Na última sexta-feira, Bolsonaro
quase exonerou Ricardo Vélez, cujas trapalhadas recorrentes são a prova provada de
que o ministro da Educação não tem a menor vocação para educador nem para
gestor. Faltou o quase, mas acho que desta semana não passa. Vélez já vai tarde, e deve levar a tiracolo
o malfadado horário de verão. Bem que poderia levar também os ministros do Turismo, das Relações Exteriores e da Mulher, Família e Direitos Humanos. Aliás, o motivo pelo qual precisamos de um ministério da Mulher, Família e Direitos humanos é uma das muitas coisas difíceis de entender neste governo.
Por falar em coisas difíceis de entender, Temer, quando ainda articulava a deposição da titular do cargo que almejava ocupar, prometeu um ministério de notáveis, mas nomeou uma notável agremiação de enrolados na Justiça. Surpreendentemente — pelo menos à luz dos discursos de campanha de Bolsonaro —, o atual ministério não fica muito atrás. Senão vejamos.
Atualização: Bolsonaro
confirmou nesta manhã (pelo Twitter, como de costume) a demissão de Ricardo Vélez. Assume a pasta o economista Abraham Weintraub, que tem
boas relações com membros da equipe governamental e é próximo ao ministro-chefe
da Casa Civil, Onyx Lorenzoni de quem era secretário-executivo.
Por falar em coisas difíceis de entender, Temer, quando ainda articulava a deposição da titular do cargo que almejava ocupar, prometeu um ministério de notáveis, mas nomeou uma notável agremiação de enrolados na Justiça. Surpreendentemente — pelo menos à luz dos discursos de campanha de Bolsonaro —, o atual ministério não fica muito atrás. Senão vejamos.
O ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, admitiu a prática de caixa 2; o ministro do Meio
Ambiente, Ricardo Salles, é réu por
improbidade administrativa e alvo de uma acusação por dano ao Erário (por ter
ordenado a retirada de um busto do guerrilheiro Carlos Lamarca do parque
estadual do Rio Turvo, na cidade de Cajati); a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, é investigada por
suposto favorecimento à JBS quando era
secretária do agronegócio no Mato Grosso do Sul; a proselitista religiosa Damares Alves (a tal ministra da Família, Mulher de Direitos Humanos) é alvo de duas investigações do MPF por discriminação contra os povos indígenas. Esses são apenas
alguns exemplos, pois pelo menos 9 dos 22 ministros (aí incluídos Marcos Pontes, General Heleno e o próprio Paulo
Guedes) são réus ou investigados na Justiça. Durma-se com um barulho desses.
Michel Temer é tetra-réu (duas vezes na JF do RJ, uma na de SP e outra na do DF).
Pelo andar da carruagem, o emedebista não demora a ultrapassar Lula — que carrega na lomba uma dezena
de ações criminais e já foi condenado em duas delas —, podendo mesmo alcançar Sérgio Cabral — que responde a cerca de
cerca de 40 processos e já foi apenado com quase 200 anos de prisão. A exemplo
do criador e mentor da calamidade de quem foi vice por 5 anos e a quem sucedeu
na presidência desta banânia, o vampiro emedebista resolveu posar de vítima de perseguição. É certo que ele ainda não foi julgado e muito menos condenado, mas qualquer um que tenha um par de neurônios minimamente
funcionais não precisa esfregar o nariz na merda para saber que ela fede.
O desembargador responsável por relaxar a prisão preventiva
de Temer e seus comparsas (e que, na
brilhante definição de J.R. Guzzo, é
um especialista em libertar ladrões do erário que ficou sete anos afastado da
magistratura por acusações de praticar estelionato) não viu risco algum de os
suspeitos tentarem destruir provas ou atrapalhar as investigações. Curiosamente,
o empresário Vanderlei de Natale,
amigo do ex-presidente e alvo da Operação Descontaminação, tentou
ocultar sob o sofá, no dia de sua prisão, um computador do tipo notebook. O
coronel João Batista Lima Filho, outro
amigo e suposto parceiro de maracutaias desde os anos 1980,
lançou mão da mesma estratégia para tentar despistar os investigadores ao
ocultar dois smartphones sob a almofada do sofá.
Todos os ex-governadores do Rio, eleitos pelo voto popular
desde a redemocratização, estão ou estiveram presos. Dentre eles, Sérgio Cabral é o mais notório, haja vista a quantidade assombrosa de
processos e o tamanho da pena a que foi sentenciado nos que já foram julgados. Mas Cabral é um ponto fora da curva. Depois de trocar o causídico
responsável por sua defesa, o ex-governador assumiu boa parte dos
crimes que lhe são atribuídos e vem colaborando com a Justiça — a mim pouco
importa se o faz visando aliviar o fardo condenatório com um acordo de delação
premiada. Quanto aos demais políticos e empresários investigados, denunciados
ou réus, com a possível exceção do ex-ministro petista Antonio Palocci, 110% se dizem inocentes e consideram-se injustiçados. Haja óleo de peroba para lustrar tanta
cara-de-pau!
Para fechar com chave de ouro: A revista Veja desta semana publicou na sessão Radar que generais criticam a “ditadura da toga” e conclamam a sociedade civil a recompor a ordem
para evitar que “sangue corra pelas ruas”. Voltada a membros das Forças
Armadas, a revista do Clube Militar
publicou uma série de críticas ao STF.
Uma delas (que você pode ler na figura que ilustra esta postagem), assinada pelo
general Eduardo José Barbosa,
presidente do Clube Militar,
questiona o ministro Dias Toffoli
por ter determinado a abertura de inquérito para investigar ameaças ao Supremo e aos familiares dos ministros. Segundo o general, somente em ditaduras acontecem investigações deste tipo.
Outro
artigo, este assinado pelo também general Luiz
Eduardo Rocha Paiva, diz que “a nação tem que se salvar a si mesma, sem a
tutela das Forças Armadas, que só
tomarão a iniciativa diante de um quadro de grave violência, caos social,
falência e perda de autoridade dos Poderes Constitucionais”. E prossegue: “Ou
seja, em um cenário de anomia a colocar em risco a paz social, a unidade
política e a soberania do Estado”. O general encerra o artigo com a
seguinte frase: “Não querem que o sangue corra pelas ruas? Então mãos à obra”. Para bom entendedor...
A lua-de-mel de Bolsonaro termina de forma melancólica. Nos primeiros 100 dias de governo, o presidente... Bem, é melhor deixar esse assunto para a próxima postagem.
A lua-de-mel de Bolsonaro termina de forma melancólica. Nos primeiros 100 dias de governo, o presidente... Bem, é melhor deixar esse assunto para a próxima postagem.