Jair Bolsonaro
foi eleito com os votos dos brasileiros que não queriam a volta do PT e que viam em Paulo Guedes uma garantia para o programa econômico liberal. Em
seus arroubos mais megalômanos, o capitão acha que chegou aonde chegou
por méritos próprios. Só que não. Mas isso não muda o fato de que ele foi eleito com o desafio de incorporar ao seu governo o que chama de "nova política", nem o ambiente hostil que lhe impede de consolidar uma base aliada.
Se continuar travando batalhas ideológicas sem sentido, Bolsonaro pode perder o poder para o Congresso e ver seu respaldo popular se reduzir aos bolsomínions — militância cega que vê no “mito” o que a patuleia desvairada vê no presidiário de Curitiba. O capitão já reconheceu que não foi talhado para o cargo, pois nasceu para ser militar, mas, depois que foi afastado do Exército por indisciplina, entrincheirou-se no baixo-clero da Câmara Federal, onde, ao longo de 27 anos, apresentou 172 projetos e relatou 73 e conseguiu aprovar apenas 2.
Em 1986, quando tinha 31 anos, o capitão publicou na revista VEJA um artigo em reclamava do soldo (salário pago aos militares). A matéria lhe rendeu 15 dias de prisão e um processo por indisciplina. No ano seguinte, também em protesto contra os baixos salários, ele planejou explodir bombas de baixa potência em quartéis e academias. O assunto foi resolvido discretamente, e o insurreto foi absolvido de todas as acusações. Mas sua carreira militar terminou ali.
Se continuar travando batalhas ideológicas sem sentido, Bolsonaro pode perder o poder para o Congresso e ver seu respaldo popular se reduzir aos bolsomínions — militância cega que vê no “mito” o que a patuleia desvairada vê no presidiário de Curitiba. O capitão já reconheceu que não foi talhado para o cargo, pois nasceu para ser militar, mas, depois que foi afastado do Exército por indisciplina, entrincheirou-se no baixo-clero da Câmara Federal, onde, ao longo de 27 anos, apresentou 172 projetos e relatou 73 e conseguiu aprovar apenas 2.
Em 1986, quando tinha 31 anos, o capitão publicou na revista VEJA um artigo em reclamava do soldo (salário pago aos militares). A matéria lhe rendeu 15 dias de prisão e um processo por indisciplina. No ano seguinte, também em protesto contra os baixos salários, ele planejou explodir bombas de baixa potência em quartéis e academias. O assunto foi resolvido discretamente, e o insurreto foi absolvido de todas as acusações. Mas sua carreira militar terminou ali.
Devido a sua autodeclarada inaptidão para a Presidência, Bolsonaro dá ao Legislativo a
oportunidade de usurpar o poder de fato do Executivo. Esse processo já está em
curso, embora de modo dissimulado. Ao manejar mal a “caneta”, o presidente
perde confiabilidade e cria um vácuo que, na política, nunca fica vago durante
muito tempo. E ao acusar o Congresso de estar todo ele comprometido com o toma-lá-dá-cá
da velha política, estimula os parlamentares a assumirem as rédeas da coisa
pública — aqui entendida como aquilo que afeta a vida do povo brasileiro. Prova
disso é que os presidentes da Câmara e do Senado se mostram mais engajados na reforma
da Previdência do que o próprio Bolsonaro,
tomando para si a responsabilidade da aprovação e avisando que ela se dará nos
termos dos parlamentares.
Observação: Em entrevista à Globo, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que foi lembrado de forma nada elogiosa nas manifestações do último dia 26, disse que falta ao Planalto um plano de governo, que a reforma previdenciária não é uma panaceia (*), que o país ruma para um “colapso social” e que nada está sendo feito para impedir que isso aconteça.
A reforma tributária também será tocada a partir de proposição apresentada no Legislativo, que vem se interessando por uma reformulação administrativa mais profunda que a parca extinção e/ou fusão de ministérios — objeto da MP 870, recentemente aprovada na Câmara e no Senado, e que, numa clara retaliação ao ministro Sérgio Moro, mandou para a pasta da Economia o Coaf. Cogita-se no Parlamento uma discussão sobre a inevitável reforma política, mas o Executivo não deu um pio a respeito. O assunto surgirá, ainda que no debate torto sobre o fim ou não da reeleição.
Observação: Em entrevista à Globo, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que foi lembrado de forma nada elogiosa nas manifestações do último dia 26, disse que falta ao Planalto um plano de governo, que a reforma previdenciária não é uma panaceia (*), que o país ruma para um “colapso social” e que nada está sendo feito para impedir que isso aconteça.
A reforma tributária também será tocada a partir de proposição apresentada no Legislativo, que vem se interessando por uma reformulação administrativa mais profunda que a parca extinção e/ou fusão de ministérios — objeto da MP 870, recentemente aprovada na Câmara e no Senado, e que, numa clara retaliação ao ministro Sérgio Moro, mandou para a pasta da Economia o Coaf. Cogita-se no Parlamento uma discussão sobre a inevitável reforma política, mas o Executivo não deu um pio a respeito. O assunto surgirá, ainda que no debate torto sobre o fim ou não da reeleição.
As pessoas que foram às ruas no domingo 26, atendendo ao
chamado do presidente, deram uma demonstração de política real. Uma e outra
sugerem a Bolsonaro que ele teria prevalecido num teste de forças que, na
verdade, está apenas no começo, e no qual a caneta Bic presidencial é
insuficiente para vencer. O tal “pacto” entre os Poderes não tem como existir,
já o STF não pode se comprometer em
aprovar algo que, mais adiante, será obrigado a julgar. E vale lembrar que a corte não é o ministro Dias Toffoli, que atualmente a preside, mas um conjunto
de 11 ministros com têm ideias próprias (e nem sempre isentas ou sensatas) a respeito de quase tudo.
Na visão de Willian
Waak, a ênfase retórica no “pacto” é, em parte, o resultado da percepção de
Bolsonaro de que os termos da
vitória eleitoral e “as ruas” lhe teriam permitido enfrentar os outros dois
Poderes, e que levou o ministro Paulo
Guedes a dizer que “não há antagonismo” entre eles (os Poderes) — frase que
só provocou risadas entre seus pares no mundo real da economia e finanças. Tudo
bem, reconheça-se que um dos pilares do governo não poderia mesmo declarar
outra coisa em público, ainda que fosse para segurar o dólar.
“As ruas” — ou o que Bolsonaro
entende por isso — teriam também dito ao presidente que ele não precisa se
esforçar muito em conseguir uma base estável no Congresso, pois o ronco das
multidões que o apoiam superaria, em caso de necessidade, os cochichos dos
participantes do nefasto conchavo que o impede de realizar os anseios do povo.
O problema aqui é o de desafiar um dado estrutural do sistema de governo
brasileiro (admita-se, o pior do mundo), que obriga Executivo e Legislativo a
se entenderem de alguma maneira.
Bolsonaro está conseguindo o
inverso do que pretende. O Congresso caminha com alarmante rapidez para
fortalecer suas prerrogativas e com pautas próprias (na área tributária, por
exemplo, como foi citado linhas atrás). Mais complicado ainda para o
presidente, o mundo parlamentar se impressionou menos do que ele acredita com
as manifestações de rua. Ao contrário, está tomando a guerra deflagrada pelo
bolsonarismo nas redes sociais como incentivo para reduzir as prerrogativas do
Executivo em dois setores-chave: alocação de recursos pelo orçamento e uso de
medidas provisórias.
Ao aderir a simplificações brutais da (admita-se) complexa e
dificílima relação com o Legislativo, Bolsonaro
ignora um outro dado relevante da realidade dos fatos. Parlamentares reagem,
sim, não só “às ruas”, mas, também, a uma série de pressões políticas, sociais,
econômicas e regionais que os empurram, por exemplo, para a aprovação de alguma
reforma da Previdência — é o que explica, em parte, o entendimento
relativamente muito mais fácil entre o próprio Guedes e os presidentes das casas legislativas, que estabeleceram
há tempos linha direta com importantes segmentos da atividade econômica.
As
elites da economia estão há tempos totalmente convencidas de que não há um
plano B para a não aprovação de alguma reforma da Previdência. Mais ainda:
clamam por algo que mexa com a sufocante questão dos impostos (nem estamos
falando da carga). Alguma surpresa com o fato, mencionado acima, de o
Legislativo querer seguir adiante com uma pauta “própria” de reforma
tributária? Ou das expectativas dos agentes de mercado voltadas agora menos
para Bolsonaro e mais para o
Congresso?
Aos cinco meses de governo, amplia-se a noção de que a
formação de uma base coesa e estável de Bolsonaro
no Legislativo é uma quimera com chances pífias de se concretizar. O presidente atua como um competente gerador de crises,
não se mostra disposto a liderar coisa alguma, e mais de uma vez deixou
a própria bancada na mão. Ele confia estar na rota política correta, mas que é
justamente a que vai diminuir drasticamente o poder da sua prosaica Bic. Talvez esteja na hora de usar uma Montblanc.
(*) Na mitologia grega, Panaceia era a deusa da cura, mas o termo é usado popularmente para designar algo que remedeia qualquer doença, que é capaz de solucionar todos os males. Bom seria se a reforma de Previdência fosse realmente uma panaceia para as mazelas do Brasil, e melhor ainda sem também despachasse todos os petistas e congêneres para a Venezuela (com passagem só de ida) e fizesse com que locutores de comerciais de supermercados e lojas de departamento parassem de gritar.
(*) Na mitologia grega, Panaceia era a deusa da cura, mas o termo é usado popularmente para designar algo que remedeia qualquer doença, que é capaz de solucionar todos os males. Bom seria se a reforma de Previdência fosse realmente uma panaceia para as mazelas do Brasil, e melhor ainda sem também despachasse todos os petistas e congêneres para a Venezuela (com passagem só de ida) e fizesse com que locutores de comerciais de supermercados e lojas de departamento parassem de gritar.