O TEMPO PERGUNTOU AO TEMPO QUANTO TEMPO O TEMPO TEM, E O TEMPO RESPONDEU AO TEMPO QUE NÃO TEM TEMPO PRA DIZER AO TEMPO QUE O TEMPO DO TEMPO É O TEMPO QUE O TEMPO TEM.
O fruto mais cobiçado — e ainda inalcançado — da “árvore Relatividade” são as viagens no tempo, e um dos aspectos mais intrigantes do tempo é a diferença com que ele passa para observadores que se deslocam a velocidades distintas. Quando observarmos o relógio, vemos o ponteiro dos segundos avançar num ritmo constante, como um rio que corre para o mar, mas a velocidade desse "rio do tempo" é inversamente proporcional à nossa.
Se não nos demos conta disso, é porque as velocidades que vivenciamos no dia a dia são ínfimas. Num carro a 180 km/h, por exemplo, 1 minuto corresponde a 59,999999999999904 segundos. Por outro lado, os relógios atômicos dos satélites que orbitam a Terra adiantam 0,00447 segundos por dia — devido à velocidade de 28 mil km/h e à gravidade, que é menor a 20 mil km de altitude. Sem as devidas correções, os sistemas de GPS apresentariam erros de até 10 km por dia.
CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA
Sujos e mal lavados se uniram para organizar uma fila de votações onde a sem-vergonhice, encabeçada pela PEC da blindagem, foi acomodada adiante do interesse público. O texto realiza os sonhos de parlamentares encrencados condicionando prisões em flagrante e abertura de ações penais no STF ao aval da Câmara e do Senado. Se forem presos em flagrante por algum crime inafiançável, poderão ser soltos pelo próprio Congresso em 24 horas, e seus benfeitores ficarão protegidos da opinião pública, já que a votação é secreta.
No melhor estilo uma mão suja a outra, a facção bolsonarista do Legislativo concordou com a prioridade do Centrão mediante o compromisso de que, na sequência, seja votado um pedido de urgência para uma vergonhosa PEC da anistia que inclua o ex-presidente golpista. Para fechar o ciclo de desfaçatez, o PL indicou o lesa-pátria filho do pai como líder da minoria na Câmara. Homiziado na cueca de Trump desde fevereiro, Dudu Bananinha simularia o exercício da liderança à distância, livrando-se da cassação do mandato por excesso de faltas.
De acinte em acinte, suas insolências transformam a política num outro ramo do crime organizado. Mas é importante lembrar que a culpa é de quem repete nas urnas a cada dois anos, por ignorância, o que Pandora fez uma única vez por curiosidade. A quem tem ao menos dois neurônicos funcionais, fica a recomendação: Vote nas putas; votar nos filhos delas não funcionou.
Consideramos o tempo como o pano de fundo de uma sucessão de eventos que fluem numa direção preferencial. Segundo o princípio da causalidade (não confundir com “casualidade”), as causas sempre precedem as consequências. O que aconteceu ontem impõe restrições ao que acontece hoje, e o que acontece hoje influencia o que acontecerá amanhã. Ainda assim, nossa percepção da passagem do tempo depende de diversas variáveis. Para quem está a ponto de borrar as calças e ouve de quem está no banheiro o tradicional “só um minuto!”, esse minuto parecerá a antessala da eternidade.
À medida em que envelhecemos, nossas experiências se tornam mais previsíveis. Isso nos dá a sensação de que o tempo está passado cada vez mais depressa, a despeito de os ponteiros do relógio avançar com a mesma velocidade com que avançava na nossa infância. No entanto, mesmo que os dias e as noites se sucedem a cada doze horas, o tempo não é o mesmo em todos os lugares.
Numa hipotética espaçonave a 99,9999999% da velocidade da luz, a dilatação temporal reduziria milhares de anos terrestres a poucos segundos. Já a dilatação gravitacional do tempo faz com que o tempo passe mais devagar ao nível do mar do que no topo do Everest (fato comprovado por relógios atômicos posicionados a alturas diferentes, mesmo quando diferença é de apenas alguns milímetros).
Para entender como os ciclos de sono, alimentação e produtividade são afetados pela referência das horas, o pesquisador francês Michel Siffre passou dois meses numa caverna escura, sem relógio nem qualquer outra maneira de saber o tempo. A única fonte de luz disponível era uma lâmpada de mineração, que ele usava para cozinhar, ler e escrever em um diário pessoal.
No livro Beyond Time, lançado em 1964, ele relatou que tomava o próprio pulso e contava os segundos até 120 sempre que se comunicava por rádio com a equipe de apoio, mas o tempo real cronometrado por seu staff era de quase 5 minutos. Sem os indicadores naturais (como nascer e pôr-do-sol), seu ciclo circadiano passou de 24 para 48 horas, e o tempo psicológico foi reduzido à metade do cronológico. O experimento se estendeu por dois meses, que para ele pareceram menos de um.
Estudos recentes apontam que até o idioma e o sistema de escrita (da esquerda para a direita ou vice-versa) fazem diferença. Na maioria das línguas, o passado é descrito como algo que ficou para trás, e o futuro, como algo que está sempre mais adiante, mas no idioma falado pelos índios Aimarás ocorre o contrário. No inglês, as distâncias percorridas são usadas para explicar a duração dos eventos; no grego, o fluxo temporal é percebido como um volume crescente, não como distância física.
Uma vez que o idioma pode se infiltrar em nossas emoções e percepção visual, aprender uma nova língua nos "sintoniza" com dimensões sensoriais até então desconhecidas. De acordo com um estudo publicado pela Nature Reviews Neuroscience, o hipotálamo dos "atrasados crônicos" funciona de modo a fazê-los subestimar o tempo necessário para chegar ao local do compromisso, uma vez que as estimativas são baseadas no tempo gasto para realizar a mesma tarefa no passado, e essas memórias nem sempre são precisas.
O estado emocional também contribui: o negativo nos dá a sensação de que o tempo está passando mais devagar, e o positivo, a sensação oposta. No auge da pandemia da Covid, muitas pessoas queriam "acelerar o tempo" para retomarem a "vida normal". Como emoção e motivação estão interligadas, o tempo pareceu passar ainda mais devagar. Quanto maior a motivação, mais acentuada a mudança na percepção de tempo, e tanto a percepção de aceleração quanto de desaceleração temporal atuam sobre a maneira como alcançamos determinados objetivos.
Enquanto a sensação de aceleração tende a facilitar as conquistas, a desaceleração costuma evitar que demoremos muito em situações potencialmente prejudiciais — quanto mais o tempo "demora a passar" numa situação de medo, por exemplo, mais rapidamente agimos para nos livrarmos do perigo. Mas vale destacar que “ganhar tempo” ou “perder tempo” é um erro de perspectiva: o tempo não é uma moeda que podemos guardar ou desperdiçar, ele simplesmente passa, e tentar “economizá-lo” fazendo várias coisas simultaneamente (multitasking) nos leva a “perder” mais tempo do que se realizarmos uma atividade por vez.
Observação: Traçar um paralelo entre o cérebro humano e a CPU (sigla de Central Processing Unity, que designa o processador principal do computador, embora muita gente a utilize equivocadamente para se referir ao “case” — ou gabinete — dos desktops) faz sentido, mas os computadores são “multitarefa” e nós, não. Dizem que as mulheres até conseguem, mas eu acho que isso não passa de folclore.
Pensamos no tempo como algo externo, mas ele é um conceito profundamente enraizado em nossa mente. Todos temos um "relógio interno" que regula o sono, a fome e a energia ao longo do dia. Ou seja, nosso relógio biológico é regulado pelo tempo, e alterá-lo — trabalhando à noite ou dormindo em horários irregulares — afeta nossa saúde e compromete nosso bem-estar.
Até a invenção da escrita, o tempo era medido com base em fenômenos naturais sazonais. Mais adiante, os sumérios dividiram o ano em 12 meses de 30 dias e os egípcios criaram um calendário lunar baseado na estrela Sirius. No final do século XVI, o calendário Juliano foi substituído pelo modelo Gregoriano, que atualmente é adotado pela maioria dos países. Mas não é o tempo que passa; nós é que passamos por ele como areia entre as câmaras de uma ampulheta.
Atribuir um número de série a cada ano é como tentar aprisionar o tempo num calendário de parede, e sempre haverá um ministro do STF disposto a soltá-lo. Por falar nisso, consta que Bolsonaro consultou uma cartomante para saber se sua tentativa de golpe daria certo, e foi instruído a cortar o baralho, dividir em cinco montes e virar uma carta de cada. O resultado foi uma sequência de reis: KKKKK (para entender melhor, observe a figurinha que ilustra esta postagem).