Em meio à paralisação dos caminhoneiros, professores do ensino
básico de 34 escolas da rede particular da cidade de São Paulo suspenderam as
aulas na última quarta-feira (23), em protesto contra a redução do recesso de
final de ano, o cancelamento do direito a bolsas de estudo para filhos e uma
série de outros benefícios. Não vou entrar no mérito, mas apenas ponderar
que se o objetivo era pressionar o sindicato patronal ou os
estabelecimentos de ensino, a estratégia não funcionou. Seja porque a paralisação prejudicou
apenas os alunos ― e, indiretamente, seus pais, que pagam caras mensalidades
para que as crianças tenham aulas ―, seja por não ter sensibilizado a população
em geral, que anda de saco cheio dessas coisas. E não sem razão.
Mesmo após colocar o governo de quatro, os representantes
dos caminhoneiros ficaram de “discutir se aceitavam ou não a proposta”. Nesse entretempo, a absurda paralisação segue causando inestimáveis prejuízos, sobretudo ao impedir produtos perecíveis de chegar ao destino, remédios a hospitais e
farmácias e combustíveis aos postos. Ainda que esse imbróglio termine neste final de
semana, levará dias até que o abastecimento, o transporte e as demais rotinas
voltem ao normal no país.
Claro que as consequências seriam menos dramáticas se
quem queria trabalhar não tivesse sido impedido pelos bloqueios em estradas,
marginais, portos e outros pontos estratégicos, mas até aí morreu o Neves. Fato é que, além do prejuízo bilionário aos contribuintes, o único resultado palpável do
acordo firmado na última quinta-feira foi expor a fragilidade de um governo
mambembe, que mal se sustenta nas pernas: o “day after” amanheceu sob o comando da greve, alimentando o temor de
que a situação se agravasse se o presidente e o Planalto precisasse ceder ainda mais. Só que Temer já
deu os anéis; agora, só lhe restam os dedos.
Salta aos olhos a falta de entrosamento entre os presidentes
da República, do Senado e da Câmara. Temer
ignorou a crise e se escafedeu para o Rio ― a pretexto de comparecer a uma
cerimônia qualquer ―, depois de encarregar o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, das negociações com os caminhoneiros. Eunício
Oliveira deixou Brasília na tarde da quinta-feira e só voltou porque sua
viagem pegou mal ― e a mídia caiu de pau. Rodrigo
Maia tentou capitalizar, mas mostrou que não é bom de conta ao aprovar uma
desoneração que geraria um rombo de R$
10 bilhões. E a Abin, por sua vez,
só se apercebeu das dimensões da greve quando era tarde demais.
Ontem, como
solução in extremis, Temer decidiu recorrer às Forças Armadas para
desobstruir as estradas ― e convenhamos: já estava mais que na hora. A medida parece ter surtido efeito, embora alguns bloqueios persistam teimosamente, na manhã deste sábado, em diversas rodoviária do país. Aguarda-se uma coletiva de imprensa para logo depois da reunião desta manhã, no Palácio do Planalto (como foi dito na coletiva de ontem, serão duas reuniões diárias para avaliar a situação do movimento; uma logo pela manhã e outra no final da tarde).
Observação: Se alguém tem algo a comemorar, esse alguém é o
ex-presidente Lula. Inconformado com
o fato de sua vassala Gleisi Hoffmann ―
a quem escolheu para substituir Ruy
Falcão na presidência nacional do PT
― não ter conseguido “parar o Brasil”
em protesto contra sua prisão, agora lhe serve de consolo o fato de os
caminhoneiros terem obtido sucesso, mesmo que os motivos do protesto sejam bem
outros.
Vale lembrar que greve é como sexo: quando se obriga alguém a fazer, é porque alguma coisa está errada.
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