O PT continua, não se sabe até onde. O PSDB acabou de desembarcar
O Brasil está dividido entre o PT e os demais partidos. Desde 1989, quando Lula foi para o segundo turno na primeira eleição direta pós-ditadura,
o PT consegue ser majoritário na
captação dos votos da esquerda. Foi assim nas duas eleições seguintes, quando Lula perdeu no primeiro turno para Fernando Henrique Cardoso mas chegou em
segundo lugar, e depois nas quatro que o PT
ganhou. O Brasil é PT ou não é. Nos
últimos 16 anos tem sido.
No começo, quando perdia eleições, o PT ainda não havia conseguido pintar sua imagem como a do partido
da inclusão social, era apenas de esquerda. Na primeira eleição, este papel
coube ao caçador de marajás, e nas outras duas foi cumprido pelo criador do
Real. Somente depois de Collor e FHC, o PT conseguiria somar ao seu eleitorado de esquerda aqueles que
queriam e os que precisavam de um Brasil mais justo.
O PSDB, que havia
conduzido com sucesso um dos mais importantes programas de distribuição de
renda do mundo, não conseguiu capitalizar o Plano Real e deixou-se transformar,
aos olhos dos eleitores, num partido da elite branca. Cometeu muitos erros —
como o da polêmica emenda da reeleição —, que contribuíram para que a sigla que
construiu a estabilidade da economia acabasse com a imagem de partido paulista.
O “nós contra eles” não foi uma invenção de Lula, existe desde a primeira eleição
presidencial. O que Lula fez foi dar
uma coloração de classe ao termo. O “nós” são os pobres e as minorias, e o
“eles” são os ricos. Discurso simples para um eleitor majoritariamente simples.
Discurso que funciona.
Embora não seja o único, claro que o PT é um partido preocupado com os mais pobres. O programa Bolsa
Família foi o mais inclusivo da história do país, e o PT soube se valer dele politicamente.
Os demais partidos de esquerda viraram satélites. O PSDB, que depois de FHC perdeu quatro vezes para Lula, conseguiu atrair alguns partidos
de centro, não todos. O maior deles, o MDB,
ficou com o PT nas duas últimas
eleições. Outros partidos de centro e de direita transitaram entre PSDB e PT ao longo dos últimos 16 anos. O PT foi mais competente. Apesar dessa miscigenação ideológica, os
militantes orgânicos só enxergam o espectro de esquerda, e os eleitores não
militantes só veem Luiz Inácio Lula da
Silva quando miram o PT.
A campanha deste ano, ao que tudo indica agora, seguirá o
mesmo roteiro, com a diferença que o PSDB
perdeu seu protagonismo para Jair
Bolsonaro. Dois episódios fundamentais da campanha ajudaram a impulsionar o
capitão e o petista indicado por Lula.
Bolsonaro foi esfaqueado enquanto
era carregado nos ombros por eleitores, e Haddad
recebeu a bênção de um ex-presidente preso que reconstruiu sua imagem de
corrupto em mártir, injustiçado e perseguido.
É isso o que temos e com isso precisamos nos habituar. Resta
saber se a habilidade política do PT
será suficiente para ganhar a eleição no segundo turno. É verdade que a subida
de Haddad nas pesquisas só ocorreu
agora porque antes o candidato era Lula.
Tem que se levar isso sempre em conta, mas é fato também que nunca, desde 2002,
o PT esteve tão mal nesta fase da
campanha. A corrupção ainda pode cobrar sua conta.
Nos quatro pleitos que ganhou, Lula e Dilma lideravam a corrida a esta altura da campanha. Em
2002, na pesquisa Ibope de 17 de setembro, Lula tinha 48% das intenções de
voto. Em 2006, no dia 16 de setembro, Lula
alcançava 42%. Na eleição de 2010, Dilma
tinha 51% da preferência em 17 de setembro. Na sua reeleição, no dia 16 de
setembro de 2014, a liderança de Dilma
era mais apertada, com 36%, mas ainda assim quase o dobro do que Haddad tem agora.
O PT provou amplamente sua competência, tem seus principais
líderes condenados e presos por corrupção, inclusive Lula, mas segue vivo na campanha. O PSDB, por sua vez, comprovou sua fama de incompetente político.
Perdeu para Lula quando ele estava
nas cordas do mensalão. Perdeu de Dilma
quando seus sinais de fadiga já eram evidentes. E agora perde seu lugar na
disputa para um novato em eleições presidenciais. E talvez perca também sua
hegemonia paulista.
O PT continua,
não se sabe até onde. O PSDB acabou
de desembarcar.
Texto de Ascânio Seleme
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