terça-feira, 4 de setembro de 2018

(AINDA) SOBRE LULA E A INSISTÊNCIA DO PT EM DESAFIAR A JUSTIÇA E A NOSSA PACIÊNCIA




Reitero o que já disse sobre admirar o ministro Fachin e seu trabalho como relator dos processos da Lava-Jato no STF, mas volto a criticar seu voto “pró-Lula” no julgamento das impugnações à candidatura do safardana de Garanhuns. Aliás, a interminável sessão da última sexta-feira no TSE foi, a meu ver, um desperdício de tempo e de dinheiro: nenhum país que se pretende civilizado e democrático levaria a sério a candidatura de um criminoso condenado e encarcerado. Não obstante, o ministro acolheu a tese (da defesa do petralha) de que a recomendação da Comissão de Direitos Humanos da ONU teria o condão de suspender os efeitos da Lei da Ficha-Limpa, ainda que tenha seguido o relator (como fizeram todos os seus pares na corte) no tocante à inelegibilidade de Lula. A pergunta é: como fica a soberania nacional?

Observação: Apenas dois dos dezoito técnicos que compõe o tal comitê (que atua de forma independente da ONU) assinaram o parecer, e o fizeram sem ouvir o Itamaraty — ou seja, apresentaram a recomendação sem se darem ao trabalho de ouvir a outra parte. Embora haja controvérsia entre juristas, o Itamaraty (ou Ministério das Relações Exteriores) entende que a recomendação não tem efeito vinculante (ou seja, o Brasil não está obrigado a cumpri-la) nem é um fato superveniente apto a afastar a inelegibilidade do impugnado (como bem disse o ministro relator em seu voto). Fachin foi o único a discordar.       

Em momento algum eu insinuei que Fachin teria sido movido por motivos político-partidários (vale lembrar que ele foi guindado ao STF no governo Dilma, com as imprescindíveis bênçãos de Lula), ainda que ele próprio antevisse a possibilidade de ser alvo desse tipo de crítica, tanto é que, ao concluir se interminável voto, fez questão de enfatizar que se respaldou na Constituição, na doutrina e na jurisprudência. Se tentou agradar a gregos e troianos, a conclusão cabe ao leitor. Acrescento apenas que Wadih Damous — um dos três deputados petralhas que, mancomunados com o desembargador Favreto, do TRF-4, tentaram libertar Lula na calada do recesso do Judiciário — deixou isso claro num comentário público: “Cá pra nós, Fachin sabia do resultado. Quis limpar a barra conosco. Não cairemos nessa”. Para o jornalista Carlos Andreazza, a acusação é grave, pois coloca o ministro na posição de devedor e traidor.

Julgamento encerrado, Lula está inelegível por decisão da última instância da Justiça Eleitoral — é certo que cabem embargos de declaração, mas é igualmente certo que esse recurso serve apenas esclarecer pontos obscuros do acórdão, não tendo, portanto, o condão de modificar a decisão tomada pelo tribunal. Resta saber se PT insistirá na fantasiosa candidatura de Lula ou ungirá Haddad candidato e promoverá a trice a vice. A resposta virá nos próximos dias, já que o prazo dado pelo tribunal para o partido substituir Lula na chapa, de 10 dias corridos, começou a contar a partir da publicação do acórdão (ou seja, do instante em que a presidente do TSE, ministra Rosa Weber, proclamou o resultado e deu a sessão por encerrada, nas primeiras horas da madrugada do último sábado).

P.S. O fiduma resolveu não largar o osso. Sua defesa vai recorrer à ONU e ao STF para mantê-lo em campanha. Amanhã eu volto com mais detalhes.

Fecho esta postagem com (mais) um texto magistral do jornalista J.R. Guzzo:

Há um curto circuito mental no Brasil que pensa em política — e quanto mais esse Brasil pensa, piores são os resultados que produz. Parece que “caiu o sistema”, como você vive ouvindo dizer quando precisa de alguma coisa. Aí não adianta perder tempo batendo nessa ou naquela tecla, porque nenhuma das opções oferecidas será válida.

Nada é tão espantoso, no presente momento de desordem cerebral que cerca a vida pública brasileira, quanto “a candidatura Lula” à Presidência da República. Não há nenhuma candidatura Lula. Mas, segundo nos dizem todos os dias os meios de comunicação e os peritos em explicar que dia é hoje, não há nenhuma outra candidatura tão essencial quanto justamente essa, que não existe.

O ex-presidente, o PT e a sua máquina de apoio conseguiram desligar a chave-geral do mecanismo que regula as eleições brasileiras — e por conta desta aberração ninguém menos que o Supremo Tribunal Federal se verá obrigado a dizer que não, Lula não vai ser candidato. Um servidor do cartório eleitoral já poderia ter dito exatamente a mesma coisa há muito tempo. Mas estamos no Brasil, o “sistema” está fora do ar e por conta disso temos de pagar por uma das farsas mais velhacas já aplicadas na política deste país.

Vamos lá: Lula não pode ser candidato a presidente do Brasil da mesma maneira como uma criança de 11 anos não pode. Por que não pode? Porque a lei diz que a idade mínima para alguém exercer a Presidência é 35 anos. Se a certidão de nascimento do candidato atestar que ele tem só 11, não vai dar. Você pode dizer que é injusto, ou que é preconceito, ou que o garoto lidera “todas as pesquisas” — não vai adiantar nada, porque a lei diz que é proibido criança ser presidente da República.

Da mesma forma, o sujeito não pode se candidatar se estiver morando em Estocolmo, por exemplo; precisa apresentar a sua conta de luz ou de gás e provar que tem residência no Brasil, por mais que seja um gênio na arte de governar. Está claro, também, que o candidato tem de ser brasileiro nato. Um Barack Obama, digamos — seria uma maravilha de candidato, não é mesmo? Imaginem onde o homem estaria no Datafolha à esta altura. Se estivesse concorrendo ganharia fácil de qualquer das figuras que estão no páreo. Mas eis aí, outra vez: a lei diz que não pode. Também não pode ser candidato um analfabeto, quem não pertence a partido nenhum ou um cidadão que está internado no hospício.

Será que é assim tão difícil de entender? No seu caso, Lula não pode ser candidato porque está condenado a doze anos de cadeia por corrupção e lavagem de dinheiro, com sentença confirmada em segunda instância. Fim de conversa: é o que está escrito na Lei da Ficha-Limpa (assinada por ele mesmo, quando era presidente), e a Lei da Ficha-Limpa vale a mesmíssima coisa que as outras leis, nem um miligrama a menos.

Você pode achar a condenação errada — ou certa, tanto faz. A autoridade eleitoral não tem o direito de resolver isso; só diz se a candidatura está dentro ou fora da regra. Caberia a um funcionário de balcão da repartição pública onde se registram candidaturas resolver a história. Por que raios, então, uma exigência tão alucinada como a “candidatura Lula” tem de chegar ao Supremo Tribunal Federal? Porque o Brasil da elite pensante, dos partidos e tribunais de Justiça, da mídia e redes sociais, etc. etc., aceitou ceder à sabotagem das atuais eleições por parte do complexo Lula-PT e o que vem junto com ele: liberais civilizados que têm horror da direita, intelectuais orgânicos, empreiteiros de obras públicas e mais o resto que se sabe.

O centro dessa trapaça, basicamente, está nas profecias eleitorais publicadas a cada meia hora — sem elas o mais provável é que Lula estivesse largado no fundo da sua cela em Curitiba. As “pesquisas” criaram uma realidade artificial — uma situação em que o povo está desesperado para votar num candidato, mas não pode porque “eles” não deixam. É mentira. Lula existe nos institutos, mas não existe nas ruas; não conseguiria ir a um campo de futebol sem um exército de seguranças à sua volta. Nesse mundo imaginário, Lula passa de “30%” a “40%” dos votos. Na vida real passa de zero para zero, pois não vai receber voto algum. Mas essa salada de números é usada para vender um dos disparates mais sensacionais da história eleitoral brasileira: sim, certo, a lei está aí, mas uma eleição sem Lula seria um “constrangimento’. Pega mal no The New York Times. Põe em dúvida a pureza da nossa democracia. Esse sim, é o estelionato eleitoral transformado em obra prima.

Observação: O primeiro levantamento de intenção de voto do banco BTG Pactual, realizado pela FSB Pesquisa após o início da propaganda eleitoral na TV e no rádio, indica uma queda acima da margem de erro no percentual de intenção de votos de Lula no cenário espontâneo, em que não são apresentados os nomes dos candidatos. O resultado é de empate com o candidato do PSL, Jair Bolsonaro, ambos com 21%. No mesmo cenário da pesquisa BTG/FSB realizada há uma semana, Lula tinha 26% e Bolsonaro, 19%.

Para não encompridar esta conversa, deixo para examinar amanhã o que podermos esperar de um possível recurso do PT ao STF.

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