A um ano das eleições presidenciais, o cenário que se
descortina é desolador.
Se 2017 começou com esperança, a morte de Zavascki, as delações da JBS e mais uma sequência de eventos
deploráveis ― dentre os quais o envolvimento do presidente em atos nada
republicanos ― demonstraram que teríamos mais do mesmo. E se ano antes da
reeleição da anta vermelha os políticos foram brindados com gigantescas manifestações populares, o país
estava prestes a sediar a Copa do Mundo
e os Jogos Olímpicos, e a Lava-Jato ainda não havia começado a
expor a corrupção praticada pelas principais lideranças partidárias e seus
apaniguados, agora o quadro é outro: embora a economia dê sinais de
recuperação, a crise política se agrava a cada dia que passa.
O impeachment do poste sem neurônios interrompeu o reinado
lulopetista, mas não recolocou o país nos eixos ― e nem poderia, já que quem
herdou o trono foi o comandante máximo do antro peemedebista, que fez
dobradinha com Dilma sob a égide da
autodeclarada alma viva mais honesta do Brasil.
Em suma, o que se notabilizou neste último ano foi uma presidanta incompetenta
penabundada, um presidente tampão denunciado no exercício do cargo e um ex-presidente
hepta-réu, condenado ― até o momento ― 9 anos e seis meses de prisão em regime
fechado e investigado em pelo menos mais 3 inquéritos. E viva o povo
brasileiro!
Observação: Se o escândalo
do mensalão ― do qual Lula
escapou por um triz ― rebaixou o esquema
PC a coisa de amador e o ex-presidente
Collor a punguista de feira, o petrolão
deu o troco: se, após 7 anos de tramitação, a ação penal 470 condenou 24 sacripantas, dentre os quais ícones
petistas do quilate de José Dirceu, José Genoíno e Delúbio, a Lava-Jato, em 3 anos e somente em Curitiba, produziu 213
prisões e 107 condenações, incluindo todo-poderosos como Lula e Eduardo Cunha.
A se darem por confiáveis as pesquisas de opinião pública, Dilma se reelegeu quando seu governo
era rejeitado por apenas 22% da população. Durante sua segunda gestão ― ainda
mais calamitosa que a anterior ―, os índices de reprovação ao seu governo
triplicaram. Às vésperas do julgamento do impeachment, míseros 7% da população
apoiavam a dita cuja. Mas sua deposição não foi um golpe de Estado, ao
contrário do que afirmam a própria Dilma
e os militantes lunáticos que ainda a admiram. A despeito das pedaladas fiscais
configurarem crime de responsabilidade, o que pesou na decisão do Congresso foi
o conjunto da obra da anta vermelha e, mais do que tudo, a inépcia e a
prepotência da dita-cuja no trato com os parlamentares. Nem próprio PT gostava dela, e pouquíssimos
congressistas permaneceram solidários durante o julgamento. Sem embargo, num vergonhoso
acordo de bastidores ― urdido com o beneplácito do imprestável senador Renan Calheiros e do inominável
ministro Ricardo Lewandowski, então
presidentes do Senado e do STF, respectivamente ― a tralha foi expulsa da
presidência sem perder seus direitos políticos.
Observação: Aliás, foi Lewandowski o eminente jurista que, semanas atrás, mandou para casa
(e que Casa; um apartamento de R$ 5 milhões no bairro mais nobre de Sampa) o
médico-monstro que estuprou trocentas mulheres e foi condenado a mais de 200
anos de cadeia. E foi Gilmar Mendes
quem capitaneou a inominável palhaçada no TSE, que, por excesso de provas,
avalizou a roubalheira que ajudou a reeleger a chapa Dilma-Temer em 2014. Como
confiar numa Suprema Corte com integrantes dessa catadura?
Temer conseguiu a
proeza de ser mais malquisto que Dilma.
Segundo pesquisas, 70% da população repudiam seu governo e míseros 5% o avaliam
como bom ou ótimo. Mas isso não quer dizer que nos livraremos dele tão já: ao
contrário de sua predecessora, o peemedebista tem boa relação com os
parlamentares e não se furta a comprar apoio de marafonas do Congresso para
barrar processos contra ele no Supremo ― a primeira denúncia foi sepultada em
agosto (e nos custou quase R$ 20 bilhões), e a segunda segue pelo mesmo caminho.
Acrescente-se a isso o fato de ainda não ter surgido nenhuma liderança com
cacife político e respaldo popular capazes de ameaçar sua permanência no
Planalto até dezembro do ano que vem. Para Temer,
estar totalmente desmoralizado é um mal menor, pois, enquanto ele for
presidente, terá direito a foro especial por prerrogativa de função ― ou seja,
estará fora do alcance da Lava-Jato
e de juízos de primeira instância, onde a tramitação processual é muito mais
rápida do que no Supremo.
Resumo da ópera:
a menos de um ano das eleições, o cenário não poderia ser mais nebuloso.
Segundo o Datafolha, 51% dos
pesquisados (que, em tese, representam a maioria do eleitorado) estão em dúvida
entre um suposto candidato condenado pela Justiça ― que lidera as pesquisas com
inacreditáveis 35% ― e um defensor ferrenho da ditadura militar ― que tem 16%
das intenções de voto. Volto a lembrar que treino é treino e jogo é jogo: esses
números expressam uma tendência à luz do contexto atual, e muita água vai rolar
até de outubro do ano que vem. Bem antes disso, Lula pode ser impedido de concorrer ― basta que o TRF-4 mantenha a condenação no processo
do tríplex no Guarujá, que agora ganha novos contornos com a suposta
falsificação dos recibos de aluguel; aliás, em se comprovando a fraude, o
petralha pode acabar atrás das grandes bem antes do previsto; afinal, se isso
não é obstrução da Justiça, então eu não sei o que é.
O que de pior se conclui das pesquisas de opinião é que
nossa democracia está agonizante. Parafraseando Josias de Souza, a democracia
é o regime em que as pessoas têm ampla e irrestrita liberdade para exercitar
sua capacidade de fazer besteiras por conta própria. O brasileiro prefere
cometer erros velhos, mas se o equívoco manjado for um crime que leve à
inelegibilidade, o eleitorado será forçado a experimentar erros novos.