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quarta-feira, 20 de março de 2019

DEEP WEB, DARK WEB E DISTINTA COMPANHIA


ENQUANTO HOUVER DROGAS, POLÍTICA E DINHEIRO, SEMPRE HAVERÁ CRIME ORGANIZADO.

Interrompo a sequência sobre como desafogar o disco rígido em prol do desempenho global do computado para focar a Deep Web — assunto que despertou a curiosidade de muita gente depois da chacina em Suzano e de outras ameaças de repeteco em escolas espelhadas pelo país. Sem mais delongas, vamos ao que interessa.

Não é novidade que a insegurança campeia solta, tanto no mundo real quanto no dito “virtual”. Conforme eu já dizia nos meus primeiros escritos sobre segurança digital, publicados na mídia impressa há quase duas décadas, e venho repetindo "n" vezes aqui no Blog, navegar na Web passou de bucólico passeio no parque para uma espécie de safári selvagem, dada a quantidade absurda de ameaças que nos espreitam a cada esquina virtual — de spywares e malwares em geral a invasões, ataques cibernéticos, clonagem de cartões de bancos e por aí vai. Mas que diabos isso tem a ver com a Deep Web? É o que veremos a seguir.

Deep Web e Dark Web é como se convencionou chamar o “submundo” da rede mundial de computadores criada pelo físico britânico e cientista da computação Tim Berners-Lee (note que a Web não é a Internet, mas sim a sua porção multimídia). Enquanto a assim chamada Surface Web hospeda os websites e webservices que acessamos no dia a dia — como lojas eletrônicas, redes sociais, canais de entretenimento, etc. —, nas profundezas da Web negocia-se de tudo, de arquivos de pedofilia a drogas, armas e mais um mundo de coisas ilegais.

A Deep Web e a Dark Web não são exatamente a mesma coisa. Para facilitar a compreensão, pense nelas como duas faces de uma mesma moeda, ou, melhor ainda, como a porção submersa da um iceberg, do qual a parte visível é a Surface Web — e sob a qual está a Deep Web e, dentro desta, a Dark Web.

Deep Web é a camada de sites que fica imediatamente abaixo da Surface Web. Tecnicamente, tudo o que não é visto livremente na internet faz parte da Deep Web — como endereços que, por uma série de razões, notadamente envolvendo segurança e privacidade, não são indexados pelo GoogleBing e outros mecanismos de busca. Em outras palavras, a Deep Web seria como os bastidores da porção multimídia da Internet, ondem ficam dados cruciais para a manutenção da rede e outros que só podem ser acessados por quem possui as devidas credenciais (tais como bancos de dados acadêmicos, registros médicos, informações confidenciais de segurança nacional, registros financeiros, artigos científicos, repositórios de algumas ONGs etc.).

Mesmo não sendo indexados, esses sites podem ser acessados a partir do Chrome, do Firefox ou de qualquer outro navegador de internet. Mas quem é “do ramo” não quer ser identificado nem rastreado, e como abrir uma janela anônima no navegador não garante o grau de anonimato desejado, busca se resguardar sob camadas de proteção adicionais, como as providas pelo famoso TOR Browser — sigla de The Onion Router (onion é cebola em inglês, e o nome remete às múltiplas camadas desse legume).

Observação: O TOR é um software livre, de código aberto, baseado no Mozilla Firefox. Ao contrário do que muitos imaginam, não há nada de ilegal em utilizá-lo, desde o propósito do usuário seja resguardar sua privacidade. É preciso ter em mente que armas não matam pessoas; pessoas é que matam pessoas. A mesmíssima faca que você usa para preparar o churrasco do domingo pode servir para esviscerar um desafeto, como se viu no atentado contra o então candidato Jair Bolsonaro, em 6 de setembro do ano passado. Em última análise, o que diferencia um utensílio inocente de uma arma letal é o uso que as pessoas fazem dele. O resto é conversa fiada. Claro que o TOR também permite acessar o que não está na superfície da Web, mas isso é outra história.  

Voltando à vaca fria, a Dark Web é uma pequena porção da Deep Web, também composta de sites e redes que não são indexados, mas a diferença é que quase totalidade dos domínios que ela abriga tem relação com práticas criminosas — tráfico humano e de drogas, exploração infantil, serviços de assassinos de aluguel, vídeos exibindo pessoas sendo torturadas até a morte, e por aí segue a procissão. A maioria é exibida como um conjunto de letras e números sem o menor sentido para quem não possui as credenciais que autorizam o acesso, e navegar nessas águas turvas requer ferramentas poderosas de criptografia e proteção dos dados, já que, nessa terra sem lei, é comum o sujeito ir buscar lá e sair tosquiado.

É nessa parte da web que também se encontram os famosos fóruns de discussão de grupos radicais, inclusive criados e frequentados por brasileiros, onde criminosos se organizam para os mais variados fins. Recentemente, o responsável por um desse fóruns foi condenado a 41 anos de prisão por crimes de racismo, terrorismo, incitação a crimes e divulgação de materiais ligados à pedofilia (como se vê, o anonimato total não existe, nem mesmo na Deep Web).

Em suma, a Dark Web é parte integrante da Deep Web, sobretudo por seus domínios contarem com a mesma estrutura básica: não são indexados pelos mecanismos de busca. No entanto, ela é uma parcela bem pequena, e voltada exclusivamente à prática de crimes, enquanto a Deep Web contém domínios essenciais para a operação da própria Web.

Esta postagem foi baseada em informações publicadas pelo Tecnoblog. Para saber mais, ouça o podcast a seguir; para mais detalhes sobre o TOR, acompanhe este Blog, que eu voltarei ao assunto numa próxima postagem.



quinta-feira, 14 de março de 2019

O BRASIL, O GOVERNO E O FIM DA PICADA.


Uma das peculiaridades do atual governo é fazer ele próprio o trabalho da oposição. O presidente deixou isso bem claro antes, durante e depois do Carnaval. Sua "incontinência tuitária", sem os filtros institucionais que protegem o governante de cometer erros, pode prejudicar seu capital político e as reformas.

Autoridades de alto nível não devem fazer declarações públicas ou participar de entrevistas à imprensa sem submeter-se a filtros dos órgãos de assessoramento direto e dos ministérios. Trata-se de ação prudente, pois tais autoridades não dominam todos os assuntos sobre os quais se pronunciam. Mais do que qualquer outro membro do governo, o presidente precisa passar por briefings antes de emitir opiniões, já que suas falas costumam ter repercussões.

Segundo Diego Mainardi, a queda de Jair Bolsonaro é tema recorrente no Congresso, no mercado financeiro e na imprensa. Olavo de Carvalho, o folclórico guru presidencial, vaticinou que, se continuar assim, “esse governo não dura seis meses”, e passou a disparar mensagens alucinadas contra o general Hamilton Mourão, acusando-o de tramar um golpe para assumir o poder.

É uma estupidez colossal especular que, dois meses depois da posse, o mandato de Bolsonaro esteja em perigo, mesmo que o comportamento tresloucado do capitão alimente essa hipótese: ao se entrincheirar no Palácio do Planalto, cercado apenas por seus seguidores mais ardorosos, preparando-se para o assédio de inimigos imaginários, o presidente queimou as pontes com o resto da sociedade. Se o Congresso quiser derrubá-lo, basta barrar a reforma previdenciária. Ou então aprová-la depois de dizimar suas tropas. O resultado é igual, e o vice não precisa fazer nada para herdar o poder, pois o titular já está fazendo tudo por ele.

Mudando de pato pra ganso: neste país de merda, cenas de puro terror se sucedem sem cessar, e a cada minuto a mídia divulga algo ainda mais tenebroso — na manhã de ontem, por exemplo, dois indivíduos (não tenho adjetivos para qualificá-los) cometeram uma igualmente inominável barbárie numa escola municipal de Suzano, na região metropolitana de São Paulo — quatro horas depois da chacina, o presidente, sempre ativo nas redes sociais, ainda não havia dado um pio sobre o assunto.

Falando em chacina, a tese improvável de a execução de Marielle Franco e seu motorista não ter tido motivação política nem mandante faz a apresentação de novos dois suspeitos parecer uma peça de ficção. Uma versão difícil de engolir, nas palavras de Merval Pereira (clique aqui para mais detalhes). Mas não é só.

STJ pode aproveitar uma janela de oportunidade aberta pelo ministro supremo-divino Gilmar Mendes para tirar o criminoso de Garanhuns da cadeia — a expectativa é a de que a Corte reveja parte da pena imposta no processo do tríplex do Guarujá, o que abriria brecha para a mudança do regime imposto ao petista, afirma a Folha. Paralelamente, o STF ameaça matar, sepultar e jogar uma pá de cal sobre a Lava-Jato, transformando em simples crime eleitoral  (caixa dois) as rapinagens cometidas políticos larápios. Ainda que o caso sub examine envolva os ex-prefeito do Rio de Janeiro Eduardo Paes e o deputado federal Pedro Paulo, a decisão pode favorecer Mantega, Dilma, Temer e um sem-número de outros picaretas. É o fim da picada.

Falando em fim da picada, fala-se que Lula anda deprimido, tadinho. Familiares, amigos e advogados receiam que essa melancolia evolua para algo mais grave e crônico. Segundo O Antagonista ouviu de alguém que visita o molusco abjeto regularmente, ele montou um altar com imagens de santos (um buda, um orixá, um crucifixo, etc.) e, de normalmente brincalhão, passou a meditabundo e retraído. Talvez porque a prisão, que o privou da cachaça e da roubalheira, agora o leva a deixar também as piadinhas de lado.

Que Deus nos ajude.

Falando em Deus nos ajude, O Supremo adiou para esta quinta-feira a conclusão do julgamento sobre a competência da Justiça Eleitoral para conduzir inquéritos de políticos investigados na Lava-Jato. Até o momento, o placar está em 2 votos a 1 a favor do envio das acusações para a Justiça Eleitoral quando envolverem simultaneamente caixa 2 de campanha e outros crimes comuns, como corrupção e lavagem de dinheiro. Faltam os votos de oito ministros.

ATUALIZAÇÃO (17h30): A ministra Rosa Weber, atual presidente do TSE, votou contra a competência da Justiça Eleitoral para investigar casos de corrupção quando envolverem simultaneamente caixa 2 de campanha e outros crimes comuns, como corrupção e lavagem de dinheiro. Com o voto da ministra, o placar do julgamento está em 3 votos a 2 a favor da competência da Justiça Federal. Até o momento, os ministros Marco Aurélio e Alexandre de Moraes votaram pela competência da Justiça Eleitoral. Luís Roberto Barroso e Edson Fachin entenderam que os casos de crimes conexos devem ser julgados pela Justiça Federal.