segunda-feira, 28 de abril de 2025

O BRASIL DA CORRUPÇÃO

NÃO HÁ ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO BRASIL; O BRASIL É UMA ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA.

A corrupção desembarcou em Pindorama travestida de nepotismo: na epístola em que comunicou o "achamento do Brasil", Pero Vaz de Caminha rogou ao rei de Portugal que intercedesse por seu genro, preso por roubo e degredado para a ilha de São Tomé, na África.

Não se sabe a duração do castigo imposto ao contraparente do escriba nem se o pedido foi atendido, mas sabe-se que a corrupção assola a política tupiniquim desde os tempos de antanho, e que os poderosos de hoje pouco diferem da elite colonial no tocante ao tráfico de influência, nepotismo, favorecimento e abuso de autoridade. Dito em português do asfalto, mudaram as moscas, mas a merda continua rigorosamente a mesma.

 

Mem de Sá, governador-geral do Brasil entre 1558 e 1572, foi acusado de enriquecimento ilícito. Os mercadores de escravos que saíam da África rumo ao Rio da Prata e paravam no Rio de Janeiro para abastecer tinham de pagar propina ao governador da capitania. Dom Lourenço de Almeida, que governou Minas Gerais entre 1720 e 1732, fez fortuna com ouro e diamantes extraídos à revelia da Coroa Portuguesa. Seu governo era auditado a cada três anos, mas ele subornava o responsável pela devassa.

No início do século XVII, a elite local controlava a política e a economia mineira, e, em contrapartida, ganhava do rei o direito à impunidade. As autoridades envolvidas na repressão ao contrabando praticavam contrabando e lucravam muito, pois Portugal fazia vista grossa — se a política da Coroa fosse implantada de forma inflexível, o Império não teria resistido. 


Como o que menos presta é o que mais dura, os políticos de hoje continuam praticando os mesmos atos espúrios que seus antepassados do século XVI. No entanto, seja hoje, seja no passado, a corrupção só pode existir com a conivência da sociedade. 


Houve corrupção no Brasil colonial, nos tempos do Império, na República Velha, na Era Vargas, na Segunda República, na ditadura militar — a ideia de que não houve corrupção durante os anos de chumbo é falsa; a repressão à imprensa impediu que os escândalos viessem à tona e mascarou os abusos do regime — e continua havendo na "Nova República". 


Sarney foi alvo de duas denúncias, mas o dito ficou pelo não dito. Collor foi acusado pelo irmão de envolvimento no "Esquema PC" e renunciou horas antes do julgamento de seu impeachment, mas ficou inelegível por 8 anos e só voltou à política nos anos 2000. No exercício do mandato de senador (2006-2022), assaltou os cofres da Petrobras Distribuidora. Apesar de ter sido condenado pelo STF8 anos de 10 meses de reclusão em 2023, só foi preso na madrugada da última sexta-feira.


Itamar Franco Fernando Henrique não foram acusados de envolvimento com corrupção, O grão-duque tucano comprou votos para aprovar a PEC da reeleição, mas o engavetador-geral Geraldo Brindeiro blindou suas penas vistosas.


 Lula, por sua vez, foi réu em duas dúzias de ações criminais, condenado em segunda instância a 12 anos e 1 mês de reclusão em 2018 e colocado numa cela VIP da PF em Curitiba e solto 580 dias depois, quando o STF proibiu (por 6 votos a 5) que criminosos condenados começassem a cumprir suas penas antes do trânsito em julgado da sentença condenatória. 


Como se não bastasse, uma curiosa epifania revelou ao ministro Edson Fachin  com mais de 5 anos de atraso — que a 13ª Vara Federal de Curitiba carecia de competência territorial para processar e julgar o petista, e tanto suas duas condenações (já transitadas em julgado no STJ) quanto os demais processos que tramitavam contra ele na JF do Paraná foram anulados. 


Em 2022, com as velas enfunadas por ventos antibolsonaristas, o ex-presidiário mais famoso da história desta banânia foi reconduzido ao Palácio do Planalto.


Em 2010, Lula escalou uma nulidade da qual ninguém ouvira falar para "manter o Brasil no rumo do desenvolvimento" até que ele pudesse voltar ao trono. A dita-cuja cuidou da economia do país como lidou com a contabilidade das duas lojinhas de quinquilharias importadas que levou à falência em 1996 — época em que a paridade entre o dólar e o real favorecia esse tipo de negócio.


Em 2016, a "presidanta" de araque foi impichada e se tornou ré por corrupção e lavagem de dinheiro. Mas como vivemos no país da impunidade, os processos contra ela foram arquivados; como vivemos no país da antimeritocracia, ela foi recompensada com a presidência do Banco dos Brics


Michel Temer passou de vice a titular com o impeachment da nefelibata da mandioca, mas seu governo capenga ruiu com a divulgação da conversa de alcova com o moedor de carne bilionário Joesley Batista. Ele cogitou de renunciar, mas mudou de ideia e, quase dois dias depois, porejando indignação, disse à nação que "a investigação pedida pelo STF seria o território onde surgiriam todas as explicações, e que não renunciaria. Ato contínuo, comprou votos para sepultar as denúncias, tornou-se refém dos deputados venais, terminou seu mandato-tampão como pato-manco e transferiu a faixa para Bolsonaro em janeiro de 2019. 


Sem o escudo do foro privilegiado, o vampiro do Jaburu se tornou réu em quatro processos e chegou a ser preso, mas foi libertado dias depois pelo então presidente da 1ª Turma do TRF-2 — que ficou afastado do cargo durante 7 anos, acusado de venda de sentenças e formação de quadrilha, mas a ação acabou trancada pelo STF. 


Observação: Segundo foi publicado na revista Exame em março de 2019, quando Temer foi preso, o único ex-mandatário da "Nova República" que não corria risco iminente de ir parar na cadeira era Fernando Henrique. Na época, Lula estava cumprindo pena em Curitiba, Sarney era alvo de duas denúncias, Collor respondia a sete inquéritos (e se tornara réu num deles em 2017), Dilma respondia por corrupção e lavagem de dinheiro e o Vampiro do Jaburu era tetra-réu (duas vezes no RJ, uma em SP e outra no DF).


Em 2021, discursando para a récua de convertidos no chiqueirinho do Alvorada, Bolsonaro destacou que não há nada tão ruim que não possa piorar. Para não deixar dúvidas, tentou dar golpe de Estado no final do ano seguinte. Se os ventos não mudarem, ele e seus asseclas serão condenados entre setembro e outubro e poderão passar o próximo Natal atrás das grades.

Os estratagemas usados pela velha elite colonial persistem até hoje nas práticas ilícitas daqueles que se dizem representantes do povo — como atestam o mensalão, o petrolão e o orçamento secreto (ou "emendas de relator"). Até 2019, apenas duas ações penais da Lava-Jato haviam sido julgadas no STF. Numa delas prevaleceu o entendimento de que os elementos eram "apenas indiciais" — e a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann, e seu ex-marido foram absolvidos por 3 votos a 2.  Na outra, as togas condenaram o deputado Nelson Meurer, mas declararam a extinção de punibilidade do filho do parlamentar, alegando que a única conduta que geraria a sanção penal era de junho de 2008.

 

Em vista do número de parlamentares que arrastam pendências judiciais e transitam livremente pelos corredores do Congresso, a parcela pensante da população perdeu a confiança no Legislativo e passou a ver o Judiciário como tábua de salvação. 


Como alegria de pobre dura pouco, o STF formou maioria para exumar e ressuscitar uma jurisprudência que vigeu durante míseros 7 anos ao longo das últimas 8 décadas. Com o voto de Minerva de Dias Toffoli, então presidente da Corte, ficou decidido que condenados em segunda instância deveriam permanecer em liberdade até o trânsito em julgado de suas sentenças.

 

Com quatro instâncias e um formidável cardápio de recursos, apelos, embargos e toda sorte de chicanas criadas sob medida para impedir que condenações de poderosos transitem em em julgado, essa caterva só vai presa no Dia de São Nunca. E na improvável hipótese de um caso fugir à regra, sempre há um magistrado de bom coração que expede um alvará de soltura "por razões humanitárias" (como fez o ministro Dias Toffoli no caso de Paulo Maluf).

 

Nossas leis são criadas pelo Congresso Nacional, que é formado por 513 deputados federais e 81 senadores. Em 2017, nada menos que 238 parlamentares eram investigados ou respondiam a processos no STF. Quando se dá às raposas a chave do galinheiro, perde-se o direito de reclamar do sumiço das galinhas, mas o fato de sermos obrigados a conviver com essa dura realidade não significa que devamos aceitá-la passivamente. 


Lula não aceitava. Tanto é que fundou o PT para implementar "uma maneira diferente de fazer política". Mas faltou combinar com a quadrilha do mensalão. Quando a roubalheira da petralhada veio a público, José Dirceu, então braço direito do demiurgo de Garanhuns, disse em entrevista ao Roda-Viva: “Este é um governo que não rouba, não deixa roubar e combate a corrupção".

 

Pausa para as gargalhadas (ou para as lágrimas, a critério do freguês).

domingo, 27 de abril de 2025

ALTERNATIVAS PARA O CHURRASQUINHO NOSSO DE CADA DOMINGO

DEMÊNCIA É COMO A PSICOLOGIA DEFINE O QUE NÃO CONSEGUE EXPLICAR.

 

Sobra mês no fim do salário para a maioria dos brasileiros, e a "volta da picanha e da cervejinha" foi mais uma das muitas promessas de campanha que Lula não cumpriu. 

Considerando que as carnes nobres continuam custando os olhos da cara e que ninguém merece se entupir de salada de batata porque só tem linguiça e asinha de frango na churrasqueira, o jeito é recorrer a cortes mais baratos, mas que não decepcionam em suculência, sabor e maciez.

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Penabundado do Planalto há 33 anos e condenado em 2023 a 8 anos e 10 meses de reclusão por assaltar R$ 20 milhões de um cofre da Petrobras durante as gestões de Lula e Dilma, Collor foi preso na madrugada desta sexta-feira. O roubo não existiria se o "Rei-Sol" não tivesse sido brindado anteriormente com duas grandes anistias. 

Após amargar a cassação política, o ex-presidente foi presenteado pelo STF com uma anistia de proporções amazônicas: o arquivamento da denúncia sobre a corrupção que maculou os dois anos e nove meses de sua execrável passagem pelo Planalto. residência corrupta. 

Um ano depois do impeachment, Lula, que havia chamado o adversário de "corrupto" na campanha de 1989, disse sobre o ex-rival: "Em vez de construir um governo, construir uma quadrilha como ele construiu, me dá pena, porque deve haver qualquer sintoma de debilidade no funcionamento do cérebro do Collor". No entanto, entregou ao ladrão débil mental a BR Distribuidora, sendo essa a segunda grande clemência concedida ao sacripanta.

Hoje, para livrar Collor da cadeira, o mesmo STF que anulou as condenações de Lula sacramentando a parcialidade do ex-juiz Sergio Moro precisaria desfazer a si mesma. Gilmar Mendes suspendeu o julgamento da análise da ordem de prisão com um pedido de destaque quando o plenário virtual tinha os votos de Moraes e Dino pelo cumprimento imediato da pena, mas Fachin, Barroso e Cármen anteciparam os seus e seguiram o relator, de modo que o placar está em cinco a zero. 

Por uma ironia do destino, o sevandija collorido chega à prisão num instante em que fervilha na Câmara o debate sobre o projeto da anistia para o golpismo. Bolsonaro é um prepotente às voltas com uma impotência que retarda a votação da proposta. Interrompida tardiamente, a longa impunidade fez de Collor um mau exemplo, mas também um bom aviso: a reincidência revela o tamanho do abantesma que se esconde embaixo do lençol da anistia.

 
Churrasco pede linguiça, mas para os comensais beliscarem enquanto esperam a carne ficar pronta. A toscana custa em torno de R$ 22,00 o quilo. Para quem gosta, coração de frango não pode faltar, e sai por menos R$ 20 o quilo.

Sem embargo do que já foi sugerido em outros domingos, o coxão-mole provém da parte traseira do boi e é macio, suculento, bom para grelhar e custa metade do preço da picanha e do filé-mignon. O coxão-duro é uma opção acessível (cerca de R$ 40 o quilo), mas fica melhor assado no forno ou cozido na pressão. 

Já a costela de ripa ou de ponta de agulha são macias, suculentas, combinam carne e gordura na medida certa e custam entre R$ 17 e R$ 30 o quilo. Já o cupim, que é mais comum nas churrascarias do que nos churrascos domésticos, é uma carne fibrosa, caracterizada pela gordura entremeada, responsável pelo sabor acentuado e maciez, precisa ser assada por horas a fio (geralmente envolta em papel alumínio, para que seus sucos sejam retidos).
 
Se o orçamento permitir, prefira caipirinha de vodca à de pinga e cerveja Heineken à Itaipava. 
 
Bom churrasco. 

sábado, 26 de abril de 2025

DE VOLTA ÀS VIAGENS NO TEMPO — 21ª PARTE

O UNIVERSO NÃO PARECE SER NEM BENEVOLENTE NEM HOSTIL, APENAS INDIFERENTE ÀS PREOCUPAÇÕES DE CRIATURAS INSIGNIFICANTES COMO NÓS.

 
De blockbusters de super-heróis como Doutor Estranho no Multiverso da Loucura ao queridinho indie Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, as histórias de ficção científica estão apinhadas de realidades alternativas. Mas, como vimos, a ideia do multiverso é mais do que simples ficção.
 
Hipóteses sobre realidades alternativas são antigas — em 1848, Edgar Allan Poe escreveu sobre a existência de “uma sucessão ilimitada de universos” —, mas o conceito de multiverso decolou quando teorias científicas modernas, como a proposta por Steven Hawking e James Hartle, sustentaram a existência de outros universos nos quais as leis da física moderna não se aplicam e eventos podem ocorrer de maneira muito diferente da nossa realidade.

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Os boletins médicos apontaram uma piora na saúde de Bolsonaro na última quarta-feira, depois da visita da oficial de justiça. E podem piorar mais devido ao efeito Orloff — "eu sou você amanhã" — da prisão do ex-presidente Collor, que ocorreu madrugada seguinte. Até então, o "mito" via o "Rei-Sol" como um exemplo a ser seguido, mas o despacho de Moraes, que determinou o cumprimento da sentença emitiu um sinal de alerta.  
Bolsonaro reclamava nos bastidores que "Xandão" corria para colocá-lo atrás das grades, enquanto Collor, denunciado em 2015 e condenado em 2023, continuava livre, leve e solto. O STF adiou, condenou, voltou a adiar e, após ensaiar um recuo, confirmou a sentença em novembro de 2024 e, dias atrás, rejeitou o último recurso da defesa, que tentava ressuscitar um debate sobre redução de pena. A ordem de prisão arrancou o manto de proscrito das costas do chefe da quadrilha golpista. 
Ao refutar a manobra, Moraes anotou que Collor apenas repetiu argumentos já refutados pela Corte — o que evidencia "intenção procrastinatória"— e submeteu a decisão a seus pares, mas mandou executar imediatamente a ordem de prisão — sustentando que o relator "pode e deve" interromper a embromação —, sinalizando para Bolsonaro que eventuais recursos protelatórios terão vida curta. 
Ao inserir na enciclopédia um verbete para a segunda prisão de um ex-presidente condenado por corrupção na história desta banânia, o magistrado pavimentou o encarceramento do terceiro ex-inquilino do Planalto, que, pelo andar da carruagem, deve ser condenado entre setembro e outubro e ver o sol nascer quadrado antes do Natal. 

Ainda não há provas da existência de universos paralelos. Caso eles existam, nossa tecnologia atual não é avançada o suficiente para detectá-los diretamente. No entanto, assim como ocorreu com o heliocentrismo, a teoria da evolução, as viagens espaciais, a dilatação temporal, os buracos negros e tantas outras ideias que inicialmente pareciam ficção, a comprovação pode ser apenas uma questão de tempo. Se a confirmação não surgir na próxima década, quem sabe na seguinte — ou talvez ela já esteja diante de nós, esperando que saibamos onde procurar.
 
As previsões do multiverso vêm de diversas teorias que descrevem cenários possíveis, mas todas sugerem que o espaço e o tempo que podemos observar não são a única realidade. A teoria mais aceita cientificamente vem da inflação cósmica, que explica muitas das propriedades observáveis do universo, como sua estrutura e a distribuição das galáxias.
 
Uma das previsões dessa teoria é que a inflação poderia ocorrer repetidamente, talvez infinitas vezes, criando uma constelação de universos-bolha. Nem todas essas bolhas teriam as mesmas propriedades, mas algumas poderiam ser semelhantes ao nosso Universo, e todas existiriam além dos limites do que podemos observar diretamente.
 
Observação: Universos paralelos não são teorias em si, mas previsões de certas teorias. Várias teorias amplamente aceitas preveem fenômenos impossíveis de serem observados. A relatividade geral, por exemplo, prevê o interior dos buracos negros, que ainda não podemos acessar, mas que fazem parte do pacote. O mesmo se aplica aos universos paralelos, teorias como a inflação cósmica, e talvez até à mecânica quântica.
 
Outra hipótese interessante de multiverso — proposta pelo físico Hugh Everett em 1957 e chamada de interpretação dos muitos-mundos — sugere que nossas decisões criam ramificações no tempo, gerando realidades alternativas. De acordo com essa interpretação, versões de cada um de nós poderiam estar vivendo as muitas vidas possíveis que poderíamos ter levado, dependendo das escolhas feitas ao longo de nossa existência. Mas, para nós, a única realidade perceptível é aquela em que vivemos; as outras estariam sobrepostas, em dimensões que não conseguimos acessar. 
 
Da mesma forma que nos impede de viajar para o passado, nossa tecnologia não nos permite transitar entre esses universos. Ainda. Pode ser que, dentro de alguns anos — ou quem sabe décadas — ela avance o suficiente para que possamos explorar essas dimensões. Afinal, muitas das conquistas que hoje encaramos com naturalidade nos pareciam impossíveis num passado não muito distante.
 
Continua... 

sexta-feira, 25 de abril de 2025

ENTRE VIDENTES DE BOTEQUIM E O NOVO SUCESSOR DE PEDRO

UM NOVO DIA ESTÁ BEM PRÓXIMO, MAS O DIA ANTERIOR AINDA ARRASTA SUAS CAUDAS PESADAS.

Escorados nos vaticínios apocalípticos do médico e astrólogo francês Michel de Nostradamus (que morreu em 1566, deixando quase mil previsões macabras), os arautos da desgraça trombetearam que o mundo acabaria na virada do milênio. Como não acabou, eles reagendaram o Armagedom para 21/12/2012, confiantes no calendário maia. Diante de novo fiasco, atribuíram ao terremoto que abalou o Japão em janeiro de 2024 a pecha de "calamidade que ainda está por vir". Mas faltou especificar o que seria a tal calamidade e quando ela aconteceria.


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Lula, acostumado a fritar auxiliares, sofre uma fritura reversa: o deputado Pedro Lucas Fernandes, anunciado há duas semanas como novo ministro das Comunicações, decidiu se desnomear. Foi a primeira vez na história deste país que um deputado do baixo clero esnobou convite do Planalto. Condestável do União Brasil, o senador Davi Alcolumbre, que sustentava o insustentável Juscelino Filho e avalizou Pedro Lucas, prometeu encaminhar outro nome para a pasta das Comunicações. Lula, que já disse que quem troca ministro é ele, experimenta na metade final do seu terceiro mandato o pior tipo de ilusão que pode acometer um presidente: a ilusão de que preside.

 

Cartomantes, astrólogos e outros adivinhos de botequim se valem de ambiguidades e indeterminações em seus prognósticos de final de ano. Ao dizerem que "um artista famoso vai morrer", é quase impossível eles não acertarem — muita gente morre todos os anos, e basta esticar os conceitos de "artista" e "famoso" pra encaixar desde um global veterano até o influencer que lançou um EP de lo-fi no Spotify.

 

Valendo-se desse mesmo artifício, Narciso Vernizzi, o célebre  "homem do tempo" da rádio Jovem Pan era praticamente infalível: ao prever "50% de chance de chuvas em pontos isolados", seu "prognóstico de oráculo" sempre se confirmava, chovesse ou não em algum lugar ou em lugar algum. Mas não basta dizer que ouviu cantar o galo cantar; é preciso dar as coordenadas de onde ele cantou. 

 

Observação: Quando seu galo de estimação desapareceu, um alfaiate carioca do século XVIII ofereceu uma recompensa a quem o encontrasse. De olho na gratificação, um aprendiz afirmou ter ouvido a ave cantar, mas não soube dizer de onde, e acabou demitido. A partir de então, essa frase "ouvir o galo cantar sem saber onde" passou a designar quem fala sobre algo sem conhecer os detalhes ou o contexto.

 

Nostradamus não previu a pandemia de Covid-19 em suas Centúrias, mas isso não impediu que circulasse um print com uma "centúria fake" criada pelo cartunista argentino Cristian Dzwonik, "pai" do gato Gaturro, que gerou um bocado de polêmica. Mas os sectários do vate francês continuam interpretando qualquer catástrofe como "tá lá, ó, ele avisou". E assim os incêndios na Amazônia, as enchentes no Rio Grande do Sul e o calor recorde de 2024 — o ano mais quente dos últimos 12 séculos — são vistos como spoilers de Nostradamus. E o mesmo vale para a Revolução Francesa, a ascensão de Hitler, o 11 de setembro, a coroação do rei Charles III e sua renúncia (que ainda não aconteceu, mas enfim). 

 

Com a morte do Papa Francisco, o caldeirão do quinto cavaleiro do apocalipse voltou a ferver: "Através da morte de um pontífice muito velho, um romano de boa idade será eleito, dele se dirá que enfraquece a sua visão, mas por muito tempo ficará sentado e em atividade mordaz", escreveu o francês. Francisco foi o quarto Papa mais velho a morrer no cargo, e existe realmente a possibilidade de seu sucessor ser negro (ou o próprio Superior Geral dos Jesuítas, chamado informalmente de "papa negro" por causa da cor de sua batina clerical). No cenário atual, 133 cardeais estão aptos a participar do conclave que escolherá o sucessor de Francisco. Entre eles, 33 são africanos e vários pertencem à Companhia de Jesus.

 

Após o papado de Francisco, um mistério paira sobre a postura de seu sucessor, que será escolhido dentro de algumas semanas num processo chamado Conclave. As apostas estão abertas, as profecias estão no ar, e os influencers místicos estão prontos para mais uma live. O frade dominicano Frei Betto aposta que o próximo papa será de centro-direita


Resta saber se Nostradamus vai acertar ou se vamos ouvir, mais uma vez, o galo cantar sem saber onde...

quinta-feira, 24 de abril de 2025

DE VOLTA ÀS VIAGENS NO TEMPO — 20ª PARTE

NÃO HÁ CÉU NEM VIDA APÓS A MORTE. SÓ TEMOS ESTA VIDA PARA APRECIAR O GRANDE PROJETO DO UNIVERSO.

De acordo com a teoria do Big Bang e o modelo cosmológico padrão, tudo que existe no Universo surgiu de uma singularidade — um ponto de densidade e temperatura infinitas — que se expandiu há cerca de 13,8 bilhões de anos, dando origem ao espaço-tempo e a um mar de partículas fundamentais e radiação eletromagnética. 

Cerca de 400 mil anos após o início da grande expansão, prótons e elétrons começaram a se unir, formando os primeiros átomos de hidrogênio. Nuvens de gás primordial, então, colapsaram sob sua própria gravidade, dando origem às primeiras estrelas, no interior das quais fusão nuclear passou a forjar elementos mais pesados que o hidrogênio e o hélio. À medida que consumiam seu combustível, essas estrelas massivas entravam em colapso, explodindo como supernovas e espalhando seus elementos pelo cosmos — eventos tão intensos que suas forças gravitacionais acabaram por moldar galáxias inteiras.

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Menos de um mês depois de colocar Bolsonaro e outros sete integrantes do "núcleo crucial" da trama golpista no banco dos réus, a 1ª Turma do STF repetiu a dose com outros seis acusados. Pelo andar da carruagem, os 33 denunciados estarão acomodados dentro de ações penais até o final de maio, e o líder da ORCRIM, sentenciado até setembro. E de nada adianta posar de vítima no hospital. Os ministros já sinalizaram que barrarão a PEC da anistia caso ela seja aprovada no Congresso. 

A teoria do Big Bang é respaldada por evidências concretas, como a radiação cósmica de fundo (o "eco"do Big Bang) e a observação do afastamento das galáxiasque indica a contínua expansão do Universo. Mas de onde veio essa singularidade inicial continua sendo um dos maiores mistérios da ciência, mesmo porque o espaço como conhecemos começaram ali. Diversas teorias tentam explorar esse "antes", mas nenhuma foi capaz de se firmar com consistência ou comprovação experimental. Como disse Sócrates (469–399 a.C.), "só sei que nada sei".

Até o final do século XIX, práticas médicas como o uso de sanguessugas para curar febres e a trepanação para liberar "espíritos malignos" eram comuns. Mas a medicina evoluiu muito nos últimos anos. Quando Steven Hawking foi diagnosticado com esclerose lateral amiotrófica, em 1963, os médicos lhe deram dois anos de vida, mas ele viveu até 2018, quando trabalhava em uma das ideias mais ousadas da física moderna: os universos paralelos.

Dez dias antes de sua morte, Hawking e seu colega James Hartle submeteram ao Journal of High-Energy Physics um estudo que propunha algo impressionante: o Big Bang pode não ter sido um evento único, mas a origem de incontáveis universos. Em alguns, haveria planetas como a Terra, com sociedades e indivíduos parecidos conosco. Em outros, talvez os dinossauros jamais tenham sido extintos. E em muitos, as leis da física seriam completamente diferentes.

Por mais fantástico que isso soe, a ideia de multiversos não é puro devaneio: ela nasce de cálculos matemáticos sólidos, enraizados em teorias como a inflação cósmica e a mecânica quântica. Se confirmada, essa teoria implicaria que há infinitas versões de você, de mim, deste texto sendo escrito — e de outras versões jamais escritas.

Mas aí vem a questão-chave: como testar isso? Se os outros universos são desconectados do nosso, como poderíamos detectá-los? Essa é a crítica dos céticos — e lhe assiste razão. A ciência se baseia em evidências testáveis. Por enquanto, o multiverso ainda caminha na tênue linha entre o rigor matemático e a especulação filosófica, mas muitas dessas hipóteses encontram respaldo na Relatividade Geral, o que lhes confere certo grau de legitimidade científica. O multiverso, hoje, representa uma fronteira fascinante entre a imaginação e a investigação científica.

No fim das contas, nossa compreensão do cosmos ainda está engatinhando, e cada avanço dá azo a novas perguntas. Mas se há algo que a história da ciência nos ensina, é que aquilo que hoje parece misticismo, amanhã pode ser evidência.

Seja em um universo ou em mil, somos apenas poeira de estrelas tentando entender o céu — e isso, por si só, já é incrível.
 
Continua...

quarta-feira, 23 de abril de 2025

É PRECISO DAR NOME AOS BOIS

LIBERDADE É O DIREITO DE DIZER AOS OUTROS O QUE ELES NÃO QUEREM OUVIR.

Um dos piores legados da impunidade geral é não poder chamar ladrão de ladrão. Seja ladrão de estatal, seja ladrão de emenda, de gabinete, de esquerda, de direita, do Centrão, etc. 

A blindagem judicial blinda contra a descrição verbal objetiva, protegendo a imagem do ladrão na sociedade com a imposição do risco permanente de prisão, por crime contra a honra, quem ousar descrevê-lo à luz dos roubos impunemente cometidos, mesmo que fartamente comprovados. 

 

Existem segmentos moralmente corrompidos da sociedade, que, mesmo conscientes dos crimes, têm seus ladrões de estimação e fazem campanhas em defesa deles. Todavia, sem o alerta linguístico legitimado judicialmente, o segmento menos consciente dos atos criminosos e das manobras processuais que os acobertaram (ou das graves consequências de eleger pessoas sem caráter) tendem a ser novamente enganados, já que a ladroagem pressupõe disposição para a mentira. 

 

Ladrões de todos os matizes supostamente ideológicos, com poder concedido por variados segmentos da sociedade, se articulam para minar os mecanismos de combate à ladroagem que resultaram nos processos dos quais, não sem desgaste com cidadãos mais conscientes, acabaram se livrando. Com o desmantelamento desses mecanismos, eles passam a roubar livremente, a institucionalizar determinados tipos de roubo e a corromper ainda mais a administração pública, favorecendo a ala das elites econômicas mancomunada com o poder e distorcendo o mercado de trabalho com a concorrência desleal dos empresários favorecidos — não raro ligados às togas protetoras ou contratantes de familiares dos togados. 

 

Para controlar as narrativas circulantes e impedir a expressão de suas condutas, tanto empresários (patrocinando ou comprando) quanto agentes públicos (com verbas de publicidade) investem em veículos de comunicação onde a ladroagem sistêmica e a impunidade geral não são mais nomeadas como obstáculos à ordem, ao progresso, ao desenvolvimento econômico, à igualdade de oportunidades, à bonança e à paz social. Ao contrário, qualquer iniciativa para combatê-las é desqualificada e demonizada como um projeto de poder político, uma vez que se converte em ameaça perigosa a seus financiadores. 

 

O contraste entre o "garantismo" para os poderosos e o "punitivismo" para seus críticos turbina ressentimentos, tensiona o debate público, resulta em censuras veladas e oficiais, enfim, vai abrindo novos flancos para o autoritarismo a pretexto da defesa da democracia, o que termina por arrastar o país para uma disputa bizarra entre os praticantes do conchavo geral e os apoiadores do golpe de Estado.

 

É urgente, portanto, restaurar a linguagem, até para descrever a natureza dessa disputa. Afinal, um país onde só o ladrão de celular pode ser chamado de ladrão está fadado ao fracasso.


Com Felipe Moura Brasil

terça-feira, 22 de abril de 2025

DE VOLTA ÀS VIAGENS NO TEMPO — 19ª PARTE

O QUE OS OLHOS NÃO VEEM, O CORAÇÃO PRESSENTE.

 

Pesquisadores da Universidade de Queensland (Austrália) desenvolveram uma solução matemática que pode remover os paradoxos da viagem no tempo. 

Partindo do pressuposto de que o passado já aconteceu, eles propõem que eventuais mudanças levariam o Universo a se ajustar, impedindo o surgimento de paradoxos temporais, independentemente do quanto o passado fosse alterado. Mas a pergunta que se coloca é: viajar no tempo é possível ou não? 

A busca por essa resposta motiva cientistas de todas as áreas a investigar as sutilezas do Universo — lembrando que o que sabemos sobre o Universo até agora é uma gota d'água no oceano.
 
Se qualquer tentativa de alterar o passado é automaticamente corrigida pelo próprio curso dos eventos, então o tempo seria imutável — ou pelo menos impermeável a grandes alterações. No entanto, segundo a teoria do multiverso, cada decisão ou evento gera um desdobramento alternativo, sem afetar a linha do tempo original.

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A polarização entre direita e esquerda foi semeada por Lula, regada pelos tucanos e estrumada por Bolsonaro. Lula está velho, cansado e impopular. Curou-se de um câncer de garganta (porque Belzebu não admite concorrência), passou por mais de um procedimento para estancar um sangramento intracraniano decorrente de uma queda no banheiro, amarga índices de rejeição inéditos em suas três passagens pelo Planalto e lida com um Congresso hostil, uma oposição articulada e uma montanha de críticas — inclusive da mídia e de aliados. Bolsonaro está inelegível até 2023, sofre com as sequelas da facada que levou em 2018 e deve ser condenado ainda este ano por articular um golpe de Estado. Diante disso, o centro (não confundir com "Centrão") deveria se articular e oferecer algo de novo em 2026. Mas quem — e o que — sobrou do centro no Brasil?
A diferença entre nhô-ruim e nhô-pior está na maneira como cada um evita o crescimento de qualquer arvorezinha capaz de fazer sombra em seu quintal. Bolsonaro insiste que levará sua candidatura até o fim (a exemplo de Lula em 2018), embora já enfrente uma competição velada dentro do próprio bolsonarismo (leia-se Tarcísio de Freitas, Ratinho Jr., Ronaldo Caiado e companhia). O petista, por seu turno, continua se comportando como se fosse a única alternativa da esquerda — e ninguém teve peito (para não dizer colhões) de botar o dedo nessa ferida. A alternativa natural do PT e seus satélites para disputar o Planalto no ano que vem seria Haddad, que foi candidato-bonifrate em 2018, enquanto o ventríloquo cumpria pena em Curitiba. 
Da feita que o "esclarecidíssimo" eleitorado se divide entre o ex-presidiário e o mais que provável futuro detento, resta à pequena parcela pensante (algo entre 20% e 30% dos eleitores) votar em branco, anular o voto ou tapar o nariz e apoiar aquele que lhe parecer "menos pior" no segundo turno. Resumo da ópera: a um ano e meio das eleições, o país continua no limbo; se há luz no fim do túnel, muito provavelmente é o farol do trem que vem na contramão dos interesses da população.
 
Hollywood já explorou essas possibilidades em De Volta para o Futuro, por exemplo, onde pequenas mudanças no passado geram efeitos drásticos no futuro, exigindo correções constantes. Em O Predestinado, a viagem no tempo se apresenta como um ciclo fechado, onde passado e futuro são interdependentes e inalteráveis. Outras obras, como Donnie Darko, brincam com a ideia de linhas do tempo instáveis que podem colapsar ou se sobrepor. Mas essa discussão vai além da ciência e da ficção. 

Se cada evento já está predeterminado e qualquer tentativa de mudança é automaticamente corrigida, até que ponto nossas escolhas são genuínas? O livre-arbítrio seria apenas uma ilusão cósmica? Seja qual for a resposta, cada nova descoberta dá azo a novas perguntas, num interminável círculo virtuoso.
 
O "X" da questão é que nenhum objeto com massa pode alcançar ou ultrapassar a velocidade da luz, e os benefícios da dilatação temporal são pífios em velocidades como as que nossa tecnologia permite atingir (o recorde que tornou a Parker Solar Probe o objeto mais rápido já construído pelo homem foi de "míseros" 692 mil km/h, ou 0,064% da velocidade da luz). 
 
Ainda que os buracos de minhoca existam e realmente interliguem dois pontos distantes, neste ou em outro universo, no presente ou em outro ponto da linha do tempo, eles se escondem em buracos negros, ondas gravitacionais e centros de galáxias ativas, e isso torna sua exploração ainda mais desafiadora. Uma viagem até o buraco negro mais próximo da Terra demoraria cerca de 1,5 mil anos, e isso com a velocidade da luz. Mas não é só. 

Acelerar uma nave a uma velocidade próxima à da luz demandaria uma quantidade colossal de energia. A fusão nuclear promete ser uma fonte limpa e quase ilimitada, mas ainda está longe de ser dominada. Ademais, o retorno ao passado poderia expor os viajantes a doenças há muito erradicadas, para as quais eles não têm anticorpos. 

Mas não há nada como o tempo para passar. À medida que a ciência avança, novas descobertas abrem portas para conceitos até então considerados impossíveis. Como bem disse Arthur C. Clarke, "a única maneira de descobrir os limites do possível é ir além deles, rumo ao impossível".

Continua...