O sonho do hexa ficou para 2022, 2048 ou sabe Deus
quando. Menos mal se esse fiasco estimular o povo a focar no que
realmente interessa: com 13 milhões de desempregados, um presidente sem
credibilidade nem voz ativa, um Congresso recheado de corruptos e um Judiciário
sob a batuta de ministros como Mendes, Toffoli e Lewandowski, a Copa na
Rússia deveria ser a menor das preocupações.
A menos de 3 meses das eleições, um criminoso condenado posa
de pré-candidato à presidência, continua sendo incluído nas pesquisas e, como se não bastasse, aparece invariavelmente em primeiro lugar. É certo que o
eleitorado tupiniquim é composto majoritariamente por analfabetos, desculturados e outros que tais, mas também é certo que o perfil dos demais concorrentes não ajuda em nada.
Dos mais
de 20 aspirantes ao Palácio do Planalto, apenas Bolsonaro, Marina e Ciro Gomes têm chances reais de
disputar o segundo turno. E tanto a pulverização de candidaturas quanto o
percentual crescente de votos brancos, nulos, e de eleitores que simplesmente
não comparecem para votar favorece os primeiros colocados nas pesquisas.
Ainda que esses sonhadores jurem de pés juntos que levarão suas
candidaturas até o (mais amargo) fim, quem tem um par de neurônios ativos e
operantes sabe que isso não passa de mera cantilena para dormitar bovinos (apenas para ficar num exemplo
notório, o PTC já desistiu de lançar
a candidatura de Collor). Geraldo Alckmin e
Henrique Meirelles, que seriam as opções “menos piores”, continuam patinando.
Ao ex-governador de São Paulo — que teve respeitáveis 37 milhões de votos quando disputou a presidência em 2006, mas hoje
mal chega a 7% nas pesquisas — falta carisma e sobra sensaboria. Já o
ex-ministro da Fazenda, que respalda sua candidatura na revitalização da
Economia, está irremediavelmente associado ao presidente mais rejeitado desde a
redemocratização desta Banânia, e por isso amarga 1% das intenções de voto,
como Rodrigo Maia e Flávio Rocha, atrás até mesmo de Fernando Haddad, Álvaro Dias e Manoela D’Ávila, que têm 6%, 5% e 2%,
respectivamente.
Haddad, o poste número 2 de Lula, será o plano B do PT, que aposta na transferência de votos do presidiário — que mesmo atrás das grades seduz uma massa considerável de
fanáticos e ignorantes. Mas essa transferência pode ser bem menor do que os
petistas imaginam, da mesma forma que as intenções de voto no líder máximo da
quadrilha estão longe de ser a apontada pelas “pesquisas”. Afinal, como imaginar que um prefeito que não
conseguiu sequer se reeleger — Haddad foi derrotado no primeiro turno por João
Doria — venha a se tornar um grande ativo eleitoral?
Não é de se desconsiderar o risco petista, o fator Lula ou
a carinha de “bom moço” do ex-prefeito paulista; afinal, estamos falando do
Brasil, onde um criminoso condenado conta com o apoio incondicional de uma
legião de idiotas ou canalhas que representa uns 20% do eleitorado. Se metade
desse cacife eleitoral for transferido para seu ungido, talvez ele chegue a 10%,
mas isso não é suficiente para garantir um segundo turno.
O sonho de alguém probo e preparado
para governar este país surgir do nada, conquistar o
apoio dos partidos de centro e atrair os votos dos indecisos e desiludidos é improvável. Com o demiurgo de Garanhuns fora da disputa, legendas que
gravitavam em torno do PT, como PDT, PSOL e PCdoB, decidiram
lançar candidatos próprios. Do centro para a direita, o PSDB perdeu sua força aglutinadora, notadamente depois do “caso
Aécio”. Ademais, não bastasse o fato de terem sido atingidos em cheio pela Lava-Jato, os tucanos se associaram à Michel Temer, o que desgastou ainda mais sua imagem perante o
eleitorado.
Segundo o cientista político Rafael Cortez, da Tendências Consultoria, se não houver união dos
candidatos de centro-direita, nenhum deles chegará ao segundo turno. A
pulverização seria menor se Alckmin
conseguisse atrair apoios, mas isso não vem acontecendo. Volta e meia surgem
rumores de que ele será substituído por João Dória, mas o tempo está passando e os tucanos, conhecidos por
mijar no corredor quando há mais de um banheiro na casa, correm o risco de
tomar essa decisão quando a vaca já tiver ido para o brejo.
Observação: Há que se levar em conta que o PSDB governou São Paulo — o maior colégio
eleitoral do país — por mais de 20 anos e elegeram quase 800 prefeitos em 2016.
A elite paulista deve atuar nos bastidores para que candidaturas radicais, como
a de Bolsonaro, não prosperem nas
urnas, mas para isso é preciso que surja um nome de peso.
Bolsonaro vem
tentando acalmar o mercado e o empresariado, prometendo, dentre outras coisas,
uma reforma tributária e leis trabalhistas mais favoráveis ao patronato. Mas já
fala em aumentar para 21 o número de
ministros do Supremo — requentando o AI-2,
que em 1965 elevou de 11 para 16 o número de magistrados para aumentar as
chances de aprovar medidas que fortalecessem o regime militar — em relação ao
qual o pré-candidato nunca escondeu sua simpatia. Aliás, o esquerdista Hugo Chaves
se valeu dessa estratégia na Venezuela, e foi imitado recentemente pelo direitista Andrzej Duda na Polônia.
Vale lembrar que caberá a Bolsonaro, se eleito, nomear pelo menos dois ministros do STF, visto que o decano Celso de Mello e seu colega Marco Aurélio deverão se aposentar até
2021, quando completarão 75 anos.
Por hoje é só. Até a próxima.
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