Alan Garcia, que governou
o Peru entre 1985 e 1990 e novamente de 2006 a 2011, ao saber que seria
preso temporariamente por conta de investigação sobre propinas recebidas Odebrecht, preferiu antecipar sua
entrevista com o diabo dando um tiro na própria cabeça. Garcia era um dos quatro ex-presidentes peruanos investigados por
relações espúrias com a empreiteira-corruptora brasileira — que, dentre outros
inestimáveis serviços prestados ao Brasil, incluiu
a corrupção no portfólio de itens exportados por nosso país. É lamentável que próceres da política
tupiniquim, igualmente enrolados com a Justiça — sobretudo aqueles que foram
diretamente responsáveis pelo empoderamento do cartel de empresa capitaneado
pela Odebrecht —, não se espelhem no
político peruano e continuem insistindo ad
nauseam no seu pseudo vitimismo e soterrando os tribunais com suas chicanas
jurídicas.
Falando na Justiça brasileira, nosso país é o 105º colocado
no ranking de liberdade de imprensa da ONG Repórteres Sem Fronteiras. O resultado anunciado na última quinta-feira
18 é
pior do que o de 2018, quando esta banânia ocupava a 102ª colocação. E
ainda sobre o “cala boca já morreu, mas ressuscitou por obra e graça de dois ministros
supremos”, Marco Aurélio Mello classificou
de “mordaça" a decisão do colega Alexandre de Moraes, que determinou a retirada do ar de reportagens publicadas
pela revista Crusoé e pelo site O Antagonista, que fazia referência a uma citação ao nome do
presidente do STF em delação da Odebrecht. Confesso que não sou fã
incondicional de Marco Aurélio, mas concordo com ele quando diz que “vivemos
tempos estranhos”.
Mudando de um ponto a outro, pelo evangelho segundo Cármen Lucia, rediscutir o cumprimento
da pena após condenação em segunda instância à luz da prisão de Lula seria “apequenar o Supremo”. Fiel a suas convicções, a
ministra deixou a presidência da Corte, em setembro do ano passado, sem ter
pautado o julgamento das furibundas ADC 43, do PEN, ADC 44 , da OAB, e ADC 54, do PCdoB. Seu sucessor no cargo, ministro Dias Toffoli, incluiu, em dezembro, as tais ações na pauta do dia 10 de
abril de 2019, acreditando que até lá o STJ teria julgado o REsp
de Lula no caso do tríplex
e, portanto, a polêmica do cumprimento da pena após condenação em segunda
instância ficaria menos explosiva, facilitando o acolhimento de sua
"proposta conciliatória" — de autorizar a prisão somente após o STJ (terceira instância) ratificar
a condenação. Com isso, o STF evoluiria
para uma posição mais “garantista”, como reclama a nata dos criminalistas, e Lula, com punição confirmada pelo STJ, continuaria preso. Mas faltou
"combinar com os russos".
Observação: Reza a lenda que na copa de 58, o técnico Feola bolou um esquema infalível contra a seleção soviética: Nilton Santos lançaria a bola pela esquerda para Garrincha, que driblaria 3 russos e cruzaria para Mazzola marcar de cabeça. Depois de ouvir tudo atentamente Garrincha perguntou: "tá legal, seu Feola, mas o senhor combinou com os russos?".
Mesmo depois que as ADCs foram pautadas, seu relator surpreendeu a todos com uma liminar funambulesca publicada minutos após o início do recesso de final de ano do Judiciário — liminar essa que, se Toffoli não tivesse cassado prontamente, resultaria na libertação de Lula e de outros 169 mil condenados em segunda instância que aguardam presos o julgamento de seus recursos pelas instâncias superiores. Enfim, o ano virou, janeiro terminou, março sucedeu a fevereiro e o STJ ainda não julgou o REsp de Lula.
Observação: Reza a lenda que na copa de 58, o técnico Feola bolou um esquema infalível contra a seleção soviética: Nilton Santos lançaria a bola pela esquerda para Garrincha, que driblaria 3 russos e cruzaria para Mazzola marcar de cabeça. Depois de ouvir tudo atentamente Garrincha perguntou: "tá legal, seu Feola, mas o senhor combinou com os russos?".
Mesmo depois que as ADCs foram pautadas, seu relator surpreendeu a todos com uma liminar funambulesca publicada minutos após o início do recesso de final de ano do Judiciário — liminar essa que, se Toffoli não tivesse cassado prontamente, resultaria na libertação de Lula e de outros 169 mil condenados em segunda instância que aguardam presos o julgamento de seus recursos pelas instâncias superiores. Enfim, o ano virou, janeiro terminou, março sucedeu a fevereiro e o STJ ainda não julgou o REsp de Lula.
Para evitar que seu plano fosse a pique, Toffoli, “atendendo a uma solicitação da OAB”,
retirou de pauta as ADCs e
adiou sine die seu
julgamento — que só deve acontecer no segundo semestre, a não ser que Marco Aurélio leve o tema em mesa (ou seja, coloque a questão
em discussão durante uma sessão plenária, ainda que ela não tenha sido incluída
na pauta). Se o presidente supremo empurrou a discussão com a barriga por
receio de que a jurisprudência fosse mantida — contrariando os interesses da
ala garantista e os advogados criminalistas —, ou se o fez por achar que uma
eventual mudança pudesse inflamar as ruas, essa é uma questão que divide
opiniões. Mas é consenso que, sem uma definição sobre a polêmica, os ministros
garantistas seguirão forçando a rediscussão da antecipação da pena com
decisões monocráticas que colidem com a jurisprudência colegiada (e o mesmo se
aplica à segunda turma, com Gilmar
Mendes, Ricardo Lewandowski e Celso de Mello emparedando os
colegas Edson Fachin e Cármen Lúcia).
Segundo Veja,
um emissário de Toffoli procurou
a OAB no final de março
para sondar se a entidade concordaria em adiar a análise das ADCs. A OAB concordou, e assim foi feito. Na avaliação do ministro
supremo Luís Roberto Barroso —
que também integra o TSE —,
o STF pode perder sua
legitimidade e provocar “uma crise institucional” caso não consiga
“corresponder aos sentimentos da sociedade”. Na sua avaliação, não faz o menor
sentido mudar a jurisprudência se o Supremo reforma
apenas 0,4% das decisões dos tribunais inferiores e o STJ, 1,2% dos casos.
Observação: Para Barroso,
existe um certo ressentimento da elite do País contra a Lava-Jato, pois todo mundo tem algum
conhecido envolvido. "Ninguém se
arrepende de coisa alguma, todos dizem que estão sendo perseguidos, que são
vítimas de uma conspiração, mesmo
quando são fotografados ou filmados." Luiz Fux, que acumula a função de
ministro supremo e vice-presidente do TSE,
não só segue
a mesma cartilha como
vai mais além, defendendo um mandato de 10 anos para os membros da nossa mais
alta corte, e afirmando que “os juízes eleitorais não têm a menor condição de
apurar esses crimes comuns, como corrupção etc." (confira a entrevista que o ministro concedeu a Andreia Sadi no “Em Foco” do último dia 10).
Além de questionar a prisão em segunda instância, a defesa
de Lula quer que o STJ mande o caso do triplex para a
Justiça Eleitoral. O recurso já foi negado monocraticamente pelo relator,
ministro do STJ Felix Fisher, uma vez que o reexame de
matéria fática (provas) se encerra na segunda instância. Nos bastidores, os
advogados do petista buscam convencer o STJ a derrubar a punição por lavagem de dinheiro. Caso isso
aconteça, mesmo que a condenação por corrupção passiva seja mantida, a pena
seria reduzida para cerca de oito anos, e em breve o paciente poderia passar a
cumpri-la no regime semiaberto ou em prisão domiciliar. Nos corredores do
tribunal, a proposta é considerada uma solução
salomônica entre as pressões feitas por defensores e opositores do ex-presidente
— que, em tese, não deveriam interferir no processo, mas, na prática, têm
guiado as decisões, dentro e fora dos autos.
Também como eu mencionei anteriormente, a ausência do
ministro Marcelo Ribeiro Dantas na
sessão da última quinta-feira no STJ fez
com que o julgamento do REsp de Lula pela 5ª Turma ficasse para depois da
Páscoa (mais detalhes nesta postagem). No último dia 12,
o MPF em Brasília reforçou
a denúncia por corrupção passiva apresentada no ano passado pela PGR contra Lula e os ex-ministros Paulo Bernardo e Antônio Palocci. O inquérito foi aberto
inicialmente no STF porque,
além dos três, a então senadora e ora deputada e presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, também foi denunciada. O ministro Fachin decidiu fatiar o inquérito
e enviar à primeira instância as menções a pessoas sem direito ao foro nefasto
foro privilegiado, e se a denúncia for aceita, o ex-presidente corrupto se tornará réu mais uma vez.
Deu no Antagonista:
A crise atual nem começou direito e a próxima estação desse funesto trem
fantasma já está à vista: a discussão sobre a libertação de Lula pela 2ª Turma do STF. Segundo o site, está
em formação uma maioria em favor do ex-presidente, o que alteraria todo o
entendimento das coisas até aqui. A turma deve se reunir presencialmente em
breve, a pedido de Gilmar Mendes,
que não esconde o desconforto com a prisão do petista. Dois governadores contam
que receberam a mesma avaliação de membros da cúpula das Forças Armadas: a exemplo do já
histórico tuíte do general Villas
Bôas em 2018, os militares não estão dispostos a bancar sem alertas
antecipados o controle da balbúrdia social que creem ser inevitável no caso de
soltura de Lula que tenha
cheiro de casuísmo. A conferir.