Mostrando postagens com marcador Marun. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Marun. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 22 de junho de 2018

UM PAÍS DESGOVERNADO


Não é de hoje que o Estado brasileiro atua exclusivamente para satisfazer ânsias de riqueza de seus mandatários e funcionários, a ponto de o verbo servir perder o sentido ativo e preservar apenas o significado passivo para a casta privilegiada e a burocracia que se presta a trabalhar só para ela.

Notícias recentes trazem a público indícios claros de que os Poderes da República, na ânsia de proteger seus privilégios corporativos, tomam o mando — que em teoria é do povo — para exercê-lo em função de uma classe social que se reproduz por via hereditária, como no ancien régime, por nomeação do chefe do Estado, por concurso público ou até pelo voto.

Essa ruptura do mais pétreo dos preceitos constitucionais — aquele segundo o qual todo o poder emana do povo e em seu nome ser exercido — teve seu apanágio retórico no julgamento do habeas corpus impetrado por um condenado por crime comum. Nele, o advogado de defesa e político profissional Roberto Battochio elegeu como símbolo da justiça que pedia para seu representado, o ex-operário Lula, o discurso do nobre advogado do monarca Luís XVI, Guillaume-Chrétien de Lamoignon de Malesherbes (atenção para a duplicação da nobiliárquica preposição de) contra o “punitivismo” jacobino na Revolução Francesa.

Agora é muito provável que estejamos em pleno paroxismo dessa lenta e inexorável tomada de poder numa democracia que se perde pela aristocracia de estamento nesta República (de res publica, no latim, coisa pública) assaltada pelos interesses privados de uma classe cínica e insaciável, que não tem espírito cívico nem dá a mínima para a moral e os bons costumes.

O presidente mais impopular da História, Michel Temer, protagonizou recentemente um dos episódios mais representativos, mas não o único, nesse sentido. Para resolver o impasse criado pela falta de rumo, autoridade e competência na gestão — o movimento organizado para defender os interesses exclusivos de caminhoneiros e empresas transportadoras —, o chefe do governo atropelou o bom senso e a lei, cedendo a tudo o que exigiam os amotinados. Com isso interrompeu a política de preços adotada para recuperar as finanças da Petrobras, quase falida pelo furto de seus ativos nos desgovernos de Lula e Dilma, restabelecendo o tabelamento de seu correligionário José Sarney para o diesel e para o frete.

Com a “bolsa caminhoneiro”, como definiu o Estado em primeira página na edição de domingo 17 de junho, o chefe do Executivo adotou uma medida ilegal, pois, conforme advertiu o CADE, violou o princípio da livre concorrência, marco basilar da economia de mercado vigente no País. Ou não é mais?

O economista Edmar Bacha, em entrevista a este blog na semana passada, lembrou que Temer teve o juízo de montar “uma equipe econômica da melhor qualidade (que) opera com relativa autonomia, dentro dos estreitos limites da atual conjuntura”. Isso só “não funcionou porque o presidente perdeu todo o seu capital político com a revelação de suas tratativas pouco republicanas na calada na noite com o empresário Joesley Batista. A partir daí o governo teve de se dedicar a barrar o impeachment, incapaz de desenvolver uma agenda econômica positiva”, disse Bacha.

O episódio lembrado pelo criador do termo “Belíndia” (para definir o Brasil como parte Bélgica e parte Índia) é um dos marcos de fundação dessa aristocracia de cartéis. Estes vão do pacto entre políticos governistas e da oposição, grandes empresários, principalmente empreiteiros, e burocratas de estatais, em particular a Petrobras, e autarquias, até o compromisso ilegal do presidente para interromper a recente pane seca e o consequente desabastecimento de derivados de petróleo e gêneros alimentícios.

Um dos lemas dessa situação surreal em que o quinteto Temer, Padilha, Moreira, Marun e Etchegoyen meteu o País é a frase com que o primeiro recebeu o meliante do abate Joesley Batista na garagem do Jaburu (mais adequado seria chamar o palácio de Guabiru) na calada da noite: “Tem que manter isso, viu?”

Apesar da desesperada tentativa dos asseclas palacianos de desqualificarem a gravação do palpite pra lá de infeliz, ela se perdeu por lembrar outro lema, que pode valer para essa classe de roedores do erário, da lavra do presidente do MDB temerário, Romero Jucá, ao correligionário que presidiu a BR Distribuidora (de derivados e propinas), Sérgio Machado: “Tem que mudar o governo pra poder estancar essa sangria”.

A sangria ainda não foi estancada, apesar do esforço que tem sido feito pelos chefões políticos. Mas as eleições gerais de outubro não são nada promissoras em relação à atuação do combate à corrupção na polícia e na Justiça. Nenhum presidenciável deu até agora sinal de que esteja fora desse pacto. Um deles, Geraldo Alckmin, cujo PSDB foi derrotado por Dilma e Temer em 2014 e hoje é parceiro do governo, teve o descaramento de dizer que este “padece de uma questão de legitimidade”, como se o chanceler Aloysio Nunes Ferreira não fosse tucano.

As duas frases sobre as quais se sustenta a oligarquia dos cartéis nos levam, destarte, a introduzir nessa constatação da total deturpação do Estado de Direito em estágio de defeito o Poder Legislativo. Jucá, pernambucano de Roraima, onde faz praça e troça, é um bom exemplo da transformação do governo do povo em desgoverno dos polvos. Desde que o “caranguejo” Eduardo Cunha se assenhoreou do comando da produção de leis, o Congresso passou a servir apenas a “manter o que está aí” e, para isso, a procurar fórmulas legais para “estancar essa sangria”, aplicando um garrote vil contra a ação moralizadora de agentes, procuradores e juízes federais de primeira instância.
  
Essa tarefa mesquinha e traiçoeira contra o povo que deputados e senadores fingem representar começou a ser cumprida com a “lei da bengala” que mantém os compadritos (apud Jorge Luís Borges) nos tribunais superiores de Contas, Justiça e Supremo. Com a vigilância sobre propinas e caixa 2 na contabilidade das campanhas eleitorais, para garantir suas vagas e as de parentes e cupinchas, os legisladores criaram o Fundo Eleitoral, que, segundo a Folha de S. Paulo, usando dados do TSE, representa 86,5% das receitas de seus partidos.

Duas notícias, publicadas lado a lado na primeira página do Estado de segunda-feira 18, complementam a anterior. Uma dá conta de que a eleição para o Senado este ano terá número recorde de candidatos – 70% – em busca de reeleição. Em entrevista a Fausto Macedo e Ricardo Galhardo, o ex-diretor da Polícia Federal Leandro Daiello informou que “há material para mais cinco anos de operações”.

A reeleição de qualquer político que possa estar nesse “material” é uma ameaça à continuidade do combate à corrupção, sem o qual não há como o Brasil deixar de ser este trem descarrilado, cujo farol é a luz que se poderá ver saindo do túnel das urnas. O pior de tudo é que a esperança que a sociedade passou a ter na ação das operações a que Daiello se referiu está nas mãos de quem mais as põe em risco. Os seguidores de Malesherbes, representados pelo quinteto Gilmar, Lewandowski, Toffoli e a dupla Mello, continuam a atuar como garantes não da igualdade dos cidadãos perante a lei, assegurada pela Constituição vigente, mas dos caprichos e “dodóis” dos clientes abonados das bancas que abrigam mulher, genro, amigos e antigos parceiros de convescotes e salamaleques.

Vitimados pelo desemprego, pela violência e por saúde e educação de péssima qualidade, os pobres, que nem sonham poder um dia exigir seus direitos no fechadíssimo clube da impunidade dos que são mais iguais perante a lei, pagam a conta do desgoverno do Executivo, da safadeza do Legislativo e do cômodo uso da definição de Corte para seu colegiado com os mesmos frufrus e minuetos das monarquias absolutistas. A proibição da condução coercitiva de delinquentes de colarinho-branco e a tentativa de garantir a honra de políticos desonrados proibindo fake news são exemplos recentes, mas não os únicos, de como os ministros de tribunais superiores participam, sem pudor, do golpe dos “aristo-ratos” que se locupletam como dantes nos cartéis de Abrantes.

Publicado no Blog do Nêumanne

Visite minhas comunidades na Rede .Link:

domingo, 3 de junho de 2018

GREVE GERAL NA PRÓXIMA SEGUNDA-FEIRA É FAKE NEWS


O ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, disse na última sexta-feira que os órgãos de inteligência estão atentos a vídeos e notícias falsas que incitam a retomada da paralisação dos caminhoneiros e dizem que o governo não cumpre o acordo. Se for necessário, segundo ele, serão tomadas providências. " Não vai ficar sem punição quem tentar descaracterizar a verdade dos atos praticados pelo governo".

Ainda de acordo com o ministro, os pontos do acordo feito com os caminhoneiros já estão em vigor: a não cobrança de pedágio do eixo suspenso, em vigor desde ontem, a reserva de 30% de frete na Companhia Nacional de Abastecimento para caminhoneiros autônomos, e a tabela de preço mínimo para o frete. O desconto de R$ 0,46 por litro de óleo diesel deve chegar às bombas de combustível até a próxima segunda-feira (4).

Carlos Marun, ministro da Secretaria de Governo, afirmou que a partir de segunda-feira os postos de combustíveis deverão afixar o valor cobrado pelo litro do diesel no último dia 21 e maio e o valor atual com a redução dos R$ 0,46.

Segundo O SENSACIONALISTA, a tal “Ponte para o Futuro” do presidente foi bloqueada por caminhoneiros. E ninguém passa. Temer pode não chegar ao fim de seu mandato por falta de combustível — e parece quem ninguém está disposto a ajudar a empurrar.

Para os analistas, a paciência da população com o governo está na reserva — na reserva militar, segundo alguns. Pelas estradas do país, manifestantes pedem a volta da ditadura, da tomada de dois pinos e do jogo da cobrinha da Nokia. Eles só se esquecem de que, ao contrário do jogo da cobrinha, no mundo real quem morre não tem duas vidas.

sexta-feira, 4 de maio de 2018

LULA NA CADEIA, TEMER ENXOVALHADO E O FRANGO COM POLENTA... A QUE PONTO CHEGAMOS!



Houve um tempo em que Lula era habitué do restaurante São Judas Tadeu, que fica em São Bernardo do Campo. Hoje, a então famosa “rota da polenta” já não encarna mais o sonho de ascensão social da classe operária, nem o lulopetismo encanta ninguém ― a não ser a militância ignara, naturalmente. Mas o frango com polenta do São Judas continua excelente, dizem, só que não para o bico de Lula, que em 2016 teria se queixado de não poder mais frequentar restaurantes, nem mesmo em São Bernardo, devido às denúncias de corrupção contra ele, seus asseclas e seu partido. E a coisa ficou mais difícil desde o dia 7 do mês passado, já que o Delivery do São Judas não atende s capital do Paraná. Pobre alma viva mais honesta do Brasil...

A rejeição aos políticos não se limita ao PT, nem tampouco se baliza por ideologias. Até onde a vista alcança, o repúdio é amplo, geral e irrestrito. Peguemos como exemplo Michel Temer, cuja popularidade anda em níveis abissais (apenas 5% dos entrevistados classificam seu governo como bom ou ótimo). Mesmo depois de ter anunciado o aumento do Bolsa Família, ele não escapou da ira de populares, quando teve a infeliz ideia de “prestar solidariedade” às vítimas de um desabamento no centro de São Paulo.

Observação: Foi mancada dos assessores de marketing do presidente, que deveria ter feito como Guilherme Boulos e outros líderes de sem-terras, sem-tetos, sem-vergonhas etc., que não passaram nem perto do local, embora estejam sempre instigando invasões de prédios públicos, mesmo que não tenham condições mínimas de habitabilidade e segurança.

O apoio que ainda resta a Lula é de militantes organizados e mercenários “bancados” para engrossar as cada vez mais minguadas manifestações. O líder petista e seu moribundo partido (que, no fundo, não existem um sem o outro) foram reduzidos a seu nicho original depois que a corrupção se tornou o grande problema nacional e o demiurgo de Garanhuns perdeu sua notória capacidade de mobilizar a população (com exceção da militância desmiolada que o idolatra).

Temer ainda não foi alvo de panelaços (como os que "saudavam" os pronunciamentos de Dilma no apagar das luzes de seu funesto governo), mas não raro é enxovalhado quando aparece em público. Um fim de carreira melancólico para um presidente que almejava ser lembrado como “o cara que recolocou o país nos trilhos do crescimento”. Mas quem semeia ventos colhe tempestades, diz um velho ditado. E foi exatamente isso que Temer fez, ao nomear uma equipe de notáveis que se notabilizou por práticas nada republicanas, e cujos membros foram caindo feito moscas, à razão de um por mês ― Romero Jucá, por exemplo, que assumiu a Casa Civil a despeito de ser investigado em nada menos que 13 inquéritos, não ficou nem 2 semanas no cargo. Renan Calheiros, que é alvo de 17 inquéritos e réu em um deles, trocou de mal com o governo e passou a apoiar Lula (em última análise, os imprestáveis se merecem).

Depois da delação da JBS e das flechadas de Janot, Michel Temer mandou às favas o decoro. Embora ainda negue as acusações, como é regra geral entre os políticos enrolados com a Justiça, já não demonstra o menor constrangimento em se cercar de gente como Moreira Franco, Padilha, Jucá, Carlos Marun e outros elementos da mesma estirpe.

ObservaçãoRodrigo Rocha Loures ― homem da mais estreita confiança do presidente, segundo o próprio presidente ― foi flagrado arrastando uma mala com 500 mil reais. Disse que não tinha conhecimento do conteúdo da mala, mas se apressou a devolver os R$ 35 mil que havia garfado do butim. Geddel Vieira Lima, outro amigo e aliado de Temer, foi encarcerado depois que a PF encontrou, num apartamento ligado a ele, em Salvador, a bagatela de R$ 51 milhões em dinheiro vivo. José Yunes e o coronel João Batista Lima Filho, também velhos amigos de Temer, foram presos pela PF para prestar esclarecimentos sobre o caso da Rodrimar, sem mencionar a filha Maristela Temer, que terá de explicar à Justiça por que a reforma feita num imóvel de sua propriedade foi paga pelo coronel laranja-Lima.

No comando da tropa de choque palaciana, o impávido deputado Carlos Marun, vice-líder do governo na Câmara, transpira beligerância, chegando mesmo a ameaçar de impeachment o ministro Luis Roberto Barroso, do STF, que “teve o desplante” de autorizar a quebra do sigilo bancário de seu amado líder. Aliás, quando se formou maioria na Câmara em favor do sepultamento da segunda denúncia contra o presidente, Marun ofereceu à imprensa um espetáculo inesquecível, cantando e dançando com a graça de um hipopótamo bailarino sua improvisada marchinha da impunidade (vale a pena assistir ao videoclipe). E ainda ameaçou os colegas que votaram contra o governo de exclusão da base, já que, pela sua ótica revanchista, eles deveriam ser tratados como oposição.

Para não encompridar demais este capítulo, o resto para a próxima postagem. Antes de encerrar, porém, cumpre informar que por volta das 16h desta quinta-feira o STF concluiu a votação sobre a restrição ao foro privilegiado para deputados e senadores. Todos os ministros votaram a favor da restrição do foro, embora quatro deles entenderam que todas as infrações ocorridas durante o mandato, inclusive as não relacionadas à atividade parlamentar, devem ser julgadas pelo Supremo. Volto com mais detalhes sobre esse assunto numa próxima oportunidade.

Visite minhas comunidades na Rede .Link: