quinta-feira, 22 de novembro de 2018

VEÍCULOS FLEX: MELHOR USAR GASOLINA OU ÁLCOOL? (Parte 11)


TUDO DEVE SER FEITO O MAIS SIMPLES POSSÍVEL, MAS NÃO MAIS SIMPLES QUE ISSO.

Vimos que a potência do motor — medida em cavalos vapor (cv), cavalos de força (hp, do inglês horse-power) ou quilowatts (kW) — é responsável por fazer o veículo ganhar velocidade, enquanto o torque — expresso em quilogramas-força/metro (kgfm) ou em Newtons-metro (Nm) —, por entregar a força. Volto a frisar que isso é trocar em miúdos uma penca de conceitos um tanto complicados, mas está de bom tamanho para o fim que se destina, qual seja inteirar o leitor leigo no assunto de uma forma simples e de fácil compreensão.

Como também já vimos, o torque, multiplicado pelas rotações do motor (rpm), resulta na potência, ou seja, na quantidade de energia gerada num determinado espaço de tempo. No caso de veículos de passeio, o tamanho da  “cavalaria” é vista como referência primária de desempenho, mas, na prática, o que voga é a relação “peso-potência”.

Observação: Como os fabricantes não costumam incluir essa informação no manual do proprietário, você terá de dividir o peso do veículo em ordem de marcha pela potência máxima que seu motor desenvolve (e o mesmo vale para o torque). 

Tanto o torque quanto a potência crescem à medida que a rotação aumenta, atingem o ápice num determinado regime e declinam a partir daí. Mas suas “curvas” não só são diferentes entre si, mas também variam significativamente de um veículo para outro, de acordo com o projeto a partir do qual o motor foi desenvolvido. No Corolla 2.0 (usado como exemplo no post do último dia 12), a potência máxima (de 154 cv no álcool) é obtida a 5.800 rpm, e o torque máximo (cerca de 20 kgfm), a 4.800 rpm. Isso é suficiente para o porte desse modelo (que não tem pretensões esportivas), mas, acredite, é  mais divertido dirigir um VW Polo 1.0 TSI flex (turbo) de três cilindros, que pesa 30% menos, dispõe de generosos 128 cv a 5.500 rpm e conta com os mesmo 20 kgfm de torque, só que a partir das 2.000 rpm
No que concerne às unidades de medida da potência automotiva, “cv” remete a “cheval vapeur” (cavalo vapor em francês), e corresponde ao “ps” alemão (de pferdestärke). Ambos expressam a potência segundo a norma alemã DIN 70020. Já o hp” (de horse-power, ou cavalo de força em inglês)  unidade definida pelo escocês James Watt  expressa a potência necessária para erguer 75 kg (quilogramas) a 1 m (metro) de altura em 1 s (segundo).
Observação: Note que o hp é medido no eixo motor, com todos os acessórios necessários para ligá-lo e fazê-lo funcionar autonomamente. O bhp — de brake horse-power —, aferido segundo as (hoje obsoletas) normas americanas SAE J245 e J1995, permitia a retirada de filtro de ar, alternador, bomba de direção hidráulica e motor de partida, além de admitir o uso de coletores de escape dimensionados. Por dar uma ideia de maior potência, essa nomenclatura foi largamente utilizada pelas montadoras.
O W (ou kW) é a unidade padrão do sistema nacional de unidades (SI), definida pela Organização Internacional para Normatização (ISO) segundo as normas ISO 31 e ISO 1000. Nas fichas técnicas divulgadas pelas montadoras, o kW é usado pelas marcas de origem alemã, ao passo que fabricantes ingleses e americanos preferem o hp, e os italianos e franceses, o cv. No Brasil, a maioria das marcas (independentemente da origem) converte suas fichas técnicas para o cv, mas é bom ficar atento à equivalência real entre as medidas: 1 hp corresponde a 745,7 W ou 0,7457 kW, e 1 cv (ou 1 ps), a 0,7355 kW. A diferença é inexpressiva em motores de pouca potência (80 hp, por exemplo, correspondem a 81,109 cv), mas os 430 kW do motor V8 do Mercedes AMG Coupé equivalem a 577 hp ou 585 cv. Para evitar enganos, converta a potência em kW para hp ou cv com o auxílio de uma calculadora ou recorra a um conversor de potências online (como o do WebCalc).
Para aproveitar a força do motor numa arrancada, deve-se engrenar a primeira marcha, acelerar até que o ponteiro do contagiros indique 1.500 rpm acima do regime de torque máximo, e só então liberar o pedal da embreagem. Caso a ideia seja testar a capacidade de aceleração, continuando fundo e troque as marchas sempre no regime de potência máxima (mas tome cuidado com os radares). 
Note que isso se aplica a veículos com câmbio manual, pois nos automáticos sem launch control não há como elevar o giro do motor antes de liberar o pedal da embreagem (até porque esse pedal não existe). Modelos mais potentes e com torque abundante em baixas rotações chegam a “cantar pneu” quando acelerados a fundo na arrancada, mas os mais limitados, com torque disponível apenas em rotações elevadas, costumam ser “chochos”, sobretudo se a transmissão for do tipo CVT (Continuosly Variable Transmission), que varia as relações de marcha continuamente. 
Embora essa tecnologia seja referência em economia de combustível, não há nada melhor que o tradicional sistema de engrenagens para garantir arrancadas com prontidão. Mas isso deve mudar em breve, pois a Toyota criou um novo sistema que reúne o melhor dos dois conceitos: um CVT equipado com uma engrenagem acionada em velocidades baixas. 
Direct Shift-CVT funciona como os demais CVTs, variando continuamente as relações graças a duas polias interligadas por uma correia que mudam de diâmetro constantemente. A diferença, nesse caso, é que as polias só entram em ação depois que o carro embala. Isso significa que, com o auxílio da engrenagem, as arrancadas são bem mais ágeis do que nos automáticos e automatizados em geral. 
A empresa não informa de quanto seria o benefício dessa tecnologia, mas diz que vai utilizá-la nos próximos lançamentos da marca desenvolvidos sobre a plataforma TNGA, entre eles a futura geração do Corolla, que deve chegar ao mercado em 2020.
Amanhã a gente continua. 

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

QUEM SAI AOS SEUS NÃO DEGENERA: POSTE DE LULA VIRA RÉU POR CORRUPÇÃO PASSIVA E LAVAGEM DE DINHEIRO


Ainda no assunto do post anterior: Em mais uma tentativa vergonhosa para desacreditar o TRF-4 e a juíza Gabriela Hardt, a defesa do ex-presidente presidiário ingressou com mais um pedido de Habeas Corpus, desta vez para colocar em xeque a autoridade da juíza no âmbito da Lava-Jato.

A alegação é que a Portaria 587, de 6 de junho de 2018 — que determina a substituição de Sérgio Moro por Gabriela Hardt —, veda explicitamente a atuação da juíza substituta em casos relacionados à operação Lava-Jato. Os advogados alegam também que o Código Penal exige que o réu seja sentenciado pelo juiz que tomou o depoimento, que, no caso, é Sérgio Moro — o que causa espécie, visto que boa parte das alegações infundadas da defesa consistia, até então, em acusar Moro de violar os princípios da imparcialidade e impessoalidade.

O princípio da identidade física do juiz criminal — de a sentença ser proferida pelo mesmo juiz que ouviu o depoimento do réu — não é absoluto e será avaliado no julgamento do HC.

Para concluir, mais um indício da inabalável lisura do partido que, não à toa, foi considerado pelo Ministério Público como uma organização criminosa: O poste que Lula indicou para disputar em seu lugar a presidência nas eleições deste ano, Fernando Haddad, que ostenta em seu currículo uma até então inédita derrota em primeiro turno nas eleições municipais de 2016 em São Paulo, quando pleiteou sua reeleição para prefeito, virou réu por corrupção passiva e lavagem de dinheiro em ação judicial que apura se ele recebeu repasses da empreiteira UTC Engenharia entre maio e junho de 2013 para pagamento de dívidas de sua campanha à prefeitura paulistana em 2012.

A denúncia, apresentada pelo Ministério Público de São Paulo, foi aceita pela Justiça na última segunda-feira, 19. O valor envolvido nos repasses chegaria a R$ 2,6 milhões. Haddad, é claro, nega a acusação e afirma que a UTC teve interesses contrariados durante sua gestão.

A acusação foi apresentada pelo promotor Marcelo Mendroni com base em depoimento do empresário Ricardo Pessoa, presidente da UTC, em delação premiada na Operação Lava-Jato, e acolhida pelo juiz Leonardo Barreiros, da 5ª Vara Criminal da Barra Funda.

Haddad voltará em breve a pronunciar o "s" no final das palavras. Assim que se tornar réu mais 6 vezes, for condenado, preso, e começar a cumprir a pena, ficará parecido com o Exterminador dos Plurais que o pariu a tal ponto que ninguém vai mais reparar em como ele pronuncia as palavras.

VEÍCULOS FLEX: MELHOR USAR GASOLINA OU ÁLCOOL? (Parte 10) — AINDA SOBRE TORQUE E POTÊNCIA


QUANDO VOCÊ TEM TODAS AS RESPOSTAS, ALGUÉM VEM E MUDA AS PERGUNTAS.

O que eu publiquei sobre torque e potência no post da última quarta-feira me pareceu suficiente para dar uma ideia ao leitor do que são e o que representam os valores informados no manual do proprietário dos veículos sob essas rubricas.  Todavia, escrever sobre temas complexos numa linguagem acessível a leigos, mas que não insulte a inteligência dos iniciados, é sempre um desafio, como dá conta o comentário de um visitante assíduo aqui do Blog. Então, em atenção a ele — e a outros leitores que eventualmente ainda tenham dúvidas sobre o assunto —, resolvi esmiuçar melhor essa questão, que realmente é um tanto nebulosa.

Como eu disse na postagem anterior, levar algo de um ponto a outro é trabalho; portanto, torque é trabalho (mesmo sendo uma força com tendência a girar objetos, como eu disse anteriormente). A potência, por sua vez, tem a ver com a rapidez com que esse trabalho é realizado.  

Observação: No âmbito da mecânica automotiva, chamamos torque ao esforço de torção produzido pelo motor. Para medi-lo, acoplamos esse motor a um dinamômetro, aceleramos ao máximo e usamos um freio hidráulico (ou elétrico) para limitar as rotações a 1000, 2000, 3000, e assim por diante. A partir dos valores do torque nesse regimes, calculamos a potência multiplicando-os pelo número de rotações por minuto (rpm) em cada situação específica.

O trabalho que um Fusca 1300 e um Mustang 5.0 realizam ao subir uma ladeira é o mesmo; a diferença é que o Ford se desincumbe da tarefa em bem menos tempo, pois seu gigantesco V8 gera 466 cv de potência a 7.000 rpm e 56,7 kgfm de torque a 4.600 rpm, ao passo que o boxer de 4 cilindros do fusquinha produz 46 cv de potência a 4.600 rpm e 9,1 kgfm de torque a 2600 rpm.

O mesmo raciocínio se aplica à aceleração. Numa hipotética largada conjunta, o Mustang atingiria 100 km/h em apenas 4,3 segundos, enquanto o Fusca levaria intermináveis 31 segundos para alcançar a mesma velocidade. A título de curiosidade, a velocidade máxima do Mustang é de 250 km/h (e isso porque é limitada eletronicamente), enquanto a do Fusca é de 115 km/h (e isso com vento a favor). Daí se conclui que quem tem mais potência realiza o trabalho em menos tempo.

Fugindo um pouco à pergunta do leitor (que agora, suponho, está respondida), acho oportuno aprovetar este ensjo para complementar o que eu já disse em outras postagens desta interminável sequência, mas não neste nível de detalhes:

Nos motores aspirados, a mistura ar-combustível é sugada para o interior da câmara de explosão pela depressão resultante do movimento descendente que o pistão realiza no ciclo de admissão. Na sequência, ela é comprimida (ciclo de compressão) e inflamada pela vela de ignição (ciclo de explosão, gerando as altas pressões internas que empurram o êmbolo para baixo, fazendo o motor funcionar). Finalmente, os gazes resultantes da explosão são expulsos do interior da câmara pelo movimento ascendente do pistão (ciclo de descarga), e aí começa tudo outra vez (mais detalhes nesta postagem). É bom que isso fique bem claro, pois assim ficará mais fácil de entender o funcionamento do turbocompressor, que é o assunto da próxima postagem.

Cabe aos projetistas garantir que a potência palpável (ou utilizável) não apareça somente em regimes muito elevados de rotação. Isso até poderia funcionar nas pistas, mas inviabilizaria a condução do veículo no trânsito urbano, já que para vencer a inércia seria preciso levar o motor a um regime de giros muito elevado — o que, dentre outras coisas, reduziria drasticamente a vida útil dos componentes da embreagem. E é aí que entra o torque.

Observação: A função da embreagem é acoplar ou desacoplar dois sistemas rotativos distintos (o motor e o câmbio, no caso do automóvel), permitindo-lhes girar em conjunto, separadamente, ou em rotações diferentes. O modelo usado nos veículos equipados com câmbio manual é acionado pelo motorista através de um pedal, que leva o garfo a pressionar o rolamento de encosto contra a mola-diafragma do platô, reduzindo a pressão sobre o disco de fricção. Conforme esse pedal é liberado, dá-se o efeito inverso, ou seja, o disco volta a ser pressionado contra o volante do motor, elevando gradualmente a rotação até igualá-la à do eixo piloto. No câmbio automático, um conversor de torque faz o papel da embreagem, e um conjunto de planetárias, auxiliado por um sofisticado mecanismo de apoio, produz as relações de transmissão que são repassadas às rodas motrizes. Já as transmissões automatizadas as mesmas caixas das manuais; a diferença é que o acionamento da embreagem e troca das marchas ficam a cargo de um robô (daí esse sistema ser conhecido também como transmissão robotizada).   

Votando à vaca fria, quanto mais cedo — em termos de rotação — o torque surgir, melhor será o aproveitamento da potência produzida pelo motor. É aí que entra a “curva de torque” — tanto melhor quanto mais “plana” ela for, pois é bom que o torque esteja disponível em rotações baixas, mas também é preciso que ele continue disponível (ou mesmo cresça) à medida que o giro aumenta.

O maior desafio dos projetistas é desenvolver um motor “elástico”, que tenha potência palpável em baixas rotações e muita potência em regimes de giro mais elevados. Contribuem para isso requintes tecnológicos como o aumento do número de válvulas por cilindro, a adoção de comandos variáveis, os sistemas de sobrealimentação — seja através de uma turbina acionada pelos gases expelidos durante o ciclo de descarga, seja por um compressor acionado mecanicamente por um sistema de correia e polias, mas isso já é conversa para uma próxima vez.

É importante ter em mente que o deslocamento volumétrico do motor é apenas um dos responsáveis pelo torque e potência que ele produz. Prova disso é que há tempos os fabricantes vêm investindo no “downsizing” — ou seja, desenvolvendo motores menores, que privilegiam o consumo e reduzem a emissão de poluentes, mas que isso resulte em prejuízos palpáveis ne desempenho. Para desespero dos puristas, os enormes V8 vêm cedendo espaço aos V6, e estes a versões de 4 ou 3 cilindros, geralmente de 1000 cc, mas com performance equivalente (ou até superior). Mas isso já é outra conversa.

Dúvidas? Escreva.

terça-feira, 20 de novembro de 2018

A EXONERAÇÃO DE SÉRGIO MORO E O JUS SPERNIANDI DA PETRALHADA ABJETA



O hóspede mais ilustre da carceragem da PF em Curitiba continua berrando aos quatro ventos sua aleivosa cantilena de condenação sem provas e prisão injusta, que já não convence nem mesmo gente do seu próprio partido. Segundo o sevandija que rapinou os cofre públicos por mais de 13 anos, Sérgio Moro o condenou não pelos crimes cometidos, mas porque queria ser ministro no governo de Jair Bolsonaro. Todavia, embora tenha realmente aceitado o convite para assumir o Ministério da Justiça e Segurança Pública, Moro sentenciou Lula em meados do ano passado, quando o hoje presidente eleito ainda era um quase desconhecido membro do baixo clero da Câmara dos deputados e ninguém levava a sério sua candidatura nem, muito menos, apostava dois tostões de mel coado em sua vitória.

A falaciosa teoria da conspiração de Lula e do PT já questionou a lisura da 8ª turma do TRF-4 e do presidente do Tribunal e se insurgiu contra a impugnação do registro da candidatura do molusco abjeto, enquanto a constelação de advogados estrelados que defende o ex-presidente corrupto já ingressou com mais de 70 recursos e chicanas perante as instâncias superiores do Judiciário. 

Quando a 13ª Vara Federal do Paraná aceitou a primeira denúncia contra Lula, sua defesa, sem elementos para refutar as acusações — até porque é difícil defender o indefensável —, valeu-se de todos os meios possíveis e imagináveis para tentar desacreditar as testemunhas, hostilizar o Ministério Público e questionar a isenção de Moro, dos desembargadores da 8ª turma do TRF-4 e até do presidente do Tribunal. Depois que Lula foi impedido de disputar as eleições — aliás, só mesmo numa republiqueta de bananas se conceberia a ideia de um criminoso condenado concorrer à Presidência —, a tropa lulopetista passou a mover montanhas para anular a sentença condenatória e afastar o magistrado paranaense dos outros dois processos em que o molusco figura como réu na 13ª Vara Federal do Paraná, em Curitiba. 

Observação: Não fosse o período eleitoral, Moro certamente já teria sentenciado o ex-presidente na ação que trata da cobertura em São Bernardo e do terreno onde seria construída a nova sede do Instituto Lula, cujos autos estão conclusos para sentença. E provavelmente não demoraria a fazê-lo também no processo sobre o folclórico sítio em Atibaia, que ora se encontra em fase de alegações finais.   

Para assumir a pasta da Justiça e Segurança Pública, Moro teria mesmo de encerrar sua carreira na magistratura, mas sua intenção era fazê-lo no início do próximo ano — até lá, visando evitar “controvérsias desnecessárias”, ele aproveitaria as férias vencidas para participar da transição de governo. No entanto, devido a mais uma caudalosa enxurrada de críticas, o magistrado decidiu antecipar sua exoneração. Mas antes mesmo de ela ser assinada pelo desembargador federal Thompson Flores, presidente do TRF-4, e publicada no diário oficial desta segunda-feira, o líder da ORCRIM na Câmara, deputado Paulo Pimenta, juntamente com seu colegas de bancada Paulo Teixeira e Wadih Damous — o mesmo trio calafrio que durante o recesso de meio de ano do Judiciário, em conluio com o desembargador militante Rogério Favreto, tentou tirar Lula da cadeia — protocolou junto ao CNJ um pedido de medida cautelar para anular a exoneração do magistrado.

Na visão da escória vermelha, Moro manteve o processo de Lula sob seu controle por meio da sua juíza substituta, e agora pede exoneração para fugir das acusações no CNJ, e o pedido de exoneração não poderia ter sido acatado porque tramitam processos administrativos disciplinares contra o magistrado. “Sergio Moro cometeu uma série de crimes na sua perseguição política contra o ex-presidente Lula e o PT. Por isso ele responde a diversos processos disciplinares junto ao CNJ, que tem o dever de concluir o julgamento de todas as reclamações. Sergio Moro não pode estar acima da lei, embora ele tenha sempre agido desta forma durante o seu trabalho à frente da Lava-Jato”, afirmou o mentor intelectual de mais essa formidável palhaçada, que também cobra esclareciementos do desembargador Thompson Flores sobre o deferimento do pedido de exoneração.

Fica mais claro a cada dia que o deus pai da Petelândia e os seguidores de sua seita diabólica não se furtarão a fazer o possível e o impossível para tumultuar ainda mais o já conturbado cenário político tupiniquim. O PT promete oposição cerrada ao futuro governo, o que não se etranha vindo de gente que, de olho em 2022, torce fervorosamente pelo fracasso de Bolsonaro, pouco se importando com o destino do país. Nunca é demais lembrar que Dilma, para não desgrudar o rabo poltrona presidencial, protagonizou o mais extraordinário estelionato eleitoral da história desta Banânia, gerando a maior crise econômica desde a redemocratização. De gente assim, meus caros, pode-se esperar tudo, menos algo de bom.

Enfim, para o procurador Hélio Telho, os deputados petistas cometeram 2 erros jurídicos primários nesta “ação”: 1) a referida resolução impede a aposentadoria voluntária, não a exoneração (Moro não se aposentou); 2) nem existe decisão do plenário do CNJ autorizando a abertura de processo disciplinar contra o magistrado.

Vamos aguardar e ver que bicho dá. Bom feriado a todos.

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

HAY GOBIERNO? SOY CONTRA!



Depois do período das eleições, enfim resolvidas com a vitória de Jair Bolsonaro, vivemos agora o momento seguinte do calendário político como ele é entendido pelos que perderam — o período de resistência ao resultado das eleições. Atenção: não se trata simplesmente de fazer oposição. Trata-se de anunciar ao Brasil que os derrotados não aceitam o resultado estabelecido pelos eleitores; não valeu, dizem eles, porque só a gente tinha o direito de ganhar.

A palavra “resistência” soa bonito, como em filme americano de guerra, mas naturalmente não é nada disso. Levando-se em conta a qualidade da oposição política atual, o que vem à cabeça na hora, quando a palavra “resistência” é utilizada pelo PT, é resistência de chuveiro elétrico ou de chapa para fazer tostex — pois não dá para ninguém pensar a sério, realmente, que o Sistema Lula-­PT-Esquerda vá resistir a alguma coisa gritando “Bom dia, presidente Lula”, na frente da cadeia de Curitiba, ou negando-se por “tradição democrática” a cumprimentar o candidato que a população elegeu. Mais ainda, surgem suspeitas de pane nos circuitos mentais do PT quando o partido entra na Justiça com um pedido de “anulação das eleições”, ou exige do STF a libertação imediata de Lula porque o juiz Sergio Moro foi escolhido como futuro ministro da Justiça de Bolsonaro. Isso não é resistir. Isso não é nada.

A soma de todos esses esforços que pretendem contestar o novo governo se resume ao seguinte: continuar defendendo tudo o que a maioria do eleitorado acaba de condenar com o seu voto, e dobrar os ataques contra tudo o que o eleitorado acaba de dizer que aprova. É uma coisa extraordinária. A maioria dos brasileiros decidiu, de uma maneira talvez mais clara que em qualquer outra ocasião na história recente do país, o que quer e, principalmente, o que não quer. A “resistência” vai na direção exatamente oposta. É como se não tivesse acontecido nada em 28 de outubro de 2018 — ou, mais ainda, é como se Bolsonaro tivesse perdido as eleições e o PT tivesse ganhado. O resultado é o que aparece todo dia no noticiário: uma coleção de alucinações, que a imprensa quer desesperadamente que você leve a sério, apresentadas como se fossem ações de combate contra o “avanço do fascismo” etc. etc. Que ações? Que combate? Vai saber. Qualquer coisa serve.

Temos, assim, jornalistas da Rede Globo defendendo a ideia de que a polícia não deve ser autorizada a atirar num sujeito que está no meio da rua com um fuzil automático na mão. Seu argumento: como se vai provar que essa pessoa está realmente com más intenções? E se ela não quer atirar em ninguém? E se o fuzil não for um fuzil, e sim um guarda-chuva? À primeira vista, parece que alguma coisa deu errado — que diabo essas moças estão falando? Mas não: é isso mesmo. No ato seguinte, aparece uma especialista-­técnica em “políticas públicas de segurança”, ou algo assim, e nos informa que os bandidos têm o direito de carregar fuzis para se defender da polícia e garantir, com isso, a sua legítima defesa.

Na mesma emissora, uma apresentadora subiu um degrau a mais no “nível de lutas”, como se diz, e falou na necessidade de sabotagem. “Vamos sabotar as engrenagens deste sistema de opressão”, pregou ela no ar. “Vamos sabotar este sistema homofóbico, racista, patriarcal, machista e misógino” — palavra hoje na moda, essa última, que metade do público não sabe o que significa. O exame do Enem, uma semana depois da eleição, fazia uma pergunta sobre a linguagem privada dos travestis e suas raízes no idioma iorubá. Educadores apresentados como “antifascistas” comemoraram a inclusão da pergunta como uma importante derrota da direita conservadora e do novo “governo autoritário”.

Na mesma batalha para ficar no lado contrário ao do eleitor, o PT acha inaceitável que Moro tenha sido convidado para ministro da Justiça — uma prova, segundo a alta direção petista, de que a condenação de Lula foi uma “jogada” com Bolsonaro. De todos os problemas com essa ideia, o pior é que mais de 80% da população aprovou a ida de Moro para o novo governo.

Não é só o PT que está na “resistência”. A ministra Cármen Lú­cia, depois de embolsar mais um aumen­to abusivo no próprio salário, lamentou a mudança “perigosamente conservadora” na situação política. Fernando Henrique, no exterior, faz campanha contra o novo governo — e por aí vamos. É a tal “superioridade moral” que os derrotados atribuem a si próprios. O que todos eles estão dizendo, na prática, é que o povo brasileiro, mais uma vez, votou errado.

Texto de J.R. Guzzo.

domingo, 18 de novembro de 2018

SOBRE BOLSONARO, O FIM DA REELEIÇÃO E A EXONERAÇÃO DE SÉRGIO MORO



Para o jornalista J.R. Guzzo, diretor editorial do grupo EXAME e membro do Conselho Editorial da Abril, o reajuste reivindicado pelos ministros do STF e avalizado pelo Senado “é uma coisa de submundo, uma expressão de tudo o que existe de pior nesse Brasil velho, subdesenvolvido, concentrador de renda, corrompido até o fundo da alma, trapaceiro, parasita, que faz a nossa desgraça de todos os dias. Bolsonaro estaria começando muito mal, realmente, se não tivesse falado nada. Os 58 milhões de votos que recebeu foram contra isso, não a favor”.

Ao contrário de boa parte da mídia, Guzzo não vê quiproquó nenhum na transição do governo moribundo de Temer para a futura gestão de Bolsonaro. Na sua avaliação, o presidente eleito vem se comportando como um presidente eleito que daqui a pouco mais de um mês vai chefiar o governo — a gestão Temer já está tirando as medidas para lhe fazerem o caixão, e não dá para esperar até o enterro para só então começar o trabalho. Ele também concorda com Bolsonaro sobre o país ter direitos demais e empregos de menos: “O presidente eleito está apenas apresentando um fato — que já foi dito por um monte de gente boa, um monte de vezes, e reflete exatamente a palhaçada hipócrita dos nossos 10 milhões de leis, ou sabe lá Deus quantas. Criam direitos para tudo que se possa imaginar, quase sempre pagos com dinheiro do contribuinte — dinheiro que na maioria das vezes simplesmente não existe na vida real. Boa parte não pode ser desfrutada pelos beneficiários, e outra parte é pura safadeza para encher o bolso da casta mais alta do serviço público”.

Sobre Bolsonaro insistir em dizer respeitará a Constituição, o jornalista pondera que não resta alternativa, pois a todo momento o presidente eleito é cobrado a propósito. Aliás, na solenidade de comemoração dos 30 anos da Constituição — que Ulysses Guimarães, líder da resistência civil à ditadura militar, chamava de “cidadã” —, ouviram-se muitas juras hipócritas e muitas loas à Carta Magna, mas o fato é que ela tem de ser respeitada porque está em vigor e não existe outra, cabendo ao novo governo, ou cumprir tudo o que está escrito lá, ou aprovar no Congresso reformas que mudem o seu texto.

Guzzo também critica a medida provisória encaminhada por Michel Temer — e avalizada pelo Senado — que entrega de mão-beijada benesses às montadoras de automóveis. Segundo ele, o Brasil vem sendo governado há décadas com a mentalidade, os métodos e as ações de governantes que ganham a vida por meio do crime, mas, mesmo assim, um Congresso e um resto de governo que estarão sepultados no dia 1.º de janeiro de 2019 jamais deveriam ter o direito de fazer isso — não por estarem criando problemas para “o governo Bolsonaro”, como diz a imprensa, mas porque o contribuinte vai pagar por cada centavo disso tudo nos próximos anos. Se o presidente eleito conseguirá ou não desarmar as bombas de efeito retardado deixadas pelas gestões do PT e do PMDB, só o tempo dirá. Entretanto, estaria de bom tamanho se ele pudesse desarmar metade delas, pois em geral não se desarma nenhuma. 

Quanto ao fim da reeleição (defendido por Bolsonaro), Guzzo diz ser uma excelente notícia para o Brasil e para o próprio Bolsonaro, lembrando que FHC, Lula e Dilma, notórios democratas antifascistas, colocaram seus governos e o erário a serviço permanente da própria reeleição, e o primeiro a adotar uma atitude diferente é justamente o “militar autoritário, totalitário, defensor das ditaduras, etc. Se a ideia prosperar, será um belo cala-boca na oposição, nos intelectuais, nos artistas de novela e no New York Times.

Em atenção a quem não sabe ou não se lembra, abro um parêntese para dizer que a reeleição não foi fruto da tal “Constituição Cidadã”, mas de uma emenda constitucional que deu chance ao então presidente Fernando Henrique de ser o primeiro mandatário a disputar uma reeleição no Brasil — deu para entender ou quer que eu desenhe?

Nossa atual Carta Magna foi promulgada em 1988, durante o (nada saudoso) governo do macróbio maranhense José Ribamar Ferreira de Araújo Costa, vulgarmente conhecido no mundo do crime, digo, da política, como José Sarney, que se tornou presidente civil desta Banânia pós-ditadura com à morte de Tancredo Neves. O que a Assembleia Nacional Constituinte estabeleceu foi o presidencialismo como forma de governo e o mandato de 5 anos para o presidente da República (daí a razão do infausto governo Sarney ter se estendido até março de 1990), vencida a oposição, que se dividia entre os que propunham quatro anos para todos os presidentes, inclusive o presidente em exercício, e os que desejavam um mandato de cinco anos para o futuro, porém mais curto para Sarney. Pesquisas da época registraram a preferência da população pelo mandato de quatro anos, que passaria a vigorar em 1997.

A PEC da reeleição, aprovada em segundo turno no Senado por 62 votos a favor, 14 contra e 2 abstenções, numa sessão solene que durou apenas 9 minutos, estendeu o “benefício” também a governadores e prefeitos. Depois da promulgação, o então presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães (vulgo “Toninho Malvadeza”), o então presidente da Câmara, Michel Temer, foram ao Palácio do Planalto entregar o texto da emenda ao então presidente Fernando Henrique Cardoso. A certeza de que a aprovação da emenda fortalecia o presidente em exercício foi ratificada pelo então presidente do Senado: “Pela liderança que tem, é um candidato forte à reeleição”, declarou ACM, e afirmou que a tendência era que seu partido, o PFL (que em março de 2007 passou a se chamar Democratas e teve como primeiro presidente da nova sigla Rodrigo Maia, atual presidente da Câmara), mantivesse o apoio a FHC nas eleições de 1998, o que incluía a permanência de Marco Maciel como candidato a vice. Fecho o parêntese. 

Para concluir, transcrevo trecho do pedido de exoneração do juiz Sérgio Moro, futuro ministro da Justiça e Segurança Pública:

Houve quem reclamasse que eu, mesmo em férias, afastado da jurisdição e sem assumir cargo executivo, não poderia sequer participar do planejamento de ações do futuro governo. Assim, venho, mais uma vez registrando meu pesar por deixar a magistratura, requerer a minha exoneração do honroso cargo de juiz federal da Justiça Federal da 4ª Região, com efeitos a partir de 19/11/2018, para que possa então assumir de imediato um cargo executivo na equipe de transição da Presidência da República e sucessivamente ao cargo de Ministro da Justiça e da Segurança Pública. Destaco meu orgulho pessoal de ter exercido durante 22 anos o cargo de juiz federal e de ter integrado os quadros da Justiça Federal brasileira, verdadeira instituição republicana”.

A juíza substituta Gabriela Hardt assumiu os processos que correm no âmbito da Lava-Jato na primeira instância paranaense, como aquele em que depôs, na última terça-feira, o ex-presidente petralha e hoje hóspede compulsório da carceragem da PF em Curitiba. Gabriela é substituta e ficará encarregada das ações até o TRF-4 nomear o substituto de Moro.

Pelo menos 232 juízes federais titulares poderão se candidatar, aí incluídos todos os titulares que atuam no âmbito do TRF-4 (que abrange os Estados de Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul). No topo da lista estão, pela ordem, os juízes federais Luiz Antônio Bonat (Curitiba), Taís Schilling Ferraz (Porto Alegre), Marcelo de Nardi (Porto Alegre), Alexandre Gonçalves Lippel (Porto Alegre), Hermes Siedler da Conceição Júnior (Porto Alegre), Eduardo Vandré Oliveira Lema Garcia (Santa Cruz do Sul), Altair Antônio Gregorio (Porto Alegre) e Loraci Flores de Lima (Santa Maria).Todos ingressaram no TRF-4 no mesmo dia, quatro anos depois de Moro, que ingressou como titular no tribunal em 24 de novembro de 1998.

O processo interno de seleção, denominado remoção, deverá durar um mês. Uma vez publicado o edital, os juízes titulares deverão apresentar suas candidaturas nos dez dias seguintes. O critério de seleção será baseado na antiguidade, ou seja, no tempo de atuação do magistrado como juiz titular e, depois, como juiz substituto. Em caso de empate, será utilizado o critério de colocação no concurso público. Neste critério de classificação, o juiz Luiz Antônio Bonat, da 21.ª Vara Federal de Curitiba, aparece na primeira colocação. Se nenhum juiz titular apresentar candidatura, a vaga será aberta em um edital de promoção aos juízes federais substitutos, que poderão concorrer à cadeira pelos mesmos critérios de antiguidade e colocação no concurso público.

Dito isso, dou a postagem por encerrada. Bom domingo a todos.

sábado, 17 de novembro de 2018

LEVY NO BNDES E ILAN FORA DO BC


Na última segunda-feira, Joaquim Levy foi confirmado para assumir o BNDES no governo de Bolsonaro. A indicação, antecipada na véspera pela colunista Sonia Racy, foi bem recebida no mercado financeiro, mas nem todo mundo a vê com bons olhos.

Aluízio Amorim, por exemplo, publicou em seu Blog que o esquema que levou à escalação do novo comandante do BNDES demonstra que o establishment já nem age mais nas sombras em seu afã de nomear ministros, assessores e funcionários do novo Governo, que Levy parece ter perfil de bom moço e não discutir as ordens emanadas de seus patrões, mas que Bolsonaro foi simplesmente ignorado pelos donos do poder, numa espécie de “golpe de Estado antecipado” (antecipado porque o futuro presidente só será empossado no dia 1º de janeiro do ano que vem).

Nascido no Rio de Janeiro e formado em Engenharia Naval, Levy obteve o doutorado em Economia pela Universidade de Chicago em 1992 (a mesma onde Paulo Guedes obteve seu PhD) e o mestrado em economia pela FGV em 1987. Gentil no trato, erudito nas palavras, extremamente irônico e considerado ortodoxo, mas com uma atuação mais tradicional na economia, ele ficou conhecido como “o homem do ajuste” durante o governo Dilma, quando presidiu o Banco Central por 11 meses e promoveu uma série de medidas que culminaram no aumento de vários tributos e na limitação de benefícios sociais, mas não conseguiram garantir o reequilíbrio das contas do governo.
  
O desgaste de Levy no cargo e a perda de prestígio aumentaram depois que ele passou a receber críticas públicas de integrantes do governo, de parlamentares do PT e do próprio Lula, além de ser alvo de empresários insatisfeitos com as medidas de elevação da carga tributária, com a proposta de recriação da CPMF e com o agravamento do quadro recessivo. Em sua gestão, foram aumentados tributos sobre empréstimos, carros, cosméticos, cerveja, vinhos, destilados, computadores, smartphones, bancos, receitas financeiras das empresas, taxas de fiscalização de serviços públicos, gasolina e exportações de manufaturados, direitos de imagem, entre outros. A última bandeira que defendeu antes de deixar o governo foi a recriação da CPMF.  “É ruim, dói, mas vai dar certo”, disse.

Bolsonaro disse confiar na escolha feita por Paulo Guedes, apesar de ter ouvido reações contrárias pelo fato de o escolhido ter sido secretário do Tesouro no governo Lula, secretário da Fazenda do Rio na gestão de Sérgio Cabral e ministro de Dilma. Um currículo e tanto.

Guedes espera que Levy traga mais dólares das instituições internacionais, aumente a captação externa e foque a atuação do BNDES na estruturação de privatizações, infraestrutura e inovação. Como ele ocupa atualmente um cargo no staff do Banco Mundial, pode ampliar o diálogo com as instituições estrangeiras, e seu amplo conhecimento nos assuntos fiscais dos Estados terá papel importante nas negociações para a construção de um plano de salvamento das finanças dos governos estaduais, já considerado inevitável.

Apesar de ter integrado o governo do PTLevy é um importante reforço para o staff de Bolsonaro, que precisa dar segurança ao mercado e maior previsibilidade para o futuro governo. Para analistas e gestores do mercado financeiro, o escolhido conhece bem as engrenagens de Brasília, tem experiência na vida pública, está convicto da necessidade de se promover um ajuste fiscal e sabe o que precisa ser feito. Além disso, Bolsonaro quer moralizar o BNDES e fazer uma devassa, o que é positivo para as contas públicas, pois o Tesouro não pode ficar aportando dinheiro para o Banco queimar ajudando quem não precisa.

Resta saber quem será escolhido para presidir a Petrobras. No que depender de Paulo Guedes, Ivan Monteiro continua comandando a estatal. Quando ao BC, fontes ligadas à equipe de transição haviam dito que a permanência de Ilan Goldfajn dependia apenas de “motivação pessoal”. Como Ilan declinou do convite, Roberto Campos Neto, diretor do Banco Santander, foi confirmado para substituí-lo.

Desejo um ótimo sábado a todos.

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

SOBRE O INTERROGATÓRIO DE LULA E OUTRAS MÁXIMAS PETISTAS



O interrogatório de Lula, na tarde da última quarta-feira, durou quase três horas. Foi a primeira vez que o ex-presidente deixou sua suíte máster na sede da PF em Curitiba desde que foi preso, no começo de abril. Também foi a primeira vez que ele depôs para a juíza substituta Gabriela Hardt, que, com o afastamento de Moro, assumiu interinamente os processos da Lava-Jato na 13ª Vara Federal do Paraná.

Se o criminoso de Garanhuns esperava moleza, caiu do jegue. Logo de início a magistrada perguntou se ele sabia do que era acusado. Com a cara de pau que lhe é peculiar, ele disse que não, e que gostaria que ela explicasse. Gabriela citou as acusações pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro por suposto recebimento de propinas de empreiteiras por meio de obras na propriedade do interior paulista. Lula perguntou: “Eu sou dono do sítio ou não?”. A juíza respondeu: “Isso é o senhor que tem que responder, não eu, que não estou sendo interrogada nesse momento. Senhor ex-presidente, esse é um interrogatório, e se o senhor começar nesse tom comigo a gente vai ter problema. Então vamos começar de novo, eu sou a juíza do caso e vou fazer as perguntas que eu preciso para que o caso seja esclarecido para que eu possa sentenciá-lo ou algum colega possa sentenciá-lo”.

O advogado do molusco, Roberto Batochio — que, aliás, foi arrolado como testemunha pela defesa e já havia deposto na última segunda-feira —, interrompeu a altercação e alegou que o ex-presidente poderia se manifestar como quisesse. A magistrada rebateu: “ele responde respondendo e não fazendo perguntas ao juízo ou à acusação.

Pelo que eu sei é meu tempo de falar”, afirmou Lula, que ouviu de Gabriela que “é o tempo de responder minhas perguntas, não vou responder interrogatório nem questionamentos aqui, está claro? Está claro que não vou ser interrogada?”. O petista disse ainda que “não imaginou” que seria assim. A juíza replicou: “eu também não imaginava, então vamos começar com as perguntas, eu já fiz um resumo da acusação e vou fazer perguntas, o senhor fica em silêncio ou o senhor responde”.

Aqui cabe transcrever (mais) um texto magistral de Augusto Nunes:

Em qualquer país que saiba tratar como se deve delinquentes irrecuperáveis, o advogado Roberto Teixeira só frequentaria audiências judiciais no papel de réu e delas sairia condenado a uma temporada na prisão. O Brasil modernizado pela Lava-Jato já deixou de ser o paraíso da bandidagem cinco estrelas, mas os avanços das operações anticorrupção ainda não foram tão longe a ponto de impedir aparições em tribunais de um Roberto Teixeira fantasiado de testemunha. Foi o que aconteceu mais uma vez na última segunda-feira. Arrolado pelo genro Cristiano Zanin como testemunha de defesa no caso do sítio de Atibaia, o amigo íntimo do ex-presidente garantiu, sem ficar ruborizado, que o dono da propriedade rural de Lula não é Lula, mas sim Fernando Bittar. Para atestar a veracidade da fantasia, o depoente confirmou que foi ele quem cuidou da papelada forjada para transformar a negociata numa transação legal. Incompatibilizado com a verdade desde o berçário, Teixeira mente mais do que respira. Ao afirmar que Lula é inocente, confirmou que é culpado. Com testemunhas assim, o mais famoso presidiário do país viverá em 31 de dezembro apenas a primeira de muitas viradas de ano na cadeia. Vem aí a segunda condenação. Não será a última.

Petistas do quilate de José Dirceu, Gilberto Carvalho e Gleisi Hoffmann veem pela frente um trabalho duro reconstrução política, enquanto os mais pessimistas temem uma tentativa de asfixia da legenda nos próximos anos. Não nos iludamos”, alertou Dirceu, que presidiu o PT nos anos que antecederam a eleição de Lula. Na última segunda-feira, no lançamento de suas memórias, o guerrilheiro de araque disse que Bolsonaro tem uma base social forte que deve mantê-lo no poder por anos. Parece que Dirceu finalmente entendeu que o PT perdeu as eleições por ter virado um “ajuntamento de criminosos inocentes”.

Dirceu deveria voltar para a cadeia e ficar lá até descobrir por que um vigarista promovido por militantes do PT a “guerreiro do povo brasileiro” só combateu os valores morais, as normas éticas, os bons costumes e, sobretudo, o Código Penal. Posto em liberdade pela desfaçatez da 2ª Turma do STF, o sacripanta exerce o direito de ir e vir para repetir o mantra recitado pelos devotos desde que o deus da seita foi para o xilindró: “O PT tem que retomar a campanha pela anulação da condenação de Lula”. Em seu mais recente palavrório, o sacripanta revelou que agora anda errando previsões até sobre o passado. “Sabemos que Lula venceria a eleição no primeiro turno, isso é um fato”, declamou o adivinho de galinheiro.

Fato coisa nenhuma. Se tivesse trocado a cela pelo palanque, Lula sofreria a mesma surra imposta a Haddad pelo Brasil que presta. Hoje, o antigo fabricante de postes só consegue tapear habitantes dos grotões nordestinos garroteados pela ignorância. Mesmo antes de a Lava-Jato revelar que o Pai dos Pobres era a fantasia preferida de um ladrão compulsivo, o molusco eneadáctilo nunca venceu uma eleição no primeiro turno. Agora que o Brasil sabe que ele é o chefe do maior esquema corrupto de todos os tempos, só terá chances de se eleger em primeiro turno se for candidato a xerife de alguma ala de cadeia.

O fato é que o PT tem medo do que acontecerá quando Bolsonaro tomar posse, pois tudo que ele fala é no sentido de que Lula apodreça na cadeia. Na sua avaliação, é preciso enfrentar os erros e apagar as manchas de corrupção que devastaram o PT. Com a escolha de Sergio Moro para o Ministério da Justiça, a manutenção do discurso anticorrupção com as cores do partido e a possibilidade de a Justiça Eleitoral obrigar o PT a devolver R$ 20 milhões gastos com a candidatura de Lula ou reabrir processos que pedem a cassação do registro da sigla, alguns petistas já arrumam as malas para uma temporada nas trevas.

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

AINDA SOBRE O AUMENTO DO JUDICIÁRIO E O DEPOIMENTO DE LULA À JUÍZA SUBSTITUTA GABRIELA HARDT.



Como se não bastasse a síndrome do macaco (se você não sabe do que se trata, siga este link e confira a foto que eu publiquei no final do texto), um feriadão que se estende de quinta-feira até a terça da semana seguinte é um prato cheio para a galera que quer (e pode) viajar, deixando às moscas minhas postagens sobre política, políticos e outros temas indigestos que tais. Então, para não gastar boa vela com mau defunto, limito-me a comentar alguns fatos que reputo importantes.

Ainda há chances de o presidente Michel Temer vetar o vergonhoso aumento salarial autoconcedido pelos ministros do Supremo e aprovado a toque de caixa por um Senado apinhado de corruptos (38 são réus ou investigados pela Justiça) e/ou em fim de mandato (dos 54 senadores eleitos em 2010, 32 tentaram se reeleger e só 8 conseguiram). Devido ao efeito cascata desse atentado contra o Erário, o déficit público deve aumentar entre 4 e 6 bilhões de reais já no ano que vem. Mas a “boa notícia” é que Temer tem prazo até o próximo dia 28 para decidir se veta ou não, de modo que ainda há tempo de você fazer suas apostas.

Volto a frisar que o “reajuste” de R$ 33,7 mil para R$ 39,3 mil — imprescindível, na opinião sempre isenta do ministro Lewandowski, para pôr fim à “situação de penúria” em que vivem juízes aposentados e pensionistas com o com o salário atual — foi aprovado por folgada maioria na sessão convocada pelo (ainda presidente do Senado) Eunício Oliveira — que os eleitores cearenses desobrigaram de cumprir mais um mandato de oito anos na Casa —, e que foi de Lewandowski a iniciativa de pleitear o aumento — que a ministra Cármen Lúcia se recusou a pautar enquanto presidiu a Corte, mas que Toffoli não só se apressou em encaminhar ao plenário, mas também se empenhou pessoalmente em garantir a aprovação no Senado, como dá conta esta matéria do jornal Valor

Toffoli, que a exemplo de Lewandowski ascendeu ao STF com as bênçãos de Lula (mas sem jamais ter sido aprovado num concurso para juiz de primeira instância), tentou amenizar a dureza da medida impopular que exigia de políticos cuja liberdade depende de sua penada autocrática com uma compensação: em troca, o ministro e seus colegas de regabofe negariam a si mesmos, aos demais magistrados e a outros membros da casta dos marajás do serviço público, o benefício do auxílio-moradia.

Portanto, é importante anotar os nomes dos senadores que legalizaram essa vergonha — a começar pelo autor da tramoia, Eunício Oliveira — e se lembrar de esquecê-los nas próximas eleições que eles porventura venham a disputar.

Observação: Como o depoimento de Lula à juíza substituta Gabriela Hardt terminou quando já eram quase 18h00 e eu já etava concluindo este texto, vou publicar o link para o vídeo link para o vídeo e deixar para comentar o assunto oportunamente. 

Bom feriado a todos.

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

OUTRA FACADA EM BOLSONARO E O DEPOIMENTO DE LULA



Um plano sinistro, dividido em etapas, onde Moro, juiz parcial movido por obscuros interesses, sentencia Lula arbitrariamente, para depois ser galardoado com o prêmio vindo das mãos de Jair Bolsonaro, arqui-inimigo do PT. Tem cabimento?

Pois é. Não sei o que os sectários da seita do inferno andam cheirando ou fumando, mas, a julgar pela viagem na maionese, deve ser coisa poderosa. Tanto que eles ignoram solenemente fatos notórios, como a incerteza de vitória de Bolsonaro à época da condenação, a confirmação da sentença no TRF-4 e as sucessivas derrotas do molusco nas cortes superiores. Mas contra fatos não há argumentos.

Causa espécie o TSE levar em conta esse insurgimento dos maus perdedores — que, a exemplo do fantasioso registro da candidatura do ex-presidente corrupto, deveria ser rechaçado de plano — e o STF continuar recebendo docilmente a enxurrada de apelos, recursos, embargos, reclamações e outras chicanas apresentadas pela constelação de juristas estrelados que defendem o ex-presidente. Para bom entendedor...

Outra coisa de dar ânsia de vômito até a porcos da Tasmânia é o comportamento dos nobres congressitsas neste final de mandato (vale lembrar que uma parcela considerável dessa caterva não se reelegeu). Um deles chegou mesmo a ironizar a ideia do futuro ministro da Justiça e Segurança Pública, de adotar o modelo da Lava-Jato na sua pasta, já que, com 160 deputados e 38 senadores investigados nas mais diversas instâncias, a “ameaça” de Sergio Moro poderia inviabilizar o governo do patrão.

Em que pese a renovação dos quadros da Câmara e do Senado, a velha (e má) política continua viva e agora assombra o presidente eleito, que antes mesmo de assumir já sofreu sua primeira derrota com a aprovação (em regime de urgência urgentíssima) do aumento de 16% aos ministros do STF, cujo efeito cascata agravará ainda mais a situação de penúria em que se encontram as contas públicas tupiniquins (e não os magistrados supremos, como parece pensar o ministro Ricardo Lewandowski).

Seria ingenuidade imaginar que nossos congressistas, sendo eles que são, aprovaram essa aberração por simples incompetência ou desinformação. Afinal, qualquer dona-de-casa semialfabetizada sabe que o certo seria primeiro fazer a reforma da Previdência e só depois pensar em reajustar salários. Mas suas excelências (sobretudo os que estarão sem mandato na próxima legislatura) estão de olho no teto do funcionalismo, já que certamente arrumarão uma teta para mamar enquanto a próxima eleição não vem. Sem falar os que querem garantir a boa vontade dos magistrados, visto que, sem mandato, perderão o direito ao foro privilegiado, e aí... Mais uma vez, para bom entendedor...

Fato é que Bolsonaro sentiu o golpe. Nem ele nem ninguém do seu círculo disse com todas as letras, mas é evidente que a reunião que o presidente eleito teria nesta semana com os presidentes do Senado e da Câmara foi cancelada devido à palhaçada do Congresso. Todavia, na avaliação de Fernando Gabeira, talvez Bolsonaro não tenha compreendido o caráter parasitário e atrasado da grande máquina estatal.

Em momentos de transição como este em que vivemos acontece pouca coisa além do anúncio da escolha de ministros e da reorganização administrativa. Às vezes, equipes que entram revelam dados importantes, pois querem mostrar o tamanho do buraco. Mas o enxugamento da máquina é essencial. Existe o receio de que o processo conduza a uma rejeição futura às ideias liberais, mas tanto os liberais como os estatizantes não escrevem numa página em branco. Mesmo com a correlação de forças a seu favor, as ideias liberais devem sofrer alguns reparos, adaptações que resultam do próprio debate. O que mais preocupa é que as coisas estão acontecendo no Brasil com um tipo de lógica que desconcertante.

O general Heleno disse que o aumento dos juízes era uma "preocupação". Para o governo, talvez seja, mas para os contribuintes foi um tapa na cara. E como pedir boa vontade aos aposentados, que sobrevivem com um salário de fome, quando o teto salarial da magistratura (e do funcionalismo, via de consequência), e majorado em 16% num momento em que não há dinheiro nem para o cafezinho

Gabeira lembra também que o novo governador de Minas foi eleito com 72% dos votos — algo inédito na História. Os eleitores rejeitaram o PT e o PSDB por uma promessa de reforma do Estado.
As forças políticas que sobem agora ao poder o fazem com um apoio de uma frente que amalgama expectativas políticas e ideológicas. Será uma ingenuidade supor que o cimento ideológico possa manter o edifício em pé com mudanças apenas cosméticas na vida real. Se as promessas não forem cumpridas, seguirão todos pelo caminho já trilhado pelo PT e PSDB. Não existe fidelidade eterna.
Cada momento tem de ser vivido com a gravidade que merece.

Todo somado e subtraído, a pauta-bomba em fim de mandato não chega a surpreender, pois sempre foi assim. O que surpreende é como os novos atores foram polidos e discretos diante desse tipo de facada.

Observação: Depois das pautas-bombas que aumentam, segundo a Folha, em mais de R$ 200 bilhões o rombo nas contas públicas, o Senado incluiu na pauta de ontem, meio que "na surdina", a redução do alcance da lei da Ficha-Limpa. Contrariando o entendimento já firmado pelo Supremo, os congressistas querem que os políticos condenados antes de 2010 — ano em que a lei entrou em vigor — fiquem sujeitos à regulamentação vigente até então, em vez de serem impedidos de disputar eleições por oito anos

Para encerrar: Lula deve ser intrrogado hoje pela juíza substituta Gabriela Hardt. A audiência se refere ao processo sobre o folclórico Sítio de Atibaia, mas também estão sob a pena da magistrada, já conclusos para sentença, os autos da ação que trata da cobertura vizinha à do petralha e o terreno onde seria construída a nova sede do Instituto Lula

Está mais que na hora de extirpar esse cancro lulopetista. Pena que alguns integrantes dos nossos tribunais superiores ajam mais como militantes do que como magistrados.

VEÍCULOS FLEX: MELHOR USAR GASOLINA OU ÁLCOOL? (Parte 9) — SOBRE TORQUE E POTÊNCIA


IMAGINAÇÃO É A INTELIGÊNCIA SE DIVERTINDO.
Ontem, 13, foi a segunda terça-feira de novembro, dia de Patch Tuesday da Microsoft. O problemático update de outubro (build 1809) não foi incluído (felizmente; se é para ter problemas, melhor ficar com a versão 1803 até que a mãe da criança dê seu jeito). Na minha máquina, o patch KB4467702 entrou liso feito quiabo, a exemplo de uma atualização do Adobe Flash Player. A ferramenta de remoção de software malicioso também rodou sem novidades. Desejo a mesma sorte a todos.

Abastecer um veículo Flex com etanol traz benefícios que transcendem a economia e o desempenho (o álcool custa mais barato e gera mais torque e portência). Mas nem tudo são flores nesse jardim. Antes de detalhar isso melhor, porém, é preciso preencher algumas lacunas que ficaram em aberto ao longo dos capítulos anteriores. Acompanhe.
Numa definição não muito exata do ponto de vista técnico, mas adequada aos propósitos desta postagem, a potência — que é medida em cavalos vapor (cv) cavalos de força (hp, do inglês horse-power) ou quilowatts (kW) — é responsável por fazer o veículo ganhar velocidade, ao passo que o torque — expresso em quilogramas-força/metro (kgfm) ou em Newtons-metro (Nm) —, por entregar a força.
Para fugir das intrincadas fórmulas que aprendemos no colégio e esquecemos logo após o vestibular, troquemos isso em miúdos: levar algo de um ponto a outro é trabalho, e torque representa trabalho, embora seja uma força com tendência a girar objetos (apertar as porcas da roda do carro é um bom exemplo: ao aplicar uma determinada força na chave de rodas, você cria o torque necessário para rosquear a porca no prisioneiro). Já a potência tem a ver com a rapidez com que esse trabalho é realizado (veículos mais potentes alcançam velocidades mais elevadas e se deslocam de um ponto a outro mais rapidamente do que os menos potentes).
Conforme vimos no capítulo anterior, o motor desenvolve sua potência máxima em regimes de giro elevados — entre 5.000 e 7.000 rotações por minuto nos carros de passeio, mas que chegam a 15.000 rpm nos bólidos de F1 —, ao passo que o torque máximo tende a surgir regimes inferiores — o que é bom: quanto menor o regime de giros em que ele é produzido e mais plana for sua “curva”, tanto melhor (vide figura que ilustra esta postagem).
Para não abrir mais uma lacuna a ser preenchida mais adiante, lembro que o torque costuma ser associado à arrancada, e a potência, à velocidade, embora ambos sejam produzidos pela combustão, aumentem conforme o giro do motor se eleva e atuem em conjunto durante todo o tempo em o veículo é utilizado. O fato de o torque máximo surgir em regimes inferiores ao da potência máxima se explica pela distância horizontal das bielas, que varia de acordo com sua posição em relação ao virabrequim. Com isso, o torque também varia, já que ele é o produto da força pela distância. Note que, com o pistão no ponto mais alto do ciclo e a biela alinhada verticalmente com o centro do virabrequim, nenhum torque é gerado — seria como posicionar a chave de roda na vertical e subir em cima dela; ainda que você conseguisse se equilibrar, a porca não se soltaria, pois o torque só se manifesta quando a força atua numa alavanca perpendicular ao eixo.
A potência, por ser associada à velocidade máxima, é usada como referência primária da eficiência do motor (isso nos veículos de passeio; nos ônibus e caminhões valoriza-se mais o torque — que  costuma ser mais abundante nos motores do ciclo Diesel, além de surgir em rotações mais baixas que nos do ciclo Otto. A título de ilustração, um motor diesel de 12 litros produz 400 cavalos (quase a mesma potência do motor V8 a gasolina de um Ford Mustang preparado), mas gera incríveis 228 kgfm de torque a 1.200 rpm, enquanto o Mustang entrega “apenas” 48,9 kgfm a 5.600 rpm.
torque é expresso em Newtons-metro (Nm) ou em Quilogramas-força x metro (kgfm ou m.kgf). 1 Nm corresponde ao torque produzido por 1 N de força aplicada a 1 m de distância do ponto de rotação, e equivale a aproximadamente 0,10 kgfm. Para entender isso melhor, pense na chave de rodas do nosso exemplo: quanto maior for seu braço, menor será o esforço (torque) necessário para girar a porca.
Motores de combustão interna (como os que equipam a maioria dos nossos veículos) transformam a energia calorífica gerada pela queima da mistura ar-combustível na energia mecânica produzida pelo movimento descendente do pistão. Em outras palavras, a força (torque) resultante da explosão é transmitida pela biela ao virabrequim, que a transmite, através do volante, ao câmbio (através da embreagem ou do conversor de torque, conforme o caso), que a desmultiplica e repassa ao diferencial, que faz girar as rodas motrizes (veja isso em detalhes nesta postagem).
Para não encompridar demais este texto, trataremos das unidades de potência na próxima postagem. Bom feriadão a todos.

terça-feira, 13 de novembro de 2018

É PRECISO VARRER O PETISMO


O acampamento Lula Livre foi encerrado “por cortes de gastos e pelo número reduzido de pessoas”, segundo nota de seus organizadores. Eles afirmam que “o acampamento opta em transformar a luta do espaço físico fixo para uma luta itinerante e virtual”. A cela de Lula não é nem itinerante, nem virtual, mas, pelo visto, ninguém mais quer dormir na porta da cadeia.

Veja publicou que “pela primeira vez desde que foi preso, Lula dá sinais de tristeza”, e O Antagonista completou: “Estamos muito comovidos”. Fato é que quem visitar o petralha irá encontrá-lo mais magro (por conta de exercícios, dieta controlada e abstinência forçada) e desanimado com a perspectiva de passar um “longo inverno” na prisão.

Lula pode ser lunático a ponto de acreditar nas próprias falácias, mas não estúpido a ponto de não perceber que o cenário político atual deve travar o julgamento da ação que tenta acabar com a execução da pena após decisão em segunda instância, e que suas chances de sucesso no processo sobre o sítio de Atibaia (SP) são remotas. 

O mesmo não se aplica à presidente nacional da seita do inferno — que, aliás, ninguém mais suporta. A amalucada Gleisi Hoffmann é persona non grata até para os petistas. É impressionante como ela consegue gerar tanto asco. Mesmo pessoas que não desenvolvem qualquer atividade político-partidária não suportam o jeito e o comportamento dessa senhora, evidenciado por seu extremo e ilimitado mau-caratismo. O próprio ex-presidenciável Fernando Haddad não a tolera — e não é pra menos, visto que a queridinha de Lula trabalhou à sorrelfa contra a candidatura do poste e hoje é um obstáculo pesado para a sobrevivência do candidato derrotado. Aliás, o empresário Roberto Justus, uma pessoa isenta, totalmente sem ligações políticas, definiu a moçoila com extrema precisão: “Se tem um ser humano que eu desprezo, chama-se Gleisi Hoffmann” (confira no vídeo).

Para fechar com chave de ouro, segue um texto lapidar de Diogo Mainardi:

É preciso varrer o petismo. O primeiro passo, claro, é garantir que Lula possa apodrecer na cadeia, impedindo que um ministro aloprado resolva soltá-lo com uma canetada. Ou, pior ainda, que o STF ou o Congresso Nacional aprovem uma norma geral que anistie todos os corruptos.

A Lava-Jato prendeu criminosos de todos os partidos. É o exemplo a ser seguido em todas as áreas. Varrer o petismo é muito mais abrangente do que varrer apenas o PT. É fortalecer o Estado contra o assalto de uma quadrilha caudilhesca e cartorial. Como se faz isso? Vendendo as estatais, eliminando as reservas de mercado, abolindo os cargos comissionados, premiando o mérito.

Jair Bolsonaro disse que vai cortar a publicidade estatal da Folha de S. Paulo. Isso é o suprassumo do revanchismo petista. Lula e seus comparsas sempre usaram a publicidade estatal para achacar a imprensa. Eles sempre a usaram também para comprar o jornalismo mercenário. O que Jair Bolsonaro pode fazer — o que ele deve fazer — é cortar drasticamente o gasto com propaganda do governo. Ele não precisou de comerciais na TV ou de matérias nos jornais para se eleger, então por que precisaria para governar? Além de comprar a imprensa, o petismo comprou igualmente o consenso de sindicatos, artistas, ONGs. Está na hora de parar com isso. Quem oferece um trabalho importante pode aprender a se financiar sozinho, sem se beneficiar dos favores concedidos por coronéis partidários.

Os eleitores votaram contra o petismo, que é muito mais vasto e daninho do que o próprio PT. Ele está enraizado em setores da sociedade, e tem de ser arrancado sem dó, porque é a única maneira de se derrotar o atraso. Varrer o petismo é a chance que o Brasil tem de tentar inventar algo melhor.

VEÍCULOS FLEX: MELHOR USAR GASOLINA OU ÁLCOOL? (Parte 8)


PRIMEIRO É PRECISO APRENDER A REMAR, PARA DEPOIS ASSUMIR O LEME.

Não confunda gasolina aditivada com premium (tipo “Grid”, “Podium”, etc.), pois sua octanagem é a mesma da gasolina comum — a diferença fica por conta dos aditivos (detergentes, em sua maioria) que previnem a carbonização das válvulas e dos pistões. Nas gasolinas premium, a octanagem maior permite comprimir a mistura de 12 a 14 vezes (taxas de compressão entre 12:1 e 14:1) sem que ocorra a indesejável “batida de pino” (detonação), que prejudica o rendimento e pode danificar o motor.

Observação: Usar gasolina aditivada não “aumenta a potência”, a despeito do que afirmam certas propagandas veiculadas na TV. O que ela faz e manter válvulas e pistões livres da indesejável carbonização, ajudando a preservar o desempenho original por mais tempo. Mas abastecer com gasolina premium só vale a pena em veículos com motores de capacidade cúbica superior a 2.000cc e taxa de compressão de, no mínimo, 12:1 — a exceção fica por conta dos importados “não tropicalizados”, que sofrem com água suja comercializada no Brasil como “gasolina comum”. Portanto, use gasolina premium somente no reservatório da partida a frio, caso seu veículo Flex ainda utilize esse sistema (detalhes nesta postagem).

O álcool vendido nas bombas é o hidratado, que contém entre 4% e 5% de água. O álcool anidro, que é misturado à gasolina para barateá-la, aumentar sua octanagem e reduzir a emissão de poluentes, passa por um processo de destilação forçada para eliminar a água é por evaporação, e seu teor alcoólico é de, no mínimo, 99,6%.

Ao contrário do que se costuma imaginar, etanol e gasolina se misturam de maneira homogênea e, portanto, queimam juntos. O que se separa (e desce para o fundo do tanque) é o excesso de água presente no combustíveis adulterados. Ainda que abastecer em postos que praticam preços mais elevados não garanta a qualidade do produto, a prudência recomenda fugir de postos onde o preço praticado fica muito abaixo da média da região.

Habitue-se a aferir regularmente o consumo do seu carro, pois alterações significativas são indícios de combustível de má qualidade. Mas vale lembrar que o consumo será sempre maior com etanol do que com gasolina (por razões amplamente discutidas nas postagens anteriores), como também no uso urbano (a não ser que você pegue a estrada engarrafada ou percorra longas distâncias sob um temporal daqueles).

Observação: Zerar o hodômetro parcial ao encher o tanque e dividir a distância percorrida pelo número de litros que couberem da próxima vez pode até dar uma ideia aproximada do consumo, mas desde que você abasteça na mesma bomba e não deixe o frentista “arredondar” o valor a ser pago — aliás, é fundamental interromper o abastecimento no primeiro desarme do bico, sob pena de danificar o cânister (voltarei a esse assunto mais adiante).

Calibre os pneus semanalmente (com a pressão recomendada pelo fabricante) e evite levar carga inútil no porta-malas. Tanto o atrito de rolamento, que aumenta com os pneus murchos, quando o excesso de peso com a mala apinhada de tranqueiras demandam maior esforço do motor e, consequentemente, impactam no consumo de combustível.

Note que é normal veículo gastar mais combustível no inverno, já que a densidade do ar frio faz com que o módulo de injeção enriqueça a mistura para otimizar a combustão. Dias frios também levam o motor a gastar mais energia para atingir a temperatura normal de trabalho, além de aumentar o arrasto aerodinâmico em razão da maior densidade do ar.   

Amanhã a gente continua.