segunda-feira, 30 de junho de 2025

PALAVRAS E EXPRESSÕES QUE DEMANDAM ATENÇÃO

ESCREVEU NÃO LEU, O PAU COMEU.

Abdicar — Pode ser intransitivo (o rei abdicou), transitivo direto (abdicou o trono) ou, preferivelmente, transitivo indireto regido pela preposição de (abdicou do trono — e não ao trono).

 

Aceito ou aceitado — Em construções em que o verbo aceitar se liga diretamente aos verbos ser e estar, usa-se o particípio irregular (as condições impostas foram aceitas); quando se liga aos verbos ter e haver, tanto o particípio irregular (aceito) quanto o regular (aceitado) são admissíveis à luz da norma culta — p. ex.: tendo aceito o convite ou tendo aceitado o convite.


CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA


Até aqui, Bolsonaro fingia desconhecer a realidade. Ao se dar conta de que o Centrão apressa a escolha de um substituto, começa a perceber o que a realidade também já não reconhece a ficção de um pseudo presidenciável inelegível prestes a adornar sua biografia com uma condenação por conspirar contra a democracia. 

De volta à Avenida Paulista neste domingo, o capetão soou como se tivesse percebido que a realidade é o único lugar onde ele pode continuar sonhando com um indulto. Discursando para uma plateia esvaziada, rogou aos devotos que elejam 50% da Câmara e do Senado em 2026: "Me deem isso que eu mudo o destino do Brasil. Nem preciso ser presidente".

Pouco antes, num discurso ensaiado, o governador Tarcísio de Freitas fez pose de Plano B ao lado do "mito": "O Brasil não aguenta mais a desfaçatez, a corrupção, o governo gastador, com juros altos. O Brasil não aguenta mais o PT. Fora PT. O Brasil não merece esses caras. Vamos dar essa resposta no ano que vem. Vamos nos reencontrar com a esperança, com a prosperidade." 

Flávio Bolsonaro como que iluminou a pantomima ao dizer que candidatos de direita que ambicionam o apoio do pai precisam assumir o compromisso de abrir a cela: "Quem defende a democracia tem que se comprometer com esse indulto."  

Pelas contas do Monitor do Debate Político, o "mito" fancaria levou à Paulista 12,4 mil pessoas — menos que as 44,9 mil que foram ouvi-lo em abril e muito menos que as 185 mil contadas no ato de fevereiro do ano passado.

O fiasco ocorreu dois dias depois de Alexandre de Moraes abrir prazo para que o ex-presidente golpista e seus cúmplices do alto comando do golpe apresentem suas alegações finais. Se nada mudar, o julgamento deve ocorrer em setembro.

 

Acento grave — A crase marca a fusão da preposição a com o artigo definido a, como em dei o livro a + a embaixadora (ou seja, devolvi o livro à proprietária). Ela também ocorre em expressões que trazem a ideia de à moda de, mesmo quando essa referência está implícita, como em bife à milanesa ou filé à parmegiana, e pode aparecer antes de palavras masculinas, mas desde que essa ideia esteja presente, como em escrevia à Machado de Assis (à moda de Machado de Assis). Ela também deve ser usada em locuções formadas por preposição a seguida de substantivo feminino no singular, como assinar à caneta, barco à vela e fechar à chave.


Acompanhado(a) — Pede a preposição de (ela viajará acompanhada de suas filhas).

 

Acrescente-se, ainda, que... — Exemplo de construção expletiva que nada agrega ao texto e, portanto, deve ser evitada.

 

Acrônimo — Tipo de sigla que pode ser lido como uma palavra (ONU, SUS, OPEP etc.). Todo acrônimo é uma sigla, mas nem toda sigla é um acrônimo, e não se deve grafar acrônimos com quatro ou mais letras apenas com a inicial maiúscula (como Fuvest).

 

Adequar — Há muito que deixou de ser considerado verbo defectivo, podendo ser conjugado em todas as pessoas: eu (me) adequo, tu (te) adequas etc.

 

Agradar — No sentido de ser do agrado de, exige a preposição a (é impossível agradar a todos), mas é transitivo direto no sentido de acariciar (agradou o cão com festinhas na cabeça). 

 

Agravante — Assim como os substantivos atenuante e componente, pode ser usado nos dois gêneros (o agravante ou a agravante).

 

Ambos / ambos os — Em função adjetiva, o numeral ambos antecede um substantivo obrigatoriamente determinado por artigo, o que também ocorre com o pronome indefinido todos. São corretas, portanto, as construções ambos os empresários; todas as pessoas, e por aí vai.

 

À medida que / na medida em que — A locução proporcional à medida que equivale a ao passo que, conforme (os preços caem à medida que a procura diminui). Na medida em que é uma locução causal que equivale a uma vez que ou visto que (na medida em que se esgotaram as possibilidades de negociação; a audiência de conciliação foi suspensa). 

 

A meu ver / ao meu ver — Ambas as formas são gramaticalmente corretas e podem ser usadas em textos opinativos.

 

Anexo / em anexo — O adjetivo anexo concorda em gênero e número com o substantivo ao qual se refere — seguem anexas as minutas solicitadas —, mas a locução adverbial em anexo é invariável — encaminho em anexo as minutas solicitadas.

 

Anti — Como os demais prefixos eruditos dissílabos (mini, multi, super, hiper etc.), não leva acento. Não se hifeniza palavras como antiviral, antissemitismo etc., mas o hífen se mantém quando a palavra a que se junta o prefixo é iniciada por letra maiúscula: há no Congresso parlamentares declaradamente anti-Lula e anti-Bolsonaro. (Não confundir com ante, que denota anterioridade, como em antediluviano).

 

Anuência — Tal como o verbo anuir, rege a preposição a (com a aprovação conclusiva da matéria no plenário, a Câmara expressou sua anuência a que o executivo proceda à ratificação do acordo).

 

Ao encontro de / de encontro aAo encontro de indica conformidade, concordância (houve acordo porque todas as propostas foram ao encontro das diretrizes) e de encontro a indica oposição (não houve acordo porque as propostas foram de encontro às diretrizes).

 

Ao nível de / em nível (de)Ao nível de se usa sobretudo com sentido físico (ao nível do mar), enquanto em nível (de) pressupõe uma instância (a decisão foi tomada em nível ministerial).

 

Agradecer — Agradece-se algo a alguém (agradeceu ao amigo a dedicação e a lealdade). 

 

Anuir — É verbo transitivo indireto (todos anuíram àquela proposta). O substantivo anuência rege a mesma preposição (o poder legislativo expressou sua anuência a que o executivo proceda à ratificação do acordo).

 

Assistir — No sentido de auxiliar, ajudar, socorrer, é transitivo direto: Procuraremos assistir os flagelados pela seca (assisti-los); no sentido de estar presente, comparecer e ver, é transitivo indireto, regendo a preposição a: Não assisti à palestra. 

 

Atender — Quando seu complemento não se refere a pessoas, pode ser transitivo direto ou reger a preposição a: O prefeito atendeu ao (ou o) pedido do vereador. Quando seu complemento é (ou são) pessoa(s), é transitivo direto: O presidente atendeu o ministro (atendeu-o) em sua reivindicação, a ministra atendeu as autoridades presentes, etc.

 

Avisar — No sentido de dar ciência, informar, alertar, pode-se avisar alguém de algo, avisar alguém sobre algo ou avisar algo a alguém (o chefe aviou o funcionário que a falta seria descontada ou o chefe avisou o funcionário de que a falta seria descontada).

 

À custa de, às custas de — Preferencialmente no singular (vivia à custa do pai, e não às custas do pai), embora alguns filólogos admitam ambas as formas.

 

Através de  — De acordo com as melhores gramáticas, é locução sinônima de por meio de, podendo ser usada tanto em sentido físico quanto figurado. São perfeitamente válidas construções como o assunto deve ser regulado através de decreto ou regulado por decreto, mediante decreto, por meio de decreto etc.

 

Bem como — Alterne com e, assim como ou como (também), mas evite o galicismo bem assim.

 

Bimensal — Que ocorre duas vezes por mês; quando aplicável, substitua por quinzenal, mas não confunda com bimestral, que ocorre de dois em dois meses.

 

Briefing — Anglicismo que deve ser substituído por informe, relato, sumário, coletiva de imprensa etc. E o mesmo se aplica a by-pass e seus derivados, que podem ser substituídos por contornar, atravessar etc.

 

Continua...

domingo, 29 de junho de 2025

ALTERNATIVAS AO CHURRASCO NOSSO DE CADA DOMINGO — CONTINUAÇÃO

SE NÃO HOUVESSE TRILHOS, O TREM NÃO PODERIA DESCARRILAR.

Meu pai me apresentou o steak tartare quando eu era criança, e até hoje esse acepipe é um dos meus pratos favoritos. O nome "tartare" é indevidamente associado aos tártaros — povo nômade da Ásia Central —, que, reza a lenda, comiam crua a carne que colocavam sob a sela, durante a cavalgada, para amaciar.

Mitos e ledas à parte, trata-se de uma variação do bifteck à l’américaine, servido na França com cebola e salsa picadas, alcaparras e batatas fritas, mas torradas com manteiga derretida e vodca gelada combinam com ele como champanhe com caviar.

Quanto à carne moída, acém e paleta são opções mais econômicas que o patinho, e, se bem temperadas, rendem excelentes refogados, molhos à bolonhesa e recheios de tortas, empadões, pastéis e pimentões. 


Ao refogar, aqueça o azeite, coloque primeiro a cebola e depois o alho, deixe caramelizar, espalhe a carne no fundo da panela e espere alguns minutos antes de começar mexer — ou a água vertida impedirá a formação da desejada crosta dourada. Igualmente importante é acrescentar o sal somente quando a carne estiver totalmente selada, ou soltará mais líquidos e cozinhará ao invés de fritar.


CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA


Se conselho fosse bom, ninguém dava de graça, e lugar de palpite é em chalé de jogo do bicho. Lula não precisa de conselhos — muito menos dos meus. Mas, em vez de quebrar o país com suas bondades assistencialistas eminentemente eleitoreiras para tentar recuperar a popularidade perdida e, ao mesmo tempo, reforçar o caixa do governo, faria melhor se abandonasse a ideia de judicializar o aumento do IOF e vetasse o aumento de cadeiras na Câmara Federal. 

Os parlamentares alegam que mais 31 deputados custarão aos cofres públicos cerca de R$ 64,5 milhões por ano, mas não é bem assim. Cada novo parlamentar terá direito a uma cota de R$ 38 milhões em emendas orçamentárias, o que soma R$ 684 milhões — totalizando uma despesa extra de R$ 748,6 milhões anuais. A mim me parece que o cidadão brasileiro não precisa de mais "representantes", mas sim de menos impostos e mais lisura no trato com o dinheiro público. Até porque vê os inquilinos do Congresso como personagens que representam a si mesmos e aos próprios interesses — quando mais não seja porque os parlamentares aprovam o Orçamento e gastam o dinheiro como bem entendem.  

Se Lula vetar esse projeto, passará a impressão de que seu governo respeita o contribuinte. Ele não está em posição de cutucar essa caterva, mas deveria fazer o que tem que ser feito. O problema é que se formou um modelo que permite a perenização dos mandatos, tornando difícil extirpar o câncer.

 

Ao preparar steak tartare (receita nesta postagem) e quibe cru, prefira usar filé mignon se for picar a carne na ponta da faca ou patinho bem magrinho se preferir moer a carne. Falando nisso, os quibes que eu degustei na casa de minha tia Latifa, nos anos 1960, eram imbatíveis. Tanto crus como fritos e de bandeja. Jamais consegui reproduzi-los, mas a receita a seguir rende quibes muito superiores aos do Habib's e da maioria dos botecos. Não tão sequinhos por fora e suculentos por dentro como os que eu comia nas casas árabes do Leblon (território da herança sírio-libanesa carioca), mas enfim... 


Você vai precisar de: 

 — 1kg de filé-mignon ou patinho moído duas vezes;

— ½kg de trigo para quibe (fino e de boa qualidade);

— 3 cebolas grandes;

— 4 dentes de alho;

— 2 colheres (sopa) de tempero árabe (canela, noz-moscada, cominho e pimenta da Jamaica, moídas e misturadas em partes iguais);

— 1 xícara (chá) de salsinha fresca;

— 1 xícara (chá) de folhas de hortelã bem fresquinhas;

— Azeite extravirgem, sal e pimenta a gosto.

Pique, processe ou bata no liquidificador o alho, as cebolas, a salsinha e a hortelã, regue com azeite extravirgem, adicione o tempero árabe, acerte o ponto do sal, junte a carne e misture tudo até obter uma massa homogênea.

 

Lave o trigo até a água ficar limpa, deixe de molho por aproximadamente 15 minutos e passe por peneira ou um pano limpo, espremendo até remover toda a umidade. 

 

Para fazer quibes crus ou de bandeja, junte o trigo lavado e escorrido com a carne temperada, molhe as mãos em água gelada, misture tudo até obter uma pasta homogênea, cubra com um pano, leve à geladeira e deixe descansar por aproximadamente 30 minutos. Se for fazer quibes fritos, divida a carne em duas porções iguais, misture uma delas com metade do trigo e reserve a outra porção.


Derreta uma colher (sopa) de manteiga junto com um fio de azeite (para não queimar), doure duas cebolas grandes raladas e cozinhe a carne temperada. Acerte o ponto do sal, adicione duas colheres de suco de limão, tempere com pimenta do reino a gosto, coloque na geladeira e deixe descansar por 30 minutos. Findo esse tempo, tire a carne da geladeira, torne a molhar as mãos em água gelada e molde os quibes no formato de losango, decore-os com folhas de hortelã e sirva com pão sírio, cebola em pétalas, limão em gomos ou em fatias e azeite extravirgem. 


Para o quibe de bandeja, divida a massa em duas metades, espalhe uma delas numa travessa refratária untada, disponha uma camada de cebola picadinha refogada na manteiga, cubra com o restante da massa, pincele com manteiga, risque desenhos em forma de losango e leve ao forno (pré-aquecido a 180°) por cerca de 40 minutos ou até a superfície ficar dourada. Corte os losangos e sirva quente, com o acompanhamento de sua preferência.

Para quibes fritos, molhe as mãos em água gelada, faça bolinhas de massa com 4 a 5 centímetros de diâmetro, fure cada uma delas com o dedo indicador, rode na palma da mão para dar o formato "torpedo", adicione o recheio que você preparou e feche as pontas. 


Aqueça óleo suficiente para cobrir os quibes até a metade, frite-os por 2 ou 3 minutos de cada lado, transfira para uma travessa forrada com papel-toalha, enfeite com folhas de hortelã e sirva com gomos de limão (para espremer), pimenta tabasco, mostarda e ketchup.

 

Dicas


Os quibes ficarão mais crocantes por fora e úmidos por dentro se você aquecer ½ litro de água com um fio de óleo, dissolver um tablete de caldo de carne, temperar com pasta de alho e sal, orégano, pimenta do reino e uma folhinha de hortelã e deixar o trigo de molho por cerca de uma hora, com a vasilha tampada. Ao final, proceda como foi explicado. 


Se quiser variar, substitua o recheio de carne moída por requeijão cremoso ou Polenguinho. 


Fritar poucas unidades por vez evita que o óleo esfrie e deixe os quibes encharcados. 


Se não for fritar todos eles, acondicione os restantes (crus, mas já modelados) em sacos plásticos e guarde no congelador por até 3 meses. 

 

Bom proveito.

sábado, 28 de junho de 2025

DE VOLTA ÀS VIAGENS NO TEMPO — 32ª PARTE — CAPÍTULO ESPECIAL: BURACOS DE MINHOCA


PERGUNTAR O QUE HAVIA ANTES DO BIG BANG É COMO PERGUNTAR O QUE HÁ AO NORTE DO POLO NORTE.

Nas histórias de Monteiro Lobato, uma pitada de "pó de pirlimpimpim" teletransporta os personagens de um lugar para outro. Nos filmes de ficção científica, uma pitada de criatividade relativística faz naves atravessarem galáxias numa fração de segundo, heróis sumirem num piscar de olhos e paradoxos temporais transbordarem de cada diálogo. 


Os roteiristas costumam retratar os buracos negros como portais para outras dimensões, embora os "verdadeiros atalhos cósmicos" sejam os buracos de minhoca — fenômenos ainda não comprovados experimentalmente que surgem devido à curvatura do espaço-tempo resultante da atração gravitacional de estrelas supermassivas e colapsam quase instantaneamente, antes mesmo que a luz tenha tempo de atravessá-los.
 
Observação: Para entender melhor esse conceito, pegue uma folha de papel A4, faça uma marca na margem superior e outra na margem inferior, dobre a folha ao meio e veja que, assim, as duas marcas podem ser trespassadas por um grampo ou alfinete. Da mesma forma, uma espaçonave que adentrasse um hipotético buraco de minhoca atravessável seria impulsionada em direção à saída com a velocidade da luz e desembocaria em outra galáxia — neste ou em outro universo, no presente ou em outro ponto da linha do tempo.


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Na noite de quarta-feira, o desgoverno Lula foi pego de surpresa pela derrubada do decreto que aumentava as alíquotas do IOF. Ato contínuo, Gleisi Hoffmann, Lindbergh Farias e Fernando Haddad recorreram ao argumento — tão ridículo quanto eles próprios — de que Lula busca apenas fazer "justiça tributária". Não colou, a não ser, talvez, para uma militância de nicho: segundo levantamento da consultoria Bites, feito a pedido d’O Globo, a tentativa de emplacar a expressão “Congresso inimigo do povo” nas redes sociais teve repercussão pífia. Por outro lado, no mesmo dia em que as duas Casas derrubaram o decreto que aumentava a carga tributária, o Senado sacramentou o projeto da Câmara que eleva o número de deputados federais de 513 para 531 a partir das próximas eleições. 
Resumo da ópera: não há anjos no céu de Brasília. O Congresso pode até ser inimigo do povo — mas Lula, que conduz o país ao caos fiscal enquanto finge se preocupar com os mais pobres, não é muito diferente.

Diferentemente dos buracos negros — que já foram fotografados —, os buracos de minhoca ainda não foram avistados. Sua existência é baseada na Relatividade Geral, embora a mecânica quântica e a Teoria das Cordas também ofereçam perspectivas. Diversos físicos renomados acreditam que, se esses "túneis cósmicos" forem tão comuns quanto os buracos negros e apresentarem entradas com raios entre 100 e 10 milhões de quilômetros, detectá-los é apenas uma questão de tempo.

 
O buraco negro mais próximo — GAIA BH1 — fica a cerca de 1,5 mil anos-luz de distância da Terra. Isso significa que, movendo-se a 99% da velocidade da luz, uma nave levaria mais de 1.500 anos para chegar até ele. A dilatação temporal tornaria a viagem praticamente instantânea pelo referencial dos astronautas, mas a tecnologia de que dispomos está longe de permitir a construção de uma nave tão veloz. E ainda que assim não fosse, os intensos gradientes de maré próximos ao horizonte de eventos do buraco negro comprimiriam a nave e seus ocupantes horizontalmente e os esticariam verticalmente, num processo conhecido como espaguetificação.
 
Supondo que a espaçonave fosse indestrutível, os astronautas perceberiam o tempo passar normalmente e cruzariam o horizonte de eventos em um tempo finito — que, para um observador externo, tenderia ao infinito. Mas não notariam qualquer mudança abrupta ao atravessar essa fronteira, conforme previsto pelo princípio da equivalência de Einstein.
 
Acredita-se que os buracos de minhoca surgem e desaparecem tão rapidamente que nem a luz é capaz de atravessá-los. Para evitar que suas paredes colapsem sobre si mesmas e formem um buraco negro, seria preciso que uma forma exótica de matéria exercesse pressão negativa. Alguns efeitos quânticos — como o Efeito Casimir e o Princípio da Incerteza de Heisenberg — geram energia negativa em escalas microscópicas, mas extrapolar esse fenômeno para o nível macroscópico e acumular energia suficiente para manter a passagem aberta continua sendo um desafio teórico e tecnológico monstruoso.
 
Observação: Energia negativa e matéria exótica não são sinônimos. A energia negativa é um tipo específico de efeito quântico, enquanto o termo "matéria exótica" se refere, de forma mais ampla, a qualquer substância que provoque repulsão gravitacional. Assim, toda energia negativa é matéria exótica, mas nem toda matéria exótica depende exclusivamente de energia negativa. Já o termo "singularidade gravitacional" remete a pontos onde as leis tradicionais da física não se aplicam. No centro dos buracos negros, por exemplo, ela possui densidade infinita, distorcendo o espaço-tempo de tal forma que, para escapar, seria necessário superar a velocidade da luz — o que é impossível segundo a relatividade.


Continua...

sexta-feira, 27 de junho de 2025

AINDA SOBRE EINSTEIN...

SE A VELHICE É UMA DOENÇA, ENTÃO A MORTE É A CURA.

Com sua famosa equação E = mc², o maior físico do século XX — senão de todos os tempos — facilitou o entendimento de conceitos como fusão e fissão nuclear. 


Curiosamente, o mesmo princípio que deu azo ao desenvolvimento das bombas atômicas que destruíram as cidades de Hiroshima e Nagasaki — fato determinante para o fim da Segunda Guerra Mundial — pavimentou o caminho para as usinas nucleares, que hoje respondem por uma parcela significativa da eletricidade gerada no mundo.


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Para governantes, pressão leva à pressa, e pressa apressa resultados. Em guerra contra o relógio, Lula pressiona sua equipe para acelerar a devolução dos bilhões roubados dos aposentados e pensionistas do INSS. Nesta semana, em audiência de conciliação no Supremo, o governo propôs reembolsar as vítimas em lotes quinzenais, a começar em 24 de julho. 

Candidatos não dão ponto sem nó. O pretexto de Lula é abreviar o sofrimento das vítimas da rapinagem, a maioria velhinhos pobres, mas o motivo real da pressa é se antecipar ao início da CPI que esmiuçará o escândalo no segundo semestre. 

Segundo o Datafolha, 50% dos entrevistados culpam Lula pelas fraudes e 41% culpam Bolsonaro. Na CPI, os aliados de ambos jogarão merda uns nos outros. A diferença é que Bolsonaro é candidato à cadeia, daí a pressa do petista.

 

Enquanto equacionava sua famosa Teoria de Relatividade Geral, Einstein concluiu que a gravidade fazia o cosmos se contrair ou expandir, contrariando a visão aceita na época de que o Universo era estático. Diante dessa aparente inconsistência, ele inseriu em suas equações uma "constante cosmológica" para neutralizar o impacto da gravidade. Mais adiante, quando surgiram evidências de que o Universo está em expansão, essa constante foi considerada seu maior erro. Posteriormente, porém, descobriu-se que a expansão do Universo está se acelerando, provavelmente devido a uma misteriosa "energia escura" que a tal constante pode ajudar a explicar.

 

O trabalho de Einstein — incluindo o artigo de 1905 que descreve a luz como composta por ondas e partículas — ajudou a estabelecer as bases para a Mecânica Quântica, que estuda o mundo bizarro e contraintuitivo das minúsculas partículas subatômicas. Diante do famoso paradoxo do Gato de Schrödinger — segundo o qual um gato dentro de uma caixa pode ser considerado simultaneamente vivo e morto até que alguém abra a tampa para verificar —, o físico alemão escreveu para o colega Max Born que "Deus não joga dados". 

 

Em seu artigo de 1935, escrito em pareceria com os cientistas Boris Podolsky e Nathan Rosen, ele argumentou que, se dois objetos em superposição fossem separados após terem sido conectados de alguma forma, a medição de um deles fixaria instantaneamente um valor para o outro — mesmo sem que este fosse observado. Embora concebido como uma refutação da superposição quântica, esse experimento mental abriu caminho para o desenvolvimento de uma ideia que ficaria conhecida como entrelaçamento quântico: a possibilidade de dois objetos se manterem conectados como um só, mesmo separados por grandes distâncias. Isso mostra que Einstein era brilhante até mesmo nas ideias que, à sua época, ele interpretava de forma equivocada.

 

Seu artigo "Sobre a eletrodinâmica dos corpos em movimento" foi a pedra fundamental da Teoria da Relatividade Especial (ou restrita), que se escora em duas ideias centrais: 1) as leis da física são as mesmas para todos os observadores em movimento uniforme (princípio da relatividade); 2) a velocidade da luz no vácuo é a mesma para todos os observadores, independentemente do seu movimento em relação à fonte de luz. As consequências são contraintuitivas: eventos simultâneos para um observador podem não sê-lo para outro; relógios em movimento medem o tempo mais devagar; objetos ficam mais curtos na direção em que se deslocam; nada no Universo se move mais rápido que a luz; massa e energia são conceitos equivalentes, relacionados pela famosa equação E=mc2.

 

Se recuarmos no tempo até 1895, veremos que, com base no trabalho do físico holandês Hendrik Lorentz, o matemático francês Henri Poincaré publicou uma primeira formulação do princípio da relatividade: “é impossível determinar o movimento absoluto em relação ao éter; tudo o que podemos medir é o movimento relativo entre dois corpos”. Em 1905 — no mesmo mês em que Einstein submeteu seu artigo para publicação —, Poincaré divulgou um texto de cinco páginas no qual enunciava com clareza esse princípio. No entanto, sua contribuição acabaria esquecida, e Einstein receberia o crédito integral pela nova teoria — que ele generalizaria uma década depois, ao criar a Teoria da Relatividade Geral, incorporando o fenômeno da gravitação.

 

Em 4 maio de 1925, Einstein escreveu em seu diário: "Chegada ao Rio ao pôr do sol, com clima esplêndido. Em primeiro plano, ilhas de granito de formato fantástico. A umidade produz um efeito misterioso”. Ele já havia estado no Brasil por algumas horas, durante a parada do navio que o levava à capital argentina, em sua incursão de um mês e meio pela América do Sul — que incluiu também uma passagem por Montevideo, no Uruguai. O objetivo da viagem era divulgar e discutir sua recém-verificada Teoria da Relatividade com estudiosos sul-americanos e estreitar laços com as comunidades judaicas e alemãs, em meio à escalada de poder do Partido Nazista. 

 

Einstein passou sete dias no Rio de Janeiro, visitou instituições como a Fundação Oswaldo Cruz, o Museu Nacional e o Observatório Nacional, e fez duas grandes palestras públicas — uma na Academia Brasileira de Ciências e outra no Clube de Engenharia. Embora tenha reconhecido e agradecido pessoalmente o trabalho dos pesquisadores brasileiros, seus relatos íntimos revelam uma visão eurocêntrica sobre o país. Em certos momentos, ele demonstra desapreço pelos interlocutores e chega a "culpar" o clima tropical pelos costumes, que considerava inferiores. Em uma das passagens mais emblemáticas de seu diário, anotou: "Aqui sou uma espécie de elefante branco para eles, e eles são macacos para mim." Em outra, porém, escreveu: "A miscelânea de povos nas ruas é deliciosa: Portugueses, índios, negros e tudo no meio, de modo vegetal e instintivo, dominado pelo calor."

 

Einstein usou inúmeras vezes o termo "índios" como símbolo de selvageria e inferioridade, mas ficou tão impressionado com o trabalho do general Cândido Rondon, que chegou a recomendá-lo ao Prêmio Nobel da Paz. Por outro lado, suas anotações deixaram clara a ideia de uma suposta superioridade europeia — e também sua impaciência com o costume brasileiro dos grandes discursos elogiosos, que considerava enfadonhos. A última frase que escreveu antes de embarcar de volta para Europa, em 12 de maio, não poderia ser mais clara: "Longos discursos com muito entusiasmo e excessiva adulação, mas sinceros. Graças a Deus acabou. Finalmente livre, mas mais morto que vivo".