A ESQUERDA BRASILEIRA NÃO
SÓ PERDEU A OPORTUNIDADE DE LIVRAR O PAÍS DA CORRUPÇÃO COMO AINDA AJUDOU A
DESENVOLVÊ-LA.
A telefonia móvel
celular desembarcou em solo tupiniquim no final do século passado e se
popularizou devido, principalmente, à privatização do abominável SISTEMA TELEBRAS, promovida no final de
julho de 1998. Até então, para obter uma linha fixa era preciso adquirir um
"plano de expansão" e
munir-se de paciência, pois o prazo contratual de 24 meses raramente era
cumprido. Assim, restavam aos interessados os orelhões ─ que eram alvo constante dos vândalos de plantão e quase
nunca funcionavam quando se precisava deles ─ ou o "mercado negro" ─ no qual as linhas eram comercializadas
diretamente entre as partes interessadas e instaladas a toque de caixa, embora
chegassem a custar tanto quanto um carro popular 0km, notadamente em regiões
com falta de oferta e excesso de demanda, mas isso é uma história que fica para
outra vez.
Observação: Na cidade marajoara de Cachoeira do Arari (PA), dez munícipes que aderiram ao plano de
expansão da TELEPARÁ esperaram 15 anos pela instalação das linhas. Alguns
nem chegaram a utilizar o serviço, pois faleceram antes que ele fosse disponibilizado.
E o pior é que ainda tem quem sobe nas tamancas
quando ouve falar em privatização! Parafraseando mais uma vez José Saramago, "a cegueira
é um assunto particular entre as pessoas e os olhos com que nasceram; não há nada
que se possa fazer a respeito".
Existem atualmente mais celulares do que habitantes no
Brasil ─ segundo a consultoria de telecomunicações Teleco, a proporção é de 1,4:1
─, devido, em grande parte, à saudável
concorrência entre as operadoras, que disputam a preferência dos usuários subsidiando aparelhos e oferecendo pacotes de serviços que buscam
adequar o custo ao minguado poder aquisitivo da nossa combalida "classe
média". A propósito, muito embora a União Internacional de Telecomunicações considere o Brasil um
dos países onde as ligações por celular custam mais caro, a Teleco assegura que nossa tarifa média é
de R$ 0,16 por minuto, e que o preço
da nossa banda larga móvel também está entre os mais baixos do mundo. Acredite
quem quiser.
Observação: Segundo a Secretaria
de Assuntos Estratégicos do governo federal, são considerados pobres os brasileiros com renda
familiar per capita de até R$ 162
mensais. A classe média começa
em R$ 441 e termina em R$ 2.480, e os que se posicionam acima
desse patamar são considerados "classe
alta" pelos nossos burocratas, e chamados de "ricos" pelo povo, e de "elite branca" pelo PT. Espantado com os valores? Então saiba
que 88,5% das mais de 50 milhões de cadernetas de poupança ativas em maio
passado apresentavam saldo inferior a R$
10 mil, o que nos leva a concluir que poucos filhos da pátria têm cacife
para ostentar um iPhone 6 Plus, cuja
versão com 128GB de memória custa
"a bagatela" de R$ 4.299 (com
mais alguns mimos, o preço pode chegar a quase R$ 5 mil).
A despeito da crise, a inauguração da segunda Apple Store em solo verde-amarelo, no dia 18 de abril passado ─ no Morumbi Shopping (zona sul paulistana) ─
resultou numa fila de mais de 1.000 consumidores; na primeira, aberta em 15 de
fevereiro de 2014, no Shopping
Village Mall (zona oeste carioca), a fila foi duas vezes maior e começou a
se formar na madrugada do dia 13. É mole?
Se você está se perguntando quem precisa de um iPhone quando um modelo similar faz
praticamente o mesmo serviço e custa bem mais barato, a resposta é: quem não
abre mão da aura de excelência que envolve a "marca da maçã".
Observação: Diferentemente do que muitos imaginam, a Apple não é a primeira no ranking dos principais fabricantes de
smartphones, mas sim a segunda (a primeira é a SAMSUNG;
a terceira, a HUAWEI; a quarta, a LENOVO; a quinta, a XIAOMI, e a sexta, a LG).
Cumpre salientar que aparelhos de boa cepa e repletos de
recursos de última geração não são tão baratos assim, pelo menos aqui pelas
nossas bandas, onde, devido à carga tributária e à ganância dos fabricantes e
revendedores (dentre outros fatores que agora não vêm ao caso),
chegam a custar de 3 a 4 vezes mais do que em seus países de origem (e os
fabricados localmente não ficam muito atrás). Uma matéria publicada recentemente pela revista PROTESTE traz
um comparativo envolvendo nada menos que 76 smartphones, cujos resultados
permitem ao consumidor economizar até R$
3 mil! Mas isso já é assunto para a próxima postagem. Passemos agora ao nosso tradicional humor de sexta-feira:
Toca o telefone...
- Alô.
- Alô, poderia falar com o responsável pela linha?
- Pois não, pode ser comigo mesmo.
- Quem fala, por favor?
- Edson.
- Sr. Edson, aqui é da sua prestadora de serviços de telefonia, estamos
ligando para oferecer a promoção de linha adicional que dá o direito...
- Desculpe interromper, mas quem está falando?
- Aqui é Rosicleide Silva, senhor, e estamos ligando...
- Rosicleide, me desculpe, mas, para nossa segurança, eu gostaria de conferir
alguns dados antes de continuar a conversa, pode ser?
- Bem, pode.
- De que telefone você fala? Meu bina não identificou.
- 10315.
- Você trabalha em que área?
- Telemarketing Pro Ativo.
- Você tem número de matrícula na empresa?
- Senhor, desculpe, mas não creio que essa informação seja necessária.
- Então terei que desligar, pois não posso estar seguro de que falo com uma
funcionária da minha operadora. São normas de nossa casa.
- Mas eu posso garantir...
- Além do mais, sempre sou obrigado a fornecer meus dados a uma legião de
atendentes quando tento falar com vocês.
- Ok... Minha matrícula é 34591212.
- Só um momento enquanto verifico.
Dois minutos depois:
- Só mais um momento.
Cinco minutos depois:
- Senhor?
- Só mais um momento, por favor, nossos sistemas estão lentos hoje.
- Mas senhor...
- Pronto, Rosicleide, obrigado por ter aguardado. Qual o assunto?
- Aqui é da sua operadora de telefonia, senhor, e estamos ligando para oferecer
uma linha adicional promocional. O senhor está interessado, Sr. Edson?
- Rosicleide, eu vou transferir você para a minha esposa, porque é ela quem
decide sobre alteração e aquisição de planos de telefones. Por favor, não
desligue, sua ligação é muito importante para mim.
Coloco o telefone em frente ao aparelho de som, deixo a música Festa no Apê, do Latino, tocando no repeat (quem disse que um dia essa
droga não iria servir para alguma coisa?) e ao fim de cinco minutos minha
mulher atende:
- Obrigada por ter aguardado... Você pode me informar o número do seu
telefone, pois meu bina não identificou?
- 10315.
- Com quem estou falando, por favor.
- Rosicleide
- Rosicleide de que?
- Rosicleide Silva (já demonstrando certa irritação na voz).
- Qual sua identificação na empresa?
- 34591212 (ainda mais irritada!).
- Obrigada pelas suas informações, Rosicleide. Em que posso ajudá-la?
- Aqui é da sua operadora de telefonia, estamos ligando para oferecer uma
linha adicional promocional. A senhora está interessada?
- Vou abrir um chamado e em alguns dias entraremos em contato para dar um
parecer; você pode anotar o protocolo, por favor...
TU-TU-TU-TU-TU...
- Desligou... Nossa, que moça impaciente!
Até segunda, se Deus quiser.