"Moro não sabe o que é ser presidente nem ministro. Vocês gostaram do discurso lido pelo cara ontem?", perguntou o mestre, doutor e pós-doutor em má governança a sua récua de muares amestrados, sempre dispostos a beber as palavras daquele que, segundo o senador Omar Aziz, por onde passa vai lançando fezes.
Ao debochar do discurso de seu ex-ministro, Bolsonaro
faz como o roto que troça do remendado. Moro não se destaca pela
oratória. Tem voz de pato. Ele próprio reconhece: "Se eventualmente eu
não sou a melhor pessoa para discursar, posso assegurar que sou alguém em que
vocês podem confiar. (...) O Brasil não precisa de líderes que tenham voz
bonita; o Brasil precisa de líderes que ouçam a voz do povo brasileiro",
disse, em seu discurso de filiação ao Podemos.
Moro foi acusado de "traíra". De sair
atirando contra o governo do qual fez parte durante 1 ano e 4 meses. De
ambicionar uma vaga no STF... Mas a pergunta que se coloca é: qual
militante do Direito, seja advogado, promotor, juiz ou desembargador, não aspira
à suprema toga?
Ivan Lessa dizia que o brasileiro esquece a
cada 15 meses o que aconteceu nos últimos 15 anos. Com
a pandemia, esse período parece ter encolhido para 15 meses. Ou 15 semanas. Ou
15 dias. Em atenção aos desmemoriados, relembro que numa entrevista
transmitida ao vivo pela Rede Globo, em 29 de outubro de 2018, o então
presidente eleito (maldita hora!) declarou que "convidaria Moro para
ser o futuro ministro da Justiça ou para uma vaga de ministro do Supremo".
A acusação feita por Bolsonaro em depoimento à Polícia Federal — de que "Moro concordou com a troca no comando da PF, desde que ocorresse após sua indicação à vaga no STF” — é falaciosa e oportunista. Quem fez a "proposta indecente" foi a deputada bolsonarista Carla Zambelli. E Moro respondeu: “Prezada, não estou à venda”. Ainda que assim não fosse, o argumento do ex-ministro me parece mais crível que a versão oportunista de seu ex-chefe: "Quando vi meu trabalho boicotado e quando foi quebrada a promessa de que o governo combateria a corrupção, sem proteger quem quer que seja, continuar como ministro seria apenas uma farsa".
Passados cinco meses da demissão de Moro, o
general da banda afirmou candidamente que acabara com a Lava-Jato porque não havia mais corrupção no governo. Leda
pretensão: corrupção é o que mais há em seu entorno. Aliás, dos cinco filhos que
ele teve em três casamentos, apenas
Laura, de 11 anos, não é alvo de investigações.
Foi lamentável a decisão do então juiz de abandonar 22 anos
de carreira na magistratura para mergulhar na fossa negra que se tornou o governo do
capitão-tinhoso. Tivesse ele continuado na 13ª Vara de Curitiba, o mensaleiro Lula
possivelmente estaria na cadeia e a "prisão
em segunda instância" provavelmente continuaria vigendo.
Sempre se soube que impedir o início do cumprimento da pena
após decisão colegiada seria ferir de morte a Lava-Jato, cujo
sucesso deveu-se em grande medida às delações premiadas, que dependiam de conduções
coercitivas, prisões preventivas e ameaça real de cumprimento da pena, sem o
que os bandidos de colarinho branco dificilmente entregariam a rapadura.
Há projetos no Congresso visando o restabelecimento do status
quo ante, mas a pandemia foi a desculpa perfeita para que eles emperrassem.
No Senado, esperava-se
votar a proposta ainda em 2019; na Câmara, a
PEC dormita numa gaveta há mais de 2 anos. Moro defende a
retomada da tramitação das propostas, e seu ingresso na política
partidária pode favorecer a aprovação.
No discurso de filiação
ao Podemos, o ex-juiz defendeu o legado da Lava-Jato e lançou
farpas contra o "ex-corrupto" que ele condenou a 9 anos e 6 meses de
prisão em julho de 2017 — decisão não só ratificada unanimemente pela 8ª
Turma do TRF-4 e pela 5ª Turma do STJ, mas que teve
a pena aumentada pelos desembargadores. Aliás, foi o TRF-4 que
determinou à 13ª Vara de Curitiba a expedição
do competente mandado de prisão. Para quem ainda não entendeu, Lula
não foi preso a mando de Moro, mas da Justiça — o magistrado apenas mandou
a PF cumprir a determinação da instância superior e, como isto é Brasil,
a prisão da "alma viva mais honesta do Brasil" transformou-se num espetáculo
midiático lamentável.
Voltando à sinuca de bico prevista para outubro do ano que
vem, líderes partidários que monitoravam as reações à filiação de Moro
ao Podemos se surpreenderam com o crescimento das menções ao nome do
provável candidato, sendo a maioria delas com citações positivas. Mas muita
água ainda vai rolar até a hora "H" do dia "D".
Dizem que a política é a arte do possível. Moro não é
o candidato dos meus sonhos, como também não eram a trupe de feira de horror do
primeiro turno do pleito de 2018 e os dois remanescentes que o esclarecidíssimo
eleitorado tupiniquim escalou para o segundo turno, forçando-nos a apoiar o
bolsonarismo boçal para impedira a volta do lulopetismo corrupto. Como disse o
general Figueiredo em abril de 1978, "um
povo que não sabe escovar os dentes não está preparado para votar".
Dos cinco presidentes eleitos pelo voto direto desde a
redemocratização, o primeiro e a penúltima foram impichados, e se esta banânia fosse
um país sério, o atual já teria
sido despejado e internado.
Collor colecionou 29 pedidos de abertura de processo de impeachment; Fernando
Henrique, 27; Lula, 37; Dilma, 68; e Bolsonaro, cerca
de 140 — e ainda sonha com a reeleição!
Puxa-sacos do capetão dizem acreditar que a entrada de Moro
na corrida eleitoral terá impacto na terceira via, mas não veem força política
suficiente para romper a polarização. Acham que o ex-juiz tem pouco espaço para
crescer nas pesquisas, e que dificilmente conseguirá construir uma aliança
partidária com congressistas e prefeitos que lhe dê sustentação para avançar na
disputa.
Bolsonaro, agora centrista declarado e formalmente
amancebado com as marafonas do Congresso, resolveu concorrer à reeleição pelo PL
de Valdemar Costa Neto, ex-aliado de Lula e preso no mensalão. É a
nona (ou décima?) vez que o sultão do Bolsonaristão troca de partido em 3
décadas de vida pública.
Atualização: O PL anunciou nesta manhã o cancelamento do evento para a filiação de Bolsonaro, que estava marcado para o próximo dia 22. Segundo o mensaleiro Valdemar Costa Neto, dono da legenda, a decisão foi tomada "em comum acordo e após intensa troca de mensagens na madrugada", e que a sigla “ainda estuda outras datas para a realização do evento, a ser anunciada oportunamente”. O capetão, que está em Dubai, disse que “tem muita coisa a conversar”, e que pode "atrasar um pouco esse casamento para que ele não comece sendo muito igual os outros". "Pelo pouco que conheço o Presidente, penso que o casamento com o PL não dará certo! Não descarto haver abandono no altar", escreveu a deputada Janaína Paschoal no Twitter. A ver.
No outro extremo, o ex-governador de São Paulo e ex-tucano Geraldo
Alckmin — o eterno "picolé
de chuchu" — flerta com a ideia (pasmem!) de concorrer à
vice-presidência na chapa de... Lula!
Depois de comer pizza em pé na calçada, mais parecendo um indigente que um presidente, o capitão-cloroquina tornou a envergonhar o país em seu périplo turístico pela Europa. Neste feriadão do Dia da Bandeira não houve motociata. O motoqueiro fantasma estava em meio a outro périplo turístico, desta vez pelas Arábias, começando pelos Emirados e terminando pelo Catar.
Deveria ir
se catar. E nunca mais voltar.