Para concluir esta sequência, resta dizer que, embora não
fosse exatamente uma sumidade, Itamar
Franco estava no lugar certo na hora certa e soube se cercar de pessoas
capacitadas. Assim, Fernando Henrique
Cardoso, à frente do ministério da Economia e assessorado por Edmar Bacha, Pérsio Arida, André Lara
Resende, Gustavo Franco e Pedro Malan, instituiu o real como moeda nacional ― em 1º de
julho de 1994 ―, após ajustar as contas públicas mediante um corte no Orçamento
e de dolarizar (e desindexar) a Economia com a implantação da URV. Sem anúncios de surpresa ou
congelamentos de preços e salários, o Plano
Real entrou para a história como o episódio que acabou com a inflação e
inaugurou um novo ciclo de desenvolvimento econômico.
Quando a nova moeda passou a valer, sua paridade com o dólar
era de 1 para 1, e a partir daí a abertura comercial e a manutenção do câmbio
valorizado mantiveram a inflação sob controle. Como efeito colateral, as
importações foram muito estimuladas e impediram que as empresas nacionais
aumentassem seus preços, já que isso tornaria a concorrência impossível. O
Plano sofreu com crises posteriores, especialmente externas, mas o fato é que a
inflação se manteve dentro de níveis aceitáveis. Em 1999, o Banco Central criou
o regime de metas para a inflação, a Selic
passou a ser a âncora monetária e o câmbio, flutuante. Em alguns momentos,
temeu-se a volta da inflação, mas a estabilidade da moeda resistiu e o país
nunca mais passou perto do índice hiperinflacionário de 2708%, alcançado em 1993.
Itamar foi
sucedido por Fernando Henrique ― o melhor presidente que este país
conheceu em sua história recente, a despeito de, em 1997, mediante uma emenda
constitucional no mínimo controversa (*), ter
ressuscitado a famigerada reeleição para cargos executivos
(como compensação à redução do mandato presidencial de 5 para 4 anos). Com
isso, após derrotar uma dúzia de postulantes e vencer Lula no
segundo turno, o tucano ganhou mais 4 anos no Planalto, ao longo dos quais
protagonizou um governo sofrível, dando margem à vitória da esquerda em 2002 e
aos funestos 13 anos e lá vai fumaça de lulopetismo ― encerrados meses atrás
com o impeachment de Dilma e a ascensão de Michel
Temer à presidência da Banânia.
Voltando ao saudosismo,
muitos dos que reprovam o governo Temer
dizem que o país estava melhor nos tempos de Lula e Dilma. Na
avaliação desses desmiolados, bastou o peemedebista assumir para a farra
começar, como se a dupla de imprestáveis que o precedeu fosse austera e pouco
afeita a gastos desnecessários (Aerolulas,
luxuosas suítes no Copa e em hotéis
estrelados do mundo inteiro, bolsas Hermès,
cabeleireiros Kamura, e por aí
afora). Para eles, nada disso importa; o que importa é o “golpista” vir
torrando horrores em sorvete e creme de
avelãs (!?)
Segundo foi divulgado recentemente pela imprensa, uma
licitação para abastecer o avião presidencial previa gastos R$ 1,7 milhão com sorvetes de marcas
famosas, sucos, pães especiais, refeições com direito a entrada, prato
principal e sobremesas, cápsulas de café, sanduíches, e outros acepipes. Em
nota, a Presidência afirmou que Temer
tomou conhecimento da licitação assim que voltou de um compromisso em Maceió e
determinou seu pronto cancelamento, bem como a redução do custo desse serviço
em relação ao que vinha sendo praticado anteriormente, valendo o mesmo para
todas as aeronaves que servem ao Governo Federal.
Observação: De acordo com o O GLOBO, só com sorvete
Premium da Häagen Dazs, o
governo gastaria R$ 7.500 (500 potes
de 100 gramas). Seriam mais R$ 21 mil
em 1.500 litros de água de coco, outros R$
18.3 mil em 5.000 cápsulas de café expresso, e mais de R$ 96 mil em uma tonelada e meia de torta de chocolate. Haveria
ainda sanduíches de mortadela a R$ 16,45
a unidade, dos quais 500 já teriam sido encomendados pela Presidência. Também
na lista, sanduíches de atum e do tipo misto, com queijo e presunto, além de sal rosa do Himalaia. Almoços e
jantares que seriam servidos no avião poderiam custar até R$ 167 cada, com entrada, prato principal e sobremesa. O cardápio
incluía medalhões de filé, cordeiro assado ou supremo de frango grelhado, com
acompanhamentos. Cada café da manhã chegaria a até R$ 96 e teria iogurte tipo grego, frutas da estação em cubos, frios
fatiados, pães e um prato principal (omelete, quiche, beirute ou outros). Havia
também itens da culinária árabe, como quibe e esfihas, além de empadas e outras
delícias incluídas no vasto cardápio que seria oferecido a Temer e seus acompanhantes nas viagens a bordo do avião
presidencial.
Aos saudosistas e defensores dos imprestáveis presidentes
petralhas, vale relembrar que desde 2012 foram firmados pelo menos 9 contratos
por órgãos ligados ao Palácio do Planalto, no valor total de mais de R$ 5 milhões para refeições a bordo. Só
em 2014 e 2015, o governo repassou mais de R$
1,5 milhão para empresas de catering
(que operam com fornecimento de comida preparada e serviços correlatos). Em
2013, foram R$ 2,5 milhões, e em
2012, mais R$ 2 milhões. Entre
os alimentos requisitados, itens caros como sorvetes de grife, camarão, salmão e até caviar
faziam parte das refeições nos aviões presidenciais, na gestão de Dilma Rousseff. Em anos anteriores, no
contrato com a Presidência da República, a Coca-Cola em lata saía a R$
3,40, enquanto nos supermercados custava em torno de R$ 1,50. No ano passado, pela cotação do Planalto, cada pote de Nutella custava a R$ 34, enquanto no mercado saía por
“apenas” R$ 21(**).
Mas a esquerda festiva tudo pode, afinal são gente do povo,
são os pais dos pobres, lutam por causas nobres. O penta-réu penal, garoto-propaganda de empreiteiras e
cervejaria corruptas, a alma mais
honesta do país, gastou, apenas nos últimos dois meses deste ano, mais de R$ 6 mil em gasolina. E tudo em
um único posto de São Bernardo do Campo!
(Para
quem não sabe, continuamos pagando as despesas reais e fictícias desse
safado). Façam as contas e vejam o quanto o molusco abjeto precisaria rodar ― com
o carro que também bancamos ― para torrar toda esta grana com combustível. E a
presidanta mais incompetenta e coniventa
com a corrupção da nossa história continua torrando nossa grana com viagens,
seguranças, alimentação, etc. Só que a imprensa quer saber é do maldito Häagen-Dazs de Temer. Essa é a causa dos nossos problemas. Antes era de graça, né?
(*) Voltarei a esse assunto numa próxima
postagem.