sexta-feira, 17 de maio de 2019

MORO, BOLSONARO E JÂNIO QUADROS


Reafirmar que colocará à disposição de Sérgio Moro a primeira vaga que se abrir no STF, quando ainda faltam 18 meses para a aposentadoria compulsória do decano da Corte, foi uma maneira de Jair Bolsonaro evitar que seu ministro abandone o barco (comenta-se à boca pequena que o ex-juiz da Lava-Jato cogitou de pedir o boné depois dos recorrentes revezes que lhe foram infligidos pelo presidente da Câmara e um sem-número de parlamentares envolvidos com a Lava-Jato). De quebra, o presidente sinalizou que o derrotado de hoje pode se tornar julgador decisivo amanhã, e sem favores a pagar a políticos em alguma votação de processos protegidos por foro privilegiado no Supremo.

Para Dora Kramer, no entanto, o que Bolsonaro fez foi desnecessário e, sobretudo, fruto de inexperiência. Ao afirmar que acertou com Moro a indicação para o Supremo quando do convite para integrar o governo, o presidente colocou o auxiliar numa situação difícil, pois enquadrou a indicação e aceitação numa moldura de toma lá dá cá absolutamente desconfortável, além de colocá-lo com contraproducente antecedência na condição de alvo de um Congresso (a quem cabe aprovar o nome do indicado pelo Executivo paro o STF) em boa medida crítico à atuação judicante de Moro. Restou ao ministro negar que tenha feito tal acordo por ocasião do convite para deixar a carreira de juiz e assumir o Ministério da Justiça. Ou seja, Bolsonaro obrigou um subordinado a desmentir uma fala do seu presidente. Tudo errado: do começo, meio e fim.

Fato é que os erros do capitão vêm superando com folga seus pífios acertos nestes quase cinco meses de governo. Algumas menções na imprensa apontam semelhanças entre ele e Jânio Quadros, mas há que destacar que o caminho do professor de português mato-grossense foi de êxito político e administrativo, sempre marcado por oratória e conhecimento do vernáculo e da história do Brasil. No período em que ele governou esta banânia — de 31 de janeiro a 25 de agosto de 1961 —, havia tensões políticas, mas não problemas econômicos. Mesmo com sua renúncia — cujos motivos nunca ficarem bem claros, diga-se —, o Brasil cresceu.

Segundo o historiador Marco Antonio Villa, esse paralelo entre Jânio e Bolsonaro não existe. Bolsonaro foi deputado baixo clero, é péssimo orador, não tem preparo para a Presidência da República. No campo econômico, Relações Exteriores, a postura do político e o conhecimento entre ambos não tem nenhum paralelo. Confira a íntegra do comentário: