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segunda-feira, 8 de julho de 2024

DE VOLTA À VELOCIDADE DA LUZ E AS VIAGENS NO TEMPO

PARA RESOLVER A VIDA ALHEIA, TODOS TÊM SABEDORIA DE SOBRA.

 
A física clássica se aplica ao mundo macro, onde tudo, desde maçãs hipotéticas caindo sob a ação da gravidade a gigantes gasosos no espaço, funciona em três dimensões. Ou funcionava, já que não há nada como o tempo para passar — falando nele, a Teoria da Relatividade adicionou uma quarta dimensão (o tempo), criou o conceito de "espaço-tempo" e definiu a velocidade da luz — 299.792.458 metros por segundo no vácuo — como limite universal.
 
Nada pode superar a velocidade com que a luz se propaga no vácuo, exceto o próprio Universo, que se expande a uma velocidade maior que a da luz. Mas esse "limite" não se aplica às físicas quântica e de partículas, segundo as quais fótons, elétrons e neutrinos podem viajar mais rápido que a luz sem contrariar as teorias de Einstein. No entrelaçamento quântico, a informação parece ser transmitida instantaneamente; na teoria quântica de campos, partículas podem interagir e se influenciar mutuamente de maneiras que desafiam a intuição clássica sobre velocidades e limites.

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

O termo "Efeito Orloff" surgiu de um comercial de vodca veiculado nos anos 80, que não só se tornou icônico como criou o bordão "Eu sou você amanhã". O presidente e candidato à reeleição Biden é o "eu sou você amanhã" do presidente e virtual candidato à reeleição Lula. O americano, que completará 82 anos em novembro, deixou clara sua decrepitude no debate do último dia 27, o que lançou dúvidas sobre sua capacidade de continuar na corrida presidencial. Lula, por sua vez, completará 79 anos em 27 de outubro e terá 81 nas próximas eleições gerais (supondo que ainda esteja caminhado entre os vivos). 
Entre outras promessas de campanha não cumpridas, o macróbio de Garanhuns afirmou enfaticamente que não tentaria outra eleição se vencesse Bolsonaro, que sua intenção era governar o país por quatro anos e deixá-lo "tinindo" em 2026, quando gente nova disputaria a Presidência. No segundo mês do atual mandato, porém, insinuou que poderia concorrer à reeleição "a depender da situação do país”. A partir de então, sua disposição de não largar o osso foi ficando mais e mais evidente. Dias atrás, ele trombeteou não ter receio de etarismo e voltou a dizer que poderá disputar a reeleição para "derrotar o fascismo".
Tanto o governo quanto o mandatário dão sinais claros de decadência senil. Lula está mais preocupado em criar fatos que lhe garantam vantagens eleitorais — como se estivéssemos em julho de 2026 — do que em tomar as decisões qualquer governo responsável deveria tomar. Resta saber que sucumbirá primeiro e torcer para que a volta da extrema direita não seja vista pelo eleitorado como solução para recolocar banânia nos trilhos. 
Triste Brasil 
 
Ainda segundo as equações de Einstein (e até prova em contrário), o tempo é relativo. Aliás, a maneira como percebemos a passagem do tempo depende de diversas variáveis. Quando você está prestes a borrar as calças e ouve de quem está no banheiro o tradicional “só um minuto!”, esse minuto parece durar horas para você. Claro que isso é apenas uma sensação: o ponteiro dos segundos do relógio continua avançando normalmente. Mas o fato é que a velocidade com que o tempo passa varia conforme a velocidade do observador. Isso é praticamente imperceptível num carro a 180 km/h ou num voo comercial a 900 km/h, mas os relógios atômicos dos satélites GPS que orbitam a Terra a 14 mil km/h adiantam 38 milissegundos por dia, tornando o efeito mensurável. 

Se fosse possível viajar a uma velocidade próxima à da luz, um segundo no referencial do viajante representaria anos no tempo terrestre (como bem ilustra o paradoxo dos gêmeos). No entanto, a nave espacial mais veloz lançada pela Nasa atingiu 11.854 km/h (ou 3,3 km/s), mas a sonda espacial Parker Solar Probe chegou a 635 mil km/h (ou 176 km/s) numa viagem em torno do Sol. A essa velocidade, seria possível ir da Terra à Lua em cerca de meia hora, mas levaria quase 10 dias para chegar até o Sol — distância que a luz percorre em 8 minutos e 13 segundos viajando a 1,08 bilhão km/h. 

Se nossa tecnologia permitisse atingir 80% da velocidade da luz, uma viagem de 5 horas pelo cosmos corresponderia a 8 horas e 19 minutos pelos relógios da Terra (devido a um fenômeno conhecido como como dilatação do tempo). E alguém que passasse um ano terrestre viajando a 99% da velocidade da luz envelheceria uns poucos dias (vide o paradoxo dos gêmeos).
 
Observação: A Nasa produziu uma animação que mostra de uma maneira didática e divertida como seria viajar bem próximo da velocidade da luz. Vale a pena assistir. 
 
Toda essa "neura" em relação à velocidade da luz se explica porque ela é um dos pilares das tão sonhadas viagens no tempo, já que o tempo passa mais devagar conforme a velocidade aumenta. Em outras palavras, conforme a velocidade de uma hipotética espaçonave aumenta, o tempo reduz sua na mesma proporção — e para quando a velocidade da luz é alcançada. Nas pegadas desse pressuposto, o relógio passaria a "andar para trás" quando a espaçonave superasse a velocidade da luz.

O detalhe (e o Diabo mora nos detalhes) é que é impossível mover um objeto a uma velocidade superior à da luz, já que a única coisa capaz de mover uma partícula com massa é outra força que viaje à mesma velocidade. Como nossa hipotética espaçonave ganharia massa à medida que a velocidade aumentasse, essa massa seria infinita quando ela atingisse a velocidade da luz, exigindo uma uma força igualmente infinita para fazê-la acelerar ainda mais.
 
Observação: Uma parte "menos lembrada" da famosa equação de Einstein descreve como a massa de um objeto muda quando há movimento envolvido: E = mc² (isto é, energia é igual a massa multiplicada pelo quadrado da velocidade da luz). A equação completa é E²=(mc²)²+(pc)², onde a parte final descreve como a massa do objeto muda quando há movimento envolvido
 
Em 2011, pesquisadores lançaram neutrinos do CERN, na Suíça, em direção ao laboratório subterrâneo de Gran Sasso, na Itália, e descobriram que eles percorreram os 730 quilómetros em 2,43 milésimos de segundo, ou seja 60 bilionésimos de segundo mais rápido do que a própria luz, mas verificou-se mais adiante que o resultado se deveu a uma falha nos instrumentos de medição. 
 
A pergunta que se coloca é: será que observadores superluminais poderiam vivenciar dimensões espaciais e temporais acompanhando fenômenos quânticos? The answer, my friend, is blowing in the wind, como veremos no próximo capítulo. 

domingo, 10 de dezembro de 2023

O TEMPO, O BÊBADO E A CIGANA 

 

Operando em ritmo de vai ou racha, Tarcísio de Freitas conseguiu que a privatização da Sabesp fosse aprovada pela Alesp na última quarta-feira, em meio a bombas de gás e spray de pimenta. Dos 64 deputados presentes, 62 votaram a favor. O governador enxerga a privatização como joia da coroa de sua gestão. O êxito não é impossível, mas o brilho imaginado por ele não aparece no projeto avalizado pelos deputados. O texto não traz estimativa do preço de venda, não menciona qual será a participação acionária do Estado nem inclui garantias de elevação dos investimentos. A vaga menção à "redução tarifária" para "a população mais vulnerável" pode ser entendida como aumento de preço para a clientela remediada.
Se as tarifas subirem depois que a empresa virar privada — sem trocadilho —, o eleitor pode não esperar até que todos os banheiros do Estado estejam interligados à rede de esgoto para dar o troco. Melhor faria o governador se se mirasse no exemplo do "Efeito Enel". A concessão do serviço público de energia elétrica em São Paulo à iniciativa privada foi considerada exitosa porque se imaginava que a simples ideia de afastar o Estado dos postes de luz evitaria os apagões. No início de novembro, depois que um temporal deixou milhões de consumidores sem luz por até seis dias, o governador culpou as árvores. A pressa privatista de sua excelência dá à mágica da venda da Sabesp uma aparência de cartola sem coelho. 

***

Em tese, nossa viagem rumo ao futuro (que nunca chega, pois o hoje é o amanhã de ontem e o ontem de amanhã) começa no instante em que nascemos. Mas o tempo é uma dimensão física entrelaçada com o espaço — nem o cosmo é uma caixa rígida e inerte que contém as coisas, nem o tempo é uma linha reta pela qual as coisas fluem, numa sucessão de acontecimentos formados por passado, presente e futuro. 
 
Nossa percepção da passagem do tempo depende de diversas variáveis. Se estivermos quase borrando as calças e ouvirmos de quem está no banheiro o tradicional “só um minuto!”, esse minuto nos parecerá a antessala da eternidade. A um
leigo que lhe pediu que trocasse em miúdos sua famosa teoria, Einstein respondeu: "Coloque a mão na chama do fogão por um minuto e esse minuto parecerá uma hora; fique junto daquela pessoa especial por uma hora e essa hora parecerá um minuto."
 
Se ficarmos imóveis e observarmos o relógio, veremos o ponteiro dos segundos avançar num ritmo constante, como um trem avançando pelos pelos trilhos. Mas 
a velocidade do "trem do tempo" é inversamente proporcional à nossa; só não nos damos conta disso porque as velocidades que vivenciamos no dia a dia são ínfimas.

Observação: No paradoxo dos gêmeos — proposto pelo físico Paul Langevin em resposta à Teoria da Relatividade de Einstein — um gêmeo que ficava na Terra enquanto o outro viajava pelo cosmo numa velocidade próxima à da luz envelhecia bem mais que o irmão (devido ao fenômeno da dilatação temporal).

A velocidade do tempo é inversamente proporcional à nossa. A 180 km/h, 30 segundos são na verdade 29,99999999999952 segundos. Os relógios internos dos satélites artificiais que orbitam a Terra a 14.000 km/h atrasam 0,007 s/dia em razão da velocidade, mas adiantam 0,0045 s/dia devido à gravidade, que é menor a 20 mil quilômetros de altitude do que na superfície do planeta. Não fosse a relatividade de Einstein, essas compensações não seriam feitas, e a precisão dos GPS ficaria comprometida à razão de 10 km/dia.
 
A maneira como nosso cérebro registra a passagem do tempo é flexível, pois leva em conta emoções, expectativas, o quanto as tarefas exigiam de nós num determinado período e até nossos sentidos. Um evento auditivo, por exemplo, parece durar mais que um efeito visual. À medida que envelhecemos, o último ano parece ter passado depressa que os anteriores 
— depois dos 60, ainda sentirmos o cheiro do quentão das festas juninas quando nos damos conta de que falta menos de 1 mês para o ano novo. 
 
Por falar em ano novo, é comum r
elembrarmos o que aconteceu de ruim no ano que se foi e nos deixamos tomar por um (ilusório) sentimento de esperança em relação ao ano que se inicia. Mas o tempo é uma entidade fluida, impalpável e indivisível, e atribuir a ele um número novo cada vez que a Terra completa uma volta em torno do Sol serve apenas para tentar conferir alguma ordem ao Caos.

Observação: Não é o tempo que passa, nós é que passamos por ele como areia entre as âmbulas de uma ampulheta. Atribuir um número de série a cada ano é como tentar aprisionar o tempo num calendário de parede, pois sempre haverá um ministro do STF disposto a soltá-lo.
 
Até a invenção da escrita, os antigos mediam o tempo com base em fenômenos naturais sazonais. Mais adiante, os sumérios dividiram o ano em 12 meses de 30 dias, e os egípcios criaram um calendário lunar baseado na estrela Sirius (que "passava perto do Sol" a cada 365 dias). No final do século 16, o papa Gregório XIII instituiu o Calendário Gregoriano, que se popularizou porque usar o sistema de marcação de tempo instituído pelo Vaticano facilitava o relacionamento entre as nações européias.
 
Na música O AMANHÃ, a cantora Simone fala em cartomante, bola de cristal, jogo dos búzios e que tais. Conta-se que Lula, quando ainda era
 presidiário, consultou uma cartomante para saber se voltaria a ser presidente. Ela o instruiu a cortar o baralho, dividisse em cinco montes e virar uma carta de cada. O resultado foi uma sequência de reis: KKKKK (para entender melhor, observe a figurinha que ilustra esta postagem). 

Infelizmente, a cigana se enganou.

sábado, 19 de julho de 2025

DE VOLTA ÀS VIAGENS NO TEMPO — 37ª PARTE — CAPÍTULO ESPECIAL: LOOPS TEMPORAIS

A VIDA É FEITA DE CICLOS. QUEM NÃO APRENDE A FINALIZÁ-LOS FICA PRESO NUM LOOP INFINITO.

Dias atrás, a caminho do dentista, eu conversava com minha cara-metade sobre como o paradoxo dos gêmeos facilita a compreensão da dilatação temporal. Quando desembarcamos do Uber, agradeci a viagem ao motorista, que, para minha surpresa, agradeceu a aula de física e disse que gostaria de entender melhor a questão dos loops temporais. 

Como não era possível resumir a ópera parado em fila dupla diante do consultório, prometi enviar por mensagem o endereço do meu blog. No entanto, quando tentei localizar o post específico, constatei que havia abordado a assunto em mais de uma oportunidade, mas jamais me aprofundado — na mais detalhada, havia feito somente uma remissão ao filme Feitiço do Tempo.

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Ao pedir ao STF a condenação de Bolsonaro a 43 anos de cana, o procurador-geral sinalizou que o xadrez virá com ou sem tarifaço. A certeza de que está prestes a virar presidiário, a briga autofágica entre Tarcísio de Freitas e Eduardo Bolsonaro, o impacto direto do tarifaço de Trump sobre empresários e trabalhadores brasileiros e as medidas cautelares — uso de tornozeleira eletrônica, proibição de acessar redes sociais e de conversar com zero três, entre outras — deixaram o "mito" desnorteado. Ao perceber que se enfiou num redemoinho, ele fez o que sempre faz: criou (mais) uma realidade paralela, onde Tarcísio e Eduardo fizeram as pazes e a família não tem nada a ver com a chantagem americana. Mas a tentativa de escapar de fininho esbarra nos fatos. 
Logo após o tarifaço, Dudu Bananinha imprimiu suas digitais no cabo da arma  comemorando o “intenso diálogo” com o governo dos EUA e afirmando que a carta de Trump a Lula, condicionando a suspensão da medida à anistia do pai, “confirma o sucesso daquilo que viemos apresentando com seriedade e responsabilidade”. Desde então, o clã vem usando o tiro como moeda de troca.
Declarando-se “apaixonado” por Trump, Bolsonaro posou de negociador: “Me deem o passaporte de volta, que eu converso com ele.” A oferta soou mais como tentativa de fuga de um quase-presidiário do que como solução. Alcolumbre e Motta, percebendo o risco de afundar nessa canoa furada, reposicionam-se e se reaproximam do governo — o que, além de destravar a pauta de Lula no Congresso, bloqueia qualquer tentativa de anistiar o patriarca. 
No fim das contas, Trump virou cabo eleitoral de Lula — e está arrastando Bolsonaro e Tarcísio para o buraco.

A história se passa em Punxsutawney, no estado da Pensilvânia (EUA), durante as comemorações do tradicional Dia da Marmota. O protagonista é um repórter meteorológico mal-humorado que cobre a festa pela quarta vez consecutiva, se vê obrigado a pernoitar na cidadezinha devido a uma nevasca e acaba revivendo o dia da festa, a cada manhã, como se o tempo tivesse deixado de passar. Uma boa síntese, sem dúvida, mas limitada ao básico dos básicos. 

Loops temporais são conceitos físicos nos quais o tempo é fechado sobre si mesmo. Em termos técnicos, podemos associá-los à ideia de curvas temporais fechadas (CTCs), previstas como soluções matematicamente válidas da relatividade geral, mas altamente especulativas do ponto de vista físico. Nessas soluções, o espaço-tempo se curva de tal maneira que um viajante poderia, teoricamente, retornar ao próprio passado e reviver eventos. Suas causas podem ser sobrenaturais, científicas ou psicológicas, e somente quem está "consciente" se lembra dos eventos anteriores — o tempo "se reinicia" após cada ciclo, fazendo com que tudo volte ao ponto inicial — e pode usar o conhecimento acumulado para tentar mudar o resultado a cada repetição.

Do ponto de vista narrativo, os loops são usados para explorar a repetição e a transformação: ao vivenciar várias vezes a mesma sequência de eventos, o personagem adquire conhecimento e habilidade suficientes para alterar o curso das coisas — ou, pelo menos, para modificar sua própria compreensão da realidade. É como se a consciência fosse o único elemento fora da curva, ou, mais poeticamente, como se a consciência fosse a única coisa que não se dobra ao tempo.

 

Na ficção científica, o conceito também se articula com questões epistemológicas, éticas e metafísicas: se o tempo se repete infinitamente, qual o valor das escolhas? As ações ainda importam? A previsibilidade dos eventos compromete a liberdade? Longas como No Limite do Amanhã ou episódios como Cause and Effect (de Star Trek: The Next Generation), tensionam essas questões ao limite, mostrando personagens presos em loops que só conseguem romper mediante um aprendizado ou sacrifício extremo.

 

As CTCs são soluções válidas nas equações de Einstein — como no famoso "cilindro relativístico de Tipler" ou nos buracos de minhoca de Kip Thorne —, mas a existência dos loops violaria o princípio da causalidade, exigiria condições de energia negativa (não observadas empiricamente) e levantaria paradoxos temporais. Ainda assim, o físico Igor Novikov propôs a chamada "autoconsistência" como possível resolução: em um universo com CTCs, apenas eventos que não causam paradoxos podem ocorrer, como se o próprio espaço-tempo se autoajustasse.

 

Talvez o fascínio pelos loops não se limite à física ou à ficção: há quem veja neles metáforas existenciais profundas, desde os ciclos de repetição cotidianos até ideias filosóficas — como o "eterno retorno", de Nietzsche. Quiçá essa combinação entre rigor, imaginação e angústia existencial explique por que esse fenômeno continua a nos enredar, seja nas telas, nas páginas da teoria física ou em nossas próprias vidas.

 

No fim das contas, talvez o verdadeiro loop não seja o do tempo físico, mas o das nossas escolhas — repetições obstinadas, disfarçadas de progresso, que invariavelmente conduzem à autossabotagem. Segundo o Gênesis, Deus criou o mundo e tudo que nele existe em seis dias, viu que "tudo era bom" e descansou no sétimo. Mas mal sabia Ele que sua cria se dedicaria, sete dias por semana, vinte e quatro horas por dia, a arquitetar o colapso e tornar o caos não uma exceção, mas a regra.

 

Espero que isso satisfaça a curiosidade do motorista cujo comentário me deu o tema desta postagem) e interesse aos leitores que têm acompanhado esta longa sequência sobre viagens no tempo.

quinta-feira, 16 de outubro de 2025

O TEMPO PERGUNTOU AO TEMPO QUANTO TEMPO O TEMPO TEM…

VULNERANT OMNES, ULTIMA NECAT.

A ciência sabe muito, mas não sabe tudo. Sabe, por exemplo, que o cérebro é uma máquina de reconhecimento de padrões extremamente sofisticada, mas não sabe explicar as experiências de quase morte nem o déjà vu — essa estranha sensação de já termos vivenciado uma situação pela qual nunca passamos. 


A mitologia aborda a natureza do tempo com uma linguagem poética — a palavra "cronológico" vem de Chronos, o deus grego que devorava os próprios filhos. Já a ciência a aborda com rigor, mas ainda não sabe se o tempo passa para nós ou se nós passamos por ele, ou mesmo se ele é real ou apenas uma convenção criada para colocar alguma ordem no caos.


CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA


Segundo o Datafolha, 58% dos brasileiros têm vergonha dos ministros do STF. E não é para menos: nem uma republiqueta de bananas como a nossa merece que togados supremos se metam no fla-flu em que se converteu a escolha do substituto de Luís Roberto Barroso.

Lula recebeu informalmente, no Alvorada, os ministros Alexandre de Moraes, Gilmar Mendes, Flávio Dino e Cristiano Zanin. O micróbio não esconde sua preferência pelo advogado-geral Jorge Messias, mas os visitantes prefeririam que ele indicasse o senador Rodrigo Pacheco.

As atribuições do Supremo são específicas, e seu poder emana da independência prevista na Constituição. Essa independência não deveria frequentar palácios nem participar de conchavos, sob pena de a Corte virar bancada política.

Qualquer criança de cinco anos fica autorizada a concluir que há no plenário do Supremo uma espécie de “Centrão de toga”, e isso não ajuda a atenuar a vergonha captada pela pesquisa do Datafolha.


Segundo a Teoria da Relatividade, espaço e tempo formam uma estrutura unificada — o espaço-tempo — na qual o tempo desacelera à medida que a velocidade do observador aumenta (princípio da dilatação temporal). Como nada dotado de massa pode atingir a velocidade da luz (simbolizada por "c"), uma hipotética espaçonave viajando a 99,99999999999% dessa velocidade levaria 4,22 anos para chegar a Proxima Centauri, mas a viagem não levaria menos de um minuto no referencial dos astronautas.


Observação: A 99,99999999999% de “c”, o fator de Lorentz é extremamente alto (γ ≈ 707.000), fazendo com que o relógio dos astronautas corra 707.000 vezes mais devagar em relação aos da Terra. Além disso, da perspectiva da nave, a distância até Proxima Centauri se contrai para apenas alguns milhões de quilômetros, mas ambas as perspectivas estão corretas em seus próprios referenciais — ou seja, não há contradição, apenas diferentes medições do mesmo evento, já que cada observador vê o relógio do outro como mais lento (covariância de Lorentz).

Num carro a 180 km/h, a dilatação temporal é imperceptível, mas os relógios atômicos dos satélites GPS que orbitam a Terra a 14 mil km/h adiantam 38 milissegundos por dia, tornando o efeito mensurável. Se fosse possível viajar a uma velocidade próxima à da luz, um segundo no referencial do viajante representaria anos no tempo terrestre (como bem ilustra o paradoxo dos gêmeos). 

De acordo com o princípio da causalidade (não confundir com casualidade), o ontem molda o hoje, e o hoje molda o amanhã. Por outro lado, se estamos sempre reinventando o futuro em função da maneira como pensamos no presente e imaginamos o mundo de hoje, então o futuro não é mais o que era minutos atrás — e o mesmo se dá com o passado. 


Se o hoje é o amanhã de ontem e o ontem de amanhã, o presente é sempre o que é real; o passado é o que não é mais real — embora seja necessário, pois ninguém pode fazer com que o que foi feito não tenha sido feito —, e o futuro o que ainda não é real — ou seja, apenas possível. A pergunta que se coloca é: o que seria esse estranho tempo que nunca chega? 


A resposta é: não existe uma resposta, embora possamos conceber esse futuro imutável usando um rio e um trem como metáforas para representar o tempo. No caso do rio, as águas do tempo fluem à nossa volta sem que possamos paralisá-las. Assim, o futuro está sempre à nossa frente e o passado, sempre atrás. Já no caso do trem, o tempo corre sempre na mesma direção e à mesma velocidade, do antes para o depois — e nós seguimos presos aos trilhos.


Essas duas imagens do tempo parecem contraditórias: de um lado, as coisas aparentam se mover em direção ao passado; de outro, em direção ao futuro. Seria o tempo como o rio em que nos encontramos imersos ou como o trem que vemos passar? Seria o futuro o que nos precede ou o que se segue ao nosso tempo? 

A resposta pode ser uma das chaves do mistério do tempo. Einstein definiu o Universo como um bloco quadridimensional estático contendo todo o espaço e o tempo simultaneamente, sem um "agora" especial, e uma notável confraria de físicos admite a possibilidade de negar a existência do tempo sem afrontar a causalidade — já que o tempo é apenas uma ilusão emergente, uma percepção derivada de mudanças na posição e nos estados das partículas. Nesse cenário, o livre-arbítrio parece apenas mais uma ilusão de perspectiva — uma história que lemos acreditando escrevê-la.

As metáforas do rio (tempo fluindo por nós) e do trem (nós atravessando o tempo) capturam perfeitamente o paradoxo central, já que ambas parecem verdadeiras e, ao mesmo tempo, contraditórias. A visão einsteiniana do "universo em bloco" (block universe) resolve parcialmente essa questão: se todo o espaço-tempo já existe simultaneamente, então tanto o "fluxo" quanto a "travessia" são ilusões da consciência, e nós, meros leitores movendo os olhos por um livro já escrito.

A perspectiva de o futuro não ser mais o que era minutos atrás" em função de como pensamos o presente toca em algo profundo: a física clássica sugere Determinismo (dado o estado presente, o futuro é único), mas a mecânica quântica introduz indeterminação genuína. Talvez o futuro seja simultaneamente "já escrito" em termos relativísticos e "ainda aberto" em termos quânticos.


Segundo os presentistas somente o momento atual existe — o passado são cinzas de um fogo que se apagou; e o futuro, uma névoa inexistente. Para os eternalistas, por sua vez, tanto sua infância quanto o momento atual existem, e seu último suspiro já está gravado na estrutura do espaço-tempo, como uma página de livro esperando para ser lida. 


O Presentismo enfrenta um dilema fatal: se apenas o “agora” existe, de qual “agora” estamos falando? O dos astronautas que viajam a 99,99999999999% da velocidade da luz — para quem passou menos de um minuto — ou para quem ficou na Terra — onde se passaram 4,22 anos?


A relatividade destrói a noção de um “presente universal”, já que não admite a existência de um ”'agora” cósmico sincronizado. Mas o Eternalismo também parece absurdo: se nossa morte futura "já existe", por que ainda não a sentimos? Por que nossa consciência insiste teimosamente em fluir apenas para frente, como prisioneira de uma trajetória já traçada?


A resposta pode estar no Possibilismo — segundo o qual apenas o presente e o passado existem; o futuro é potencialidade pura, ramificações quânticas ainda não colapsadas. Mas talvez o tempo simplesmente não “passe”; nossa consciência seja como um holofote atravessando uma paisagem estática de eventos, iluminando momentos que sempre estiveram lá.


Resumo da ópera: o Eternalismo sugere que somos o trem atravessando uma paisagem fixa; o Presentismo insiste que somos folhas no rio, criando o curso conforme fluímos, e a mecânica quântica sussurra uma terceira opção: somos simultaneamente o trem e o rio — observadores que colapsam possibilidades em realidades, escrevendo o livro conforme o lemos.

Pensando bem, a ciência pode não ter escolhido entre essas visões porque a própria pergunta "o que existe realmente?" pressupõe que existência tenha um significado absoluto. Mas a relatividade nos ensinou que até conceitos aparentemente óbvios, como simultâneo, são relativos ao observador.

Talvez o tempo seja como a luz, cuja natureza última escapa às nossas categorias intuitivas. Ou talvez ele simplesmente não passe. Ou talvez nossa consciência seja como um holofote que atravessa uma paisagem estática de eventos, iluminando momentos que sempre estiveram lá — e sempre estarão."

Continua…