sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

AINDA SOBRE A AUSÊNCIA DE LULA NO ENTERRO DE VAVÁ, ONDE O MORTE FEZ O PAPEL DE FIGURANTE



Com o fim do recesso no Judiciário, é provável que o ministro Marco Aurélio decida ainda nesta sexta-feira se as investigações sobre o caso Queiroz/Bolsonaro prosseguirão mesmo no MP-RJ. Dada essa possibilidade, resolvi sobrestar a publicação do capítulo final da minha sequência sobre o imbróglio e dedicar mais algumas linhas ao mais recente “episódio Lula”.

"Não deixaram que eu me despedisse do Vavá por pura maldade. Não posso fazer nada porque não me deixaram ir. O que eu posso fazer é ficar aqui e chorar", disse o molusco abjeto, deixando claro que sua opção pela política privou a dramaturgia tupiniquim do que poderia vir a ser um grande ator.

À luz dos argumentos do MPF e da PF, tanto a juíza Carolina Lebbos quanto o desembargador Leandro Paulsen negaram o pedido da defesa de Lula, mas o ministro Dias Toffoli, o conciliador, numa decisão salomônica, autorizou o encontro do molusco com seus familiares, mas desde que numa base militar, sem a presença de militantes, repórteres e telefones celulares.

Sem palanque, sem comício, sem vitimismo, Lula preferiu não deixar suas acomodações na Superintendência da PF em Curitiba. Como sua ideia era capitalizar politicamente a morte do irmão — de quem, dizem, ele nunca foi muito próximo — recorrendo à demagogia politiqueira, a decisão tardia do presidente do STF lhe deu o argumento ideal para se fazer de vítima.

Observação: A decisão de Toffoli causou espécie entre militares das Forças Armadas. O próprio presidente Bolsonaro demonstrou preocupação com a operacionalidade da ação. A ideia era Lula ser levado de Curitiba para a Base Aérea de Guarulhos e, ao final da reunião familiar, devolvido a sua cela. Seria um voo ponto a ponto, sem necessidade de uso de helicópteros, o que tornaria a operação mais simples e com menos risco. Não obstante, os militares receavam que o próprio pessoal da caserna reagisse mal à “regalia” que estaria sendo concedida ao prisioneiro. Um oficial-general lembrou tratar-se de procedimento complexo, de alto custo e que poderia gerar revolta entre os militares devido ao uso de suas instalações.

Responsável pela decisão administrativa que embasou a decisão de Lebbos e Paulsen, o superintendente da Polícia Federal no Paraná, Luciano Flores de Lima disse que atender ao pedido da defesa era impossível. “Temos que botar na balança se é possível e se o pedido vai ser alcançado”, afirmou, depois de questionado pela Folha durante entrevista sobre a nova fase da Lava-Jato. “Eu não entendi a polêmica. Simplesmente não era possível; não dependia da boa vontade de ninguém. Apenas não havia condições logísticas e policiais suficientes para garantir a segurança do próprio conduzido e dos agentes públicos.”

Toffoli, criticado pelo PT por liberar a saída do prisioneiro somente quando faltavam poucos minutos para enterro, rebateu: “o juiz não pode acordar de manhã e decidir: vou solucionar tal problema da sociedade. Se um juiz quer ter desejos e ir além de sua função tradicional, que vá ser deputado”.

Lula nunca se interessou por enterro de irmão. Faltou a dois eventos do tipo antes de se tornar presidiário. O que interessa a ele é alimentar a narrativa de perseguido. Se agora não pode compartilhar com a família momentos como esse, deveria ter sopesado essa possibilidade antes de cometer os crimes que o puseram na cadeia. Para encerrar, um texto de Augusto Nunes:

É tão avassaladora a paixão de Lula por Lula, é tão gigantesco o seu ego, que não sobra espaço para outros afetos reais. Lula só ama Lula. E faz apenas o que acha que o deixa melhor no retrato.

O presidiário mais conhecido do Brasil não estava interessado em despedir-se do irmão Vavá, nem em rever parentes que nunca visitou quando estava em liberdade. O que o explorador de cadáveres queria era fazer outro comício à beira do caixão. Como faltou palanque, preferiu faltar ao encontro com a família em São Bernardo.

No cemitério, falaram por ele Gleisi Hoffmann e Fernando Haddad. Ambos atacaram o ministro Sergio Moro e a crueldade dos juízes que, na versão da dupla, perseguem o chefe. Nenhum deles mencionou uma única vez o nome de Vavá. No lugar do toque de silêncio, dois corneteiros sopraram a musiquinha “Lula, lá”.

Pela primeira vez, o morto fez o papel de figurante no próprio velório.