Mostrando postagens classificadas por data para a consulta buraco de minhoca. Ordenar por relevância Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens classificadas por data para a consulta buraco de minhoca. Ordenar por relevância Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 9 de abril de 2025

DE VOLTA ÀS VIAGENS NO TEMPO — 15ª PARTE

AS ROSAS CAEM, OS ESPINHOS FICAM.


Vimos que viajar no tempo é uma possibilidade teórica prevista na Teoria da Relatividade e que os efeitos da dilatação temporalilustrados magistralmente pelo Paradoxo dos Gêmeos, já foram comprovados experimentalmente

Até que a tecnologia permita acelerar uma espaçonave a uma velocidade próxima à da luz, não saberemos o que o século XXX nos reserva nem poderemos saborear um filé de brontossauro com os Flintstones na cidade pré-histórica de Bedrock. Mas talvez isso seja apenas uma questão de tempo: como vimos no oitavo capítulo, um engenheiro da NASA está desenvolvendo um motor capaz de impulsionar uma nave a 99% da velocidade da luz, e existem outras possibilidades promissoras, como motores de Alcubierre e conceitos baseados na energia do vácuo.

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

A aprovação de um projeto de anistia depende da ronco das ruas. No último domingo, o ato na Paulista concebido para irradiar a força do faraó da direita foi um crepúsculo: segundo dados da USP, apenas 44,5 mil bolsonaristas atenderam ao chamamento — mais que o dobro dos 18,3 mil que se reuniram em Copacabana, mas quatro vezes menos do que os 185 mil que estiveram na avenida em fevereiro do ano passado e menos de 5% da previsão dos organizadores (1 milhão). A título de contextualização, Sampa tem 11,45 milhões de habitantes e a Grande São Paulo, 21 milhões.
Enquanto o STF constrói o sarcófago, os governadores 
Tarcísio, Caiado, Zema e Ratinho Jr. atuam embalsamadores, de olho nos votos dos devotos. Na manifestação, o faraó de fancaria acusou o Supremo de conluio com Lula em 2022, disse que há um plano para matá-lo e reafirmou que vai disputar a Presidência no ano que vem, mesmo inelegível (esquecendo de lembrar ou lembrando de esquecer que ele pode estar na cadeia em outubro de 2026). A construção da vitória da direita em 2026 é mero exercício de quiromancia. Por enquanto, sobressai o constrangimento de erguer uma alternativa supostamente democrática a partir do embalsamamento de uma múmia golpista. 
Sob reserva, líderes do Centrão na Câmara dizem que não concordam com o projeto da anistia, mas que o líder do PL está cumprindo seu papel ao tentar angariar apoios. Bolsonaro insiste que não será beneficiado, mas aliados admitem que a anistia seria a primeira etapa na construção de algum tipo de salvo-conduto, já que o ex-presidente pode pegar até 40 anos de prisão por crimes como tentativa de golpe e de abolição violenta do Estado democrático. O movimento hoje é para que o Congresso dê aval a uma proposta que enquadre os manifestantes do 8 de janeiro apenas nos crimes de dano ou depredação, o que, se aprovado, enfraqueceria a acusação de que Bolsonaro liderou os atos golpista para retomar o poder. 
Depois de três décadas defendendo a ditadura militar, o refugo da escória da humanidade deveria terminar seus dias na cadeia. Lamentavelmente, o risco de isso não acontecer num país como o Brasil é considerável. Basta lembrar que Lula foi preso em 7 de abril de 2018 e solto após míseros 580 dias, embora suas penas nos processos do tríplex e do sítio somassem 25 anos e as sentenças condenatórias tivessem transitado em julgado no STJ. Mesmo sendo septuagenário, o petista sobreviveu para subir a rampa no Palácio do Planalto pela terceira vez e ameaçar disputar a reeleição em 2026 (que Deus nos livre de mais essa desgraça).

Supõe-se que os buracos de minhoca se formem no fundo dos buracos negros e funcionem como atalhos cósmicos, permitindo percorrer quase instantaneamente os milhares ou milhões de anos-lua que separam dois pontos no espaços-tempo, neste ou em outro universo, no presente ou em outro momento da linha do tempo. Todavia, sua existência ainda não foi comprovada experimentalmente — até porque o buraco negro mais próximo da Terra fica a quase 1.600 anos-luz. 

Mesmo que existem, esses "túneis" tendem a ser minúsculos e instáveis (para suas paredes não colapsarem, seria preciso uma grande quantidade de matéria exótica, cuja massa negativa poderia se converter em energia negativa, mas não há evidências de que esse tipo de matéria exista no Universo. Demais disso, tampouco se sabe eles têm "entrada e saída" ou ambas as bocas "engolem" matéria.

ObservaçãoO nome "buraco de minhoca" (ou "buraco de verme", na tradução literal de "wormhole") surgiu de uma analogia usada para explicar o fenômeno: da mesma forma que um verme que perambula pela casca da maçã poderia pegar um atalho para o lado oposto abrindo caminho através do miolo da fruta, um viajante que passasse por um buraco de minhoca poderia chegar ao lado oposto do universo através de um túnel topologicamente incomum. 

Toda a matemática usada para criar buracos de minhoca teóricos se baseia na Relatividade Geral, que não consegue descrever o centro dos buracos negros nem tampouco é compatível com a física quântica. No entanto, o cientista português João Rosa propôs em um artigo publicado no arXiv que a chamada gravidade híbrida generalizada-Palatini — uma extensão da Relatividade Geral que flexibiliza as relações entre matéria/energia e espaço/tempo — permitiria a criação de buracos de minhoca atravessáveis. 

Para contornar a exigência de energia negativa, Rosa sugeriu que as entradas dos túneis fossem estruturadas em camadas, como cascas de cebola duplas e finas, feitas de matéria comum. Essa proposta ainda precisa ser amplamente debatida e testada, mas representa um passo importante na busca por soluções para a viabilidade dos buracos de minhoca.
 
Segundo o astrofísico americano Ron Malletque construiu uma respeitável carreira acadêmica estudando buracos negros e a Relatividade geral, seria possível usar o laser para formar um "feixe de luz circundante", produzir uma curvatura no espaço-tempo e, atravessar esse "túnel" e voltar ao passado ou avançar para o futuro. Mas ele reconhece que sua "máquina do tempo" ainda não foi comprovada na prática, e que existem desafios significativos a serem superados — entre os quais a necessidade de criar fontes de energia extremamente poderosas e materiais capazes de suportar as enormes forças geradas pela rotação do anel laser.

Continua...

segunda-feira, 7 de abril de 2025

DE VOLTA ÀS VIAGENS NO TEMPO — 14ª PARTE

A CIÊNCIA É MUITO MAIS QUE UM CORPO DE CONHECIMENTOS. É UMA MANEIRA DE PENSAR.

Em um Universo infinito, a existência de clones não é apenas uma possibilidade, mas uma imposição matemática. Tudo o que existe é formado por partículas elementares que se combinam de maneiras diversas, criando desde uma massa amorfa de moléculas até seres vivos. 


O que entendemos por realidade é apenas uma "imagem" escolhida pelo Universo para o imenso número de partículas que o compõem, e um universo infinito com um número finito de combinações possíveis de partículas enseja a existência de "universos-espelho", com galáxias, planetas e até cópias de nós mesmos.


CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA


Em 2022, ao conceder a Lula um inusitado terceiro mandato, a maioria apertada do eleitorado pensou ter livrado o país de uma urucubaca. Hoje, segundo a Quaest, seis em cada dez brasileiros acham o que o macróbio não deve se candidatar em 2026 e 55% dizem que não votariam nele de jeito nenhum. Se o petista ainda se mantém à frente de hipotéticos adversários, é porque Bolsonaro, mesmo tendo estrelado uma Presidência tóxica e tramado um golpe que deve mandá-lo para a cadeia, se recusa a desocupar a moita. O empate técnico do mito do pau oco com seu principal adversário nas pesquisas mostra que o problema do projeto eleitoral da esquerda é o próprio candidato. 

Convencido de que sua impopularidade se deve à falta de comunicação — o brasileiro deveria se ajoelhar no milho e pedir perdão por não valorizar o museu de novidades em que se converteu seu terceiro mandato — Lula entregou o comando da SECOM ao marqueteiro Sidônio Pereira. Ainda segundo a Quaest, metade dos brasileiros avaliam que suas aparições só pioram as coisas, 56% dizem que o Brasil está na contramão, 71% se queixam do descumprimento de promessas e 81% sustentam que o ele deveria fazer um governo diferente. Como se vê, de nada adianta trocar a roda da carroça se o problema é o burro.


Como uma grande quantidade de matéria gera uma força gravitacional igualmente imensa, capaz de curvar o próprio Universo, estamos, na prática, vivendo na superfície de uma gigantesca "bexiga" tridimensional. Porém, assim como uma formiga, ao caminhar sobre a superfície de uma esfera, só pode se mover para adiante, para trás ou lateralmente, nós estamos "presos" a uma superfície tridimensional inserida em uma esfera 4D, e viajar em linha reta inevitavelmente leva de volta ao ponto de partida — como no jogo Pac-Man, onde o personagem sai por um lado da tela e reaparece no outro, em um movimento contínuo.

 
Se a energia escura produz o efeito oposto ao da massa, uma imensa quantidade dessa energia esticaria o Universo, e essa curvatura negativa lhe daria o formato de uma batata Pringles quadridimensional (embora difícil de imaginar, o conceito é válido para os matemáticos). Por outro lado, se considerarmos que a quantidade de massa e de energia escura são equivalentes, uma anula a outra, resultando em um Universo plano, como uma folha de papel. 
 
Num Universo plano, infinito e ilimitado, uma viagem em linha reta não terminaria no ponto onde começou, mas numa borda cósmica além da qual não haveria nada, ou, mais provavelmente, em infinitos "universos-espelho", com clones da Terra e habitantes que são cópias de nós mesmos. 
 
Como o Universo vem se expandindo desde o Big Bang — ou melhor, as galáxias estão se afastando umas das outras —, se pudéssemos voltar no tempo, veríamos as galáxias se aproximando até se fundirem, em um Universo cada vez menor, mas ainda assim infinito, produzindo um novo pico de densidade como o que originou o Big Bang.
 
Entretanto, por mais fascinante que a hipótese de um Universo infinito e multiversal possa ser, a  possibilidade de explorar esses "universos-espelho" ou de viajar no tempo esbarra na velocidade da luz, que a física moderna define com limite universal e instransponível. Sem a ajuda da dilatação temporal, usar um buraco de minhoca como atalho para alcançar pontos remotos do cosmos se torna impossível. Afinal, a expansão do Universo pode ser ilimitada, mas nossas viagens através dele — no tempo ou no espaço — estão condenadas a seguir as regras impostas pela imutabilidade dessa velocidade.
 
Mas não há nada como o tempo para passar, e como disse Arthur C. Clarke, "a única maneira de descobrir os limites do possível é ir além deles, rumo ao impossível".

sábado, 29 de março de 2025

DE VOLTA ÀS VIAGENS NO TEMPO — 12ª PARTE

O SOL QUE DESPONTA TEM QUE ANOITECER.

A possibilidade de o tempo não ser uma linha reta é uma das questões mais debatidas e desafiadoras da física teórica e da filosofia. Várias teorias exploram essa ideia, algumas baseadas na relatividade de Einstein e outras na existência de dimensões extras e universos paralelos.
 
Einstein demonstrou como a gravidade pode "curvar" o espaço-tempo, afetando a passagem em regiões sujeitas à uma intensa atração gravitacional — como o horizonte de eventos de um buraco negro, onde o tempo se desacelera em relação a áreas mais afastadas. Isso, por si só, não atesta a reversibilidade do tempo, mas confirma que ele não é absoluto e pode ser influenciado por massas e energias extremas.

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

Nesta quarta-feira, Bolsonaro e outros 7 denunciados por tentativa de golpe de Estado foram convertidos em réus pela 1ª Turma do STF, a despeito dos esforços de seus advogados, todos criminalistas experientes, conhecidos por atuar em casos como o do mensalão e da Lava-Jato.
Demóstenes Torres, que defende o ex-comandante da Marinha, é procurador aposentado do Ministério Público de Goiás. Ele teve o mandato de senador cassado em 2012, suspeito de ter recebido R$ 3,1 milhões do bicheiro Carlinhos Cachoeira.  
Celso Sanchez Vilardi, que coordena a equipe jurídica de Bolsonaro desde janeiro, atuou nas defesas de empresários investigados em operações como Lava-Jato e Castelo de Areia e defendeu o empresário Eike Batista e o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares no caso do mensalão.
José Luis Oliveira Lima, advogado do general Braga Netto, defendeu o petista José Dirceu no caso do mensalão. 
Eumar Novacki, advogado de Anderson Torres, foi secretário da Casa Civil do governador do DF Ibaneis Rocha e secretário-executivo do Ministério da Agricultura na gestão Michel Temer. 
Paulo Renato Garcia Cintra Pinto, que defende Alexandre Ramagem, foi advogado do PRD, atuou na Assessoria Jurídica Eleitoral do MPF e nas campanhas eleitorais do PT.
Andrew Fernandes Farias, que defende o general Paulo Sérgio Nogueira, é especialista em ações envolvendo a Justiça Militar e presidiu Comissão de Direito Militar da Ordem dos Advogados do Brasil do Distrito Federal.
Sem comentários.
 
A Teoria das Cordas (sobre a qual já falamos em outras oportunidades) propõe que, além das três dimensões espaciais e uma temporal que percebemos, existem dimensões extras onde o tempo pode ser manipulado de maneiras que ainda não compreendemos. Isso levanta a possibilidade de curvaturas ou acessos não-lineares ao tempo em certos pontos do universo.
 
A Teoria do Big Bounce sugere que o Universo passa por ciclos de expansão e contração, tornando o tempo uma sucessão de "recomeços" após cada colapso cósmico, em vez de uma linha contínua. Dessa forma, a história cósmica seria cíclica, e o tempo, uma sequência de eventos recorrentes em escalas cosmológicas.
 
Um dos desafios para a viagem no tempo é a manipulação da entropia (sobre a qual também já falamos), que tende a aumentar, estabelecendo a "seta do tempo" do passado (baixa entropia) para o futuro (alta entropia). Para reverter esse fluxo, seria necessário encontrar uma forma de reduzir localmente a entropia, um conceito fundamental na criação de buracos de minhoca — atalhos cósmicos que supostamente conectam diferentes épocas ou regiões do espaço-tempo, mas exigem condições extremas, como a existência de matéria exótica.
 
Diversos cientistas têm contestado a noção há muito aceita pela ciência de que a seta do tempo seja uma parte elementar da natureza. Entre teorias e experimentos, há propostas para todos os gostos, da confirmação da seta do tempo até a demonstração de que o futuro afeta o passado. Há inclusive quem sustente que o Universo não dá marcha-a-ré e que a causalidade não se aplica no reino quântico.
 
Por outro lado, algumas teorias contestam a ideia de que a seta do tempo seja uma propriedade fundamental da natureza. Considerar que o futuro surge do presente implica aceitar um presente "fixo", ao menos no momento específico chamado presente, mas a professora Joan Vaccaro, da Universidade Griffith, sustenta que suas equações demonstram que nunca há "fixidez", só fluxo que empurra o passado para o futuro, impulsionado pela "agitação" intrínseca do mundo subatômico. 
 
Ela argumenta que a assimetria do tempo pode ter origem no comportamento sutil das partículas subatômicas, e que o tempo não é apenas um fluxo unidirecional, mas um fenômeno emergente impulsionado pela "agitação" quântica. Se confirmadas, suas equações poderiam redefinir nossa compreensão sobre a dinâmica temporal e abrir novas perspectivas para o estudo das viagens no tempo. 
 
O futuro pode ser mais maleável do que imaginamos, mas as chaves para essa compreensão ainda estão escondidas nos mistérios da física quântica.
 
Continua...

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

DE VOLTA ÀS VIAGENS NO TEMPO — 2ª PARTE

SÓ ANDA SOBRE AS ÁGUAS QUEM SABE ONDE ESTÃO AS PEDRAS.

 
Há tempos que buracos negros, paradoxos temporais e outros fenômenos teorizados por Einstein servem de matéria-prima para escritores e roteiristas de ficção científica. 

Em A Máquina do Tempo, acompanhamos a saga de um cientista em uma fabulosa jornada ao futuro distante; na trilogia De Volta para o Futuro, mergulhamos em intricados paradoxos temporais; e em Interestelar, exploramos os mistérios da dilatação do tempo

 

Com a possível exceção do seriado Lost, que trabalha com a "noção de causalidade fechada" (os personagens que voltam ao passado descobrem que não podem alterar o futuro, pois sempre fizeram parte da conjuntura em que os eventos ocorreram), a maioria dos filmes sobre viagens no tempo não leva em conta a teoria segundo a qual um objeto que percorre o espaço-tempo sempre retorna às coordenadas que ocupava originalmente (Closed Timelike Curve). 

Outra "liberdade poética" hollywoodiana é atribuir aos buracos negros o papel de "túnel cósmico" dos buracos de minhoca. Ainda assim, a arte vai muito além da realidade, onde nos limitamos a "viajar para o futuro" dia após dia e a vislumbrar o passado olhando as estrelas, já que o que vemos é a luz emitida por elas há milhares, milhões ou bilhões de anos.

Os buracos negros nascem da colisão entre estrelas de nêutrons ou da explosão de estrelas supermassivas em supernovas. Eles "engolem" planetas, estrelas e quaisquer outros corpos celestes que se aproximam de seu horizonte de eventos e transformam tudo um ponto infinitesimal, mas com a massa original, o que resulta em tamanha atração gravitacional que nem a luz consegue escapar.

Observação: Embora seja usado como sinônimo de buraco negro, o termo singularidade designa um ponto no cosmos onde algo com densidade infinita cria uma curva igualmente infinita no espaço-tempo — daí os buracos negros serem o melhor exemplo de locais onde a singularidade pode existir.

A existência desses corpos celestes foi comprovada pela primeira vez em 2017, quando o Event Horizon Telescope fotografou o M87* — no centro da galáxia Messier 87, a 55 milhões de anos-luz da Via Láctea —, mas Einstein jamais sugeriu que eles fossem portais para outras dimensões. Já os buracos de minhoca, também chamados de Pontes Einstein-Rosen, permanecem no campo teórico, mas detectá-los pode ser apenas uma questão de tempo — Carl Sagan ensinou que "ausência de evidência não é evidência de ausência", e não faltam exemplos de cientistas ridicularizados por suas ideias heterodoxas e posteriormente reconhecidos, como foi o caso de Copérnico, de Semmelweis, de Ehrlich e de Wegener, entre outros.

Acredita-se que os buracos de minhoca surjam no interior dos buracos negros e funcionem como "atalhos", permitindo percorrer milhares de anos-luz em poucos segundos e alcançar galáxias diferentes, neste ou em outro universo, no presente ou em outro ponto da linha do tempo. O nome (wormhole, em inglês) surgiu de uma analogia usada para explicar o fenômeno: da mesma forma que o bicho-da-maçã chega do outro lado da fruta abrindo caminho através do miolo. 

Observação: Para ilustrar como um buraco de minhoca interliga regiões cósmicas distantes, dobre o mapa do Brasil ao meio e repare que o Monte Caburaí, que fica próximo à fronteira de Roraima com a Guiana, e "encosta" no município de Chuí, que fica a 5.000 km, na divisa do Rio Grande do Sul com o Uruguai. 
 
Uma mergulho em Gaia BH1 — o buraco negro mais próximo do nosso sistema solar — poderia confirmar a existência, ou não, de um buraco de minhoca. Mesmo na velocidade da luz, uma viagem até lá demoraria mais de 1,5 mil anos (embora fosse praticamente instantânea para os astronautas). Com base na velocidade alcançada pela Parker Solar Probe no final do ano passado, seriam necessários 2,4 milhões de anos para percorrer essa distância, lembrando que, a 692 mil km/h, uma missão tripulada não fruiria dos benefícios da dilatação temporal.

Continua...

sexta-feira, 8 de novembro de 2024

LUZ E TREVAS (PARTE III)

A PERDA DE UM CRAVO CAUSA A PERDA DA FERRADURA; A PERDA DA FERRADURA CAUSA A PERDA DO CAVALO; A PERDA DO CAVALO CAUSA A PERDA DA MENSAGEM; A PERDA DA MENSAGEM CAUSA A PERDA DA GUERRA.

 

Einstein ensinou que o espaço e o tempo formam uma estrutura inseparável (espaço-tempo), que a velocidade do tempo é inversamente proporcional à velocidade do observador (dilatação temporal) e que, para que cada um tenha "seu próprio relógio" e "viaje no tempo em relação ao outro" quando seus "relógios" se dessincronizam, todos os pontos da linha do tempo precisam existir simultaneamente.
 
Essa variação é imperceptível no dia a dia, mas, a 180 km/h, 30 segundos são na verdade 29,99999999999952s, e os relógios internos dos satélites que orbitam a Terra atrasam 0,000007 s/dia em razão da velocidade (28.000 km/k) e adiantam 0,0045 s/dia devido à gravidade (que é menor a 20.000 km de altitude).

Segundo a Lei da Gravitação Universal, matéria atrai matéria na razão direta das massas e na razão inversa do quadrado das distâncias. Uma quantidade imensa de matéria gera uma atração capaz de curvar o espaço-tempo — como é o caso dos buracos negros, — cuja existência foi comprada em 2017, quando o EHT fotografou o M87* —, que são bons exemplos de regiões cósmicas onde a singularidade pode existir. 

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

Bolsonaristas acreditam que o "mito" é um ex-presidente de mostruário perseguido injustamente. Petistas acreditam que o mensalão e o petrolão não existiram e que Lula foi absolvido pelo STF. Fernando Haddad e Celso Amorim acreditam que Trump suavizou o discurso e que o Brasil e os EUA manterão uma "relação normal". 
Cada um pode acreditar no que quiser, inclusive em Papai Noel. Mas, assim como o bom velhinho, um Trump moderado é ficção. Quem voltará a ocupar a Casa Branca no dia 20 de janeiro é um criminoso condenado, já indiciado por tentar melar a eleição anterior e às voltas com inéditas pendências judiciais. 
No palanque, Trump prometeu vingar-se de opositores, livrar-se de servidores públicos incômodos, deportar milhões de imigrantes e fechar a economia dos Estados Unidos. Deixou claro que usará sua segunda Presidência como um meio para a realização dos seus fins autocráticos. Supor que ele vai descumprir o que prometeu é um flerte com o ilusório.
O próprio Lula, que na véspera tornara pública sua torcida por Kamala Harris, foi compelido pelas circunstâncias a parabenizar o eleito. "O mundo precisa de diálogo e trabalho conjunto", disse o Sun Tzu de Atibaia, como se, ao voltar a cagar no poleiro da Casa Branca, a calopsita alaranjada nao mijará no chope das duas principais ações do governo brasileiro na política externa. Alguém deveria lembrar Lula de que ignorar os fatos não faz a realidade desaparecer.

Os buracos negros se formam quando estrelas supermassivas se transformam em supernovas e "devoram" tudo que se aproxima de seu horizonte de eventos, onde a força gravitacional é tamanha que nem a luz consegue escapar, crescem à medida que engolem planetas, estrelas e outros objetos celestes próximos, e encolhem conforme perdem energia (radiação de Hawking e princípio da Incerteza de Heisenberg). O exemplar mais próximo é o Gaia BH1, que fica a 1,6 mil anos-luz (cerca de 15 trilhões de quilômetros) do nosso sistema solar. Para chegar até ele, a sonda mais veloz lançada pela NASA demoraria 2,4 milhões de anos.
 
Embora a ficção científica retrate os buracos negros como portais para outras dimensões, qualquer objeto que cruze seu horizonte de eventos é inexoravelmente "espaguetizado" e transformado em um ponto infinitesimal, mas com a mesma massa original, que se soma à do buraco negro. A Teoria da Relatividade explica esse fenômeno, mas deixa espaço para especulações sobre buracos de minhoca e supostas conexões entre universos.
 
Também chamados de Pontes Einstein-Rosen, os buracos de minhoca se formam quando a singularidade de um buraco negro distorce o espaço-tempo. Em tese, eles serviriam de atalho para encurtar a distância entre dois pontos, seja neste ou em outro universo, no presente ou em outro ponto da linha do tempo. Para facilitar a compreensão, imagine o espaço-tempo como uma folha de papel. Com a folha dobrada ao meio, as bordas superior e inferior, que representam duas regiões distantes do espaço-tempo, praticamente se juntam, permitindo que uma hipotética espaçonave vá de um ponto ao outro quase instantaneamente.
 
Mas há alguns "senões" a considerar, começando pela existência dos buracos de minhoca, que ainda não foi comprovada experimentalmente. Se eles existirem e forem tão comuns quanto as estrelas, como acreditam alguns astrofísicos, detectá-los pode ser apenas uma questão de tempo. Por outro lado, a criação ou estabilização de um buraco de minhoca exigiria formas exóticas de matéria com densidade negativa, que ainda não foram descobertas ou produzidas em laboratório. Além disso, a própria manipulação do espaço-tempo suscita questões sobre a quantidade de energia necessária. A fusão nuclear promete energia limpa e quase ilimitada, mas essa tecnologia ainda está longe de ser dominada.
 
Continua...

quarta-feira, 2 de outubro de 2024

NOVAS ROUPAGENS PARA VELHAS TEORIAS (CONTINUAÇÃO)

PRIMA DI ANDARE, PRIMA DI TORNARE.

teoria do Big Bang sugere que o universo surgiu de uma singularidade incrivelmente densa. O modelo cosmológico atual, baseado nessa teoria e respaldado por inúmeras observações, é o que melhor explica a origem do cosmos, mas ainda deixa em aberto grandes mistérios, como a matéria escura, a energia escura e a inflação cósmica, entre outros enigmas que continuam a intrigar a comunidade científica.

Entre as muitas especulações derivadas dessa teoria está o conceito do multiverso. Algumas hipóteses sugerem a existência de um "universo-espelho" semelhante ao nosso, mas com simetria e fluxo temporal inversos. Nesse cenário, a matéria escura seria composta por partículas vindas do "antiverso". Essa ideia poderia explicar a assimetria observada entre matéria e antimatéria — segundo a Teoria das Partículas Elementares, cada partícula de matéria deveria vir acompanhada por uma correspondente partícula de antimatéria, com carga oposta, mas a realidade observada é bem diferente.

É importante destacar que interações físicas nem sempre seguem o teorema CPT, e qualquer violação da simetria em sistemas de partículas é sinal de problemas conceituais. Em 2014, por exemplo, pesquisadores do BICEP2 anunciaram que haviam detectado ondas gravitacionais primordiais, supostamente originadas nos primeiros momentos do Big Bang

A exatidão dessa descoberta é questionada porque os sinais podem ser explicados pela presença de poeira galáctica. Por outro lado, caso fique comprovado que as ondas gravitacionais primordiais não existiram, a hipótese da existência do antiverso ganhará força, pois um universo perfeitamente simétrico não produziria tais ondas.

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

Quem acompanhou o debate do último sábado na TV Record esperando uma nova rodada de pancadaria perdeu 2h20min de sono. Afora as frases de efeito duvidoso e a carga religiosa, houve três destaques: 1) Marçal levou a incivilidade na coleira e tentou seduzir os não convertidos (32% segundo o Datafolha); 2) Tábata fustigou Boulos em relação a temas como descriminalização das drogas, aborto e ditadura na Venezuela; 3) Nunes, guiado por sua equipe de marketing, jogou pelo empate. Mas houve momentos em que alguns candidatos soaram como se a disputa não fosse pela prefeitura de São Paulo, mas por uma poltrona no céu. 

Marçal — cujas propostas misturam pirlimpimpim com abracadabra — pegou um gancho na crítica de Datena ao descaso da prefeitura com as pessoas que passam fome e subiu no púlpito: "Estou só tomando água, desde segunda-feira, meio-dia. E vou entregar na próxima segunda-feira, sete dias, que é o número da plenitude." E esfregou na cara do prefeito a acusação de envolvimento na máfia das creches: "Existe pagamento em seu nome e de familiares". O rival devolveu: "Você é um mentiroso contumaz. Foi condenado em 22 processos na Justiça Eleitoral." Nas considerações finais, Nunes encostou sua retórica no Sermão da Montanha: "Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus".

Até Tábata, que se notabiliza pela exposição de propostas para a cidade, cavou uma oportunidade para injetar religiosidade na sua prosa: "Se estou aqui hoje é porque a igreja salvou nossas vidas e a educação transformou minha vida para sempre. Falo sim de igreja, apesar do preconceito que muita gente tem. Na periferia, quando falta comida na sua casa, é a igreja que lhe acode."

Não dispondo de conexões com o divino, Boulos tentou compensar sua debilidade junto ao eleitorado da periferia vinculando-se a Lula e Marta Suplicy. De resto, viu-se compelido a negar a tese dos adversários segundo a qual sua biografia estaria apinhada de pecados. Marina, por sua vez, jogou no ventilador o trecho do estatuto do PSOL que defenderia a "expropriação de propriedades."

O problema de debater vícios e virtudes sob atmosfera religiosa está na inconveniência da mistura. Juntando-se limão com cachaça e açúcar em dia de feijoada, tem-se uma caipirinha. Misturando-se religião e política num debate entre aspirantes à Prefeitura de São Paulo, tem-se apenas uma grande empulhação.


A teoria do "universo-espelho" é, por enquanto, apenas especulação — mas vale lembrar que os buracos negros também já foram, até que o Event Horizon Telescope capturou a imagem do M87. No entanto, ainda não se sabe ao certo se buracos de minhoca existem dentro dos buracos negros, como alguns cientistas propõem. Afinal, muitas teorias revolucionárias, como o heliocentrismo, a desinfecção e a deriva continental, foram ridicularizadas até que o tempo provou sua veracidade.

Na ficção científica, buracos negros são retratados como portais para outras dimensões, mas, na prática, alguém que se aventurasse em um seria "espaguetizado" pela singularidade. Já os buracos de minhoca são distorções no espaço-tempo causadas pela gravidade extrema dos horizontes de eventos dos buracos negros. A ideia foi sugerida pela primeira vez em 1916 pelo físico Ludwig Flamm e mais tarde por Albert Einstein e Nathan Rosen, daí o nome "pontes de Einstein-Rosen".

Supõe-se que esses "atalhos cósmicos" encurtem a distância entre dois pontos do espaço-tempo, permitindo que uma nave viaje em minutos por milhões de anos-luz, seja neste universo ou em outro, seja no presente ou em outro ponto da linha temporal. Embora ainda não tenham sido observados diretamente, Carl Sagan nos lembrou que "a ausência de evidência não é evidência de ausência". Se buracos de minhoca forem tão comuns quanto as estrelas e tiverem entradas com raios entre 100 e 10 milhões de quilômetros, detectá-los será apenas uma questão de tempo.

A criação de um buraco de minhoca exige uma quantidade imensa de energia escura para curvar o espaço-tempo. Além disso, eles "túneis cósmicos"são teorizados como pequenos, instáveis e praticamente intransponíveis. A conexão entre eles e a física quântica foi proposta pela primeira vez em 2013, apesar de a gravidade parecer incompatível com a mecânica quântica

Experimentos de teletransporte quântico já estão em andamento, investigando como essas rupturas no espaço-tempo poderiam estar relacionadas a fenômenos quânticos. Parece coisa de ficção científica, mas, como dizia Richard Feynman, ninguém realmente entende a mecânica quântica. O impossível só é impossível até alguém duvidar e provar o contrário.

Se o antiverso realmente existir, uma visita a ele exigiria viajar no espaço-tempo até a singularidade do Big Bang e sair do outro lado — uma jornada de 13,8 bilhões de anos, a idade estimada do universo pelo modelo Lambda-CDM, embora essa idade possa chegar a 26,7 bilhões de anos, segundo a hipótese do físico Rajendra Gupta, que se baseia na observação de estrelas azuis retardatárias que parecem mais jovens que os sistemas estelares aos quais pertencem.

Vale lembrar que o termo "singularidade gravitacional" se refere a pontos onde as leis tradicionais da física não se aplicam. A singularidade no centro de um buraco negro, por exemplo, possui densidade infinita, distorcendo o espaço-tempo de tal forma que para escapar dela seria necessário ultrapassar a velocidade da luz — algo impossível, segundo a Teoria da Relatividade.

Uma imagem recente capturada pelo Telescópio Espacial James Webb, mostrando aglomerados globulares maciços, sugere que essas formações podem ter surgido antes mesmo do Big Bang, o que contradiz o princípio da causalidade — e também a sabedoria do conselheiro Acácio. Esse aparente paradoxo pode ser explicado de duas maneiras: ou a idade dessas estrelas foi superestimada, ou o universo é mais antigo do que prevê o modelo padrão. 

Ambas as possibilidades deixam claro que uma revisão crítica do que sabemos sobre a dinâmica cósmica é cada vez mais necessária.