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sexta-feira, 1 de março de 2019

O MINISTRO DA EDUCAÇÃO, O CIRCO MARAMBAIA E O FEBEAPÁ 2019



Até onde a vista alcança, nada positivo no cenário político merece ser comentado nesta sexta-feira, véspera de Carnaval. O que é ruim. Falta de notícias é boa notícia, dizem, mas excesso de más notícias gera desalento. E basta ligar o rádio ou a TV num noticiário qualquer para se sentir na antessala do inferno. Segue um exemplo estalando de fresco:

Ontem, em encontro com jornalistas, Bolsonaro disse que é possível uma mudança na idade mínima para aposentadoria das mulheres na proposta de reforma da Previdência. Já desconfiado em relação à capacidade do governo em articular uma base de apoio para aprovar o texto reforma sem muitas alterações, o mercado se surpreendeu ao ouvir do próprio Presidente que pontos centrais da proposta, como a idade mínima, podem virar letra morta. A percepção de que o governo “queimou a largada” e cedeu antes mesmo de barganhar com o Congresso derrubou o Ibovespa — com máxima de 97.528,01 pontos e mínima de 95.364,39 pontos, o índice encerrou fevereiro aos 95.584,35 pontos, queda de 1,77%). O pior é que ele não precisava ter feito esse comentário, até porque ninguém estava pressionando nesse ponto da idade mínima. Como diria o Irmão Carmelo (Jô Soares) ao sacristão Batista (Eliezer Motta) no humorístico Planeta dos Homens, veiculado pela Globo entre 1976 e 1982, “cala a boca, Batista”.

Observação: Pensando melhor, o fato de ser sexta-feira gorda pode ser um refrigério para quem liga o rádio ou a TV — a menos que o dito-cujo não goste de Carnaval, pois, nesse caso, troca-se 6 por ½ dúzia. Mas vamos adiante, que o tempo ruge e a Sapucaí é grande.

Após o golpe militar de 1964, Sérgio Marcus Rangel Porto, mais conhecido como Stanislaw Ponte Preta, concebeu uma enciclopédia das estultices que pinçou do cotidiano e a batizou de FEBEAPÁ. Estivesse vivo, o festejado cronista, escritor, radialista, comentarista, teatrólogo, jornalista, humorista, ex-funcionário do Banco do Brasil e compositor brasileiro — que morreu em 1968, aos 45 anos — certamente nos brindaria com uma edição revista e atualizada do seu Festival de Besteiras que Assola o País. Material não falta; ontem mesmo eu publiquei alguns “instantâneos” do cenário político, dos quais destaco a “valiosa contribuição” (entre aspas para sugerir as ironias de estilo) do ministro da Educação ao besteirol que assola o governo federal.

A propósito: não sei onde o presidente foi recrutar o ministro Ricardo Vélez Rodríguez, ou a ministra Damares Alves — ou por que diabos precisamos de um Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, mas isso é outra conversa. Quando mais não seja, esse cenário estapafúrdio me dá a impressão de que, com a possível exceção de Moro, Guedes e Lorenzoni, somente os oito ministros militares são minimamente capazes de juntar lé com cré. Os restantes cometem erros em demasia para os cargos que ocupam. E por cometer erros em demasia para o cargo, Dilma foi apeada da Presidência. Que tomem tento, portanto, os conspícuos membros dessa distintíssima barafunda.

Mas já falei mais do que pretendia. Passo a palavra para Josias de Souza, com cujas opiniões eu nem sempre concordo, mas que é dono de uma sensatez admirável, sobretudo num contexto em que emular o Circo Marambaia parece ser a regra geral.

Descobriu-se, afinal, a serventia da passagem de Ricardo Vélez Rodríguez pelo Ministério da Educação. O personagem consolida-se como um extraordinário protagonista de tríades. Já se sabia que há no mundo três coisas absolutamente seguras: o nascer do Sol, a morte e a próxima trapalhada de Vélez. Descobre-se agora que há também no universo três coisas irrecuperáveis: a pedra atirada, o sexo adiado e o tempo perdido com as trapalhadas de Vélez.

Sob Ricardo Vélez, as coisas não são mais certas ou erradas no Ministério da Educação — elas passam desapercebidas ou pegam muito mal. O ofício com o pedido do ministro para que os estudantes fossem filmados cantando o hino nacional depois de ouvir a mensagem contendo o bordão da campanha de Jair Bolsonaro pegou mal, muito mal. Vélez alegou que a distração o induzira a erro. E enviou um segundo ofício sem o "Brasil acima de todos, Deus acima de tudo."

A coisa continuou pegando mal, muito mal. Instado pelo Ministério Público a prestar esclarecimentos, Vélez mandou dizer que desistiu também da filmagem dos garotos. Alheio às maravilhas da informática, o ministro alega que não teria onde guardar tantos vídeos. De recuo em recuo, Vélez revelou-se dono de notável autossuficiência. Ele mesmo idealiza a bobagem, ele mesmo deita a tolice sobre o papel, ele mesmo providencia a retirada da baboseira de cena.

Restou a sensação de que Ricardo Vélez se auto impôs a missão de denunciar os erros da pasta da Educação cometendo-os. Faltou explicar o que seria feito com as filmagens que mandou cancelar. Supõe-se que serviriam de matéria-prima para uma campanha institucional sobre patriotismo.

Bom Carnaval a todos.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

O GOVERNO, SEUS DEFENSORES ATÁVICOS E AS BIZARRICES DO PRESIDENTE



Causa espécie o fato de muitos que defendem este governo se comportarem nas redes sociais como petistas de sinal trocado, deixando claro que o radicalismo e o fanatismo desbragados continuam criando versões que calam os fatos nas tribunas da Web. Parece que a ficha não caiu, que esse povo não se deu conta de que a disputa eleitoral terminou, que o treino acabou e que o jogo começou. 

Como se não bastasse, o próprio Presidente dá sinais de que continua em campanha, e, para piorar, em vez usar da sua autoridade para evitar conflitos e cabeçadas entre os auxiliares recém-empossados, encarrega-se pessoalmente de dar início aos rebosteios, levando seus comandados a atuar como barreira de contenção. Durma-se com um barulho desses!

Bolsonaro foi eleito para fazer contraponto à corrupção metastática que avançou implacavelmente nos 13 anos e fumaça de gestões lulopetistas. Depois que o nosso “esclarecidíssimo” eleitorado fulminou as demais opções (nenhuma delas valia grande coisa, verdade seja dita), não restou alternativa aos cidadãos de bem senão votar no deputado-capitão para evitar o retorno do PT no melhor estilo PCC, ou seja, com o prisioneiro mais famoso desta republiqueta de merda comandando remotamente se poste-fantoche, que acabou derrotado por uma diferença de quase 11 milhões de votos. Mas não é bom é ver os sentimentos maiores que insuflaram as velas da candidatura de Bolsonaro — sobretudo o nacionalismo e o patriotismo — serem rebaixados a questões familiares constrangedoras.

Não há como não ficar apreensivo diante da ingerência da prole real no governo federal, como se viu no lamentável episódio que resultou na exoneração do coordenador de campanha, advogado e pau-pra-toda-obra, Gustavo Bebianno. Escolher seus ministros e demiti-los a qualquer tempo é prerrogativa do Presidente, naturalmente, mas o que não é aceitável é transformar uma questão de somenos numa aula magna sobre as misérias políticas do governo. E, cá entre nós, sustentar que a troca de mensagens de áudio não foi uma “conversa” é insultar nossa inteligência, sobretudo por quem usa o WhatsApp como uma espécie Diário Oficial Informal.

Apoiar Bolsonaro no comando desta nau de insensatos é fundamental. Torcer contra e sabotar projetos importantes, como a PEC da Previdência e o pacote de medidas anticrime e anticorrupção, é coisa da escória inconformada com a derrota do ventríloquo e seu boneco nas urnas, de quem não se poderia esperar comportamento diferente, mais civilizado e focado no bem da Nação. Mas daí aplaudir as asnices do governo vai uma longo distância. Apenas para citar um exemplo recente, o Ministério da Educação enviou a todas as escolas do País um email pedindo que “as crianças sejam perfiladas para cantar o hino nacional, que o momento seja gravado em vídeo e enviado para o governo, e que seja lida para elas uma carta do ministro Ricardo Vélez Rodriguez, que termina com o slogan da campanha de Jair Bolsonaro: “Brasil acima de tudo. Deus acima de todos.” Tem cabimento um despautério desses?

Para além do manifesto despreparo e do “estilo despojado” de Bolsonaro — que beira o ridículo quando ele se deixa fotografar, numa reunião de cúpula sobre a reforma da previdência, vestindo uma camiseta pirata do Palmeiras calçando chinelos Rider —, a constante preocupação com supostas conspirações orquestradas por adversários reais e imaginários gera um clima de desconfiança e incerteza sobre seu processo mental e sua sistemática atuação em relação aos filhos. Talvez a imagem tosca que ele transmite seja uma construção planejada e conscientemente administrada, mas daí a ter um compromisso deliberado com o mau gosto...

Como bem salientou Dora Kramer em sua coluna na revista Veja, a possibilidade de qualquer um dos “príncipes herdeiros” se sentir tão poderoso que possa investir contra os superministros da Economia e da Justiça (os pilares de razoável seriedade da administração) é a hipótese de o Presidente inviabilizar-se por falta de sustentação de conteúdo consistente no governo. Tanto Paulo Guedes quanto Sérgio Moro não devem nada a ninguém e podem sair no momento que lhes for conveniente — por menos, quando houve um estremecimento em torno de declarações sobre o IOF, Guedes se recolheu, e Moro tampouco se aliou a disputas perdidas. 

Se os filhos de Bolsonaro fizerem investidas com as quais não podem se confrontar, muito menos administrar, porão a perder o governo do pai, a chance única de poder e o sonho que jamais sonharam ver realizado. E que mais tem a perder com isso é o Brasil.