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terça-feira, 29 de maio de 2018

AINDA SOBRE AS PRÓXIMAS ELEIÇÕES


O que dizer de um país que entra em colapso quando uma categoria de trabalhadores resolve cruzar os braços em protesto contra os reajustes dos combustíveis?  Um país onde o candidato mais lembrado nas pesquisas de intenção de voto é um criminoso condenado? Onde o presidente amarga a maior rejeição da história, mas sonha com uma quimérica reeleição, quando deveria se fingir de paisagem e ficar calado até o final do seu mandato? Onde o eleitorado é majoritariamente apedeuta e insiste em perpetuar no poder políticos fisiologistas e desonestos? Nada. Pelo menos, se quisermos nos manter no limiar do politicamente correto, do aceitável, do publicável. Vamos adiante.

Temer não só abriu as pernas, mas ficou literalmente de quatro para os caminhoneiros ― que ainda relutam em pôr um fim à paralisação, desbloquear as rodovias e voltar ao trabalho. Uma paralisação que hoje entre no nono dia, que vem causando prejuízos incalculáveis para a já combalida economia, e que deve custar 10 bilhões de reais aos cofres públicos (dinheiro dos contribuintes) para ser debelada.

Observação: O presidente se diz propenso a desistir da reeleição e promete apoiar o candidato que se comprometer em manter seu “legado” e lhe garantir “proteção” no final do mandato. O ex-ministro Meirelles parece ser o nome mais indicado, até porque tem cacife para financiar sua campanha com dinheiro do próprio bolso e vem se mostrando disposto defender o governo em suas andanças Brasil afora, desde que sem citações ao nome do presidente nem eventos ao lado dele.

A candidatura de Geraldo Alckmin continua patinando, com vergonhosos 8% de intenções de voto. Mas não é para menos. Se já não bastasse a absoluta falta de carisma do "picolé de chuchu" e a recente prisão de seu colega de partido Eduardo Azeredo, agora surge mais uma investigação envolvendo seu nome: de acordo com o doleiro Adir Assad, Alckmin teria recebido, através de seu cunhado, 5 milhões de reais em "caixa 2" para sua campanha. Os tucanos já falam até em substituí-lo por outro pré-candidato, mas o ex-governador paulista e atual presidente da sigla reluta, não só porque quer ser presidente da República, mas também porque não lhe agrada a perspectiva de João Dória disputar o cargo em seu lugar.

Em última análise, o que esperar de bom de uma eleição em que todos os candidatos, com a exceção de um só, vão fazer suas campanhas com dinheiro que roubaram diretamente dos cidadãos? O Tesouro Nacional vai doar aos políticos, para suas “despesas de campanha” deste ano, um presente extra de 1,7 bilhão de reais, já separados no orçamento de 2018. Como bem lembrou J.R Guzzo em sua coluna, trata-se de uma aberração que tem a coragem de chamar-se “Fundo de Defesa da Democracia”, ou algo assim. Vem se somar ao “Fundo Partidário”, vigarice antiga criada para dar aos partidos políticos, a cada ano, quantias desviadas dos impostos e destinadas a ajudar na sua “manutenção”.

No ano passado, com um projeto de lei relatado na Câmara pelo deputado Vicente Cândido, do PT, e gerido no Senado por ninguém menos que o senador Romero Jucá, fizeram uma mágica que multiplicou dramaticamente, numa tacada só, os valores que a população deste país será obrigada a entregar aos políticos no decorrer de 2018. É uma conquista notável para os anais da arte de roubar. Quatro anos atrás a mesada anual das gangues que fazem o papel de “partidos” no Congresso Nacional era de 300 milhões de reais. Foi aumentando, aumentando, e agora, diante da necessidade de defender a democracia, está reforçada por estes novos 1,7 bi. A desculpa é que há eleições este ano e as doações de caixa 2, imaginem só, foram proibidas pelos nossos tribunais superiores. É mais ou menos assim: como está teoricamente mais difícil praticar crime eleitoral, chama-se o público para fornecer o dinheiro que os criminosos desembolsavam até agora.

Note o leitor que os partidos queriam 3,5 bilhões de reais, e o PT exigia até 6 bi, ao fixar o valor do “Fundo” numa porcentagem do orçamento da União. De um jeito ou de outro, é bom para as “ORCRIMs”, bom para os políticos e ruim para todos nós. Este dinheiro tem de sair de algum lugar, e este lugar é o nosso bolso. Também não pode ser duplicado. Se foi para os partidos é porque não foi para ninguém mais; no caso de 2018, quase 500 milhões de reais foram desviados das áreas de saúde e educação para o cofre dessas figuras que estão se propondo a salvar o Brasil. O fabuloso “Estado” brasileiro, essa entidade sagrada para o pensamento da esquerda nacional, não tem dinheiro para comprar um rolo de esparadrapo. Mas tem, de sobra, para dar a qualquer escroque que consegue o registro de uma candidatura.

A isso o PT e a esquerda em geral dão nome de conquista democrática popular é o prodigioso financiamento público das campanhas eleitorais, que segundo o seu evangelho elimina a influência “das grandes empresas” nas eleições, etc. e tal. É um espanto, pois o PT foi o mais voraz de todos os tomadores de dinheiro de empreiteiras de obras e outros magnatas que jamais passou pela política brasileira. Agora, está avançando também em cima dos impostos pagos pela população e faz isso com o apoio apaixonado dos seus piores inimigos na cena política, os famosos eles amaldiçoados por Lula há mais de 30 anos e acusados de criar todas as desgraças do Brasil. É uma atração e tanto. Derruba até figuras com os teores de pureza revolucionária da candidata Manuela D’Ávila, que faz cara de horror diante da hipótese de sujar as mãos com essas sórdidas questões financeiras. Prefere enfiar as mesmas mãos diretamente no nosso bolso ― como se assim o dinheiro roubado ficasse limpo. Da direita velha nem adianta falar; roubar é o seu destino. Mas quando a jovem de esquerda age igual, e nem se dá o trabalho de disfarçar, é que a coisa está realmente preta.

Para concluir, relembro a pergunta que deixei no ar na postagem anterior, sobre o motivo pelo qual Lula continua figurando nas pesquisas de intenção de voto, e cito a explicação com que a jornalista Dora Kramer nos brindou, em sua coluna, na revista Veja desta semana:

O político, muito mais que o poeta aludido por Fernando Pessoa, é um fingidor. Exagero? Não é o que nos dizem os candidatos e partidos de maior visibilidade no cenário político-eleitoral de um Brasil em fase de completa (e, dependendo do ponto de vista, benfazeja) desordem eleitoral. Todos simulam tão completamente que fingem padecer de um mal que realmente sentem. Há dor maior para o PT que ter seu único ativo transformado em passivo prisioneiro? Pois ele prefere fazer de conta que anda tudo muito bem, que a candidatura prossegue em busca de um vice e de um programa de governo, adiando o confronto com a realidade para um momento de “maior impacto”, mais próximo das eleições. (O grifo é meu).

Longe ou perto, que “impacto” objetivo provocaria tal gesto? De maneira concreta, nenhum. Pelo seguinte: hoje, Lula não pode concorrer. Mas vamos que possa disputar por obra de recursos judiciais e, assim, vença. Se ganhar, não governará, dada a sua condição de presidiário. De onde a resultante eleitoral seria nula, a menos que se aventasse a hipótese inconstitucional de a Justiça aceitar revogarem-se os votos. Diante de tal impossibilidade, por que, então, Lula segue candidato? Simples: para que o nome dele se mantenha nas pesquisas e, com isso, se prolongue o mito de “líder popular”, ainda que na realidade não lidere sequer o próprio destino. Transita-se, nesse quadro, em pura fantasia. (O grifo é meu).

Vendem-se tantos terrenos na Lua quantos crédulos estiverem dispostos a comprá-los, independentemente do campo político-ideológico a que pertencem. Há os que acreditam na verborragia supostamente inteligente e consistente de um Ciro Gomes que promete luta inclemente contra o fisiologismo do Congresso, a revogação de “medidas golpistas” e a queda dos juros bancários mediante “poderes imperiais” conferidos ao presidente, segundo ele, em seus primeiros seis meses de governo. Há os que acreditam na pregação violenta de Jair Bolsonaro e os que creem piamente na proposta de uma “união de centro” sem candidato nem amálgama de unidade à vista. Bem-intencionados, cujas intenções não se mostram explícitas ou factíveis num Brasil radicalizado pela natureza dos fatos e dos constantes maus-tratos por parte do poder público.

Muito poucos, porém, acreditam no governo Temer. Mais especificamente, 5% das pessoas consultadas nas pesquisas de opinião. Pouco? Muito menos ― 1% ― se dispõe a votar em seu ex-ministro da Fazenda, cujo principal ativo é não ter nada a perder a não ser um bocado de dinheiro, pois foi aceito candidato do MDB por financiar a própria candidatura e liberar o dinheiro do fundo partidário para os correligionários. Michel Temer afirmou que os emedebistas ficam obrigados a se engajar na campanha de Meirelles, sob o risco de punição. De quem? De Temer, que não dispõe de nenhuma munição.

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segunda-feira, 13 de novembro de 2017

ELEIÇÕES 2018 ― SANATÓRIO GERAL


O Brasil vire uma era gangrenada, em que as pessoas têm medo de ficar em casa e ser assaltadas por bandidos comuns, e de ir votar para presidente e ser assaltadas pela falta de opções. Uma era em que o presidente ― o primeiro da nossa história a ser denunciado por crime comum no exercício do cargo ― sobrevive graças a tudo que existe de ruim na caixa de ferramentas do poder; em que um deputado acompanha mulheres de chefões do tráfico até o ministro da Justiça para propor a retomada das visitas íntimas; em que uma ministra decorativa (?!) pugna pela mudança da lei de proventos em benefício próprio.

A sociedade assiste, inerte, a todos esses desmandos, mas, embora muitos ladrem nas redes sociais, poucos saem às ruas para morder. E, pior: diante da inexistência de um remédio que dê jeito, já se pensa em amputação ― e, pior ainda: com o risco de a democracia ir de embrulho.

Do mequetrefe seboso e hepta-réu em plena pré-candidatura antecipada e ilegal ao político militar da reserva ― cujo nome do meio é “Messias” ―, nossa falta de opção envolve nomes testados e reprovados ― como o de Marina Silva, da Rede que não pega peixe, e de Geraldo Alckmin, o tucano da asa quebrada. Sem falar nos neófitos Luciano Huck, que promete trocar o ENEM pelo SOLTERANDO; o engenheiro, administrador de empresas, economista, palestrante e fundador do Partido Novo João Amoedo; e ― pasmem! ― o médico Robert Rey, vulgo Dr. Hollywood, que se autodefine como “a última esperança” e, dentre outras bobagens, quer tornar obrigatória a execução do Hino Nacional todas as manhãs, quando todos deverão ficar em pé e colocar a mão direita no lado esquerdo do peito. É ou não um SANATÓRIO GERAL?!

Some-se a isso o fato de nossa mais alta Corte abrigar ministros do quilate de Gilmar Mendes, o divino, e dar a chave galinheiro às raposas. E como se não bastasse, o que parecia ser a luz no fim do túnel é, sabe-se agora, o farol da locomotiva que vem em desabalada carreira: o PSDB, que já foi a nossa esperança de pôr fim à espúria administração lulopetista ― que roubou a mais não poder e, por obra e graça da incompetenta que sucedeu ao bandido, quebrou o país ―, não sabe para que lado se atira. 

Com sua vocação inata para se envolver em processos indecisórios, o partido que ganhou a disputa ao Planalto por duas vezes consecutivas (e no primeiro turno) e ficou em segundo lugar nos quatro pleitos subsequentes tem agora quatro ministros indesejados, um presidente afastado (Aécio), cuja imoral salvação do mandato abriu as portas da impunidade para políticos do país afora, um presidente substituto (Jereissati) que passou de candidato a efetivo a destituído; um postulante ao cargo (Perillo) que clama por elegância e um presidente de honra macróbio (FHC), mas lúcido o bastante para alertar o tucanato do risco de o partido virar linha auxiliar do PMDB. Isso para não mencionar os baixos índices de intenção de voto de três políticos mais do que conhecidos nacionalmente (Serra, Alckmin e o próprio Aécio),  

Vivemos num país de chatos, onde se vai inventando, de cima para baixo, uma sociedade mal-humorada, neurastênica e hostil à liberdade de expressão, que convive mal com a observação dos fatos, a ciência e o raciocínio lógico. Às vésperas do apagar das luzes de 2017, temos um cenário político ainda pior do que o de 2016, cujo fim a gente aguardava ansiosamente, acreditando que tudo seria melhor a partir do ano novo.

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