Há exatos doze meses, dizíamos adeus para o ano de dois mil e dezechega e comemorávamos
esperançosos a chegada de 2017. E deu no que deu!
No final de 2015, tínhamos uma presidente encurralada no
Palácio do Planalto, sem autoridade, sem nexo e sem respeito; um
presidente da Câmara descrito como homem de poderes sobrenaturais e um
vice-presidente decorativo, mas que, por suas celebradas habilidades no
manuseio de parlamentares e políticos em geral, era visto como uma ponte que
poderia conduzir à salvação a Rainha
Bruxa do Castelo do Inferno. Demais disso, tínhamos um ex-presidente da República que
posava de gênio da política, sempre prestes a “virar o jogo” mediante conchavos
milagrosos ― e que meses depois tentaria nomear a si próprio ministro da Casa
Civil e, a partir daí, resolver a situação toda em seu benefício ―, e um
cangaceiro presidindo o Senado e atuando como marechal de campo na guerra para
manter no comando a presidanta, seu abjeto antecessor e seu espúrio partido.
Por pior que tenha sido, o ano de 2016 nos brindou com deposição de Dilma. Lula
se tornou réu pela primeira vez (numa das 7 ações criminais que vem colecionando desde então) e foi condenado a 9 anos 6 meses de prisão. A economia deu sinais de
recuperação, a inflação e a taxa básica de juros começaram a recuar, os índices
de desemprego pararam de crescer e reformas importantes para o país começaram a
avançar.
2017, ano em que depositávamos esperanças de
melhoras mais consistentes, começou com rebeliões em presídios e uma greve absurda da PM que resultou na morte de centenas de pessoas. Ainda em janeiro, um trágico acidente aéreo ceifou a vida do ministro Teori Zavascki e deixou o STF sem relator dos processos da Lava-Jato às vésperas da homologação da Delação do Fim do Mundo. Mesmo assim e a despeito do "fogo amigo", houve avanços na luta contra a
corrupção. Foram para a cadeia políticos notórios, como o deputado Rodrigo Rocha Loures ― ex-assessor e homem da mais estreita confiança de Michel Temer ―, o deputado Geddel Vieira Lima ― homem dos R$51 milhões e também amigão do peito de Michel Temer ―, os ex-governadores Sérgio Cabra, Anthony Garotinho, quase todos os membros
do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro
e outros tantos do alto escalão da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro (a começar pelo presidente).
Mas a coisa azedou a partir de maio, quando uma conversa de
alcova entre Michel Temer e o moedor
de carne bilionário Joesley Batista,
gravada à sorrelfa por este último nos “porões do Jaburu”, foi publicada por Lauro Jardim em O Globo. O presidente foi demovido da ideia de renunciar pelos puxa-sacos de plantão (que seriam fatalmente desalojados de seus cargos e perderiam a boquinha do foro privilegiado) e, em pronunciamento à nação, jurou de pés juntos que “a investigação no STF seria "o território onde aflorariam as provas
de sua inocência". Ato contínuo, passou a mover mundos e fundos (sobretudo
fundos) para se escudar das flechas do então procurador-geral Rodrigo Janot e barrar a abertura de inquérito no Supremo. E o resto é história
recente.
Debalde as previsões cataclísmicas de que este governo
estaria com os dias contados ― cantadas em prosa e verso por nove entre dez
analistas políticos e formadores de opinião de plantão ―, Michel Temer, tal qual os “bagres-sem-cabeça” que boiam nos esgotos
a céu aberto que cortam a cidade de São Paulo, recusa-se teimosamente a
afundar. Como na fábula russa de Pedro e
o Lobo, sua iminente queda acabou
cansando, e a maioria da população deixou de dar ouvidos à falácia (não que
isso tenha feito algum bem à popularidade do presidente, cujos índices são tão
ruins ― ou piores ― que os de Collor
e Dilma durante seus respectivos
processos de impeachment).
Já não se fala mais que Temer
vai cair no dia seguinte, nem se especula como seria o governo de Rodrigo Maia ou, imaginem só, da
ministra Cármen Lúcia, presidente do
STF. Embora poucos digam isso em
público, tem-se como “cenário provável” sua permanência no
Planalto até 31 de dezembro de 2018. Como salientou J.R. Guzzo em sua coluna na revista Exame do último dia 20, o governo está morto moralmente, e já há um
bom tempo ― desde que se comprovou que o presidente da República mantinha
reuniões nada republicanas, na calada da noite e em seu próprio palácio, com um
escroque confesso e bilionário que hoje está na cadeia. Só que não estamos no
Japão, onde um ministro faz haraquiri em público quando é pilhado roubando um
clipe de papel. No Brasil, ninguém morre só de moral, sobretudo se tem à
disposição o Diário Oficial, os cargos comissionados e a chave do Erário.
E a questão não se resume à permanência do presidente no jogo
até o apito final: de uns tempos a esta parte, incentivado pelas
reformas que ninguém antes dele conseguiu aprovar (insuficientes, é verdade, e
limitadas por concessões às marafonas do Congresso), pela queda dos juros e da
inflação, e pelo crescimento da produção industrial (o melhor resultado em 4
anos), Michel Miguel Elias Temer Luria,
em carne e osso, começou a aparecer na imprensa como possível candidato à reeleição.
(Pausa para as gargalhadas.)
(Pausa para as gargalhadas.)
Os desafios do Brasil para o próximo ano são imensos. O país
precisa voltar a crescer para elevar o padrão de vida material do seu povo e
explorar nossa energia criadora em sua plenitude. Precisa aprovar reformas
estruturais para modernizar-se e competir com qualidade no mundo globalizado.
Precisa civilizar a vida política, estabelecendo um padrão ético aceitável, e
superar as feridas de uma profunda divisão de ideologia e métodos. Precisa,
enfim, reencontrar o caminho da estabilidade institucional, mas, mais
importante que tudo, o povo (ah, o povo) precisa se conscientizar do poder que
o direito (ou obrigação) de voto lhe assegura. Em outubro, além de eleger o
sucessor de Michel Temer (e dos
governadores dos Estados e deputados estaduais) teremos a valiosíssima chance
de substituir todos os 513 deputados federais e 2/3 dos 81 senadores da
República. Pensem nisso.
Feliz ano novo a todos.
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