhores momentos da nossa história. E a maioria dos brasileiros sente e expressa esse sentimento. Vamos viver um tempo ainda melhor, quando todos os brasileiros, sem exceção, trabalharem para unir e construir. Jamais para desunir ou destruir. Porque somente construiremos um Brasil com a grandeza dos nossos sonhos quando colocarmos a nossa fé no Brasil acima dos nossos interesses políticos ou pessoais.

Muito obrigada e boa noite.


Pois é, deu no que deu.


Continua...

terça-feira, 26 de julho de 2022

O DESEMPREGADO QUE DEU CERTO (SEXTA PARTE)

 

Após presidir o Brasil de 2003 a 2010, Lula deixou o cargo com o ego inflado e a popularidade nas alturas. Suas gestões foram marcadas por políticas sociais (como o Bolsa Família), crescimento da economia (puxado, em grande medida, pela alta das commodities) e escândalos de corrupção (como o Mensalão). Ironicamente, a despeito de boa parte da alta cúpula petista ter acabado na cadeia, o maior interessado no esquema sequer foi indiciado na ação penal 470. E ainda conseguiu eleger um "poste" para manter aquecida a poltrona presidencial até que ele voltasse a ocupá-la, dali a quatro anos. 

 

Durante um jantar regado a Romanée-Conti — vinho da Borgonha que chega a custar US$ 25 mil a garrafa —, Lula tirou uma baforada da cigarrilha cubana (acesa pelo diligente vassalo Delúbio Soares) e disse: "Sem falsa modéstia, companheiros, eu elejo até um poste para governar o Brasil." E elegeu mesmo. Mas ele não contava com o imprevisto, que, como se sabe, pode ter voto decisivo na assembleia dos acontecimentos. 

 

Antes de empalar a nação com a gerentona de festim, o petralha-mor planejava emplacar seu ministro-chefe da Casa Civil. Mas a canoa virou quando o guerrilheiro de fancaria foi denunciado por Roberto Jefferson como operador-mor do Mensalão. O médico ribeirão-pretano Antonio Palocci, ministro da Fazenda durante a primeira gestão lulopetista, também foi cogitado. Mas o barco afundou quando veio à tona o imbróglio envolvendo o caseiro Francenildo Costa, testemunha de acusação no “Escândalo da República de Ribeirão Preto” (cujo cenário era uma mansão de Brasília onde rolavam negociatas do governo em meio a encontros com prostitutas agendados pela cafetina Jeany Mary Corner). 

 

O único "poste" fabricado pelo morubixaba da Petelândia que deu alguma luz, noves fora Fernando Haddad na disputa pela prefeitura de São Paulo  que não passou de uma "estaca", pois perdeu a reeleição para Doria em 2016 e foi derrotado por Bolsonaro no pleito presidencial de 2018 —, foi Dilma. A tragédia começou quando Dirceu e outras estrelas do alto escalão petista foram parar no xadrez. Lula, sem ter como levar adiante o golpe (via emenda constitucional) que lhe garantiria o terceiro mandato, preferiu a estocadora de vento à Marina Silva, achando que ela não se apegaria ao cargo e seria mais fácil de manipular. Ledo engano: a cria não só tomou gosto pelo poder como "fez o diabo" para se reeleger, o que azedou suas relações com o criador. 

 

Esse "erro estratégico" feriu de morte a relação de Lula com Marina, que abandonou o governo em 2008 e o PT no ano seguinte. Em 2010, filiada ao PV, Marina concorreu à Presidência, mas Dilma contava com o apoio do mentor, da máquina pública e dos marqueteiros como João Santana e Mônica Moura — que mais adiante seriam presos na 23ª fase da Lava-Jato e soltos mediante o pagamento de fiança de R$ 31,4 milhões. Isso para não falar nos milhões de reais oriundos do propinoduto da Petrobras. Assim, a ex-guerrilheira de fancaria derrotou o tucano José Serra por 46,91% a 32,61% dos votos válidos.

 

Observação: Monica Moura revelou que Lula teve um "estremecimento" com Dilma em 2014, quando ele quis ser o candidato e ela não aceitou. Em depoimento o MPF, a publicitária relatou conversas que João Santana manteve com a presidenta nos meses que antecederam a disputa eleitoral daquele ano. 

 

Marina disputou novamente a presidência em 2014, primeiro como vice na chapa do peessedebista Eduardo Campos — o partido que ela havia criado em fevereiro de 2013 não conseguiu registro junto ao TSE a tempo lançá-la candidata ―, e depois como titular — Campos morreu num acidente aéreo a dois meses do primeiro turno. Dada essa reviravolta, imaginou-se que Marina enfrentaria Aécio no segundo turno, mas ela foi escanteada por Dilma, que venceu o tucano safado por uma vantagem de 3.459.963 de votos. Se os 10% dos eleitores que anularam o voto, votaram em branco ou se abstiveram de votar naquele pleito tivessem votado no neto de Tancredo, os próximos capítulos da história desta banânia poderiam ter sido bem diferentes, ainda que não necessariamente gloriosos. 

 

Superando a si mesma em incompetência, Dilma produziu a maior crise econômica que este país amargou desde a redemocratização. A inépcia e a arrogância da "figura feminina de expressão tristemente notável" — como Dilma era descrita nos autos da ação penal 366/70 — propiciaram seu afastamento em maio de 2016 e o pé na bunda definitivo em 31 de agosto daquele ano. 

 

Continua...

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

RESTAURE-SE O IMPÉRIO DA MORALIDADE OU LOCUPLETEMO-NOS TODOS! (PARTE X)


Em 2012, assistimos estarrecidos (mas esperançosos) à condenação da alta cúpula do Mensalão. Em 2016, livramo-nos de Dilma, que afundou o Brasil na maior recessão da história republicana do país — e está prestes a perder o primeiro lugar no ranking para Bolsonaro, mas isso é outra história.

Quanto ao poste de Lula, nenhuma surpresa: em fevereiro de 1995, quando a paridade cambial entre o real e o dólar favorecia sobremaneira a importação e revenda de badulaques, a calamidade em forma de gente faliu duas lojinhas tipo R$ 1,99 que havia montado em Porto Alegre e batizado com o sugestivo nome de “Pão & Circo” — que remete a uma estratégia romana destinada a entreter a plebe ignara, insatisfeita com os excessos do Império.

Comercializar quinquilharias baratas deveria ser algo trivial para alguém que, 15 anos depois, se apresentaria aos eleitores como a “gerentona” capaz de manter o Brasil no rumo do desenvolvimento. O problema, para Dilma e seus três sócios, é que a futura presidente cuidou da contabilidade da empresa como lidaria mais adiante com as finanças do País: em julho de 1996 seu comercio já não existia mais.

Para começar, a loja foi aberta sem que os donos soubessem ao certo o que seria comercializado ali. Às favas o planejamento — primeiro passo para criação de qualquer negócio que se pretenda lucrativo. A empresa foi registrada para vender de tudo um pouco a preços módicos, entre bijuterias, confecções, eletrônicos, tapeçaria, livros, bebidas, tabaco e até flores naturais e artificiais. Mas Dilma acabou apostando no comércio de brinquedos para crianças, em especial os “Cavaleiros do Zodíaco”.

Os artigos revendidos pela Pão & Circo eram importados de um bazar localizado no Panamá, para onde a grande economista e a sócia e ex-cunhada Sirlei Araújo viajavam regularmente para comprar os produtos. Apesar de a mercadoria custar barato, o negócio era impopular — como Dilma se tornaria mais adiante. 

Ao abrir a vendinha, a mulher sapiens não levou em conta que “o olho do dono engorda o porco”, e só aparecia por lá eventualmente, preferindo dar ordens e terceirizar as tarefas do dia a dia — como fez ao delegar a economia ao ministro Joaquim Levy e a política ao vice Michel Temer — até este desistir da função dizendo-se boicotado pelo (então) ministro-chefe da Casa Civil Aloizio Mercadante.

Na sociedade da Pão & Circo, o equivalente a Mercadante era Carlos Araújo, ex-marido de Dilma, que a aconselhava sobre como turbinar as vendas, mas era tão inepto quanto a futura chefa da Casa Civil e presidenta do Conselho de Administração da Petrobrás no governo de Lula demonstrou ser na negociata de Pasadena. Mesmo assim, a empresária de festim teve uma carreira meteórica: sem saber atirar, virou modelo de guerrilheira; sem ter sido vereadora, virou secretária municipal; sem passar pela Assembleia Legislativa, virou secretária de Estado; sem estagiar no Congresso, virou ministra; sem ter inaugurado nada de relevante, virou estrela de palanque; sem jamais ter tido um único voto na vida até 2010, virou presidente de país.

Observação: Até os pedalinhos do Sítio Santa Bárbara, em Atibaia, sabiam desde sempre que Lula institucionalizou a corrupção no Brasil. E quem não sabia ficou sabendo quando o procurador Deltan Dallagnol apresentou à imprensa um PowerPoint tosco, mas elucidativo, demonstrando que o picareta dos picaretas era o comandante máximo da ORCRIM. Dilma foi o maior erro tático que o petista cometeu em sua trajetória política. Dias atrás, ele próprio disse em entrevista à CBN que não pretende incluir a nefelibata da mandioca em sua campanha à Presidência nem em um eventual futuro governo. A obviedade chapada dos motivos dispensa maiores considerações.

Arrogante, pedante, intransigente e mouca à voz da razão, Dilma montou uma arapuca para si mesma, mas levou de embrulho tanto os inconsequentes que a reconduziram ao Planalto quanto a parcela pensante dos brasileiros. Num monumental estelionato eleitoral, sua alteza irreal preços administrados, aumentou gastos com programas eminentemente eleitoreiros e “pedalou” a mais não poder. Somado à irresponsabilidade fiscal, seu apetite eleitoral aumentou o inchaço da máquina pública e resultou na falência do Estado — para se ter uma ideia, enquanto a Casa Branca contava com 468 servidores, o Palácio do Planalto contabilizava 4.487 funcionários.

Em setembro de 2015, nove meses depois do início da segunda (e ainda mais funesta) gestão da estocadora de vento, o Orçamento já acumulava um rombo de R$ 30 bilhões — algo nunca visto até então. Era o começo do fim: a despeito de as pedaladas fiscais terem sido o “motivo oficial” da deposição, a petista foi expelida do cargo pelo conjunto de sua obra e por sua absoluta falta de traquejo no trato com o Parlamento. 

Num primeiro momento, a troca de comando foi como uma lufada de ar fresco numa catacumba. O novo presidente sabia até falar! Considerando que passáramos 13 anos ouvindo os garranchos verbais de um semianalfabeto e as frases desconexas de uma destrambelhada que não era capaz de juntar sujeito e predicado numa frase que fizesse sentido, ter um mandatário que usava até mesóclises era um refrigério. 

Embora fosse impossível consertar o país da noite para o dia, Temer conseguiu debelar a inflação (que rodava pelos 10% quando ele assumiu), reduzir de maneira “responsável” a Selic e aprovar a PEC do Teto dos Gastos e a Reforma Trabalhista. Mas seu ministério de notáveis revelou-se uma notável agremiação de corruptos — que foram caindo à razão de um por mês.

O primeiro a cair foi Romero Jucá, o “Caju”, que deixou o Ministério do Planejamento uma semana após a nomeação — só que continuou no governo, ocupando uma secretaria criada especialmente para preservar seu direito ao foro privilegiado. Na sequência, demitiram-se ou foram demitidos Fabiano SilveiraHenrique Eduardo AlvesGeddel Vieira Lima e mais meia dúzia de ministros e/ou assessores de primeiro escalão. Temer moveu mundos e fundo$ para preservar Eliseu Padilha, o “Primo”, e Wellington Moreira Franco, o “Angorá”, que o ajudavam a comandar “a quadrilha mais perigosa do Brasil”, como disse Joesley em entrevista à revista Época.   

Livramo-nos de Dilma, mas herdamos Michel Temer, que jamais conquistou a simpatia dos brasileiros. E nem poderia, tendo sido vice de quem foi e presidido o PMDB por 15 anos. Após o julgamento do impeachment, a imprensa publicou vários artigos acusando o procurador Deltan Dallagnol, coordenador da Lava-Jato em Curitiba, de defender um “direito autoritário, próprio das tiranias” e a “relativização do direito de defesa”. Curiosamente, esses mesmos veículos de comunicação não manifestaram a mesma preocupação quando a petista era presidente. Coisas do Brasil.

Em fevereiro de 2017 o partido de Temer indicou Edison Lobão para presidir a CCJ do Senado, numa evidente estratégia de frear os avanços da operação anticorrupção. Lobão era defensor ferrenho da anistia ao caixa 2 e crítico figadal das delações premidas (uma das principais ferramentas da força-tarefa), e dizia que acordos de colaboração haviam virado “um inquérito universal” e poderiam levar o Brasil à “tirania”. Para surpresa de ninguém, partidos investigados se empenharam em bloquear um eventual terceiro mandato de Janot e a possível escolha de alguém próximo a ele para chefiar a PGR.

Mesmo com a podridão aflorando no seu entorno, o presidente seguia adiante, levando a Nau dos Insensatos pelas águas revoltas da crise como um timoneiro experimentado. Sob seu comando, dizia, o Brasil chegaria são e salvo às próximas eleições e seria entregue fortalecido ao próximo dirigente. 

A coisa até funcionou durante algum tempo, a despeito da pecha da ilegitimidade — uma falácia petista, pois quem votou em Dilma votou na chapa; como vice da anta, Temer não só era seu substituto eventual como encabeçava a linha sucessória presidencial. O que ele fez para ser promovido a titular e o fato de seu governo ter degringolado já é outra conversa.

Mas o nosferatu que jurou que não interferiria na Lava-Jato, que afastaria quem fosse denunciado e exoneraria quem se tornasse réu deu um salvo-conduto aos assessores citados nas delações, pois precisava deles para blindar o governo. Só que faltou combinar com os russos, ou melhor, com Joesley Batista: Em maio de 2017, Temer foi abatido em seu voo de galinha pela delação premiada do moedor de carne bilionário e de outros seis altos executivos da JBF/J&F.

Nossa história recomenda darmos mais atenção à figura do vice-presidente. Em 15 de novembro de 1889, um golpe militar capitaneado pelo marechal Deodoro da Fonseca apeou D. Pedro II do trono e substituiu a monarquia constitucionalista pela república presidencialista. Deodoro presidiu o país até 1891, quando então "foi convidado a renunciar" e substituído pelo vice — o também marechal Floriano Peixoto —, que concluiu o mandato-tampão e foi sucedido por Prudente de Moraes, que entrou para a história não só como o primeiro civil a presidir o país, mas também como o primeiro presidente eleito pelo voto direto.

Seria pedir demais aos eleitores brasileiros — que raramente se lembram em que votaram para deputado — analisarem cuidadosamente a composição das chapas que disputam a Presidência, mas o fato é que nove vices terminaram os mandatos de seus titulares: Floriano PeixotoNilo Peçanha, Delfim Moreira, Café Filho, João Goulart, José SarneyItamar Franco e Michel Temer.

Claro que, não fossem os vices, outros sucessores e outras formas de sucessão haveria, mas seria oportuno questionar a real necessidade da figura do vice nos tempos atuais. Para o reserva é ótimo: a vice-presidência rende palácio à beira do lago, diversas mordomias e, em caso de infortúnio do titular, até a Presidência. Para o país, no entanto, essa peça serve apenas para decoração, quando não para conspirar contra o titular, como fez Michel Temer.

Filho imigrantes libaneses, Michel Miguel Elias Temer Lulia nasceu em Tietê (SP), graduou-se em Direito pela USP, atuou como advogado trabalhista e lecionou na PUC-SP e na Faculdade de Direito de Itu antes de ingressar na vida pública como oficial de gabinete de Ataliba Nogueira, então secretário de Educação do governo de São Paulo. Em 1981, filiou-se ao PMDB (hoje MDB); em 1983, foi nomeado procurador-geral do Estado de São Paulo pelo então governador Franco Montoro; no ano seguinte, assumiu a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo; dois anos depois, disputou uma vaga na Câmara Federal, conseguiu uma suplência e assumiu a cadeira do deputado licenciado Tidei de Lima, tornando-se constituinte.

Ao longo de seis mandatos, Temer presidiu a Câmara em 1997, 1999 e 2009 e o PMDB de 2001 até o final de 2010, quando se licenciou do cargo para assumir a vice-presidência da República. Em maio de 2016, quando Dilma foi afastada, passou de “vice decorativo” a presidente interino e acabou efetivado no cargo em agosto, depois que a titular foi devida e definitivamente defenestrada.

Continua...