Se a prisão do
molusco eneadáctilo roubou a cena no final de semana passado, desta vez foi a
notícia do bombardeio à Síria que ocupou as primeiras páginas dos principais
jornais e foi trombeteada pela mídia falada e televisiva. No entanto, a política
internacional não é a minha praia, de modo que me recolho à minha insignificância
e deixo esse tema para quem entende do assunto. Sigamos adiante.
Desde que Lula
foi encarcerado, cresce o número de “apoiadores” que buscam livrá-lo da cadeia
ou, na impossibilidade, visitá-lo para prestar vassalagem. Na última terça-feira,
a juíza da 12ª Vara Federal de Curitiba negou o pedido de visita do
senador Roberto Requião e mais 15 puxa-sacos ― dentre os quais os
petralhas Lindbergh Faria e Gleisi Hoffmann e os governadores dos
estados do Acre, Amapá, Bahia, Ceará, Maranhão,
Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe
(basta uma rápida pesquisa no Google para descobrir seus nomes e
respectivos partidos). Mas não é só.
No dia seguinte à decisão da magistrada,
a Comissão dos Direitos Humanos do Senado (?!) aprovou um pedido da senadora Vanessa Grazziotin para que seus
membros verifiquem as “condições de encarceramento” da sede da PF em Curitiba, onde
o condenado foi hospedado compulsoriamente. Mas é possível que isso nem venha a
ocorrer, pois o Sindicato dos Delegados
da PF do Paraná solicitou a transferência do prisioneiro, alegando que sua
presença exige que agentes cumpram tarefas fora de suas atribuições, dificulta
o atendimento ao público e causa insegurança devido à “vigília permanente” dos militontos.
Paralelamente, a defesa do demiurgo de Garanhuns tenta mais
uma chicana para reverter a prisão de seu cliente ― vale lembrar que, no próprio
dia de sua prisão, Lula teve um habeas corpus pelo ministro Edson Fachin. A alegação desse agravo regimental é que os chamados “embargos dos embargos” (último recurso
possível na esfera do TRF-4) ainda
não foram julgados, o que tornaria a prisão do molusco ilegal. Caso Fachin mantenha sua posição, a defesa
pede que o recurso seja analisado pela 2ª
Turma do STF (leia-se Fachin, Mendes, Lewandowski, Toffoli e Celso de Mello), e em caso de nova recusa,
requer a concessão de um habeas corpus “ex officio” (já vimos do que se trata nas postagens sobre o
julgamento do HC de Palocci).
Até as pedras portuguesas que revestem o piso do Supremo sabem que os tais “embargos dos embargos” são meramente
protelatórios e serão rejeitados pelos desembargadores da 8ª Turma na próxima quarta-feira, mas os honorários os rábulas cobram
honorários vultosos e, portanto, precisam mostrar serviço.
Para concluir, algumas linhas acerca de um “efeito colateral”
da prisão de Lula no país da corrupção
― onde quase metade dos parlamentares é composta de investigados, denunciados e
réus na Justiça penal, e cujo chefe do Executivo só continua no cargo porque
(1º) o amigão Gilmar Mendes manipulou
o julgamento da cassação da chapa Dilma-
Temer no TSE; (2º) porque Temer comprou o apoio das marafonas da
Câmara para se livrar das denúncias apresentadas contra si pelo então procurador-geral
Rodrigo Janot.
Fato é que PT e Planalto vêm agindo em conjunto para
barrar a prisão após condenação em segunda instância. A ideia é pressionar o
ministro Alexandre de Moraes ― que
foi nomeado por Temer e que já se
manifestou favoravelmente à execução da pena após a segunda instância ―, já que
a ministra Rosa Weber frustrou as
expectativas dessa caterva.
Na última quarta-feira, petistas próximos a Lula (como Luiz Marinho, pré-candidato ao governo paulista, e o ex-ministro Gilberto Carvalho) se reuniram com Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes para falar sobre as ações
que tratam do tema no STF. Um dia
antes, Gilmar, que virou bandeira e
agora é favorável à prisão somente após o trânsito em julgado, almoçou com Temer e sugeriu a nomeação de Moraes para o Ministério da Defesa, de
maneira a tirá-lo da Corte.
Comenta-se também que Temer
fez um aceno ao PT quando seus
amigos e ex-assessores José Yunes e João Baptista Lima Filho foram presos:
“No Brasil do século XXI, alguns querem
impedir candidatura. Busca-se impedir ao povo a livre escolha. Reinterpreta-se
a Constituição, as leis e os decretos ao sabor do momento. Vê-se crimes em atos
de absoluto respeito às leis e total obediência aos princípios democráticos”,
diz a nota do presidente “campeão de audiência”, que busca numa improvável reeleição
a solução para manter sua prerrogativa de foro. Dias antes, o próprio Lula elogiou a postura de Temer durante a crise provocada pelos
áudios gravados por Joesley Batista,
afirmando que foi “uma coisa sórdida”,
mas que o presidente “soube se impor”.
Como se vê, a desgraça une, e, na política, o inimigo de
hoje pode ser o aliado de amanhã. Triste Brasil.
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