Para não acabar no xadrez, Michel Temer resolveu jogar seu xadrez, e assim indicou Alexandre de Moraes para a vaga aberta no STF com a morte de Teori Zavascki. Então ministro da Justiça, Moraes aceitou a gentil oferta do mandatário, embora tivesse anotado em sua tese de doutorado que “ninguém em cargo de confiança do presidente da República poderia ser indicado ao Supremo Tribunal Federal, para evitar “gratidão política”.
Atualmente, com exceção do próprio Moraes, Gilmar
Mendes — herança maldita de FHC —, Nunes Marques e André
Mendonça — indicados por Bolsonaro —, os
supremos togados foram todos indicados por Lula ou por Dilma.
A escolha de um ministro supremo não é uma
decisão qualquer, como escolher uma gravata. Mas Bolsonaro indicou o
desembargador piauiense Nunes Marques por "afinidade". "Não
vou botar uma pessoa só por causa do currículo", disse o psicopata do Planalto sobre o currículo anabolizado do apadrinhado, dando de ombros
para o fato de notável saber jurídico e reputação ilibada serem
requisitos constitucionais para alguém ocupar uma cadeira
no Supremo.
Bolsonaro preferiu priorizar a tubaína que ele e o escolhido haviam tomado juntos e irrelevar o fato de os títulos de "pós-doutor" em Direito Constitucional pela Universidade de Messina, na Itália, e de "postgrado" em contratação pública pela Universidad de La Coruña, na Espanha, serem respectivamente um ciclo um ciclo de palestras e um curso de extensão de cinco dias.
O eminente desembargador também não viu problema algum em seu currículo. Faz sentido. Pode-se desconfiar de uma verdade, mas a mentira, como tal, será sempre rigorosamente verdadeira. Melhor não discutir com especialistas nem tampouco criticar o presidente — que, embora dispusesse de "uns dez bons currículos", preferiu selecionar alguém com quem tomou muita tubaína. E daí?
Há algumas esquisitices em nossa Suprema Corte — de ministro reprovado em concurso para juiz a magistrado que mantém negócio privado. Com o ingresso de Nunes Marques, a supremacia do tribunal foi tisnada pelo currículo-tubaína do substituto do libertador de traficantes. Isso sem falar na mais recente nomeação.
Fazia tempo que Bolsonaro prometera um ministro terrivelmente
evangélico: "Imaginemos
as sessões daquele Supremo Tribunal Federal começarem com uma oração". Diferentemente
de outras promessas — como acabar com a reeleição, apoiar a Lava-Jato e não se
curvar à velha política do “toma-lá-dá-cá”, essa, pelo menos, sua alteza cumpriu. E a aprovação do pastor presbiteriano pelo Senado foi comemorada no Planalto com pulinhos, gritinhos de “Aleluia”, “Glória a Deus” e frases ininteligíveis
— cortesia da primeira-dama, que, a exemplo do marido, não faz a menor ideia do que seja “liturgia do
cargo”.
Como dizia Tom Jobim, o Brasil não é para amadores. Mas agora isto aqui está ficando esquisito até para os mais devotados profissionais.