Para quem aprecia filmes policiais e não dispensa uma boa
dose de violência, Die hard — ou duro de matar, como o título da série protagonizada por Bruce Willis foi traduzido para o português — é uma boa pedida. O que
isso tem a ver com política? Nada; a franquia só me cruzou a mente porque, a
exemplo de John McClane,
que é como se chama o personagem de Willis nessa série, a velha política tupiniquim é igualmente “dura de matar”. Aliás, não só a “velha política”, mas
também alguns monstros sagrados do panteão político-partidário, que parecem eternos.
Sarney
é um bom exemplo: aos 88 anos e há cinco afastado da vida pública, o bardo maranhense continua assombrando seu estado natal, ainda que em franca decadência — nem a filha Roseana
se reelegeu governadora, nem o filho Zequinha, senador.
Outro exemplo é o ex-deputado Paulo
Maluf: condenado a mais de 7 anos de prisão e posto em liberdade
por “razões humanitárias”, segundo o traste supremo que lhe concedeu um habeas corpus de ofício, o turco ladrão,
aos 87 anos, parecia estar à beira do desencarne até deixar a Papuda, mas bastou voltar
para sua cinematográfica mansão, no bairro dos Jardins (um dos mais nobres e
caros de Sampa) para simplesmente renascer das cinzas.
Renan Calheiros, aos 63 anos, é outro sério candidato a ser eterno. Nem
uma pneumonia combinada com a reação alérgica a um antibiótico impediu-o de
descarregar, do leito na UTI de um hospital de Brasília, sua artilharia contra o
ex-juiz Sergio Moro. Motivos não
lhe faltam: investigado em 12 inquéritos e alvo de duas denúncias, o cangaceiro
das Alagoas dificilmente aplaudiria a promessa do futuro ministro da Justiça de
endurecer o combate à corrupção. Mas o castigo vem a cavalo.
Segundo Andréia Sadi,
a PGR incluiu novos e-mails de Marcelo Odebrecht ao inquérito sobre
Calheiros, num dos quais se lê o seguinte: “Ontem me reuni com Senador Renan,
que incluiu uma emenda de relator e permitiu que Chesf fosse beneficiada até
2015. Vamos tentar ainda incluir possibilidade de renovação nas mesmas bases.
Contudo já foi uma vitória!” Outro e-mail retoma o assunto: “JW e Renan
hoje têm força suficiente para, se quiserem, conseguirem resolver o tema da
energia Chesf.” (JW é Jaques Wagner, que ainda está solto,
assim como Renan Calheiros).
No Planalto a velha política também campeia solta. No último
dia 25, depois de muito suspense, Temer
sancionou o indecente reajuste autoconcedido pelos ministros supremos,
que passarão a ganhar 18 vezes mais que o salário médio do trabalhador
tupiniquim. Explica-se. A última coisa de que precisa um presidente em vias de perder o foro privilegiado e prestar contas de seus atos nada republicanos a
juízes de primeira instância é se indispor com o Judiciário.
Feito o afago ao magistrados, mais um exemplo típico das viciadas relações entre os poderes: o vampiro do Jaburu fez chegar ao Supremo, por intermédio de Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes, o desejo de que a Corte julgasse constitucional o decreto em que afrouxou as regras do indulto de seu Natal em 2017 — um bálsamo para políticos e amigos de políticos encalacrados (escuso-me de descer a detalhes porque várias postagens recentes tratam desse tema).
Feito o afago ao magistrados, mais um exemplo típico das viciadas relações entre os poderes: o vampiro do Jaburu fez chegar ao Supremo, por intermédio de Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes, o desejo de que a Corte julgasse constitucional o decreto em que afrouxou as regras do indulto de seu Natal em 2017 — um bálsamo para políticos e amigos de políticos encalacrados (escuso-me de descer a detalhes porque várias postagens recentes tratam desse tema).
Observação: Falando no STF, o chefe da trupe de purgantes toga vem se esmerando na arte cuspir
na cara dos cidadãos de bem: durante a sessão em que a 2ª turma apreciava o
enésimo HC do demiurgo de Garanhuns — que pede a anulação do processo relativo
ao tríplex do Guarujá —, Mendes pediu
vista do processo quando já havia dois votos contrários ao pleito da defesa. Horas
antes, quando voava de São Paulo para Brasília, seu colega e aliado na “cruzada solta-bandido” mandou prender um passageiro “inconveniente” que exerceu o direito constitucional de
expressar sua opinião sobre a mais suprema das cortes tupiniquins. E se os
demais passageiros tivessem vaiado Lewandowski, o que ele faria? Mandaria
prender todo mundo? Ameaçaria a tripulação com seu bafo de onça e mandaria o mandaria o comandante rumar para Cuba?
Voltando ao presidiário de Curitiba: "A possibilidade de Lula ser beneficiado por uma revisão da
regra que autoriza a prisão depois de condenação em segunda instância está por
um fio", diz uma colunista da Folha. Os ministros Gilmar Mendes e Dias Toffoli defendem que os criminosos só possam ser presos após o
julgamento do STJ, mas o caso de Lula já está na reta final no STJ: o ministro Felix Fischer negou recurso especial de sua defesa; falta a 5ª
turma dar a palavra final, mas a chance de rever a decisão de Fisher é
considerada remota. Depois disso, o assunto estará encerrado na terceira
instância, e os sectários togados da seita do inferno terão de bolar
outra manobra.
Para encerrar: A defesa de Lula alega que Moro foi
parcial ao conduzir o julgamento do petralha no caso do tríplex, e que o fato
de ele ter aceitado o convite de Bolsonaro
para assumir a pasta da Justiça constitui “motivação política. Em entrevista
exclusiva ao Jornal da Manhã, Miguel Reale Júnior ponderou que essa é
uma atitude desesperada da defesa do condenado: “O que se está pretendendo é a suspeição retroativa. É toda uma fantasia
não baseada na legislação processual, portanto é presumir que todas as decisões
proferidas nesse e em todos os processos da Lava Jato estariam comprometidos”,
disse o jurista, um dos signatários do pedido de impeachment que, em 2016,
excretou a anta vermelha do Palácio do Planalto. Para Reale, “Lula não pode se queixar
de não ser um privilegiado no STF”,
já que todos os seus pedidos de habeas
corpus são colocados em pauta. “Nunca
se viu tanta atividade judicial como a promovida pela defesa de Lula, que temo privilégio de ter
colocado em pauta seus habeas corpus. Tem habeas corpus que estão lá há mais
tempo e não são julgados”.
O jurista ironizou ainda o argumento da defesa — de que Moro aceitou o convite para assumir o
Ministério da Justiça — e questionou se a “bola de cristal” indicaria a vitória
de Bolsonaro, o atentado contra o
presidente eleito e a indicação de Moro
ao Ministério, além de lembrar que a sentença que condenou Lula foi proferida por Moro,
mas confirmada depois pelo TRF-4 e
pelo Superior Tribunal de Justiça,
em decisão monocrática do ministro Felix
Fischer. Se houve parcialidade, então todo mundo foi parcial, inclusive os
ministros do STF que rejeitaram 7
pedidos de HC apresentados (até
agora) pela defesa do entulho vermelho.