Ontem pela manhã o presidente do STF despautou o julgamento das ADCs
que tratam da prisão após condenação em segunda instância. Oficialmente, Toffoli atendeu a um pedido da OAB — que é autora de uma das ações — que disse precisar de mais tempo para analisar o assunto. Nos bastidores, porém, fala-se que o adiamento se deveu, primeiro, ao fato de que Toffoli, quando pautou o julgamento, imaginava que até abril o STJ já teria apreciado o recurso de Lula; segundo, ao receio da ala garantista de que sus colegas punitivistas formassem maioria e
mantivessem o entendimento atual (clique aqui
para mais detalhes sobre as mudanças na jurisprudência e aqui
para ouvir a opinião de Merval Pereira). Vamos ver se agora o STJ se mexe, porque esse indefinição já está enchendo o saco.
O ministro Paulo Guedes foi enxovalhado por um grupelho de esquerdopatas na audiência de quarta-feira na CCJ da Câmara dos Deputados — que, aliás, deveria focar a análise da constitucionalidade da proposta de reforma previdenciária, já que o mérito será avaliado mais adiante, na Comissão Especial. Mas isso não impediu que os deputados de esquerda — alguns munidos de cartazes com os dizeres PEC da Morte, Pé na Cova e outras bobagens — tumultuassem a sessão de forma grotesca, aproveitando-se do absenteísmo dos parlamentares supostamente alinhados com o governo e que reconhecem a importância — ou a inevitabilidade — da reforma.
Guedes foi
literalmente atirado às feras — não vou dizer leões para não ofender o rei dos
animais — sem que ninguém o defendesse. Ele engoliu diversos sapos, mas paciência
tem limite. Quando o deputado Zeca
Dirceu — filho de certo dublê de guerrilheiro de araque, rapinador do
Erário e condenado a quase 30 anos de cadeia — o acusou de ser “tigrão” para
cortar aposentadorias de trabalhadores e “tchutchuca” para cortar privilégios
de ricos e banqueiros do país, Guedes
perdeu as estribeiras: "Tchutchuca
é a mãe, é a avó, respeita as pessoas. […] Isso é ofensa. Eu respeito quem me
respeita. Se você não me respeita, não merece meu respeito." Ato contínuo, o ministro deixou o recinto, e o
presidente da comissão encerrou a sessão (confira no vídeo que encabeça este post).
Dezessete dos 24 deputados que dirigiram perguntas ao
ministro ao longo das intermináveis 7 horas de sessão eram da oposição. O
centrão e seus satélites não deram um pio, porque ainda não ouviram de Bolsonaro o que o governo tem a lhes
oferecer em troca de apoio à reforma. Guedes
esfregou na fuça dos adversários os erros e as omissões dos governos de Lula e Dilma. Em outras circunstâncias, bate-bocas
como esses serviriam para quebrar a monotonia; no cenário atual, todavia, dada a
relevância da reforma em questão, eles são inadmissíveis.
Como bem resumiu Josias
de Souza, ficou sobejamente demonstrado que do mato do PT já não sai coelho, saem cobras, lagartos e Zeca Dirceu. Quando falam, os petistas dão a impressão de que
procuram ideias desesperadamente, como cachorros que esconderam ossos e
esqueceram a localização do esconderijo. O PT
não aprendeu a lição das urnas de 2018. Empenhada em desqualificar o ministro e
a proposta de reforma previdenciária, a patuleia esqueceu de qualificar o
partido como uma força política habilitada a retornar ao Planalto. Sobre o
tema, o brilhante professor e candidato derrotado à presidência, Fernando Haddad, eterno boneco de ventríloquo
do presidiário de Curitiba e sem emprego conhecido desde outubro, produziu a
seguinte pérola em entrevista ao canal no YouTube inaugurado por Lindbergh Farias e Vanessa Grazziotin:
“O Brasil é muito
maior que esse projeto que está no poder. O Bolsonaro representa um retrocesso
muito grande no imaginário do brasileiro em relação ao seu próprio país. Eles
não estão no poder há três meses: o que o Bolsonaro representa está há
três anos no poder. O Paulo Guedes é um Michel Temer radical, um
Henrique Meirelles radical. A gente cobra resultado porque faz três meses que
eles prometeram que a PEC do Teto e a reforma trabalhista iam
resolver os problemas. Eles vivem mentindo para as pessoas”. O ex-prefeito
de um só mandato parece ter esquecido que Michel
Temer foi duas vezes vice de Dilma,
e que Henrique Meirelles presidiu o
Banco Central nos 8 anos do governo Lula.
Em algum momento de sua trajetória política, Bolsonaro disse que “o único erro [do governo militar] foi
torturar e não matar” — referindo-se aos comunistas em geral e a FHC em particular. Diante de situações como
a que presenciamos ontem, eu me pergunto se ele não tem razão.