Reafirmar que colocará à disposição de Sérgio Moro a primeira vaga que se abrir no STF, quando ainda faltam 18 meses para a aposentadoria compulsória
do decano da Corte, foi uma maneira de Jair Bolsonaro evitar que seu ministro
abandone o barco (comenta-se à boca pequena que o ex-juiz da Lava-Jato cogitou de pedir o boné depois
dos recorrentes revezes que lhe foram infligidos pelo presidente da Câmara e um
sem-número de parlamentares envolvidos com a Lava-Jato). De quebra, o presidente sinalizou que o derrotado de hoje pode se tornar julgador
decisivo amanhã, e sem favores a pagar a políticos em alguma votação de
processos protegidos por foro privilegiado no Supremo.
Para Dora Kramer,
no entanto, o que Bolsonaro fez foi desnecessário e, sobretudo, fruto de
inexperiência. Ao afirmar que acertou com Moro a indicação
para o Supremo quando do convite
para integrar o governo, o presidente colocou o auxiliar numa situação difícil,
pois enquadrou a indicação e aceitação numa moldura de toma lá dá cá
absolutamente desconfortável, além de colocá-lo com contraproducente
antecedência na condição de alvo de um Congresso (a quem cabe aprovar o nome do
indicado pelo Executivo paro o STF)
em boa medida crítico à atuação judicante de Moro. Restou ao ministro negar que tenha feito tal acordo por
ocasião do convite para deixar a carreira de juiz e assumir o Ministério da
Justiça. Ou seja, Bolsonaro obrigou
um subordinado a desmentir uma fala do seu presidente. Tudo errado: do começo,
meio e fim.
Fato é que os erros do capitão vêm superando com folga seus pífios acertos nestes quase cinco meses de governo.
Algumas menções na imprensa apontam semelhanças entre ele e Jânio Quadros, mas há que destacar que
o caminho do professor de português mato-grossense foi de êxito político e
administrativo, sempre marcado por oratória e conhecimento do vernáculo e da
história do Brasil. No período em que ele governou esta banânia — de 31 de
janeiro a 25 de agosto de 1961 —, havia tensões políticas, mas não problemas
econômicos. Mesmo com sua renúncia — cujos motivos nunca ficarem bem claros,
diga-se —, o Brasil cresceu.
Segundo o historiador Marco
Antonio Villa, esse paralelo entre Jânio
e Bolsonaro não existe. Bolsonaro foi deputado baixo clero, é
péssimo orador, não tem preparo para a Presidência da República. No campo
econômico, Relações Exteriores, a postura do político e o conhecimento entre
ambos não tem nenhum paralelo. Confira a íntegra do comentário: