O ano que se encerrou anteontem não correspondeu às expectativas de quem achava que teríamos calmaria depois das tormentas de dois mil e dezechega. Já nas primeiras horas de 2017 o sistema prisional tupiniquim exibiu seu descontrole, com centenas de detentos mortos em diferentes rebeliões e outros tantos foragidos de casas prisionais em diversos Estados. Viriam em seguida o trágico acidente que matou Teori Zavascki (às vésperas de o ministro homologar a delação dos 77 da Odebrecht) e a greve dos policiais do Espírito Santo, que resultou na morte de centenas de inocentes. E, como agora sabemos, isso seria apenas o começo. Para Michel Miguel Elias Temer Lulia, no entanto, o inferno astral começaria em abril, com a divulgação de trechos de sua conversa nada republicana com o açougueiro bilionário e criminoso Joesley Batista, justamente quando a economia dava os primeiros sinais de recuperação.
Abatido em seu voo de galinha, o peemedebista viu o sonho
de entrar para a história como o “o cara que recolocou o país nos trilhos do
crescimento” transformar-se no pesadelo de ser o primeiro presidente do Brasil
denunciado ― no exercício do cargo ― por crimes de corrupção, formação de
quadrilha e obstrução da Justiça.
Pego com as calças, mas demovido da ideia de renunciar pelos puxa-sacos de plantão ― que perderiam o cargo e a prerrogativa de foro se o chefe deixasse o Planalto ―, Temer, num pronunciamento inflamado à nação, afirmou que a investigação no STF seria o território onde aflorariam as provas de sua inocência”. Mas a máscara de bom moço caiu quando Janot desfechou sua primeira flechada, expondo a verdadeira face do político da velha escola, que presidiu o PMDB por 15 anos e foi vice decorativo (mas conivente com os desmandos) da Rainha Bruxa do Castelo do Inferno de 2011 a maio de 2016. E a coisa ficou ainda pior com a segunda denuncia, que, além do presidente, atingiu os ex-deputados Eduardo Cunha, Rodrigo Rocha Loures e Henrique Alves, o ex-ministro Geddel Vieira Lima e os ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco, todos do PMDB.
Pego com as calças, mas demovido da ideia de renunciar pelos puxa-sacos de plantão ― que perderiam o cargo e a prerrogativa de foro se o chefe deixasse o Planalto ―, Temer, num pronunciamento inflamado à nação, afirmou que a investigação no STF seria o território onde aflorariam as provas de sua inocência”. Mas a máscara de bom moço caiu quando Janot desfechou sua primeira flechada, expondo a verdadeira face do político da velha escola, que presidiu o PMDB por 15 anos e foi vice decorativo (mas conivente com os desmandos) da Rainha Bruxa do Castelo do Inferno de 2011 a maio de 2016. E a coisa ficou ainda pior com a segunda denuncia, que, além do presidente, atingiu os ex-deputados Eduardo Cunha, Rodrigo Rocha Loures e Henrique Alves, o ex-ministro Geddel Vieira Lima e os ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco, todos do PMDB.
Observação: Curiosamente, não houve panelaço, buzinaço ou
manifestações populares nas ruas. Como vaquinhas de presépio, os brasileiros
aceitaram tudo pacificamente, talvez intuindo que a emenda seria pior que o
soneto ― tanto no caso de um novo presidente tampão ser escolhido através de
eleições diretas realizadas a toque de caixa quanto de nosso Congresso
apodrecido pinçar de suas fileiras o felizardo da vez. Aliás, falando em eleições diretas, dos 4 presidentes eleitos pelo voto
popular desde o final da ditadura militar, o único que escapou ileso (até
agora) foi FHC. Collor e Dilma foram
depostos, e Lula, embora tenha
concluído seus dois mandatos, coleciona 7 processos, é investigado em outros
tantos inquéritos e já foi condenado a 9 anos e 6 meses de prisão (Lula lá!).
Temer passou a maior
parte de 2017 articulando manobras espúrias para se manter no cargo. Com o
auxílio dos comparsas Romero Jucá, Eliseu
Padilha, Moreira
Franco. Isso sem mencionar os inestimáveis serviços prestados pelo pitbull Carlos Marun, principal responsável por garantir o apoio necessário, na Câmara, ao sepultamento de ambas as denúncias de Janot. Aliás, Marun, que já havia se notabilizado por defender caninamente o ex-presidente da
Câmara Eduardo Cunha, chegou mesmo
a ensaiar ridículos passinhos de
dança quando, pela segunda vez, as marafonas do Congresso livraram
o rabo sujo de seu amado chefe. Sua fidelidade e absoluta falta de escrúpulos lhe renderam a Secretaria
de Governo da Presidência da
República e, ao que parece, a missão de oficializar
o toma-lá-dá-cá no vergonhoso “parlamentarismo informal”, onde
ministros negociam diretamente com o Congresso a favor do presidente e
reassumem seus mandatos na Câmara para votar projetos de interesse do Executivo.
O derradeiro ano de Temer na presidência da Banânia começa com índices de rejeição ao peemedebista que rivalizam
com os de Collor e Dilma durante os respectivos processos
de impeachment. Mesmo procurando aparentar tranquilidade e afirmando que o governo
não parou um instante sequer, o presidente é desmentido por uma sucessão de
gafes, sobretudo em viagens e encontros internacionais.
Ao receber o presidente do Paraguai, por exemplo, Temer brindou a Portugal; na passagem pela Rússia e pela Noruega, colecionou uma lista de momentos esquecíveis: da partida, ao colocar em sua agenda que iria para a União Soviética, extinta há mais de vinte anos, até a volta, de mãos abanando, passando por uma menção a Harald V como o rei da Suécia, quando o monarca é norueguês. Para sua sorte, os depoimentos dos delatores da JBS/J&F caírem em descrédito depois que informações omitidas por eles no acordo de colaboração vieram à tona, mas isso não lhe permite avançar em seu projeto de legado reformista sem emplacar a reforma da Previdência, que se tornou seu “samba de uma nota só”.
Ao receber o presidente do Paraguai, por exemplo, Temer brindou a Portugal; na passagem pela Rússia e pela Noruega, colecionou uma lista de momentos esquecíveis: da partida, ao colocar em sua agenda que iria para a União Soviética, extinta há mais de vinte anos, até a volta, de mãos abanando, passando por uma menção a Harald V como o rei da Suécia, quando o monarca é norueguês. Para sua sorte, os depoimentos dos delatores da JBS/J&F caírem em descrédito depois que informações omitidas por eles no acordo de colaboração vieram à tona, mas isso não lhe permite avançar em seu projeto de legado reformista sem emplacar a reforma da Previdência, que se tornou seu “samba de uma nota só”.
Fato é que, em meio a tudo isso, Temer mudou de vez seu comportamento diante das investigações e dos órgãos de Justiça. Embora Nicolao Dino tenha sido mais votado que Raquel Dodge na eleição interna do MPF, seu nome foi preterido na sucessão do padrinho Rodrigo Janot. Em novembro, foi a vez da Polícia Federal: Leandro Daiello, que ficou sete anos no cargo e viu a Lava-Jato nascer, foi substituído por Fernando Segovia, que começou mal ao tentar minimizar, em seu discurso de posse, a importância dos fatos que respaldaram a primeira denúncia contra o presidente ― dizendo, dentre outras coisas, que “uma mala de dinheiro não prova nada”.
Aos 77 anos idade, Temer tornou-se frequentador assíduo do Hospital
Sírio-Libanês ― onde já foi submetendo a procedimentos cirúrgicos para solucionar
problemas urológicos e desobstruir artérias do coração. Some-se ao peso dos
anos a tensão provocada pela turbulência política, que impõe pesados tributos a um presidente já enfraquecido e carente de respaldo popular. Mesmo que os indicadores econômicos continuem emitindo sinais
positivos, sua incapacidade de reunir os 308 votos necessários à aprovação das
tão necessárias reformas escancaram a fragilidade do seu governo.
Conforme combinado com Rodrigo Maia, a votação da PEC da Previdência só seria pautada quando houvesse certeza de aprovação, mas mesmo depois de dois meses de articulações intensas, mudanças no ministério e o perdão de dívidas dos deputados da base que se posicionaram contra o governo na segunda denúncia, esse número não foi alcançado e nada indica que virá a sê-lo em fevereiro, já que as dificuldades aumentam conforme as eleições se aproximam ― em anos eleitorais, os políticos fazem o possível e o impossível para não desagradar seus eleitores.
Conforme combinado com Rodrigo Maia, a votação da PEC da Previdência só seria pautada quando houvesse certeza de aprovação, mas mesmo depois de dois meses de articulações intensas, mudanças no ministério e o perdão de dívidas dos deputados da base que se posicionaram contra o governo na segunda denúncia, esse número não foi alcançado e nada indica que virá a sê-lo em fevereiro, já que as dificuldades aumentam conforme as eleições se aproximam ― em anos eleitorais, os políticos fazem o possível e o impossível para não desagradar seus eleitores.
Mesmo assim, sua insolência se diz pronta para o que vier em seu derradeiro ano no
cargo. É bom seja assim: a batalha pelas mudanças na Previdência
promete, e dela dependem o futuro do governo e o objetivo do governante de
entrar para a história como um presidente reformista.
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