Temer invocou o direito constitucional de ficar calado durante o depoimento desta sexta-feira e, como eu havia previsto (vide postagem anterior), o desembargador Ivan Athié, conhecido por sua postura garantista, preferiu submeter seu pedido de habeas corpus à 1ª Turma do TRF-2 — que costuma apoiar as
decisões do juiz Marcelo Bretas. O recurso deve ser apreciado somente na próxima quarta-feira; até lá, se o imprevisto não tiver voto decisivo na assembléia dos acontecimentos, o emedebista continuará hospedado na sala de 20
metros quadrados, com banheiro privativo, janela, ar-condicionado, sofá, mesa de reunião e frigobar, que era usada até então pelo corregedor da PF do Rio e recebeu uma cama e uma TV para acomodar o visitante ilustre.
Segundo Carlos Marun, que visitou o ex-chefe na noite de quinta-feira (o cara é corajoso, pois poderia ter ido buscar lã e sair tosquiado — ou então não sair, mas isso é outra conversa), o "presidente" vem recebendo tratamento digno e respeitoso, mas está acabrunhado e indignado. Para o ex-pitbull palaciano, Temer é uma vítima inocente de uma “queda de braço entre o STF e a Lava-Jato”. Pois é. Lula também é inocente. E eu sou o Coelho da Páscoa.
Fato é que prisão de mais um ex-presidente caiu como uma bomba entre os políticos e foi um prato cheio para a mídia, que mal noticiou a viagem de Bolsonaro ao Chile. Durante a viagem anterior (aos EUA), os jornalistas permaneceram atentos a cada flatulência presidencial, sempre a postos para pintar com cores fortes aquelas cujo aroma mais lhes agradasse. Mas convenhamos que nosso presidente parece ter uma compulsão incontrolável para dar a cara a tapa.
Defender o folclórico muro que Trump insiste em erguer na fronteira com o México, por exemplo, foi lamentável. Tudo bem que em casa alheia não se critica o anfitrião, mas em se tratando de Bolsonaro, que é fã declarado de Trump, os salamaleques excederam em muito a simples diplomacia. E dizer em alto e bom som que "a maior parte dos imigrantes que se mudam para os Estados Unidos tem más intenções" foi (mais) uma péssima escolha de palavras — tanto é que o capitão se retratou na entrevista que concedeu logo depois de deixar a Casa Branca.
Atualização: No STF, Marco Aurélio Mello rejeitou liminarmente (sem analisar o mérito) o pedido de habeas corpus de Moreira Franco, já que fazê-lo,
segundo o ministro, implicaria em "queima de etapas", pois há no
momento um HC pendente no TRF-2. Restou igualmente prejudicada moção da defesa para o caso ser remetido à Justiça
Eleitoral, eis que feito num inquérito do qual Moreira Franco não é parte. Caso
o ministro aceitasse a alegação de que a competência é da Justiça Eleitoral e
suspendesse as decisões de Bretas, a medida beneficiaria igualmente o ex-presidente Michel Temer.
Segundo Carlos Marun, que visitou o ex-chefe na noite de quinta-feira (o cara é corajoso, pois poderia ter ido buscar lã e sair tosquiado — ou então não sair, mas isso é outra conversa), o "presidente" vem recebendo tratamento digno e respeitoso, mas está acabrunhado e indignado. Para o ex-pitbull palaciano, Temer é uma vítima inocente de uma “queda de braço entre o STF e a Lava-Jato”. Pois é. Lula também é inocente. E eu sou o Coelho da Páscoa.
Fato é que prisão de mais um ex-presidente caiu como uma bomba entre os políticos e foi um prato cheio para a mídia, que mal noticiou a viagem de Bolsonaro ao Chile. Durante a viagem anterior (aos EUA), os jornalistas permaneceram atentos a cada flatulência presidencial, sempre a postos para pintar com cores fortes aquelas cujo aroma mais lhes agradasse. Mas convenhamos que nosso presidente parece ter uma compulsão incontrolável para dar a cara a tapa.
Defender o folclórico muro que Trump insiste em erguer na fronteira com o México, por exemplo, foi lamentável. Tudo bem que em casa alheia não se critica o anfitrião, mas em se tratando de Bolsonaro, que é fã declarado de Trump, os salamaleques excederam em muito a simples diplomacia. E dizer em alto e bom som que "a maior parte dos imigrantes que se mudam para os Estados Unidos tem más intenções" foi (mais) uma péssima escolha de palavras — tanto é que o capitão se retratou na entrevista que concedeu logo depois de deixar a Casa Branca.
Falando em diplomacia, a promoção informal de Eduardo Bolsonaro (que, a exemplo do pai, é admirador incondicional do homem da peruca laranja) a “chanceler
de fato” no encontro privado entre
os presidentes de cá e de lá levou o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, a dar um piti em público.
A cena de chilique, segundo a Folha,
ocorreu diante de vários ministros e refletiu
a humilhação sofrida pelo “chanceler de direito”. Vai ver que, para Jair Bolsonaro, “relações exteriores” têm a
ver com “ficar de fora”. Na avaliação de Josias
de Souza, a reclassificação funcional de Araújo — que já se sabia um chanceler atípico, dada a influência do
guru Olavo de Carvalho, seu padrinho
e ideólogo — fez do ministro não apenas um subministro, mas o sub do sub do sub.
Segundo O Antagonista,
militares da ativa resolveram mandar recados a Bolsonaro. Diz Igor Gielow
em sua coluna: “Não falo aqui do acordo de salvaguardas para o uso de
Alcântara, uma boa medida há muito esperada. É particularmente ridículo ver a
esquerda chiar como o Brasil fosse sediar uma base americana de mísseis
intercontinentais e esquecer o danoso acordo promovido no governo Lula com a Ucrânia, que só torrou
dinheiro. Mas as conversinhas de coxia, com tons de segredo, sobre o que fazer
com a ditadura de Nicolás Maduro
são de especial preocupação (para ler a íntegra da publicação, clique aqui).
Falando na ala verde-oliva, Dora Kramer faz algumas considerações interessantes. Confira a
seguir:
Hoje o conselheiro
mais influente do presidente é o general Augusto
Heleno, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, o porta-voz
informal da ala já tida como a mais ponderada do governo e que, embora repudie
a caracterização de “grupo dos militares”, é toda composta de altas patentes
oriundas das Forças Armadas com atuação bem-vista em setores sociais e
oficiais, mas muito criticada nos chamados bolsões radicais do governismo. Na
linha de frente, destaca-se o vice-presidente Hamilton Mourão, com suas declarações públicas de caráter
apaziguador em relação a crises e atritos provocados ora por posições do
presidente da República, ora por integrante daquela outra ala que numa
definição amena poderíamos chamar de polêmica, para não dizer folclórica. Numa
tradução simples, o general Heleno
atuaria “para dentro” e o general Mourão,
“para fora”. Se um aconselha, o outro funciona como uma espécie de corretor de
texto do presidente e companhia.
Isso num cenário em
que a racionalidade, o bom-senso, a lógica e o rumo a partir do interesse
coletivo parecem ter saído de férias. Donde a necessidade de transitar entre
essas autoridades para detectar de que maneira o panorama está sendo visto por
elas e tentar formular algo próximo das perguntas recorrentes em toda parte:
para onde vamos? No que vai dar tudo isso? Ainda é possível reencontrar o eixo
a fim de evitar um descarrilamento de consequências fatais? Nessa tarefa é que
estão empenhados os setores que chamaremos aqui de oficina de consertos. Eles
atuam em duas variantes principais: a adaptação do presidente às suas funções e
a recolocação de estruturas e políticas de governo na direção da eficácia
objetiva. Nesse tópico, chamado de “ajuste da agenda social ao ponto certo”,
cita-se o exemplo do Ministério da Educação, enredado numa barafunda de egos
inflados e ideologias equivocadas e afastado de sua função primordial, a de
difundir e incrementar o aprendizado, como diz uma das vozes da racionalidade.
Uma correção de rumos
é considerada urgente, ainda que seja necessário adotar “diretrizes mais
enérgicas”, o que soa como eufemismo para a troca de titulares de algumas
pastas nas áreas produtoras de atritos. Isso no limite, porque algumas
providências já se notam. Onde? Na questão da Venezuela, em que, sem conflitos,
o ministro das Relações Exteriores foi posto de lado. Essa banda de exacerbados
é aconselhada a perceber que “comunismo não se combate com comunismo de sinal
trocado”. A ideologia, confia a ala ponderada, acabará encontrando o tom certo
de expressão.
Sim, mas e o
presidente e sua vocação incontrolável para a crise? Aqui, discorda-se do
termo “incontrolável”. A ideia é que ele se convença da conveniência do
controle. “Com o tempo, haverá a recuperação da saúde física, a contenção do
temperamento explosivo e a transposição de uma vida de parlamentar, cuja
ferramenta é a fala para uma função regida pelos ditames da boa administração e
da sobriedade.” Nesse manual de ajustes se incluiriam os filhos, que, nessa
perspectiva, teriam de se voltar para os respectivos afazeres políticos.
É isso que tem sido
dito ao presidente. A conferir em que medida ele dará ouvidos.