quinta-feira, 18 de setembro de 2025

O TEMPO, A CAUSALIDADE E A CIGANA

O TEMPO PERGUNTOU AO TEMPO QUANTO TEMPO O TEMPO TEM, E O TEMPO RESPONDEU AO TEMPO QUE NÃO TEM TEMPO PRA DIZER AO TEMPO QUE O TEMPO DO TEMPO É O TEMPO QUE O TEMPO TEM.

 

O fruto mais cobiçado — e ainda inalcançado — da “árvore Relatividade” são as viagens no tempo, e um dos aspectos mais intrigantes do tempo é a diferença com que ele passa para observadores que se deslocam a velocidades distintas. Quando observarmos o relógio, vemos o ponteiro dos segundos avançar num ritmo constante, como um rio que corre para o mar, mas a velocidade desse "rio do tempo" é inversamente proporcional à nossa. 

 

Se não nos demos conta disso, é porque as velocidades que vivenciamos no dia a dia são ínfimas. Num carro a 180 km/h, por exemplo, 1 minuto corresponde a 59,999999999999904 segundos. Por outro lado, os relógios atômicos dos satélites que orbitam a Terra adiantam 0,00447 segundos por dia — devido à velocidade de 28 mil km/h e à gravidade, que é menor a  20 mil km de altitude. Sem as devidas correções, os sistemas de GPS apresentariam erros de até 10 km por dia. 


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Sujos e mal lavados se uniram para organizar uma fila de votações onde a sem-vergonhice, encabeçada pela PEC da blindagem, foi acomodada adiante do interesse público. O texto realiza os sonhos de parlamentares encrencados condicionando prisões em flagrante e abertura de ações penais no STF ao aval da Câmara e do Senado. Se forem presos em flagrante por algum crime inafiançável, poderão ser soltos pelo próprio Congresso em 24 horas, e seus benfeitores ficarão protegidos da opinião pública, já que a votação é secreta. 

No melhor estilo uma mão suja a outra, a facção bolsonarista do Legislativo concordou com a prioridade do Centrão mediante o compromisso de que, na sequência, seja votado um pedido de urgência para uma vergonhosa PEC da anistia que inclua o ex-presidente golpista. Para fechar o ciclo de desfaçatez, o PL indicou o lesa-pátria filho do pai como líder da minoria na Câmara. Homiziado na cueca de Trump desde fevereiro, Dudu Bananinha simularia o exercício da liderança à distância, livrando-se da cassação do mandato por excesso de faltas. 

De acinte em acinte, suas insolências transformam a política num outro ramo do crime organizado. Mas é importante lembrar que a culpa é de quem repete nas urnas a cada dois anos, por ignorância, o que Pandora fez uma única vez por curiosidade. A quem tem ao menos dois neurônicos funcionais, fica a recomendação: Vote nas putas; votar nos filhos delas não funcionou.

 

Consideramos o tempo como o pano de fundo de uma sucessão de eventos que fluem numa direção preferencial. Segundo o princípio da causalidade (não confundir com “casualidade”), as causas sempre precedem as consequências. O que aconteceu ontem impõe restrições ao que acontece hoje, e o que acontece hoje influencia o que acontecerá amanhã. Ainda assim, nossa percepção da passagem do tempo depende de diversas variáveis. Para quem está a ponto de borrar as calças e ouve de quem está no banheiro o tradicional “só um minuto!”, esse minuto parecerá a antessala da eternidade.

 

À medida em que envelhecemos, nossas experiências se tornam mais previsíveis. Isso nos dá a sensação de que o tempo está passado cada vez mais depressa, a despeito de os ponteiros do relógio avançar com a mesma velocidade com que avançava na nossa infância. No entanto, mesmo que os dias e as noites se sucedem a cada doze horas, o tempo não é o mesmo em todos os lugares.

 

Numa hipotética espaçonave a 99,9999999% da velocidade da luz, a dilatação temporal reduziria milhares de anos terrestres a poucos segundos. Já a dilatação gravitacional do tempo faz com que o tempo passe mais devagar ao nível do mar do que no topo do Everest (fato comprovado por relógios atômicos posicionados a alturas diferentes, mesmo quando diferença é de apenas alguns milímetros).

 

Para entender como os ciclos de sono, alimentação e produtividade são afetados pela referência das horas, o pesquisador francês Michel Siffre passou dois meses numa caverna escura, sem relógio nem qualquer outra maneira de saber o tempo. A única fonte de luz disponível era uma lâmpada de mineração, que ele usava para cozinhar, ler e escrever em um diário pessoal. 


No livro Beyond Time, lançado em 1964, ele relatou que tomava o próprio pulso e contava os segundos até 120 sempre que se comunicava por rádio com a equipe de apoio, mas o tempo real cronometrado por seu staff era de quase 5 minutos. Sem os indicadores naturais (como nascer e pôr-do-sol), seu ciclo circadiano  passou de 24 para 48 horas, e o tempo psicológico foi reduzido à metade do cronológico. O experimento se estendeu por dois meses, que para ele pareceram menos de um.

 

Estudos recentes apontam que até o idioma e o sistema de escrita (da esquerda para a direita ou vice-versa) fazem diferença. Na maioria das línguas, o passado é descrito como algo que ficou para trás, e o futuro, como algo que está sempre mais adiante, mas no idioma falado pelos índios Aimarás ocorre o contrário. No inglês, as distâncias percorridas são usadas para explicar a duração dos eventos; no grego, o fluxo temporal é percebido como um volume crescente, não como distância física. 
 

Uma vez que o idioma pode se infiltrar em nossas emoções e percepção visual, aprender uma nova língua nos "sintoniza" com dimensões sensoriais até então desconhecidas. De acordo com um estudo publicado pela Nature Reviews Neuroscience, o hipotálamo dos "atrasados crônicos" funciona de modo a fazê-los subestimar o tempo necessário para chegar ao local do compromisso, uma vez que as estimativas são baseadas no tempo gasto para realizar a mesma tarefa no passado, e essas memórias nem sempre são precisas. 


O estado emocional também contribui: o negativo nos dá a sensação de que o tempo está passando mais devagar, e o positivo, a sensação oposta. No auge da pandemia da Covid, muitas pessoas queriam "acelerar o tempo" para retomarem a "vida normal". Como emoção e motivação estão interligadas, o tempo pareceu passar ainda mais devagar. Quanto maior a motivação, mais acentuada a mudança na percepção de tempo, e tanto a percepção de aceleração quanto de desaceleração temporal atuam sobre a maneira como alcançamos determinados objetivos.

 

Enquanto a sensação de aceleração tende a facilitar as conquistas, a desaceleração costuma evitar que demoremos muito em situações potencialmente prejudiciais — quanto mais o tempo "demora a passar" numa situação de medo, por exemplo, mais rapidamente agimos para nos livrarmos do perigo. Mas vale destacar que “ganhar tempo” ou “perder tempo” é um erro de perspectiva: o tempo não é uma moeda que podemos guardar ou desperdiçar, ele simplesmente passa, e tentar “economizá-lo” fazendo várias coisas simultaneamente (multitasking) nos leva a “perder” mais tempo do que se realizarmos uma atividade por vez. 

 

Observação: Traçar um paralelo entre o cérebro humano e a CPU (sigla de Central Processing Unity, que designa o processador principal do computador, embora muita gente a utilize equivocadamente para se referir ao “case” — ou gabinete — dos desktops) faz sentido, mas os computadores são “multitarefa” e nós, não. Dizem que as mulheres até conseguem, mas eu acho que isso não passa de folclore.

 

Pensamos no tempo como algo externo, mas ele é um conceito profundamente enraizado em nossa mente. Todos temos um "relógio interno" que regula o sono, a fome e a energia ao longo do dia. Ou seja, nosso relógio biológico é regulado pelo tempo, e alterá-lo — trabalhando à noite ou dormindo em horários irregulares — afeta nossa saúde e compromete nosso bem-estar.

 

Até a invenção da escrita, o tempo era medido com base em fenômenos naturais sazonais. Mais adiante, os sumérios dividiram o ano em 12 meses de 30 dias e os egípcios criaram um calendário lunar baseado na estrela Sirius. No final do século XVI, o calendário Juliano foi substituído pelo modelo Gregoriano, que atualmente é adotado pela maioria dos países. Mas não é o tempo que passa; nós é que passamos por ele como areia entre as câmaras de uma ampulheta. 

 

Atribuir um número de série a cada ano é como tentar aprisionar o tempo num calendário de parede, e sempre haverá um ministro do STF disposto a soltá-lo. Por falar nisso, consta que Bolsonaro consultou uma cartomante para saber se sua tentativa de golpe daria certo, e foi instruído a cortar o baralho, dividir em cinco montes e virar uma carta de cada. O resultado foi uma sequência de reis: KKKKK (para entender melhor, observe a figurinha que ilustra esta postagem).  

quarta-feira, 17 de setembro de 2025

WINDOWS 10 — ACABOU-SE O QUE ERA DOCE?

NÃO HÁ MAL QUE SEMPRE DURE NEM BEM QUE NUNCA TERMINE.

Quando lançou o Windows 10 como parte da ideia "Windows as a Service", a Microsoft deu a entender que seu mais novo rebento seria a versão "definitiva" do sistema. Mas não há nada como o tempo para passar.


Além de lançar o Windows 11 com exigências de hardware que frustraram milhões de usuários, a empresa estabeleceu o dia 14 de outubro de 2025 como "date de validade" do Windows 10. Isso significa que qualquer vulnerabilidade descoberta no kernel do sistema após essa data não será corrigida, o que tornará o computador potencialmente vulnerável a ataques e exploits. Com o tempo, aplicativos e drivers também deixarão de oferecer suporte à plataforma.


Em outras palavras, 44% dos "Windows PCs" ativos no mundo podem virar 2 milhões de toneladas de lixo eletrônico daqui a menos de um mês (clique aqui para saber como salvar o seu), e contratar um ano adicional de patches de segurança por US$ 30 ou 1.000 pontos Microsoft Rewards— sem novos recursos, correções de bugs nem suporte técnico — apenas empurra a decisão inevitável para o ano que vem.  


Observação: Se você continuar usando o Windows 10 e não fizer nada para garantir que seu PC permaneça protegido após 14 de outubro, ficará vulnerável a potenciais falhas de segurança descobertas no sistema, já que o Windows Update não baixará nem instalará atualizações de segurança a menos que você se inscreva manualmente no programa ESU.


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A pressa da banda pró-anistia do Congresso sugere que, se a facção parlamentar que trama perdoar Bolsonaro fosse submetida a um exame neurológico, o resultado seria Alzheimer coletivo. A doença produz demência, desorientação espacial, perda de memória e, nos casos mais graves, o derretimento das funções cognitivas e mentais acompanhado de perturbações de humor, delírios e alucinações.

A demência se manifesta na dificuldade de responder a perguntas simples, como o prazo de vencimento de uma culpa histórica. Para quem confunde amnésia com consciência limpa, a melhor hora para o perdão é uma semana atrás, e o segundo melhor momento, agora, poucos dias depois do anúncio das penas.

A degeneração neurológica faz do cenário do quebra-quebra um palco para a negação da barbárie. Movidos por delírios e tomados por alucinações, os partidários da anistia fomentam a crendice de que o Congresso mereceu que golpistas o invadissem, depredassem suas instalações e urinassem sobre suas poltronas e bancadas.

Datafolha revela que a maioria dos brasileiros (54%) não tolera a ideia de passar uma borracha sobre os crimes que renderam a Bolsonaro 27 anos de tranca, e uma maioria ainda mais expressiva (61%) é contra anistiar a turba do 8 de janeiro.

Alzheimer não tem cura, mas a parcela da sociedade que conserva a sanidade felizmente não perdeu a capacidade de meditar sobre a estupidez humana, que infelizmente nunca prescreve.

 

Windows nasceu em 1985 como uma simples interface gráfica, foi promovido a sistema operacional (quase autônomo) dez anos depois, alternou entre sucessos (Win98/SE, XP, 7 e 10) e fiascos retumbantes (ME, Vista, 8/8.1), mas nenhuma versão teve o ciclo de vida encerrado antes da sucessora se consolidar no mercado. Além disso, o Seven levou um ano para superar a o Vista, e o Ten — lançado em 2015 com a missão de atingir 1 bilhão de instalações em três anos —, cinco anos para cumprir essa ambiciosa missão, mas nada indica que ele será superado no curto prazo, mesmo com o fim de sua vida útil. 

A tensão entre a Microsoft e os usuários cresce à medida que o "Dia D" se aproxima. Consumidores acusam a empresa de praticar obsolescência programada — lembrando que os requisitos do Windows 11 obrigam a substituição de componentes de computadores mais antigos. Bastaria desvincular o upgrade do suporte ao TPM 2.0 para que os usuários atualizassem suas máquinas, mas Redmond insiste que o TPM 2.0 é necessário para manter o Windows 11 seguro. Miríades de usuários recorreram a ferramentas como Rufus ou Flyby11 para burlar essa restrição, mas muitos que o fizeram perceberam que embarcara numa canoa furada e fizeram o downgrade para o Windows 10, que é muito superior. 

Microsoft explica em sua página de suporte que diversos fatores — como incompatibilidade de drivers, hardware antigo, aplicativos não suportados e recursos do próprio sistema operacional — impedem o upgrade, avisa que a verificação de elegibilidade com o app PC Health Check pode demorar até 24 horas, que disponibilizou uma nova página de suporte orientações específicas para cada tipo de erro e — agora a cereja do bolo — recomenda a aquisição de um Copilot+ PC (categoria com no mínimo 40 TOPS em desempenho de IA via NPU), já que a versão 24H2 do Windows 11 e os recursos mais recentes do sistema dependem fortemente da inteligência artificial. 

Sites como o Restart Project ajudam usuários a instalar sistemas operacionais gratuitos e de código aberto, e os organizadores do Dia Internacional do Reparo — marcado para 18 de outubro com vistas a conscientizar as pessoas de que, mesmo sem o Windows 11, seus computadores não são lixo — esperam que a data ganhe mais destaque neste ano do que em 2024, quando "apenas" 40 países participaram do evento.


A conferir.

terça-feira, 16 de setembro de 2025

DE VOLTA ÀS VIAGENS NO TEMPO — 46ª PARTE — O UNIVERSO DENTRO DE UM BURACO NEGRO?

O PREGO MAIS SALIENTE É O QUE LEVA A MARTELADA.

De acordo com uma teoria publicada na revista Physical Reviewo Big Bang, tradicionalmente considerado o início de tudo, pode ter ocorrido dentro de um buraco negro. 


Em vez de começar com o Universo em expansão e tentar voltar no tempo, os autores especulam sobre o que acontece quando uma imensa quantidade de matéria colapsa — como as estrelas supermassivas que dão origem a buracos negros. Mas que ocorre dentro do horizonte de eventos desses corpos celestes ainda é um mistério.

 

Essa hipótese desafia o modelo cosmológico padrão (Lambda CDM), segundo o qual Universo surgiu de uma singularidade — um ponto de densidade infinita — e passou por uma expansão tão rápida (a chamada inflação cósmica) que não houve tempo para que regiões distantes tivessem interagido termicamente. 


No entanto, esse pressuposto conflita com a radiação cósmica de fundo — que apresenta uma uniformidade surpreendente em todas as direções — e nos leva ao chamado Problema do Horizonte.


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O voto divergente de Luiz Fux pela absolvição de Bolsonaro animou a turba da anistia, entusiasmada com a possibilidade de futura revisão criminal e a chance de utilização imediata dos argumentos jurídicos na disputa ideológica. No que concerne aos advogados, o regozijo se justifica, dado o vaivém da Justiça. Na política, porém, o buraco é mais embaixo.

É no mínimo implausível a tese de que Mauro Cid e Braga Netto, respectivamente ajudante de ordens e vice na chapa do ex-presidente golpista — ambos condenados por Fux —, tenham urdido um golpe em causa própria. Tal ideia não ocorreu nem ao mais fanático dos bolsonaristas, e o fato de ter sido defendida por um dos magistrados (por motivos que não vou discutir neste momento) não muda o destino dos réus. Enquanto tiver validade, permanece a decisão da maioria ampla no universo de cinco votos. O que acontecerá depois fica para depois. Agora o que se tem é a condenação dada por um tribunal onde a divergência desmentiu a versão do jogo combinado entre os magistrados em ambiente de ditadura judicial.

O poder da divergência é transitório, pois vale o escrito nas sentenças finais. A grita não muda a realidade. Aos que se animam com o efeito político do voto de Fux, cumpre lembrar a atuação de Ricardo Lewandowski, juiz revisor no julgamento do mensalão, que discordou do relator Joaquim Barbosa. Mas a divergência ficou perdida na história, cujo registro foram as condenações marcadas a ferro na pele do PT, bem como as anulações da Lava-Jato não fizeram de ninguém inocente.

Fux marcou posição, mas o fato permanente será a conclusão do STF sobre uma tentativa de golpe que não pode se repetir.

 

Embora robusto, o modelo do Big Bang não oferece respostas para todas as questões fundamentais — especialmente sobre o que antecedeu a grande expansão — indagação que o saudoso Stephen Hawking comparava a questionar o que existe além do Polo Norte.  Mas outras tensões teóricas persistem, até porque, nas proximidades da singularidade, as equações da relatividade geral simplesmente se tornam inválidas. Compreender esses limites extremos requer uma teoria quântica da gravidade que unifique relatividade e mecânica quântica. A isso se acrescenta o enigma da energia escura — possivelmente responsável pela inflação primordial do Universo, mas de natureza ainda completamente desconhecida.


Muitos astrofísicos acreditam que o surgimento do Universo não foi o início do espaço-tempo, mas uma transição a partir de uma fase anterior que permanece envolta em mistério. O astrofísico Ethan Siegel afirma que a inflação cósmica é a melhor extensão do modelo do Big Bang.  Roger Penrose, idealizador da cosmologia cíclica conforme, sustenta que "universo anterior" teria se expandido, colapsado (num Big Crunch) e dado origem a um novo cosmos. 


Sob certas condições, o colapso gravitacional leva inevitavelmente a uma singularidade, mas uma nova teoria propõe que a singularidade pode ser evitada e que o colapso pode se reverter. Essa reversão estaria ligada ao princípio de exclusão de Pauli, segundo o qual duas partículas idênticas (os férmions) não podem ocupar o mesmo estado quântico ao mesmo tempo. Isso impediria que a matéria fosse comprimida indefinidamente, interrompendo o colapso e desencadeando uma nova inflação cósmica semelhante à que teria dado origem ao nosso Universo. 


Se essa hipótese estiver correta, o Big Bang não foi o início de tudo, mas o “rebote” interno de um buraco negro formado no colapso de uma estrela em um universo anterior. Em outras palavras: o Universo observável pode estar dentro de um buraco negro pertencente a um "universo-pai" maior, e não ser perfeitamente plano, como supõe o modelo atual. 


Talvez não estejamos diante da criação de algo a partir do nada, mas da continuidade de um ciclo cósmico moldado pela gravidade e pela mecânica quântica — um passo importante na direção da tão sonhada teoria de tudo. A missão espacial Euclid, que observará bilhões de galáxias, poderá trazer pistas valiosas e contribuir para esclarecer a origem dos buracos negros supermassivos, a natureza da matéria escura e a evolução das galáxias.

 

A conferir.

segunda-feira, 15 de setembro de 2025

AINDA SOBRE A CONDENAÇÃO DOS ASPIRANTES A GOLPISTAS

NÃO HÁ MAL QUE SEMPRE DURE NEM BEM QUE NUNCA TERMINE.

Em 2015, Jair Bolsonaro começou a pavimentar o caminho que o levaria ao Palácio do Planalto. A dois meses do pleito de 2018, todas as pesquisas de intenção de voto apontavam a vitória da coligação da esquerda — embora o cabeça da chapa fosse ficha-suja e estivesse cumprindo pena de prisão. Mas quis o destino (ou alguém cujo nome permanece nas sombras) que um atentado a faca livrasse o então candidato do nanico PSL dos debates, evitando que ele fosse trucidado em rede nacional pela invejável oratória de Ciro Gomes.

 

A pouco mais de um mês do primeiro turno, o TSE rejeitou a quimérica candidatura do então presidiário mais famoso da história deste país. Como Jaques Wagner declinou do papel de bonifrate, o Partido dos Trabalhadores que nao trabalham anunciou oficialmente a substituição de Lula por Fernando Haddad. Mesmo assim, as empresas de pesquisa continuaram dando como certa a vitória de “Luladdad” e a eleição de Dilma para o Senado. 


A mulher sapiens ficou a ver navios, mas, com a volta de seu criador, foi recompensada pelo "golpe" (como a petralhada se refere ao impeachment da anta) com a presidência do Banco do Brics e um salário anual de meio milhão de dólares. Já o combo de mau militar e parlamentar medíocre, incompetente até para gerir um prosaico carrinho de pipoca, surfou na onda do antipetismo e derrotou a marionete de Lula no segundo turno por uma diferença de 10,8 milhões de votos válidos (houve 2,5 milhões de votos em branco e 8,6 milhões de votos nulos).

 

Depois de construir uma carreira parlamentar tão longa quanto inexpressiva, Bolsonaro forneceu a prova cabal de que o Brasil não é um país sério. Para mostrar que era amigo do mercado e obter o apoio dos empresários, o estatista que acreditava em Estado grande e intervencionista, que sempre lutou por privilégios para corporações que se locupletavam do Erário havia décadas, foi buscar Paulo Guedes, que embarcou em uma canoa que deveria saber furada. 

 

Para demonstrar que era inimigo da corrupção e obter o apoio da classe média, o deputado que, em sete mandatos, percorreu 8 partidos de aluguel e sempre foi adepto das práticas da baixa política e amigo de milicianos, foi buscar Sergio Moro, que embarcou em uma canoa que deveria saber furada. E para obter o apoio das Forças Armadas, o oficial de baixa patente, despreparado, agressivo e falastrão, condenado por insubordinação e indisciplina e enxotado da corporação, foi buscar legitimidade em uma fieira de generais, que embarcaram em uma canoa que deveriam saber furada. 

 

Não podia dar certo — como de fato não deu. O ora ex-presidente e futuro presidiário se revelou o pior mandatário desde Tomé de Souza. Sua admiração pela ditadura militar e vocação para tiranete se acentuaram ao longo de sua nefasta gestão. As “acusações” que o ministro demissionário Sergio Moro fez sobre ingerência política no comando da PF foram comprovadas na gravação da reunião ministerial de abril de 2020. O ministro Celso de Mello autorizou a abertura de um inquérito para apurar os fatos, mas a apuração virou pizza com sua aposentadoria do STF


A despeito de a CPI do Genocídio lhe imputar a essa criatura desprezível uma dezena de crimes associados às políticas públicas de combate à pandemia, e dos mais de 140 pedidos de impeachment protocolados, a inação de Rodrigo Maia, a cumplicidade de Arthur Lira e a subserviência abjeta de Augusto Aras asseguraram a permanência do estrupício no cargo até dezembro de 2022. 

 

Mandrião de quatro costados, o ex-presidente trabalhava, em média, 18 horas por semana a menos que um trabalhador celetista e 14 a menos que um servidor público federal da administração direta (conforme o estudo "Deixa o homem trabalhar?", de Dalson Figueiredo, Lucas Silva e Juliano Domingues). Em 2019, houve dias em que ele trabalhou 12 horas, mas cargas horárias superiores a cinco horas diárias só foram registradas em trânsito (como em 18 de novembro de 2021, na volta de Doha, no Catar, para Brasília). Se aplicado o mesmo critério, o tempo gasto com motociatas pelo país, comendo farofa nas ruas de Brasília ou passeando de jet-ski no Guarujá seria considerado jornada de trabalho. 
 
Observação: Bolsonaro gastou mais tempo em almoços (média de 1,3 hora) do que em reuniões com ministros de estado (menos de 1 hora). Durante a pandemia, participou apenas de cinco eventos envolvendo explicitamente o tema “vacina”, investindo, em média, 0,9 hora por compromisso — totalizando três almoços. Na manhã do dia 8 de julho de 2021, mês em que o Brasil ultrapassou as 500 mil mortes pela Covid, conversou durante 50 minutos com devotos no cercadinho defronte ao Alvorada (a maior parte do tempo foi gasta com piadas), e chegou a dizer que sua agenda andava “meio folgada”. 

 

Ao longo dos quatro anos em que conspurcou a Presidência, o "mito" dos anencéfalos reafirmou ad nauseam sua autoridade com frases como “quem manda sou eu”, “minha caneta funciona” e “não sou um presidente banana”. Na célebre reunião ministerial de abril de 2020, esbravejou: Não vou esperar foder [sic] a minha família toda, de sacanagem, ou amigos meus, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence à estrutura nossa. Vai trocar! Se não puder trocar, troca o chefe dele! Não pode trocar o chefe dele? Troca o ministro! E ponto final! Não estamos aqui pra brincadeira.” 


Em 2018, a parcela minoritária do eleitorado que apoiou o fantasioso "outsider anti establishment" o fez por absoluta falta de opção, e, portanto, não comemorou sua vitória, mas sim a derrota da marionete do então presidiário. Em 2022, esses "isentões" ajudaram a eleger Lula porque era imperativo evitar mais quatro anos (ou sabe Deus quantos) sob a batuta de um genocida golpista, e a quimérica terceira via — tida como a solução para furar a polarização, acabou virando parte do problema devido a egos avantajados, falta de projetos e carência de apoio popular.


O que Bolsonaro mais fez durante seu mandato — além de gozar férias paradisíacas no litoral paulista e em cidades turísticas da costa catarinense, promover motociatas e fazer campanha pela reeleição — foi atacar o TSE e o STF. Se o Brasil fosse uma democracia como manda o figurino, essa aberração teria sido deposta muito antes dos discursos golpistas do 7 de Setembro; numa republiqueta de bananas presidida por um ex-presidiário convertido em ex-corrupto por conveniência da alta cúpula do Judiciário, não chega a espantar que um pedido de desculpas mal ajambrado, rascunhado às pressas por um ex-presidente de nada saudosa memória, levasse muita gente a acreditar (ou a fazer de conta que acreditava) que o
 escorpião da fábula estava sinceramente arrependido.

 

Disse o poeta que  não há nada como o tempo para passar, e o Conselheiro Acácio, que as consequências sempre vêm depois. Inobstante a pressão dos aliados do capetão, do lobby abjeto do filho do pai, da ingerência igualmente abjeta de Donald Trump na soberania nacional e da ignóbil proposta de anistia que tramita no Congresso, Bolsonaro e sete cúmplices na tentativa de golpe de Estado foram condenados a pesadas penas privativas de liberdade. 

 

A inédita condenação dos militares graduados do “núcleo crucial da trama golpista” mostrou que o Brasil foi capaz de dar um passo à frente, mas os veredictos são meras reticências. Por mais que o voto teratológico de Fux (embora não inexplicável tenha reavivado as brasas da esperança do gado bolsonarista, quem enxerga as coisas como elas realmente são — e não como gostaria que fossem — sabe que as chances de reforma da decisão da Primeira Turma são quase inexistentes. Os bolsomínions mais radicais prometiam forrar as ruas caso o “mito” fosse condenado, mas o que se viu foram uns poucos gatos pingados em prantos, abraçados ridiculamente a bandeiras dos EUA e do Brasil. 

 

Uma vez publicado o acórdão, as defesas terão cinco dias para apresentar embargos declaratórios, que servem para esclarecer aspectos obscuros da decisão, mas costumam ser usados para protelar o trânsito em julgado. Já os embargos infringentes só são admissíveis, à luz da jurisprudência do STF, quando há quatro ou mais votos divergentes em decisões plenárias ou dois ou mais votos em decisões das turmas. No caso em tela, somente o ministro Fux divergiu do relator. 


Se algumas das defesas seguir por esse caminho, Moraes negará seguimento ao recurso; se os advogados ingressarem com embargos infringentes, caberá à própria Turma decidir manter ou não a decisão monocrática do do relator, e Dino, Cármen e Zanin certamente acompanhariam Moraes. Assim, as chances de o caso ser reexaminado pelo plenário da Corte são próximas de zero, e ainda que assim não fosse, nada garante que as demais togas divergiriam de Moraes, Dino, Cármen e Zanin.


Dito isso, resta aos sectários do Messias que não miracula apostar na anistia, que é outra miragem: se essa aberração for aprovada pela Câmara e pelo Senado, será vetada por Lula; se o Congresso derrubar o veto, o STF a julgará inconstitucional. Em última análise, a irresignação dos bolsonaristas serve apenas para acirrar a tensão entre os Poderes e carimbar na testa dos parlamentares a pecha de "Cupinchas do Trump".

 

A defesa de Bolsonaro já se equipa para pedir sua prisão domiciliar — que ele já vem cumprindo desde 4 de agosto por ter desobedecido medidas cautelares. Talvez o trânsito em julgado da condenação arraste gente para as ruas — como a prisão de Lula arrastou em abril de 2018. Mas o Brasil não parou em 2018 e não vai parar agora. Malafaia et caterva reuniram mais de 80 mil manifestantes no Rio e São Paulo no feriado da Independência, mas esse número está longe de representar a maioria dos brasileiros — que, aliás, é contra a anistia.


Segundo dados colecionados pelo Datafolha, 50% dos entrevistados defendem a prisão de Bolsonaro, 43% são contra e 7% responderam que "não sabem". É preocupante o fato de metade do eleitorado ter dificuldade para se situar no mundo e, pior se dar conta de estar sendo tratado como morador do fundo do quintal imaginário da calopsita laranja que pousou na Casa Branca. Também preocupante é o fato de o Congresso discutir a anistia de quem ainda nem foi preso. Governadores conservadores, supostamente democráticos, prometem indulto a Bolsonaro caso cheguem ao Planalto. Empresários fazem cara de nojo para o STF.


Ao evitar o golpe, o Brasil deu ao mundo a impressão de que superou a barbárie. Em editorial publicado neste sábado, o jornal francês Le Monde anotou que a condenação do núcleo crucial da tentativa de golpe é "uma prova de maturidade para um país que esteve submetido ao arbítrio e à brutalidade de uma ditadura militar". Tudo verdade. Mas quem presta atenção aos fatos percebe que, se os otimistas se descuidarem, o Brasil corre o risco retornar à selvageria antidemocrática sem atingir o estágio intermediário de algo que, no futuro, possa pelo menos ser chamado de bons tempos.


Incitado pelo traidor Eduardo Bolsonaro, o terror da Casa Branca pode aplicar mais sanções — que também não mudarão o curso das coisas. Ainda pode haver tumulto, já que os líderes do bolsonarismo não estão preocupados com o país, e sim com os próprios umbigos. Os aspirantes a herdeiros políticos do prisoner-to-be circulam como urubus em torno do moribundo, reivindicando um pedaço de seu legado eleitoral. Ainda haverá muito dedo no olho e gritaria, uma vez que os eleitores insistem em fazer a cada eleição, por ignorância, o que Pandora fez uma única vez por curiosidade.

 

Para concluir este romance, relembro a saga de um ex-estudante de São Petersburgo que escritor russo Fiódor Dostoiévski descreveu em Crime e Castigo, e que os criminosos sempre se baseiam na relação de custo-benefício. Bolsonaro e seus cúmplices assumiram o risco da prisão acreditando no antídoto da anistia que seus comparsas no Parlamento se esforçam para aprovar. No entanto, da mesma forma que cometeram erros elementares no planejamento do golpe, erraram ao não levar em conta outros efeitos da condenação. 

 

Depois do trânsito em julgado, o STM deve cassar as patentes dos militares condenados — incluindo Bolsonaro, que deixou a caserna pela porta dos fundos, mas, por força de lei, recebeu a patente de capitão. Infelizmente, ele não perderá suas remunerações de parlamentar aposentado e de ex-presidente. Dos demais militares condenados, somente Mauro Cid se manterá tenente-coronel, já que foi apenado com anos de prisão em regime aberto (mas já adiantou que pretende deixar o Exército e se mudar para os EUA).

 

Os danos qualificados e a destruição de bens tombados acarretaram penas privativas de liberdade e responsabilidade patrimonial solidária no valor de R$ 30 milhões. Todos os integrantes do núcleo crucial da tentativa de golpe — Bolsonaro e Ramagem em especial — devem permanecer inelegíveis por oito anos contados a partir do término do cumprimento das penas. Na testa de Bolsonaro — um péssimo militar, deputado antidemocrático e misógino e presidente inepto e de mentalidade golpista-fascista — o STF carimbou o fim de seu prazo de validade política.