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segunda-feira, 6 de março de 2023

CARLO ROVELLI E A INEXISTÊNCIA DO TEMPO

O TEMPO NÃO PARA NO PORTO, NÃO APITA NA CURVA, NÃO ESPERA NINGUÉM. ATÉ PORQUE ELE SEQUER EXISTE!

 

Em 2020, num evento organizado pela revista New Scientist, o físico italiano Carlo Rovelli esticou uma corda de uma ponta a outra do palco, pendurou uma caneta no meio e disse: "É aqui que estamos; à direita fica o futuro e à esquerda, o passado. O tempo é uma sequência de momentos que podemos ordenar, que tem uma direção preferida e que podemos medir com relógios". E acrescentou em seguida: "Quase tudo que eu falei está errado. É como se eu dissesse que a Terra é plana"
 
Rovelli procura conciliar a mecânica quântica (que descreve o mundo microscópico e partículas menores que prótons e elétrons) com a relatividade geral (que trata dos corpos gigantescos do Universo, como estrelas e planetas), e é um dos fundadores da teoria da gravidade quântica em loop, também conhecida como teoria do loop, à luz da qual conceitos de tempo e espaço simplesmente não existem (para mais detalhes, assista a este vídeo e leia este artigo).


A relatividade geral e a mecânica quântica dizem coisas diferentes, mas ambas parecem estar certas. Rovelli explica que a natureza se comporta como um velho rabino que, consultado por dois homens para resolver uma disputa, deu razão a ambos, e quando sua mulher ponderou que os dois não poderiam ter razão ao mesmo tempo, disse que ela também estava certa.

Da busca pela conciliação surgiu a Teoria das Cordas, que podemos compreender melhor lembrando que tudo em que tocamos é feito de átomos, cujos núcleos são formados por prótons (partículas com carga elétrica positiva) e por nêutrons (partículas com carga nula). Essas partículas são compostas por quarks, em cujo interior ficam as cordas, que formam partículas diferentes conforme sua vibração.

Prótons e nêutrons têm massas semelhantes (porém não idênticas) e permanecem ligados graças à força nuclear. Ao contrário do que se imaginava, eles não são elementares; os prótons são formados por um quark down e dois quarks up, e os nêutrons, por dois quarks down e um up. O quark down é mais pesado que o up, daí o próton ser mais leve que o nêutron. 

Observação: Existem seis tipos diferentes de quarks: up, down, charm, strange, top e bottom. Cada tipo possui propriedades e comportamentos distintos. O quark up (u) e o quark down (d) são os mais comuns. A principal diferença entre eles é a carga elétrica: o quark up tem carga elétrica positiva de +2/3, ao passo que o quark down tem carga elétrica negativa de -1/3.


Os quarks também diferem em relação à estabilidade: o do tipo up é considerado estável e não pode se decair em outras partículas, enquanto o do tipo down pode se transformar em up por meio da emissão de um bóson W-, que é uma partícula mediadora da interação. Mas esses detalhes fogem aos propósitos desta abordagem.


Continua...

segunda-feira, 8 de agosto de 2022

A COMPUTAÇÃO QUÂNTICA E A VIAGEM NO TEMPO (PARTE XIV)

EM ALGUM LUGAR, ALGUMA COISA INCRÍVEL ESTÁ ESPERANDO PARA SER DESCOBERTA.

O que foi dito até aqui nos permite tirar duas conclusões: 1) viajar no tempo, sobretudo para o futuro, é uma possibilidade; 2) estamos anos-luz distantes da tecnologia que viabilizaria esse prodígio.

Em que pesem os paradoxos e outras questões que que "impedem" a volta ao passado, um avião da Hawaiian Airlines decolou de Auckland, na Nova Zelândia, às 00h05 (hora local) de 1º de janeiro de 2018, e aterrissou nove horas e 10 minutos depois em Honolulu, no Havaí, às 10h15 (hora local) de 31 de dezembro de 2017. Claro que isso se deveu aos diferentes fusos horários — o Havaí está dez horas atrás do UTC (horário de referência, a partir do qual se calculam todas as outras zonas horárias do mundo), enquanto a Nova Zelândia está 13 horas à frente —, mas não muda o fato de os passageiros terem chegado a seu destino no dia anterior ao da partida.
 
O filósofo grego Demócrito (546-460 a.C.) batizou de “átomo” o que, segundo ele, era a menor partícula da matéria e, portanto, seria indivisível. Em 1917, o químico Ernest Rutherford descobriu que o núcleo do átomo é formado por prótons e nêutrons e rodeado por elétrons. Mais adiante, descobriu-se que os próprios prótons, nêutrons e elétrons são formados por partículas ainda menores — os quarks, no caso dos dois primeiros, e os léptons, no caso dos elétrons. Hoje, acredita-se que os seis tipos diferentes de quarks e os seis tipos diferentes de léptons sejam as partículas fundamentais da matéria, embora não seja possível observá-los, já que eles não aparecem livres na natureza.
 
Einstein morreu sem equacionar uma “Teoria de Tudo”, que explicasse todos os enigmas do universo, mas os físicos John Schwarz, Michael Greene e Yoichiro Nambu desenvolveram a Teoria das Cordas, que combina a relatividade geral com a mecânica quântica. Segundo esse modelo matemático, todas as coisas do Universo são compostas por filamentos de energia (as tais “cordas”), que seriam ainda menores do que os quarks e os léptons. Cada vibração dessas cordinhas unidimensionais formaria uma coisa diferente na natureza, e o Universo seria uma grande sinfonia gerada a partir de sua vibração. 

Diferentemente do que Einstein imaginava, essa teoria não vê o Universo como um espaço-tempo de quatro dimensões (altura, profundidade, largura e tempo), mas, sim, de onze dimensões, sete das quais nós não conseguimos enxergar, mas que nem por isso deixam de existir. O problema é que os conceitos da relatividade geral não se aplicam ao mundo subatômico e vice-versa.
 
Além dos paradoxos temporais há outros que, por curiosos, merecem menção. Um dos meus preferidos é o Paradoxo das Linhas de Tempo Alternativas, segundo o qual alguém que tentasse mudar o passado causaria o surgimento de um universo paralelo coexistente ao presente de onde ele veio, mas paralelo à linha temporal original a partir do ponto da mudança. Não há provas da existência de universos paralelos, mas tampouco há provas de que eles não existam. Ademais, as equações da mecânica quântica, combinadas com as da relatividade geral, deram azo a diversas previsões "surreais", digamos assim, que viriam a ser confirmadas anos (ou décadas) depois por experimentos de laboratório e observações astronômicas. 

Se o Universo é realmente infinito — o que é bastante provável —, todas as configurações de átomos são forçadas a se repetir em algum momento. Isso significa que haveria infinitas Terras idênticas à nossa (ou muito parecidas), habitadas por cópias nossas. A realidade oculta, do físico teórico Brian Greene, troca em miúdos os nove tipos diferentes de universos paralelos, que seriam semelhantes a bolhas de sabão flutuando num espaço maior (alguns seriam inclusive interconectados por buracos negros ou por buracos de minhoca).
 
Outro paradoxo interessante é o dos Loops de Repetição, que acontece quando alguém “revive” várias vezes o mesmo momento — como no filme Feitiço do Tempo, no qual um repórter meteorológico mal-humorado (Bill Murray) cobre pela quarta vez consecutiva uma festa interiorana (Dia da Marmota), é obrigado a pernoitar na cidadezinha devido a uma nevasca e acaba revivendo a cada manhã o mesmo dia da festa, como se o tempo tivesse deixado de passar. 
 
No livro póstumo Brief Answers to the Big Questions (breves respostas para grandes perguntas, em tradução livre), Stephen Hawking anotou que nosso entendimento atual não permite descartar as viagens no tempo. O fato de a velocidade da luz ser a mais rápida que qualquer sinal pode percorrer nos dá a causalidade — princípio segundo o qual os efeitos devem sempre vir depois de suas causas. 
Einstein percebeu que, se a velocidade da luz é absoluta, o espaço e o tempo em si não podem ser, daí todos os relógios móveis serem mais lentos que os estacionários. 

Observação: Quanto mais depressa alguém se move, mais devagar o tempo passa em relação a quem está parado. À velocidade da luz, o tempo simplesmente congela, mas não passaria a correr para trás se essa velocidade fosse superada, já que a lei da causalidade seria violada e o conceito de causa e efeito perderia o significado. 
 
Em sua “conjectura de proteção cronológica”, Hawking reconheceu que as leis desconhecidas da física que um dia substituirão as de Einstein conspiram para evitar que objetos grandes (como uma espaçonave) pulem para trás e para frente no tempo. Existem muitas hipóteses que tentam explicar a existência de múltiplos universos, mas nem todas são amplamente aceitas, dada a impossibilidade de se testar a existência de outros universos. 

Em última análise, a verdade é que ainda não existe uma verdade sobre viagens no tempo.

Continua...

quarta-feira, 13 de setembro de 2023

MAIS SOBRE AS "SUTILEZAS" DO UNIVERSO

DEIXE QUE SEUS AMIGOS SUBESTIMEM SUAS QUALIDADES E QUE SEUS INIMIGOS SUPERESTIMEM SEUS DEFEITOS.

 

Milionésimos de segundo depois do Big Bang, o Universo era um plasma turbulento e superquente de partículas elementares que se aglomeraram em inúmeras combinações antes de formarem os nêutrons e prótons, e a colisão de quarks e glúons originou as "partículas X" — assim chamadas devido a suas estruturas desconhecidas, mas previsíveis pela teoria.

 

Observação: Tudo que existe é formado por átomos, cujos núcleos são compostos por prótons, que têm carga elétrica positiva, e nêutrons, cuja carga é nula. Essas partículas permanecem unidos graças à força nuclear forte gerada pelos glúons (partículas "virtuais" que surgem e desaparecem de forma aleatória) e têm massas semelhantes, mas não são elementares — ou seja, elas são formadas por três outras partículas — essas, sim, elementares —, que são conhecidas como quarks.

 

Alguns cientistas propuseram um modelo que inicia o Big Bang gerando uma infinidade de universos, cada qual com uma massa diferente para o bóson de Higgs. Após calcular como esses universos evoluiriam ao longo do tempo, eles concluíram que os universos que tinham bósons de Higgs mais pesados colapsaram numa fração de segundo, e os que tinham partículas de Higgs mais leves (como o nosso) sobreviveram. Á luz dessa teoria, nosso cosmos pode ter sido o único sobrevivente do multiverso criado originalmente pelo Big Bang.

 

Até 2021, astrofísicos e cosmólogos estimavam a idade do Universo em 13,787 bilhões de anos, mas o físico indiano Rajendra Gupta acredita que o Big Bang teria ocorrido há 26,7 bilhões de anos. Ele e outros pesquisadores ficaram intrigados com a existência de estrelas como Matusalém, cuja idade é de 14,27 ± 0,8 bilhões de anos (o valor 0,8 bilhão de anos remete ao desvio padrão, que mostra um intervalo de confiança para a medida) e com a descoberta de galáxias primitivas em um estado avançado de evolução.


Criada em 1929, a teoria da luz cansada propõe que o desvio para o vermelho da luz de galáxias distantes — base de cálculo para a idade do cosmos — se deve à perda gradual de energia por fótons em vastas distâncias cósmicas. Gupta descobriu que, ao permitir que essa teoria coexista com o universo em expansão, pode-se reinterpretar o desvio em questão como um fenômeno híbrido, e não puramente decorrente da expansão. 


Segundo ele, as "constantes de acoplamento" (constantes físicas fundamentais que governam as interações entre as partículas) variam ao longo do tempo, razão pela qual o prazo para a formação das primeiras galáxias observadas pelo telescópio Webb pode ser estendido de algumas centenas de milhões de anos para vários bilhões de anos — o que fornece uma explicação mais viável para o nível avançado de desenvolvimento e massa observados nessas antigas galáxias. 

segunda-feira, 28 de agosto de 2023

SUTILEZAS DO UNIVERSO

A ÚNICA PERGUNTA IDIOTA É A QUE A GENTE NÃO FAZ.

Neste exato momento há um número imenso de partículas invisíveis atravessando você, os objetos a seu redor e o próprio planeta Terra. Chamadas "neutrinos", essas "partículas-fantasmas" se deslocam a uma velocidade próxima à da luz, mas raramente interagem com a matéria, razão pela qual sua
 detecção é baseada na probabilidade: dentre os incontáveis neutrinos que atravessam a matéria, uma quantidade ínfima se choca com os átomos, e o resultado desse choque pode ser registrado pelos equipamentos detectores. 
 
Foi com esse método que o neutrino teve sua existência provada em 1956 — antes disso, ele havia sido teorizado nos anos 1930 pelo físico austríaco Wolfgang Pauli e, logo após e com mais precisão, pelo italiano Enrico Fermi, que o batizou (traduzido do italiano, "neutrino" significa "pequeno nêutron", mas suas semelhanças com o nêutron não vão longe). 
 
Diferente dos prótons e nêutrons que fazem parte do núcleo atômico, o neutrino é uma partícula elementar. Isso significa que não se conhece nenhuma estrutura menor em sua composição (apesar de se parecer com o nêutron por não ter carga elétrica, ele é milhões de vezes menor e mais leve). Para cada elétron que existe no universo, estima-se que existam 10 bilhões de neutrinos (como eles não têm estrutura interna, os físicos os veem como partículas de dimensão zero, que não ocupam espaço).
 
Embora seja comum imaginarmos os elétrons como partículas pontuais de dimensão zero, eles são cercados por uma nuvem de outras partículas virtuais que piscam constantemente para dentro e para fora da existência. Se tivessem um polo ligeiramente positivo e um polo ligeiramente negativo, eles seriam levemente assimétricos e poderiam se comportar de maneira diferente de seus duplos de antimatéria — os pósitrons —, o que explicaria alguns mistérios que envolvem matéria e antimatéria. Mas os físicos mediram repetidamente sua forma e descobriram que eles são perfeitamente redondos.
 
Neutrinos, elétrons, múons e taus compõem uma categoria de partículas fundamentais chamadas léptons. Os múons são criados quando raios cósmicos de alta energia atingem o topo da atmosfera do nosso planeta. O taus são ainda mais raros e difíceis de produzir, pois são cerca de 3400 vezes mais pesados que os elétrons. Os Quarks — que compõem prótons e nêutrons — são outro tipo de partícula fundamental que, juntamente com os léptons, compõem o material que consideramos matéria.
 
Observação: Até o início do século passado, acreditava-se que os átomos eram os menores objetos possíveis, mas os cientistas descobriram que o núcleo atômico é formado por prótons e nêutrons. Mais adiante, os aceleradores de partículas revelaram a existência de partículas subatômicas exóticas, como os pions e os kaons. Em 1964, foi proposto um modelo que poderia explicar o funcionamento interno de prótons, nêutrons e o resto do zoológico de partículas.
 
As quatro forças fundamentais da natureza são o eletromagnetismo, a gravidade e as forças nucleares forte e fraca. Cada uma delas tem uma partícula fundamental associada. Os 
fótons carregam a força eletromagnética; os glúons carregam a força nuclear forte e residem com os quarks dentro de prótons e nêutrons. A força fraca, que medeia certas reações nucleares, é transportada por duas partículas fundamentais — os bósons W e Z. Os neutrinos, que apenas sentem a força fraca e a gravidade, interagem com esses bósons, e assim os físicos foram capazes de fornecer evidências de sua existência.
 
gravidade não está incorporada ao Modelo Padrão, mas ela deve ter uma partícula fundamental associada — que seria chamada de gráviton. Se os grávitons existem, é possível criá-los no Grande Colisor de Hádrons, mas eles desapareceriam rapidamente em dimensões extras, deixando para trás uma zona vazia onde teriam estado (até agora, o LHC não conseguiu observar evidências de grávitons ou dimensões extras).
 
Finalmente, há o bóson de Higgs — o "rei" das partículas elementares —, que é responsável por dar massa a todas as outras partículas. Quando ele foi finalmente descoberto, os físicos comemoraram, mas os resultados também os deixaram numa sinuca de bico: o Higgs parece exatamente como foi previsto, mas esperava-se mais, pois falta ao Modelo Padrão uma descrição da gravidade, e os pesquisadores imaginaram que o Higgs ensejaria outras teorias que substituíssem esse modelo. Quem sabe num futuro próximo...
 
Acreditou-se por décadas que, 
assim como os fótons, os neutrinos não possuíam massa, mas isso mudou por volta dos anos 2000. A descoberta da oscilação dos neutrinos — fenômeno que só pode ocorrer em partículas que têm massa — rendeu aos pesquisadores o Nobel de Física de 2015. Há três tipos de neutrinos na natureza, e o que se percebia era que os neutrinos elétron, produzidos massivamente no Sol, eram detectados em número abaixo do esperado nos experimentos. Por um tempo, o "desaparecimento" dos neutrinos foi um mistério, mas agora se sabe que eles oscilam, mudando de neutrinos múon para neutrinos tau. 
 
A massa exata de cada tipo de neutrino ainda é desconhecida, mas os físicos acreditam que ela seja composta pela sobreposição de três massas diferentes. O fenômeno, regido pela mecânica quântica, pode ser de difícil compreensão por quem não está familiarizado com a física de partículas, o que exige criatividade dos cientistas na hora de explicar seu trabalho à sociedade. 

Arthur Loureiro, pesquisador brasileiro da University College London e autor de um estudo recente que identificou o limite superior da massa do tipo mais leve de neutrino, compara os "sabores" dos neutrinos ao sorvete napolitano, onde cada massa da partícula é como uma porção de sorvete que contém uma certa combinação dos três sabores. 

Na última palestra que ofereceu ao público brasileiro, o professor Francesco Vissani apresentou três metáforas para falar sobre os neutrinos: vampiros, fantasmas e mutantes, esta última por conta da instabilidade da partícula e a oscilação que a leva de um "sabor" ao outro. Já o "fantasma", difícil de se detectado, atravessa paredes e o próprio Sol sem interagir com nada, enquanto o "vampiro", que não aparece no espelho, não possui uma imagem simétrica — daí existirem "neutrinos canhotos" e não existirem "neutrinos destros". Já com o antineutrino, que é a antipartícula correspondente ao neutrino no mundo da antimatéria, existem apenas os "destros".
 
O fato de neutrinos e antineutrinos terem cada qual apenas um tipo de spin sugere que eles também se comportam de maneira diferente em suas oscilações e, consequentemente, no modo pelo qual interagem com os componentes do universo. Outra hipótese é a de que o neutrino seja o chamado férmion de Majorana (partícula teorizada nos anos 1930 e que seria antipartícula de si mesma).
 
Ainda longe de serem comprovadas, essas possibilidades empolgam os físicos do mundo todo porque ajudam a entender o fato de termos tanta matéria no universo, mas tão pouca antimatéria.  Segundo a cosmologia, após o Big Bang deveria haver quantidades iguais das duas coisas, e elas deveriam ter se aniquilado mutuamente. Mas, por alguma razão, a matéria predominou, e o neutrino pode ser uma peça-chave para solucionar esse mistério.
 
Com Samuel Ribeiro dos Santos Neto.

sexta-feira, 13 de junho de 2025

BIG BANG — DO NADA AO TUDO (FINAL)

AGORA VEMOS POR ESPELHO, EM ENIGMA, MAS, ENTÃO, VEREMOS FACE A FACE; AGORA CONHEÇO EM PARTE, MAS, ENTÃO, CONHECEREI COMO TAMBÉM SOU CONHECIDO.

Teoria do Big Bang explica a origem do Universo, mas não elucida o que precedeu a "grande explosão", ou por outra, como "tudo veio do nada". Sabe-se que as primeiras partículas de matéria  que compõem o núcleo atômico — prótons e nêutrons — surgiram um décimo de milésimo de segundo após o Big Bang, mas o que existia até então pertence ao reino da física especulativa. 

Uma hipótese plausível é que o cosmos era formado por uma "sopa" de partículas elementares de vida curta — quarks, os blocos fundamentais dos prótons e nêutrons — misturadas com antimatéria em quantidades aproximadamente iguais. Mas, se matéria e antimatéria se anulam mutuamente, como essas partículas conseguiram permanecer?

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

A julgar pelo interrogatório de Mauro Cid, o que se passou no governo Bolsonaro em 2022, notadamente no período pós-eleição presidencial, foi uma adesão total à prática do desaforo institucional, corrupção de valores e roubalheira de princípios. Na tentativa de reduzir a gravidade das ações, Cid traçou um paralelo ao que o ex-ministro Marco Aurélio chamou certa vez de realidade de “faz de conta”, em que agentes públicos negam os fatos para escapar de suas responsabilidades. A referência, então, era ao roubo de dinheiro justificado sob a rubrica da prática comum do caixa dois; agora, o que se viu foi a subtração de preceitos da legalidade, travestida de conversas de bar (nas palavras do delator).

Quando Alexandre de Moraes perguntou se o almirante Almir Garnier havia colocado as tropas da Marinha à disposição do golpe, Bolsonaro respondeu: “Em hipótese alguma. Não tinha clima, não tinha oportunidade e não tinha uma base minimamente sólida para fazer qualquer coisa.” Questionado por seu próprio advogado a respeito de usar a Abin para produzir relatórios com informações falsas sobre urnas eletrônicas, o general Augusto Heleno respondeu: “De maneira nenhuma. Não havia clima.” O sincericídio foi tão grande que o próprio Moraes ironizou: “Não fui eu quem fez a pergunta, general. Eu quero registrar nos anais da Corte que foi o seu advogado.”

Bolsonaro admitiu ter mostrado a chamada “minuta do golpe” ao então comandante do Exército, mas negou que ele tenha ameaçado prendê-lo, como afirmou seu ex-ajudante de ordens e delator no processo. Classificou como “malucos” os milhares de apoiadores que acamparam em frente aos quartéis pedindo uma intervenção militar após sua derrota nas eleições. Mais adiante, exibindo uma inusitada vocação para comediante, chegou a convidar Moraes para ser seu vice em uma hipotética candidatura à Presidência da República (o ministro declinou). Em certo momento, chamou de “malucos” seus próprios seguidores que pediam intervenção das Forças Armadas diante do resultado das urnas.

Interrogado por videoconferência, o general Braga Netto — vice na chapa de reeleição de Bolsonaro e um dos auxiliares mais próximos do ex-presidente nos últimos meses de governo — rebateu a acusação de Cid de que teria levado uma caixa de vinho com milhares de reais para ser entregue aos chamados “kids pretos”. Também foram ouvidos os ex-ministros Anderson Torres (Justiça) e Sérgio Nogueira (Defesa), e o ex-comandante da Marinha. Os três admitiram ter discutido a possibilidade de um golpe de Estado, mas negaram envolvimento em qualquer trama golpista.

A conclusão dos interrogatórios em menos da metade do tempo previsto inicialmente confirma a rapidez com que Moraes tem conduzido o inquérito, mesmo dando a todos os réus o espaço que desejaram para falar e permitindo que ministros da 1ª Turma fizessem questionamentos — só Luiz Fux deu o ar da graça.

Avaliar depoimentos de réus deveria ser tarefa para analistas políticos, não para psicanalistas. Neste caso, porém, ambos talvez chegassem à mesma conclusão: não se trata apenas de atos falhos, mas de uma arquitetura deliberada da mentira. O que estava em jogo não era só o poder, mas a própria sanidade institucional. E, entre delírios, cinismo e amnésias seletivas, o Brasil foi transformado em um experimento de realidade paralela. O próprio Freud teria dificuldade para explicar tamanha dissonância entre o que foi dito e o que foi feito — talvez apenas o Dr. House, com sua máxima: “todo mundo mente”.


A física como a conhecemos deixa de fazer sentido nos primeiros 5,39 × 10⁻⁴⁴ segundos contados a partir do "início" do universo — um intervalo conhecido como tempo de Planck. Nesse limite extremo, a gravidade e a mecânica quântica tornam-se incompatíveis, e, sem uma teoria unificada de gravidade quântica, não é possível descrever com precisão o que realmente ocorreu. À medida que o universo se expandia e esfriava, a sopa densa e quente de quarks e glúons começou a se combinar, formando prótons e nêutrons — isso por volta de 10⁻⁶ segundos após o Big Bang.


Quando falamos que “tudo veio do nada”, é preciso lembrar que, na cosmologia, “nada” pode significar ausência de matéria, de espaço-tempo, ou mesmo um vácuo quântico repleto de flutuações. Segundo a Teoria Quântica de Campos, mesmo no vácuo existem atividades físicas — flutuações de energia que podem dar origem a partículas que logo desaparecem. Por mais que isso pareça uma abstração matemática, essas partículas foram detectadas em inúmeros experimentos.

 

Algumas hipóteses sugerem que o Universo pode ter surgido de uma flutuação do vácuo, com energia total zero — em que a energia positiva da matéria seria cancelada pela energia negativa da gravidade. Stephen Hawking e outros físicos exploraram a ideia de que o surgimento espontâneo do Universo poderia ser possível dentro da física quântica. Mas, novamente, estamos falando de um campo altamente especulativo.

 

Voltando no tempo até a chamada Era de Planck — que ocorreu um décimo de milionésimo de um trilionésimo de um trilionésimo de um trilionésimo de segundo após o Big Bang — deparamo-nos com um limite onde nossas melhores teorias entram em colapso. O próprio espaço-tempo, nesse ponto, sofre flutuações quânticas. E como vimos em outras postagens, a mecânica quântica governa o micromundo das partículas e a relatividade geral, o universo em grande escala. Para unificá-las, precisaríamos de uma Teoria de Tudo.

 

Segundo a Teoria das Cordas e a Gravidade Quântica em Loop, espaço e tempo seriam conceitos emergentes, como ondas na superfície de um oceano profundo. O que chamamos de espaço-tempo seria, na verdade, o resultado de processos quânticos ainda mais fundamentais. Fica ainda mais complicado quanto tentamos entender que, na Era de Planck, não apenas o espaço e o tempo deixam de fazer sentido, como a causalidade se desintegra.

 

Vale destacar que as candidatas à "teoria da gravidade quântica" descrevem um tipo de realidade física que estaria ocorrendo naquele momento primordial — uma espécie de precursor quântico do espaço e tempo, mas a física ainda não encontrou um exemplo confirmado de algo surgindo literalmente do nada. A procura por esse "santo graal" deu azo a explicações sobrenaturais, a modelos cíclicos do Universo e à Teoria do Multiverso, segundo a qual infinitos universos coexistem, cada qual com suas próprias leis e histórias. 

 

Inspirado por uma conexão matemática curiosa entre um universo inicial quente e denso e um universo final frio e vazio, o físico Roger Penrose, ganhador do Nobel em 2020, propôs a chamada cosmologia cíclica conformada. Nela, os estados iniciais e finais se tornam matematicamente idênticos quando levados aos seus limites. Em outras palavras: o Big Bang pode ter surgido de um "quase nada" — o resquício de um universo anterior, onde toda a matéria teria sido consumida por buracos negros e transformada em fótons dispersos num imenso vazio.

 

Mesmo assim, esse "nada" ainda seria um tipo de "algo", como um universo físico desprovido de estrutura. O paradoxo aqui é que esse estado frio e vazio pode ser o mesmo que o estado quente e denso visto sob outra perspectiva. A solução, segundo Penrose, poderia ser uma transformação geométrica complexa, que altera o tamanho, mas não a forma, já que tanto o conceito de tamanho como o próprio tempo podem deixar de fazer sentido em estados extremos.

 

O estado frio e vazio existiria eternamente numa linha do tempo própria, enquanto o estado quente e denso habitaria uma nova linha temporal. Sem embargo, ainda que essa hipótese se comprove no futuro, a pergunta filosófica mais profunda ainda permanece: de onde veio a própria realidade física? De ciclos infinitos, cada um gerando o próximo com variações quânticas aleatórias? Ou de um único ciclo, repetido eternamente, como um universo que retorna sempre ao mesmo ponto, reproduzindo a si mesmo?

 

Penrose sugere que cada ciclo do universo é único — o que abriria a possibilidade de detectarmos vestígios do ciclo anterior na radiação cósmica de fundo que observamos hoje. Ele e seus colegas afirmam ter encontrado essas marcas nos dados coletados pelo satélite Planck, que mapeou com alta precisão essa radiação remanescente do Big Bang. Segundo os cientistas, certos padrões circulares identificados nos mapas poderiam ser ecos de buracos negros supermassivos que existiram no ciclo anterior. Mas essas conclusões ainda são alvo de intenso debate entre seus pares.


Se um dia encontrarmos uma forma natural de transformar essa cosmologia cíclica de múltiplos ciclos para um único ciclo fechado, nosso Universo poderia ser um loop contínuo do Big Bang ao vazio e de volta ao Big Bang, num renascimento perpétuo do mesmo multiverso quântico, onde tudo que pode acontecer acontece, e acontece de novo, de novo e de novo.

 

Na mitologia nórdica, a serpente Jörmungandr, filha de Loki, morde a própria cauda, criando o círculo que sustenta o equilíbrio do mundo. Como se vê, a pergunta "de onde viemos?" pode ser mais antiga do que imaginamos. As teorias são muitas, mas, ao fim e ao cabo, talvez todas nos levem de volta ao ponto de partida.

sexta-feira, 3 de outubro de 2025

ACREDITE SE QUISER

UMA MEIA-VERDADE BEM CONTADA PODE LEVAR ALGUÉM A CULPAR O INOCENTE E APLAUDIR O MENTIROSO.

Acreditar no que bem entender é, em última instância, exercer o direito de livre arbítrio. Seja para abraçar a ideia de uma Terra plana como quem segura um mapa mal dobrado, seja para negar veementemente qualquer possibilidade de vida extraterrestre, mesmo diante de uma avalanche de relatos de OVNIs, esse direito inalienável de pensar bobagens com convicção permite que bocórios patológicos coexistam em paz, cada qual em sua bolha, orbitando certezas que desafiam a gravidade da lógica. 

 

Argumentar com quem renunciou à lógica é como medicar defuntos. No fim das contas, talvez o maior mistério do universo não seja se há vida lá fora, mas como o livre arbítrio continua sendo usado para negar o óbvio com tanto entusiasmo. No romance Contato, o astrofísico Carl Sagan anotou que "ausência de evidência não é evidência de ausência". Segundo o cientista, se não existir ninguém além de nós, o universo é um imenso desperdício de espaço.


CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA


O PSDB nasceu de uma costela do PMDB e alcançou seus 15 minutos de fama graças ao sucesso do Plano Real, que ensejou a vitória de FHC sobre Lula em 1994 e 1998 (sempre no primeiro turno). Mas deitou na cama, deixou a esquerda criar asas e perdeu a presidência para o PT em 2002. O sonho de voltar ao poder em 2010 poderia ter se concretizado se o tucanos tivessem se empenhado mais, mas tucano que é tucano mija no corredor sempre que há mais de um banheiro na casa e acha que brigar entre si serve como treino para lutar contra os verdadeiros adversários. 

Depois de décadas como o maior partido de oposição aos governos corruptos de Lula e Dilma, o PSDB se tornou inútil como um casaco de peles sob o sol do Saara. Consenso entre os tucanos sempre foi raro como nota de US$ 1.000 em bolso de mendigo. Eles faziam reuniões e mais reuniões, mas nada ficava decidido. Com a derrota de Aécio Neves (2014), entraram em parafuso. Deixaram-se impregnar pelos interesses escusos do Congresso, deram as costas para a opinião pública e deixaram passar a oportunidade de resgatar a imagem de alternativa lógica para quem não suporta mais corruptos como os do PT, do PL e do Centrão. 

Em 2022, o partido amargou uma queda drástica no número de deputados federais eleitos (de 59 em 2002 para apenas 13 em 2022) e a perda de prefeituras em diversas capitais. Após 27 anos de governança no estado de São Paulo, não elegeu um sucessor em 2022 e, em 2024, perdeu todos os vereadores da Câmara Municipal da capital paulista. Hoje, enfrenta um processo de enfraquecimento e “desaparecimento” político marcado por perdas eleitorais expressivas. 

A perda da identidade política e de lideranças importantes, aliada a rupturas internas e o fim da federação com o Cidadania — que visava fortalecer ambos os partidos — foi desfeita em março de 2025, resultando em menos representação política e agravando ainda mais a crise de um partido cuja trajetória é associada à evolução da redemocratização pós-ditadura militar e à ordem constitucional imposta pela Carta Magna de 1988. Mas o ciúme e a disputa entre egos gigantescos resultaram em rachas e traições, e a busca por uma fusão — como a cogitada com o Podemos — expôs a dificuldade do tucanato em se organizar e apresentar propostas sólidas. Para piorar, o desaparecimento da sigla pode estimular uma polarização ainda mais intensa e perigosa entre a esquerda e uma extrema-direita conservadora, chegando mesmo a sinalizar o fim da “nova república”.

Sem os tucanos para fazer oposição civilizada ao PT e seus satélites, o PL e o Centrão assumiram o protagonismo — e o que já era ruim ficou pior. Os governadores de Goiás (Ronaldo Caiado), de Minas (Romeu Zema) e do Paraná (Ratinho Jr.) já se apresentam como pré-candidatos ao Planalto em 2026. Já o chefe do executivo paulista (Tarcísio de Freitas) não caga nem desocupa a moita, isto é, não sabe será candidato à Presidência ou se disputará novamente o Palácio dos Bandeirantes. 

A única postura digna com os potentados da política é a que teve Diógenes, que morava numa barrica, ao dizer a Alexandre, o Grande, quando este apeou de seu majestoso Bucéfalo: “De você não quero nada; só quero que saia da frente do Sol, pois está a me fazer sombra. Não me tire o que não pode me dar". 

 

Uma das teorias científicas mais fascinantes é a da existência de dimensões além das que conhecemos. Diversos estudos teóricos já apresentaram essa ideia para (tentar) explicar alguns mistérios da física, mas nenhum deles chegou a uma resposta definitiva. Não obstante, são justamente as perguntas mais intrigantes que impulsionam grandes descobertas, e novas descobertas vêm mudando o que sabemos sobre o universo quase como imagens a cada giro de um caleidoscópio. 
 
Segundo a Relatividade Geral — exaustivamente testada e comprovada em observações espaciais, tanto no universo macroscópico quanto no quântico —, vivemos em um Universo quadridimensional, sendo três dimensões espaciais e uma temporal. Para entender melhor como funcionariam as hipotéticas dimensões adicionais, imagine um mundo como uma folha de papel, onde os seres que habitam conseguem acessar a largura e o comprimento das coisas, mas não a altura delas. 

 

Se colocássemos uma caixa tridimensional nesse universo de papel, os seres que lá vivem a veriam como um quadrado bidimensional, e se falássemos com eles, eles ouviriam uma voz vindo do nada. Mas se um hipotético "cientista bidimensional" medisse a energia sonora nesse mundo bidimensional , ele notaria que parte da energia "sumiu" (na verdade, ela "vazou" para a terceira dimensão, à qual ele não tem acesso). 

 

No nosso Universo, o som se propaga em todas as direções. Não conseguimos ver a dimensão que existe hipoteticamente acima da nossa, medir a energia sonora nos permitiria descobrir se alguma coisa está "vazando" para uma quarta dimensão espacial. Os cientistas que fizeram essa experiência sempre encontraram a energia na mesma medida — o que significa que ela não "vaza" —, mas o fato de não haver evidências que sustentem a existência de uma dimensão espacial além das três que já conhecemos não afasta a possibilidade de existirem "micro dimensões".

 

De acordo com a Teoria das Cordas, todas as partículas (elétrons, quarks, bósons etc.) são formadas por "cordas vibrantes" menores que o núcleo atômico. O encontro de duas ou mais delas produz ondas estacionárias (mais ou menos como as notas musicais que produzimos quando dedilhamos um violão). Em 1995, durante a "segunda revolução das cordas", os físicos propuseram que cinco diferentes teorias das cordas seriam faces da Teoria de Tudo, que busca unificar todos os fenômenos físicos juntando a Relatividade Geral e a Mecânica Quântica em uma única estrutura teórica. 
 
Em linhas gerais, essa teoria sugere que cada partícula é um minúsculo laço de corda, e que o universo tem onze dimensões que podem se propagar através do espaço-tempo. Para entender isso melhor, imagine uma pilha de panquecas recobertas com mel, na qual nosso Universo é a panqueca que fica sob todas as outras. O mel que escorre não nos deixa perceber existência das demais, mas isso não significa que elas não estão lá.
 
Teoria das Cordas é a solução matemática mais elegante criada até agora para esclarecer questões nebulosas, como da gravidade quântica. Uma de suas primeiras versões pressuponha a existência de 26 dimensões, mas não explicava a matéria bariônica, apenas os bósons. Outras versões foram propostas até desaguaram na Teoria M, que apresenta conceitos como supercordas e supersimetria e reduz o número de dimensões para onze — sete além das três espaciais e uma temporal que já conhecemos.
 
Uma analogia que facilita a compreensão da Teoria das Cordas usa como exemplo... uma corda — que para nós tem apenas uma dimensão. Quando andamos sobre ela, só podemos ir para frente ou para trás, mas formiga caminhando pela mesma corda pode também andar para os lados e contornar o diâmetro — ou seja, acessar a dimensão da profundidade. Se em vez da corda imaginarmos uma mangueira de jardim, teremos o interior do tubo como uma dimensão adicional que é inacessível para nós, mas não para água com que regamos o jardim.
 
A dificuldade em comprovar a existência de outras dimensões advém do fato de elas serem tão pequenas que nem mesmo toda a energia dos aceleradores de partículas consegue encontrar. Seria possível fazer esse teste aproximando duas partículas ao comprimento de Planck (cerca de um bilionésimo de um bilionésimo de um bilionésimo de metro), mas nem mesmo o LHC, que é o maior acelerador de partículas do mundo, consegue medir forças atrativas ou repulsivas em distâncias inferiores ao diâmetro de um próton (8,33 x 10
-16 m).
 
Se fossem constatados desvios (vazamentos) no comportamento esperado da força eletromagnética nos experimentos já realizados, o LHC os teria detectado, mas os resultados foram os mesmos previstos pelo Modelo Padrão, o que dispensa dimensões extras para explicá-los. O resultado poderia ser outro se os testes fossem feitos em escalas de 10
19 m até o número de Planck, mas eles exigiriam uma quantidade de energia muito superior à dos aceleradores de partículas. 

 

Enquanto nossa tecnologia não evoluir, não há como confirmar (nem descartar) a existência das dimensões superiores. Mas isso não torna a Teoria das Cordas menos tentadora. Além de funcionar lindamente na matemática, ela explica gravidade quântica num cenário que os cientistas chamam de universo holográfico, onde a própria ação da gravidade poderia gerar as demais forças naturais

 

Tudo isso é fascinante, sobretudo para os físicos teóricos que buscam a Teoria de Tudo — que, como dito parágrafos acima, busca unificar a gravidade a mecânica quântica. Como ainda não há evidências de que outras dimensões além das que conhecemos existem, resta aos cientistas procurar respostas em hipóteses mais fáceis de testar.