Jair Bolsonaro atribui
sua vitória a Carluxo, que a credita
a Olavo de Carvalho, quando na verdade
ela se deveu a uma conjunção de fatores, dentre os quais o antipetismo, a
facada de Adélio, a indignação
popular contra o establishment e o
apoio dos evangélicos, apenas para ficar nos principais.
A questão é que o capitão foi empossado há 16 semanas e ainda
não começou a governar de fato — ao contrário do diligente príncipe herdeiro 02,
que “vem se matando literalmente” para fazer Brasil dar certo, com milhares de tuítes
disparados a partir da conta do pai. Com seu
poderoso iPhone nas mãos, o pitbull
palaciano provocou a demissão de Gustavo
Bebianno, semeou a cizânia entre o Planalto e a presidência da Câmara,
atacou duramente general Hamilton Mourão
e, mais recentemente, passou a bater também no general Santos Cruz — dizem que por influência do guru do clã dos Bolsonaro, que puxa os cordéis lá da Virgínia (EUA) enquanto chupa
alegremente seu cachimbo (não me pergunte o que ele coloca no fornilho).
Em março, Santos Cruz
chamou o ex-astrólogo e autodeclarado filósofo de “desequilibrado” por criticar
o vice-presidente e dizer que os militares do governo têm “mentalidade
golpista”. Em resposta, Olavo disse
que o general “simplesmente não presta.” Em abril, zero dois chancelou a
indicação do empresário Fabio Wajngarten
para o comando da Secretaria de Comunicação, derrubando Floriano Amorim, com quem Santos
Cruz mantinha um bom relacionamento. A troca produziu — e ainda produz —
faísca no setor.
O ex-comandante do Exército e assessor especial do Gabinete Institucional
de Presidência, general Eduardo Villas Bôas,
saiu
em defesa do colega de Santos Cruz depois de Santos Cruz sido chamado de “merda”
por Olavo de Carvalho, para quem "ninguém votou para ter um governo de generais tucanos". No meio do tiroteio, Bolsonaro, pusilânime, dá uma no cravo
e outra na ferradura mas precisa mostrar sem rodeios com qual dos blocos se
alinha. Ontem, em São Paulo, o filho Eduardo reputou “normais” as críticas feitas a militares aliados do presidente da República por ele próprio, pelo irmão Carluxo e, sobretudo, por Olavo de Carvalho.
Segundo o zero três, é natural que quem não esteja alinhado com o papai presidente fique sujeito a qualquer tipo de ataque. Também adepto à prática do “tiro ao general”, ele mirava em Mourão e em Santos Cruz, mas acertou Eduardo Villas Bôas — torpemente rebaixado pelo guru presidencial a “um doente numa cadeira de rodas” — e, por tabela, Augusto Heleno. Segundo Augusto Nunes, Villas Bôas teve uma participação fundamental na caminhada que o levou Bolsonaro ao Planalto, e ambos dividem segredos de tão grosso calibre que o capitão prefere levá-los para o túmulo. Por tudo isso e muito mais, o presidente precisa decidir se está com os atacantes ou com os agredidos.
Militares com cargos no primeiro escalão do governo disseram ao Estadão que estão apreensivos com a “falta de pulso” do chefe do Executivo para enquadrar seus filhos e seu guru, que a situação chegou “no limite” e que eles só não deixam o governo com receio do que pode acontecer no País (clique aqui para ler a matéria completa). Bolsonaro & Filhos depositam no "professor Olavo" um poder que, na prática, ele nunca teve, mas que lhe infla o ego e reforça a narrativa de constante combate contra “terríveis forças do mal”. Essa mentalidade tribal atende aos interesses de quem vive em campanha, não de quem precisa governar um país. O PT foi derrotado; Bolsonaro está no poder. Agora, a prioridade é outra, a pauta é outra. Mas os filhos do presidente parecem não se dar conta disso, e o próprio presidente às vezes demonstra o mesmo.
Segundo o zero três, é natural que quem não esteja alinhado com o papai presidente fique sujeito a qualquer tipo de ataque. Também adepto à prática do “tiro ao general”, ele mirava em Mourão e em Santos Cruz, mas acertou Eduardo Villas Bôas — torpemente rebaixado pelo guru presidencial a “um doente numa cadeira de rodas” — e, por tabela, Augusto Heleno. Segundo Augusto Nunes, Villas Bôas teve uma participação fundamental na caminhada que o levou Bolsonaro ao Planalto, e ambos dividem segredos de tão grosso calibre que o capitão prefere levá-los para o túmulo. Por tudo isso e muito mais, o presidente precisa decidir se está com os atacantes ou com os agredidos.
Militares com cargos no primeiro escalão do governo disseram ao Estadão que estão apreensivos com a “falta de pulso” do chefe do Executivo para enquadrar seus filhos e seu guru, que a situação chegou “no limite” e que eles só não deixam o governo com receio do que pode acontecer no País (clique aqui para ler a matéria completa). Bolsonaro & Filhos depositam no "professor Olavo" um poder que, na prática, ele nunca teve, mas que lhe infla o ego e reforça a narrativa de constante combate contra “terríveis forças do mal”. Essa mentalidade tribal atende aos interesses de quem vive em campanha, não de quem precisa governar um país. O PT foi derrotado; Bolsonaro está no poder. Agora, a prioridade é outra, a pauta é outra. Mas os filhos do presidente parecem não se dar conta disso, e o próprio presidente às vezes demonstra o mesmo.
Bolsonaro vem tentando
minimizar as rusgas com o vice-presidente — visto pela prole real como potencial
usurpador, embora o que ele tem feito seja apenas preencher as lacunas deixadas
em aberto pelo menos preparado titular (vale lembrar que o poder abomina o vácuo). O clima é de bagunça geral, graças,
sobretudo, aos pimpolhos de ouro, com destaque para o 02, que é o mais incisivo
nos ataques. Enquanto isso — e talvez até por isso — a reforma previdenciária
patina, a proposta anticrime e anticorrupção não avança (e como poderia avançar
se não existe articulação política e o Congresso está infestado de corruptos?)
e os índices de aprovação da atual gestão despencam, já que a população precisa
de emprego, não de assistir impotente a templários travando uma batalha no Twitter. Isso me faz lembrar de um
velho adágio dos marinheiros, segundo o qual “um comandante pilota o navio, mas dois comandantes afundam o navio”.
Observação: O alto comando militar do governo fechou um acordo nesta terça-feira, 7, em almoço com o presidente, de não responder mais a Olavo de Carvalho. No entendimento dos participantes do encontro, a nota do ex-comandante do Exército Eduardo Villas Bôasfoi suficiente para responder às provocações do escritor. E se o guru do presidente faz muito barulho nas redes sociais, não chega a afetar na prática o andamento do governo.
Observação: O alto comando militar do governo fechou um acordo nesta terça-feira, 7, em almoço com o presidente, de não responder mais a Olavo de Carvalho. No entendimento dos participantes do encontro, a nota do ex-comandante do Exército Eduardo Villas Bôas
A insatisfação com a postura dos filhos do presidente é
crescente nos bastidores da direita, entre liberais e conservadores. Cada vez
mais seus apoiadores se resumem a bolsomínions
— seleta confraria de baba-ovos que agem tal e qual os militantes de esquerda,
só que com o sinal trocado. Há até quem chegue a dizer que seria melhor termos o general Mourão como presidente, o que
chega a ser espantoso, sobretudo porque muitos brasileiros votaram em Bolsonaro
porque não queriam a volta da esquerda ao poder, a despeito do receio de, em
elegendo o capitão, estariam abrindo as portas para a volta da ditadura
militar. Curiosamente, é justamente o núcleo militar que menos problemas tem
criado para o presidente. Coisas do Brasil, que há décadas avança aos trancos e
barrancos, não graças a seus governantes, mas apesar deles.
Segundo Dora Kramer,
este não é o primeiro e talvez não seja o último ignorante a ocupar a
Presidência. O atual mandatário tampouco pode ser visto como pioneiro no
exercício insolente da incultura. O que o diferencia de antecessores e de
possíveis sucessores é a tendência a fazer as coisas para só depois ver como é
que ficam. A questão é que o problema, com as consequências, é que elas vêm depois.
Bolsonaro parece não saber como as
coisas funcionam. Não sabia, por exemplo, que os árabes, donos de negócios
bilionários com o Brasil, não podiam ser ofendidos impunemente. Ou que dos
chineses depende boa parte do equilíbrio de nossa balança comercial. Pela
cabeça do presidente não passava a evidência de que universidades fossem
autônomas para decidir sobre a continuidade dos respectivos cursos, tampouco
havia no chip dele a existência de uma lei que afasta as empresas estatais da
alçada do Planalto.
Jair Bolsonaro,
na condição de deputado do baixo clero, não sabia de muita coisa. Normal. Só
que Jair Bolsonaro, como presidente
da República, precisa saber de tudo. Entre outros motivos para não acabar como
seu antípoda que alegadamente não sabia de nada. De tanto errar, provocar, e
com isso abrir espaço para as questões das quais discorda, vai acabar mostrando
e provando pela via do contraponto que o Brasil é um país mais plural, mais
adepto à diversidade, mais moderno do que aquele que acredita governar. Por
ignorância, arrisca surpreender-se.