Desde meados de abril passado que os textos do jornalista Mario Viana substituíram os do
californiano (radicado em Sampa) Matthew
Shirts, que vinha se revezando com Ivan
Ângelo na seção CRÔNICA da Vejinha.
Para quem não sabe, “Vejinha”
é o nome pelo qual é conhecido informalmente o suplemento regional da revista VEJA distribuído em São Paulo, que ao
longo dos anos nos brindou com crônicas imperdíveis de Walcyr Carrasco, Marcos Rey,
Rubem Braga e tantos outros nomes
estrelados. VEJA, por seu turno, é
uma publicação semanal da Editora Abril,
criada em 1968 pelos jornalistas Roberto
Civita e Mino Carta, cuja
tiragem semanal superior a 1.000.000 cópias faz dela a maior revista de
circulação nacional (e, se não me engano, a segundo do mundo no seu segmento).
Concluídas as apresentações (talvez desnecessárias, mas
enfim...), passo a transcrever o texto que Viana
publicou na Vejinha desta semana, seguido de uma anedota que alguns podem achar
de gosto discutível, mas que eu considero filosófica. Passemos à crônica, que
segue ipsis litteris:
Entre os comerciantes, 26 de dezembro é o dia mundial da troca de
presentes. Tamanho errado, gosto
duvidoso, livro repetido, tudo justifica a troca. Não li nada sobre as
estatísticas de outras datas comemorativas, mas deduzo que o Dia dos Pais
também esteja na lista dos mais trocáveis. Gravatas, meias e cuecas com figuras
do Homer Simpson são devolvidas em profusão. Ou, pelo menos, deveriam ser.
Dia das Mães ― é até feio reconhecer ― é outra data que deve render
muitos escambos, já que muita gente nem imagina que número de sapato calça
aquela que lhe deu a vida. Agora, a única ocasião em que o mínimo deslize na
hora do presente se torna crime inafiançável é o Dia dos Namorados.
Errar no presente para a fofa ou o fofo por resultar numa dor de cabeça
por muitos e muitos anos. Décadas, talvez. Em meio aos festejos de bodas de
ouro, ela vai abrir o vidro de remédio para pressão e comentar com os netos: “O
Adalberto nunca acertou meu número. Teve um 12 de Junho em que ele me deu uma
blusa GG. Eu era P!”. É melhor não contestar. Muito menos lembrar que,
atualmente, a blusa GG cairia como uma luva.
Ganhar presente “errado” de Dia dos Namorados realmente é bem chato.
Não dá para disfarçar o desapontamento: “Será que ela pensa que eu gosto mesmo
de charuto cubano? Eu sofro de asma!”. No caso de roupa para a namorada, a
questão é ainda mais delicada. Se você dá um número grande, isso vai ser
interpretado como “ele acha que eu estou um hipopótamo!”. Se der P e não
servir, pior ainda. “Meu Deus, eu estou um hipopótamo!”.
Vamos partir do princípio de que os ofendidos têm razão. Namorados já
desfrutam certa intimidade, mais que aquela entre pai e filho, por exemplo.
Alguns casais já saboreavam a tal intimidade antes mesmo de namorar
oficialmente. Um presente mal dado equivale a fazer gol contra na final do
campeonato ― e sair comemorando.
Na verdade, presentear é quase uma ciência. Pressupõe aguçado senso de
observação, sensibilidade para escolher o regalo certo e criatividade, para não
dar nada repetido ― livro da moda é um clássico de presente trocável. Uma vez
dei um uísque caríssimo como presente de casamento para noivos de uma religião
que proibia o álcool. Só descobri na festa, em que serviram apenas guaraná. Sem
gelo.
É claro que ninguém consegue saber tudo: enquanto eu não tenho a menor
intimidade com a bola, certos craques do gramado só encontraram a língua
portuguesa rapidamente em um churrasco na praia. Assim também há pessoas que
simplesmente não sabem comprar nada. Pense em quantos homens você conhece que
não sabem o tamanho da própria cueca (neste momento, todos os homens que me
leem devem ter feito uma pausa e pensado: “Que tamanho eu uso mesmo?”).
Também não aconselho adaptar presentes ― aquele suéter comprado para o
namorado anterior cairia bem no atual, caso este gostasse de peças de cores
cítricas. Não gosta. Tenho um amigo (vamos chama-lo de Américo) que compra
produtos genéricos ao longo do ano: pijamas, camisas, louças, tudo o que ele
encontra em oferta e que pode agradar a algum aniversariante no futuro. Quando
chega a ocasião, Américo corre ao armário e saca de lá um presente. Sempre dá
certo com ele, mas não se anime. O método, que pode ser prático para agradar a
amigos, não funciona em caso de namorados. Nem tente.
Passemos agora à tal anedota:
Às vésperas do Dia dos
Namorados, dois amigos que há muito não se viam se encontraram e resolveram pôr
a conversa em dia, e logo fica claro que, enquanto um só viu fracassos desde
que deixou o colégio, o outro foi muito bem-sucedido em tudo que empreendeu. A
certa altura, o fracassado pergunta ao afortunado:
― O que você vai dar à
patroa de Dia dos Namorados?
― Um chuveiro de
brilhantes e um BMW ― responde o outro.
― Não entendi bem o
que uma coisa tem com a outra ― retruca o primeiro.
― Simples. Se o tamanho do aro não estiver certo, ela vai com o BMW até a joalheria e manda ajustar. E você, o que comprou para a dona da pensão?
― Uma camiseta do PT e
um vibrador
― Agora sou eu quem
não entende.
― Simples. Se não gostar da camiseta, ela pode ir se foder!
BOM DOMINGO A TODOS, E UM FELIZ DIA DOS NAMORADOS!