ATUALIZAÇÃO - 17h30:
A 5ª Turma do STJ iniciou o julgamento do REsp de Lula pouco
depois das 14 h desta terça-feira. O primeiro a votar foi o ministro Felix Fisher, relator do processo, que
já havia rejeitado o recurso monocraticamente, mas agora votou favoravelmente à
redução da pena para 8 anos 10 meses e 20 dias de prisão, no que foi
acompanhado pelos ministros Jorge
Mussi e Reynaldo Soares e Marcelo Navarro Ribeiro Dantas.
Pelo Código Penal, Lula pode pedir progressão da pena para o regime domiciliar ou semiaberto
após cumprir 1/6 da sentença — o que se dará em setembro próximo. Até lá, se a
condenação a 12 anos e 11 meses referente ao sítio de Atibaia for ratificada pelo TRF-4 (e é isso que se espera), o pulha continuará preso em regime fechado.
Demais disso, ora
condenado no STJ, o ex-presidente petralha continuará preso, mesmo que o STF mude a jurisprudência sobre a
condenação em 2ª instância e decida que o cumprimento provisório da pena seja iniciado
após decisão de terceira instância.
Lula ganhou na foice, mas perdeu no machado.
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O objetivo precípuo dos parlamentares é a reeleição. É por isso que eles não se arriscam a contrariar o eleitorado para aderir a apelos
emocionais do presidente e de seus ministros (a menos que sejam recompensados
por recursos políticos que neutralizem esse risco). E mesmo sabendo que 9 de cada 10
eleitores não lembram em quem votaram para deputado ou senador, e menos ainda
como seus representantes votaram projetos de lei de interesse popular.
Jair Messias Bolsonaro
sabe melhor que ninguém o que move o baixo-clero da Câmara, até porque fez
parte dessa seleta confraria por quase 30 anos. Curiosamente, subir a rampa do
Planalto o fez esquecer a importância de uma coalizão de partidos para
assegurar a aprovação da agenda do governo. Sobretudo as propostas de emenda constitucional,
como a previdenciária, que precisam de 60% dos votos para ser aprovadas. E não
há governabilidade possível se o presidente contar apenas com os votos de seu
partido, que representam apenas 10% da Câmara e menos que isso no Senado.
Em qualquer sistema político multipartidário, a coalizão é
essencial, tanto para garantir a coordenação e a coesão necessárias para obter
os votos favoráveis, quanto para promover o compartilhamento do poder. Isso
implica o uso de “moedas de troca”, particularmente a distribuição de cargos, e
não se trata necessariamente de corrupção. Mas o presidente parece prisioneiro
de seu discurso de campanha e das declarações de que não cederá ao “toma lá dá
cá” das negociações políticas.
Promessas eleitorais podem ser relevantes para a
vitória, e essa é uma delas. Mas insistir em mantê-las a ferro e fogo durante toda
a gestão é o atalho mais curto para o fracasso. Pelo bem do país — e do próprio
mandato —, Bolsonaro precisa construir uma narrativa que convença os eleitores
da necessidade de ajustar o discurso à realidade, pois apelar para o patriotismo
dos parlamentares é o segundo atalho mais curto para o fiasco deste governo (e do próxima, e do seguinte, pelo menos enquanto o presidencialismo não der lugar ao
parlamentarismo como sistema de governo nesta republiqueta de bananas).
Bolsonaro erra
quando diz que a melhor reforma da Previdência é aquela que passar no
Congresso. Não é. O cenário mudará rapidamente para pior se a desidratação
contrariar as expectativas do mercado, evidenciando que não será interrompida a
marcha para o calote da dívida, isto é, o crescimento ininterrupto da relação
dívida pública. Sem admitir e promover uma coalizão partidária coesa, o capitão
pode amargar uma derrota que definirá, para pior, o futuro de seu governo e,
por extensão, deste pobre país.
As negociações do governo com o chamado
Centrão — grupo informal composto por
PP,
PR,
PRB,
DEM e
Solidariedade — em
busca de votos favoráveis à reforma da Previdência na CCJ da Câmara complicaram
bastante. Já havia praticamente um acerto entre esses partidos e o secretário
especial da Previdência,
Rogério Marinho,
para alterar pontos que não comprometessem a economia estimada pela equipe
econômica, mas, segundo o
Congresso
em Foco, supostos cálculos sigilosos que embasaram a elaboração da
proposta teria causado revolta entre deputados. Em princípio, havia um acordo
sobre quatro pontos que não causam impacto na economia prevista de
R$ 1,1 trilhão em dez anos, esperada
com a aprovação da PEC. Com as notícias sobre o sigilo, porém, o
Centrão voltou a pressionar pela
restrição ao abono salarial e a desconstitucionalização, que já havia aceitado
discutir apenas na comissão especial.
Atualização:
Agora cedo, saiu a notícia de que deputados da oposição querem barrar a votação da admissibilidade da PEC na CCJ, como noticiou a RENOVA, alegando que a razão do sigilo em torno dos detalhes do projeto enviado pela equipe econômica é motivo para travar o avanço da reforma. O presidente da Câmara tranquilizou a tigrada dizendo que eles terão acesso aos dados detalhados que embasam a proposta de reforma. Pelo Twitter (que neste governo parece ser uma espécie de Diário Oficial informal), Rodrigo Maia postou a seguinte mensagem: “A CCJ é uma comissão apenas de admissibilidade. Conversei com o secretário especial de Previdência, Rogério Marinho, e ele vai apresentar nesta quinta-feira os números que embasam a proposta antes da instalação da comissão especial.”
Ainda sobre essa reforma polêmica, mas indispensável, reproduzo um texto impagável do brilhante J.R. Guzzo:
Depois de ouvir ad
nauseam toda essa discussão sobre a “reforma da Previdência”, você está
achando que ela é “contra os pobres”? Ou acha que é exatamente o contrário? Ou,
ainda, não acha nem uma coisa nem outra, até porque não tem mais paciência para
continuar ouvindo essa conversa que não acaba mais? Anime-se: o professor
gaúcho Fernando Schüler,
conferencista e consultor de empresas, tem a solução definitiva para o seu
problema.
Se a reforma da previdência fosse contra os pobres, explicou
Schüler dias atrás, já teria sido
aprovada há muito tempo, e sem a menor dificuldade. Pela mais simples de todas
as razões: tudo aquilo que prejudica o
pobre diabo que está tentando não morrer de fome, e não tem tempo para fazer
“articulação política”, passa como um foguete da NASA pelas duas casas do
Congresso deste país. Passa tão depressa, na verdade, e com tanto silêncio,
que ninguém nem fica sabendo que passou.
A reforma proposta pelo governo só está encontrando essa
resistência desesperada do PT, dos
seus satélites e da massa da politicalha safada porque é, justamente, a favor
dos pobres e contra os ricos. Cem por cento contra os ricos — no caso, algumas dezenas
de milhares de funcionários
públicos com salário-teto na casa dos R$ 40
mil por mês,
sobretudo nas camadas mais altas do Judiciário e do Legislativo. São esses os
únicos que vão perder, e vão perder em favor dos que têm menos ou não têm nada.
Não parece possível, humanamente, eliminar de maneira mais
clara as dúvidas sobre a reforma da previdência. Alguém já viu, em cerca de 200
anos de existência do Congresso Nacional, alguma coisa a favor de rico dar
trabalho para ser aprovada? Ainda há pouco, só para ficar num dos exemplos mais
degenerados do estilo de vida dessa gente, deputados e senadores aprovaram o
pagamento de 1,7 bilhão de reais para a “campanha eleitoral de 2018” — dinheiro vivo, saído diretamente dos seus
impostos e entregue diretamente no bolso dos congressistas. São os mesmos, em grande
parte, que viraram um bando de tigres para “salvar os pobres” da reforma.
Poderiam ser mencionados, aí, uns outros 1.000 casos iguais,
em benefício exclusivo da manada que tem força para arrancar dinheiro do
Erário. No caso da previdência a briga é para conservar os privilégios de
ministros, desembargadores, procuradores, auditores, ouvidores, marajás da
Câmara dos Deputados, sultões do Senado e toda a turma de magnatas que
conseguem ganhar ainda mais que o teto e exigem, ao se aposentar, os mesmos
salários que ganham na ativa —
algo que nenhum outro brasileiro tem.
Não adianta nada, com certeza, apresentar números, fatos e
provas materiais que liquidam qualquer dúvida sobre a injustiça rasteira de um
sistema que se utiliza da lei para violar o princípio mais elementar das
democracias — o de que
todos os cidadãos são iguais em seus
direitos e em seus deveres. A previdência brasileira determina, expressamente,
que os cidadãos são desiguais; quem trabalha no setor privado, segundo as
regras que se pretende mudar, vale menos que os funcionários do setor público
e, portanto, tem de receber aposentadoria menor. Quando se demonstra essa
aberração com a aritmética, a esquerda diz que as contas não valem, pois se
baseiam em “números ilegais”. Não há, realmente, como continuar uma conversa a
partir de um argumento desses —
e nem há mesmo
qualquer utilidade prática em conversar sobre o assunto. Os defensores dos
privilégios não estão interessados em discutir número nenhum; estão
interessados, apenas, em defender privilégios. Por que raios, então, iriam
perder seu tempo se aborrecendo com fatos?
O que existe, no fundo, é uma questão que vai muito além da
previdência social. É a guerra enfurecida que se trava no Brasil para manter
exatamente como estão todas as desigualdades materiais em favor das castas que
mandam no Estado —
todas as desigualdades, sem exceção, e não apenas a aposentadoria com salário
integral. Sua marca registrada é um prodigioso esforço de propaganda para fazer
as pessoas acreditarem que o agressor está do lado dos agredidos — e que qualquer tentativa séria de defender o pobre é uma monstruosidade que
precisa ser queimada em praça pública.
Acabamos de viver, justo agora, um dos grandes momentos na
história dessa mentira que faz do Brasil um dos países mais injustos do mundo — quando o ministro Paulo Guedes foi à Câmara para explicar, com
paciência de monge beneditino e fatos da lógica elementar, a reforma da
previdência. O PT fez o possível
para impedir o ministro de falar. Ao fim, tentou ganhar pelo insulto. Um
deputado de segunda linha faturou seus 15 minutos de fama dizendo que Guedes era “tigrão com “os
aposentados”, mas “tchutchuca quando mexe com a turma mais privilegiada do
nosso país”.
A grosseria serviu para três coisas. Em primeiro lugar, fez
o deputado ouvir que “tchutchuca é a mãe”. Em segundo lugar, levou o
ex-presidente Lula a dizer, da
cadeia, que estava “orgulhoso” com a agressão —
mais um sinal, entre tantos, do bem que ele fará pelo Brasil se for solto ou premiado com a “prisão domiciliar”. Em terceiro lugar,
enfim, abriu mais uma avenida-gigante para se dizer quem é quem, mesmo, em matéria
de “tchutchuca” com os ricos, parasitas e piratas neste país — “tchutchuca”
na vida real, como ela é
vivida na crueza do seu dia a dia, e não
na conversa de deputado petista. Aí
não tem jeito: os
fatos, e puramente os fatos, mostram que Lula,
guiando o bonde geral da esquerda verde-amarela, foi o maior “tchutchuca” de
rico que o Brasil já teve em seus 500 anos de história; ninguém chegou perto
dele, e nem de forma tão exposta à luz do sol do meio dia. Pior: o
ex-presidente não foi só a grande mãe gentil dos ricos. Foi também a fada
protetora dos empreiteiros de obras bandidos, dos empresários escroques e dos
variados tipos de ladrão que tanto prosperam em países subdesenvolvidos — as “criaturas do pântano”,
como se diz.
O desagradável desta afirmação é que ela tem teores mínimos
de opinião; só incomoda, ao contrário, porque sua base é uma lista sem fim de
realidades que há muito tempo estão acima de discussão. Vamos lá, então, coisa por
coisa. Não há dúvida nenhuma, já que é preciso começar por algum lugar, que o
maior corruptor da história do Brasil, o empreiteiro Marcelo Odebrecht, passou de mãos dadas com Lula os oito anos de seu governo —
noves fora o paraíso
que viveu com Dilma Rousseff. Quem
diz que Odebrecht é um delinquente em modo
extremo não é este artigo; é ele mesmo, que confessou seus crimes, delatou Deus
e o mundo e por conta disso está preso até hoje —
em prisão
domiciliar, certo, mas preso. Também
não foi o seu
filho, nem qualquer cidadão
que você conheça, quem conseguiu
receber 10 milhões de reais da empreiteira Andrade
Gutierrez como investimento numa empresa de vídeo games. Foi o filho de Lula. Os 10 milhões sumiram; a
empresa faliu. A Andrade Gutierrez
lamenta: o negócio não deu certo, dizem eles, e a gente perdeu todo o dinheiro
que deu para o Lulinha. Uma pena,
não é? Mas acontece com as melhores empresas do mundo. O empreiteiro Léo Pinheiro, da OAS, réu confesso, delator e hoje presidiário, foi o grande
protetor e protegido de quem? De Lula
— a quem, por sinal,
denunciou no fatal triplex do Guarujá. Querem mais? É só chamar o Google.
Em dezesseis anos de Lula
e Dilma não se conhece um único caso
de rico prejudicado pelo governo — a não
ser os produtores rurais roubados pelos “movimentos
sociais” do PT e outras vítimas da criminalidade
oficial. Os banqueiros, por exemplo, jamais ganharam tanto dinheiro na história
da economia brasileira como durante o reinado da esquerda. Não apenas foram
protegidos contra qualquer espécie de concorrência — liberdade econômica, no lulismo bancário, só vale na hora de deixar
os bancos cobrarem os juros mais altos do mundo. Foram os maiores beneficiários
da dívida pública alucinante que Lula
e o PT tanto se orgulham de ter
criado, pois na sua cabeça isso é sinal de que “o governo está se endividando
para ajudar os pobres” —
quando na verdade faz a população
pagar 100 bilhões
de dólares por ano
em juros que vão
para os bolso dos “rentistas”, a começar pelos banqueiros.
Também
não há precedentes de tanta
caridade pública para
empresários amigos quanto na era Lula-PT.
Quem foi mais “tchutchuca” de Eike
Batista, Joesley Batista e
outros abençoados do BNDES? Quem
inventou a Sete Brasil, uma das
aberrações mais espantosas jamais criadas pelo capitalismo de compadres do
Brasil? Do começo ao fim, foi apenas uma arapuca para vender sondas imaginárias
à Petrobras e “ressuscitar a indústria naval brasileira” — vigarice de terceira
categoria que fez obras e empregos virarem fumaça quando a ladroagem toda veio abaixo.
A esses bem-aventurados da elite brasileira, de quem a
esquerda se diz tão horrorizada, mas a quem serve com a devoção de moleque de
senzala, juntam-se os ladrões puros e simples. Em que outra ocasião da história
política do Brasil o roubo do Tesouro
Nacional viveu dias de tanta glória como nos governos de Lula e seus subúrbios? Basta citar um
nome para se entender o processo inteiro: Sérgio
Cabral. Precisa mais? O homem soma quase 200 anos de prisão, confessou um
caminhão de crimes e tornou-se o governador mais ladrão que a humanidade já
conheceu. Mas foi um dos grandes heróis de Lula
— não se esquecerá jamais o mandamento público do ex-presidente,
dizendo que votar em Cabral era “um
dever moral, ético
e político”. E quem foi o grande
inventor de Antônio Palocci? Nada
mais típico do que Palocci,
transformado por Lula em vice-rei da
sua Presidência. O cidadão se apresentava como “trotskista”, ou, tecnicamente,
como militante da extrema esquerda. Roubou tanto, segundo suas próprias
confissões, que jamais se saberá ao certo o prejuízo que deu. Só o apartamento
em que mora em São Paulo, e onde cumpre hoje sua “prisão domiciliar”, vale mais
que o patrimônio que 99% dos brasileiros vão obter durante todas as suas vidas.
Isso não é ser rico? E se Palocci
não é uma criatura de Lula, de quem
seria, então?
A verdade é que durante todo o período em que a esquerda
mandou no governo o Brasil continuou sendo um dos países de maior concentração
de renda em todo o mundo. Em dezesseis anos de lulismo, foi massacrado sem
trégua o principal instrumento de melhoria social que pode existir num país ─ a educação pública. Pelos últimos dados do Banco Mundial, a média da população brasileira só vai atingir o mesmo índice de compreensão da matemática existente nos países desenvolvidos daqui
a 75 anos. Essa é a boa notícia; em matéria de leitura, vamos precisar de mais
260 anos para chegar lá. É o resultado direto do abandono da educação dos
pobres em benefício da educação dos ricos. Por conta dos programas de
“democratização” da universidade de Lula
e Dilma, o Brasil gasta quatro vezes
mais por ano com um aluno da universidade pública, ou cerca de R$ 21 mil, do
que com um garoto que está no ensino básico. Queriam o que, com essa divisão do
dinheiro público que se gasta na educação?
Em matéria de ação pró-pobre, houve muita propaganda, muito
filminho milionário de João Santana — mais um réu confesso de corrupção — mostrando a clássica “família negra feliz-com mesa
farta-carrinho na porta-tomando avião-etc.,
etc.”, mas essas
fantasias quase só existiam na televisão. Dinheiro, que é bom, foi para o bolso
dos nababos, dos Marcelos e Eikes e Geddels. Foi para ditadores da África — o filho de um deles, por sinal, é um fugitivo da polícia internacional. Foi
para obras em Cuba e na Venezuela. Foi para os “prestadores de serviço”, ONGs
amigas e artistas da Lei Rouanet.
Foi, num país de 200 milhões de habitantes, para os barões mais bem pagos de um
funcionalismo público que já soma quase 12 milhões de pessoas entre União,
Estados e Municípios —
450.000 só nesse
Ministério da Educação que produz a catástrofe descrita acima.
Para a plebe sobrou o programa oficial de esmolas do Bolsa Família, ideal para
perpetuar a miséria,
ou pior que isso — segundo
o Banco Mundial, de novo, 7 milhões
de brasileiros caíram abaixo da linha da pobreza apenas de 2014 para 2016. Quem
gerou essa desgraça? Não foi o governo da Cochinchina, nem o ministro Paulo Guedes.
A situação fica definitivamente complicada para os pobres
quando quem diz que está cuidando deles serve no exército do inimigo — aqueles que têm como principal razão de sua existência, talvez a única, defender direitos
e princípios que são apenas presentes pagos
com o dinheiro de todos.