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quinta-feira, 17 de julho de 2025

O PRESIDENCIALISMO DE COOPTAÇÃO

POLÍTICOS SÃO COMO AMANTES ARGENTINAS; QUANTO MAIS CEDEMOS A ELES, MAIS ELES TOMAM DE NÓS. 


Durante o Gilmarpalooza, Flávio Dino fez uma longa explanação sobre a crise institucional e culpou o presidencialismo de coalizão, mas citou diretamente apenas um presidente. Ao tratar da questão do IOF, afirmou que, apesar de rasa e simplória, a controvérsia foi elevada a um tema constitucional de altíssima indagação devido a fatores que escapam à alçada do STF. Perguntado sobre as emendas parlamentares, atribuiu os problemas à desestruturação do presidencialismo de coalizão. Confrontado com o fato de o STF ter considerado constitucionais as emendas impositivas, reconheceu tratar-se de uma dificuldade adicional para a corte. 


Dino mencionou diretamente o governo Collor e indiretamente o de Bolsonaro, mas evitou tecer críticas a Lula, que é apontado pelo cientista político Carlos Pereira como responsável direto pela crise atual. Já o sociólogo Celso Rocha de Barros, em artigo na Folha, seguiu a cartilha lulista, culpando diretamente o Congresso. Mas o buraco é bem mais embaixo.

 

A distorção institucional começou em 1997, quando o então presidente Fernando Henrique alterou as regras do jogo para permitir a própria reeleição. Em 2010, seguindo a cartilha de Vladmir Putin, Lula articulou a eleição de um "poste" para manter aquecida a poltrona que ele pretendia voltar a ocupar quatro anos depois. Mas o "poste" não entendeu (ou não topou) encenar o espetáculo escrito pelo criador, acabou expurgada. E assim teve início o descolamento entre Executivo e Legislativo que culminou no orçamento secreto sob Bolsonaro. 

 

O mesmo Supremo que ora se propõe a mediar a crise entre Executivo e Judiciário anulou as condenações de Lula na Lava-Jato — como fez em outras grandes investigações que ousaram envolver políticos relevantes — e o trouxe de volta por linhas tortas ao Palácio do Planalto, onde ele tenta limpar a própria biografia a qualquer custo — já que a conta será paga pelos contribuintes brasileiros — e disputar um quarto mandato.

 

Com raras e honrosas exceções, os semideuses supremos mantêm laços estreitos com os presidentes que os indicaram, participam de jantares com parlamentares, comentam publicamente processos que eles próprios julgarão, interferem em questões legislativas e têm passados que contaminam seus votos. Dino foi indicado por Lula como ministro com a cabeça política, e Barroso, presidente de turno da corte, caiu na armadilha de declarar publicamente que nós derrotamos o bolsonarismo.

 

Isso nos leva a questionar a capacidade do STF para mediar disputas políticas que seus membros ajudaram a criar fazendo o que eles agora apresentam como solução: interferir no jogo político. O fim da reeleição vem sendo vendido como panaceia para todos os males do nosso sistema político, mas Aristóteles já dizia que um bom governo depende da virtude do governante.

 

Dilma governou sem existir politicamente até ser expelida pelo sistema; Bolsonaro foi a alternativa para os eleitores que não queriam o país governado por um presidiário que nunca esteve à altura do cargo e, como desgraça pouca é bobagem, hoje governa com os olhos no retrovisor, uma agenda personalíssima e um discurso falacioso, como evidenciam seu posicionamento sobre as guerras na Ucrânia, em Gaza e no Irã, e o velho e batido ramerrão dos ricos contra pobres.

 

O mandato-tampão de Michel Temer começou como um sopro de ar fresco numa catacumba e tinha tudo para avançar nas reformas estruturais, mas seu prometido ministério de notáveis se revelou uma notável confraria de corruptos — sem falar na conversa de alcova com Joesley Batista. Ainda assim, ficou claro que, mesmo falho e capenga, o sistema político brasileiro pode funcionar, desde que não seja sabotado por dentro — como disse Churchill, a democracia é a pior forma de governo, excetuando-se todas as demais já experimentadas.

 

O presidencialismo exige um chefe do governo à altura do cargo — ou, no mínimo, com respaldo popular e capacidade de governar. O Brasil só teve isso por breves momentos e por acaso. Discutir a implementação do parlamentarismo —  ou de um semipresidencialismo, como se tem cogitado — pode ser útil, mas tudo dependerá de como os que comandam o sistema se comportarão.


Com Rodolfo Borges e revista Crusoé 

sábado, 12 de julho de 2025

TRUMP, BOLSONARO E DISTINTA COMPAHIA

O PROBLEMA NÃO É O QUE DISSERAM, MAS QUEM O DISSE. 

Edmar Bacha criou o termo belíndia para definir um país onde até morador de rua paga impostos (81% sobre uma garrafa de cachaça), mas o grosso dos trilhões arrecadados anualmente é consumido pela máquina pública e o pouco que sobra, quando não escoa ralo da corrupção, não dá sequer para os serviços essenciais.

Em vez de cortar custos para reduzir o déficit público, Lula torra bilhões em projetos assistencialista-eleitoreiros. O Congresso, fisiologista, cria 18 novas cadeiras novas cadeiras na Câmara — que custarão mais R$ 748,6 milhões por ano aos cofres públicos —, como se precisássemos de mais deputados, e não de políticos probos. Mas o que esperar de um eleitorado majoritariamente ignorante, que repete a cada eleição o que Pandora fez uma única vez?

 

Em 1989, depois de 29 anos sem votar para para presidente, essa choldra levou Collor e Lula ao segundo turno, embora Ulysses Guimarães, Mario Covas e Leonel Brizola figurassem entre os mais de 20 postulantes ao Planalto. Isso explica por que desde 2002, quando FHC ficou sem novos coelhos para tirar da velha cartola, tivemos Lula, Dilma, Temer, Bolsonaro e novamente Lula na presidência e prefeitos, vereadores, governadores, deputados estaduais e congressistas demagogos corporativistas, demagogos e, não raro, corruptos.

 

Em 2018, a rejeição ao lulopetismo deu azo ao bolsonarismo. Em 2022, ocorreu o inverso. E deu no que está dando. O capetão — a quem não faltaram motivos para ser impichado e condenado durante sua execrável gestão — posa de candidato, mesmo estando inelegível até 2030 e em via de ser julgado — e provavelmente condenado — por tentativa de golpe de Estado. No outro extremo do tablado político-ideológico, o desempregado que deu certo e ex-presidiário mais famoso do Brasil sonha com a reeleição, mesmo amargando a maior rejeição de toda sua trajetória política. 


Observação: Bolsonaro foi o maior responsável pela soltura de Lula, e Lula pode ser o responsável pela vitória de um candidato de extrema-direita em 2026.

Como não há nada tão ruim que não possa piorar, "Dudu Bananinha" e seus cupinchas tanto fizeram que Donald Trump — que parece pensar ter sido eleito para o cargo de Deus — sobretaxou em 50% os produtos brasileiros em retaliação ao que chamou de "caça às bruxas". Em resposta, o Sun Tzu de Garanhuns prometeu reciprocidade.

Mas não é só: em meio a essa crise diplomática, a Comissão de Relações Exteriores de Defesa Nacional da Câmara aprovou uma moção de louvor a Trump, exaltando-o como "exemplo de democracia moderna e justa", enquanto aliados do governo atribuem a saia-justa à interferência política de zero três.

O viés bolsonarista da sanção da Casa Branca deu à política nacional uma aparência de centro terapêutico onde Trump é o maníaco, Bolsonaro, o depressivo, e os ministros do STF, os terapeutas.


Trancado em seus rancores, o aspirante a golpista atrai para a psicanálise de grupo personagens como Tarcísio de Freitas, que não sabe se defende as forças produtivas de São Paulo ou se adiciona Lexotan à sua sopa.


Um político pode trair o país ou o eleitorado. Bolsonaro traiu seu país ao permitir que o filho se exilasse nos EUA para tramar contra os interesses do Brasil, e emboscou o eleitorado ao cavar a vinculação do julgamento por tentativa de golpe à chantagem tarifária de Trump. Além de se tornar ator coadjuvante de um ataque estrangeiro contra empresários e trabalhadores brasileiros, arrisca-se amargar, ele próprio, uma traição.


Se o rompimento com Musk serviu de alguma coisa, foi para mostrar que Trump — que não é leal senão a si mesmo — está acorrentado aos interesses de Bolsonaro por grilhões de barbante.

sábado, 5 de julho de 2025

SALVE-SE QUEM PUDER!

O ASNO SE CONHECE PELAS ORELHAS, E O TOLO, PELA LÍNGUA.

Sétimo filho de um casal de lavradores (sem contar outros quatro que não "vingaram"), Luiz Inácio da Silva nasceu em 27 de outubro de 1945 num casebre depauperado do sítio Várzea Comprida, em Caetés (então município de Garanhuns - PE). A mãe, D. Lindu, não foi assistida por uma parteira (a comadre corpulenta caiu do jegue a caminho do sítio) nem pelo marido, Aristides, que havia "retirado" dois meses antes, deixando esposa grávida e levando a reboque uma prima adolescente de D. Lindu, que ele havia engravidado. 


Lula só conheceu o pai aos cinco anos, quando Aristides voltou de visita à terra natal e, no embalo, engravidou D. Lindu de uma menina — que seria registrada como Ruth porque o cartorário achou Sebastiana um nome muito feioAos sete anos, o projeto de petista foi mordido na barriga por uma jumenta, e só não morreu porque alguém enfiou uma peixeira no pescoço do animal (esse episódio consta do livro Lula, o Filho do Brasil, de Denise Paraná, que foi base da cinebiografia homônima).

 

Aristides era um homem rude e ignorante, que bebia muito e tratava melhor seus 20 cachorros do que a mulher, as amantes (ele teve várias) e os 25 filhos que espalhou pelo Brasil afora antes de morrer de cirrose e ser sepultado numa vala comum do cemitério da Consolação, sem túmulo, sem epitáfio e sem despedidas dos filhos e das viúvas. Por ser analfabeto, ele ditava para o primogênito — que morava com ele e a prima da mulher — cartas nas quais dizia que a vida em Vicente de Carvalho estava difícil e que D. Lindu deveria permanecer no Nordeste. Numa dessas cartas, no entanto, o menino incluiu um trecho dizendo que o pai queria que a mãe e os irmãos viessem morar com eles. 

 

Castigada pelo seca de 1952, D. Lindú vendeu o barraco e seus parcos pertences, reuniu a filharada, sacolejou 13 dias num caminhão "pau-de-arara", desembarcou no Brás (bairro da capital paulista) e seguiu de trem rumo à baixada santista, onde o marido morava com a concubina. O reencontro se deu na antevéspera do Natal, mas não foi nada caloroso. Aristides passou a dividir a semana entre as duas famílias, mas tratava D. Lindu e os filhos nas patas do coice. 


Depois de ser espancada com uma mangueira de jardim, ela subiu a serra (literalmente) e passou a morar nos fundos de um boteco na Vila Carioca (bairro da zona sul da capital paulista). Lula ainda morou algum tempo com o pai, mas se juntou à mãe na capital, onde trabalhou como auxiliar de tinturaria, engraxate e office-boy até se formar torneiro mecânico pelo Senai e conseguir emprego numa metalúrgica — onde perdeu o dedo mínimo da mão esquerda num acidente de trabalho até hoje mal explicado. 


Depois de seis meses desempregado, Lula foi contratado pela Villares. Instigado pelo irmão Frei Chico (que era ateu, comunista, e se chamava José Ferreira da Silva), iniciou sua trajetória sindicalista. Foi sob sua liderança que o ciclo de greves em prol da recomposição salarial dos metalúrgicos teve início. Em 1969, casou-se com Maria de Lourdes da Silva, que contraiu hepatite e foi submetida a uma cesariana de emergência da qual nem ela nem o bebê sobreviveram. Em 1974, ano em que casou com Marisa Letícia, Lula já era pai de Lurian, fruto de um caso com a enfermeira Míriam Cordeiro. Desse casamento nasceram Fábio Luiz, Sandro Luíz e Luiz Cláudio a mulher já tinha um filho do primeiro casamento, que Lula adotou formalmente). 


Como dirigente sindical, Lula participou de assembleias e reuniões em várias cidades — e até no Japão a convite da Toyota. Foi cassado em 1979, mas recuperou o cargo com o fim da greve. Em abril de 1980 — mesmo ano da fundação do PT —, passou 31 dias detido no DOPS por incitar greves, mas não foi torturado. A primeira bandeira do partido foi costurada por Marisa, que pouco apareceria nas campanhas eleitorais do marido até 2002. Ela morreu em 2017, vítima de um aneurisma cerebral, cinco meses antes de Moro sentenciar Lula no caso do triplex no Guarujá. 


Lula dizia ter ojeriza à política e aos políticos, mas deixou o chão de fábrica em 1972, ao se tornar dirigente sindical, e abandonou o batente de vez quando fundou o partido que "faria política sem roubar nem deixar roubar". Desde então, dedicou-se à "arte da política" e desfrutou dos confortos que o poder e o dinheiro podem proporcionar. Sempre cultivou a imagem de operário honesto e defensor da justiça social, mas trocou a pinga vagabunda e os cigarros baratos por vinhos premiados, uísques caríssimos e charutos de cem dólares assim que encontrou quem pagasse a conta. Em conversa com o empreiteiro Emílio Odebrecht, o general Golbery do Couto e Silva (vulgo "Bruxo") teria dito que Lula posava de esquerdista, mas não passava de um bon vivant. 


Na primeira eleição presidencial direta desde 1960, o xamã petista foi derrotado por Collor. Em 1994 e 1998 Fernando Henrique foi eleito em primeiro turno. Em 2002, quando faltaram ao tucano de plumas vistosas novos coelhos para tirar da velha cartola, Lula finalmente conseguiu se eleger — e se reeleger em 2006, a despeito do escândalo do mensalão. Em janeiro de 2011, transferiu a faixa para seu "poste" e deixou o Palácio com o ego inflado e a popularidade nas alturas. Em 2012, a despeito de boa parte da alta cúpula petista ter ido parar na cadeia, o chefe sequer foi indiciado na ação penal 470

 

Observação: Durante um jantar regado a Romanée-Conti — vinho da Borgonha que custa US$ 25 mil a garrafa —, Lula tirou uma baforada da cigarrilha cubana (acesa pelo diligente vassalo Delúbio Soares) e se vangloriou: "Sem falsa modéstia, companheiros, eu elejo até um poste para governar o Brasil." E elegeu mesmo. Mas a criatura fez o diabo para se reeleger em 2014, e o criador, sem o manto da Presidência e escudo do foro privilegiado, foi condenado em 2017 e preso em 2018. 


Com a candidatura barrada pelo TSE e o "companheiro" Jaques Wagner declinando do o papel de fantoche, Lula escalou Fernando Haddad para representá-lo no pleito de 2018, mas o ex-prefeito paulistano perdeu para Bolsonaro no segundo turno por 55,13% a 44,87% dos votos válidos. E o resto é história recente: apesar da concorrência acirrada, Bolsonaro sagrou-se o pior mandatário desde Tomé de Souza. Ao longo de sua aziaga gestão, foi alvo de mais de 140 pedidos de impeachment (todos engavetados por Rodrigo Maia e Arthur Lira) e dezenas de denúncias por crimes comuns (que o antiprocurador-geral Augusto Aras matou no peito). 


Como que antevendo a necessidade de defenestrar Bolsonaro em 2022, o STF libertou o então presidiário mais famoso do Brasil — como um delegado que determina a soltura de um ladrão detido pela Guarda Civil Metropolitana sob o pretexto de que o flagrante caberia à PM — e anulou suas suas duas condenações (que somavam quase 25 anos de prisão e haviam transitado em julgado no STJ) e o reabilitou politicamente. De vota ao tabuleiro eleitoral, a "alma viva mais honesta do Brasil" derrotou o refugo da escória da humanidade, no segundo turno, por uma diferença de 1,8% dos votos válidos.


Como aspirante a golpista, Bolsonaro conseguiu ser pior do que foi como presidente. Embora continue sendo o maior exponente da direita radical, as manifestações em seu favor vêm encolhendo: a mais recente, em 28 de junho, reuniu 12,4 mil pessoas no pico do ato — contra 44,5 mil em abril e 185 mil em fevereiro. Mesmo estando inelegível até 2030 e na iminência de ser condenado pelos crimes de organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado e grave ameaça contra o patrimônio da União, e deterioração de patrimônio tombado, segue entoando a velha cantilena da perseguição política e posando de candidato ao Planalto, enquanto articula com a banda podre do Congresso uma improvável anistia.

 

Com o país polarizado (cerca de 80% dos eleitores divididos entre nhô-ruim e nhô-pior) e a popularidade do pseudo "Parteiro do Brasil Maravilha" em queda livre, o cenário eleitoral permanece uma incógnita. Pesa contra o macróbio a idade, a saúde precária e o desgaste com o eleitorado. Por outro lado, por ele nunca ter deixado crescer uma arvorezinha que pudesse fazer sombra em seu quintal, a esquerda carece de um "plano B". 


A situação do capetão-golpista é ainda pior: somam-se às pendências judiciais as sequelas da facada que levou em setembro de 2018, a crescente perda de apoio e o discurso de palanque cada vez menos convincente. Ainda assim, e a despeito das candidaturas alternativas à direita — como as de Ronaldo Caiado e Gusttavo Lima —, sua força gravitacional mantém os governadores Tarcísio de Freitas, de São Paulo, e Romeu Zema, de Minas Gerais, orbitando a seu redor.

 

Candidatos à reeleição têm a máquina pública e o erário a seu favor, e Lula vem gastando bilhões (dinheiro dos nossos impostos) em projetos assistencialistas para tentar se manter competitivo. Mas o clima com o Congresso azedou de vez — como demonstrou a derrubada do decreto que aumentava o IOF. Isso sem mencionar que o próximo presidente, seja ele quem for, terá de dar nó em pingo d'água para manter o país adimplente. Em entrevista à TV Bahia, ele disse que pretende conversar com Hugo Motta e Davi Alcolumbre para resgatar a "normalidade política nesse país", mas a governabilidade idealizada por ele não depende mais de acertos com os chefes da Câmara e do Senado, mas de acordos miúdos com cada um dos 513 deputados e dos 81 senadores, numa evidencia clara de que o presidencialismo de coalizão está agonizante — e o pior é que não há nada melhor à vista.

 

Nem à direita nem à esquerda tem interesse num embate cujo desfecho é imprevisível. Lula diz estar candidatíssimo, mas já não tem certeza se vale a pena tentar a reeleição, e Bolsonaro precisa decidir o que fará quando e se for condenado (o que deve acontecer entre setembro e outubro). Até o início de 2026, esquerda e direita devem seguir em ritmo de morde e assopra, com governo e oposição ensaiando ataques e recuso conforme a direção dos ventos. Nenhum dos lados está pronto para uma guerra em que um passo em falso pode dar vantagem ao adversário. 


A ressurreição do slogan "nós contra eles" representa uma guinada de Lula à esquerda, e pode afugentar os eleitores nem-nem (nem Lula nem Bolsonaro) que levaram o levaram ao Planalto pela terceira vez. Mas alguma coisa profundamente anormal precisa acontecer para salvar o país e o orçamento, e a única luz visível no horizonte é o reflexo da lua sobre o iceberg em direção ao qual o Titanic tupiniquim segue a toda velocidade. 


Salve-se quem puder. 

quinta-feira, 12 de junho de 2025

20 ANOS DE MENSALÃO E O BOTECO DAS ELEIÇÕES

UM PAÍS SEM JUSTIÇA SE TRANSFORMA FACILMENTE NUM COVIL DE LADRÕES.

Há 20 anos, uma entrevista revelava ao Brasil a existência de um esquema de compra de apoio político envolvendo integrantes do Congresso Nacional, do governo federal e da cúpula de diversos partidos políticos. Era o início do "Escândalo do Mensalão", que abalou o primeiro mandato de Lula, conquistado após três derrotas consecutivas (1989 para Fernando Collor e 1994 e 1998 para Fernando Henrique). 

 

O termo "mensalão", citado pela primeira vez numa entrevista de Roberto Jefferson — então deputado e presidente do antigo PTB — à jornalista Renata Lo Prete — então editora do Painel no jornal Folha de S.Paulo — aludia às "mesadas" que os parlamentares recebiam em troca apoio a projetos de interesse do Executivo. No relato, o parlamentar acusou o então tesoureiro do PT, Delúbio Soares, de ser o responsável pelos repasses para compra do apoio dos congressistas. Mas a sombra de uma crise de grandes proporções, associada a desvio de dinheiro público dentro da máquina federal, já pairava sobre o governo petista.

 

Em maio de 2005, a revista Veja — cujas reportagens bombásticas já haviam desencadeado o fim da carreira militar de Bolsonaro (1987) e a implosão do governo Collor (1992) — revelou a existência de um vídeo em que um diretor dos Correios chamado Rogério Marinho negociava propina em nome de Jefferson, dando origem à "CPMI dos Correios", que se tornou palco das principais revelações e investigações, em tempo real, do esquema do mensalão. 

 

Na época, o PT enfrentava dificuldades de consolidar uma base governista na Câmara dos Deputados. Jefferson acusou  José Dirceu de envolvimento no esquema, e o então ministro-chefe da Casa Civil pediu demissão e retomou seu mandato de deputado. Em julho, Veja revelou que Marcos Valério, Delúbio Soares e José Genoino deram aval a um empréstimo milionário em nome do PT, levando o Delúbio e o secretário-geral do partido, Silvio Pereira, a deixarem seus cargos. Dias depois, José Adalberto Vieira da Silva, secretário do PT do Ceará e assessor do irmão de José Genoino, foi preso ao tentar embarcar em um voo com R$ 200 mil na mala e US$ 100 mil escondidos na cueca. Genoino deixou a presidência do PT no dia seguinte, e o partido mergulhou de vez em uma espécie de inferno astral e crise reputacional.

 

Aos poucos, outras siglas da base do governo (como PP e PL) que haviam formado a chapa presidencial vitoriosa em 2002 tiveram deputados e dirigentes envolvidos no escândalo, entre os quais Valdemar Costa Neto, que renunciou ao mandato para não ser cassado, foi condenado no "Processo do Mensalão" e posteriormente perdoado por se enquadrar nas regras de um decreto editado pela presidente Dilma no final de 2015. A despeito da capivara invejável, esse sujeito preside o partido que tem Jair Bolsonaro como presidente de honra e Michelle Bolsonaro no comando do PL Mulher.

 

Ao se defender a cassação, Jefferson disse em seu discurso: "Este é o governo mais corrupto que vi em meus 23 anos como deputado. O Zé Dirceu tratou a Câmara como um prostíbulo (...) E a turma que forneceu o dinheiro vai ficar de fora? Tem ministro que recebeu mensalão (...) Foi de lá do Planalto que partiu a corrupção". Acusou Lula de ser "preguiçoso", "malandro" e "omisso". "Tirei a roupa do rei. Mostrei ao Brasil o que é o governo Lula. Mostrei ao Brasil quem são esses fariseus", discursou. No dia 1º de dezembro de 2005, o mandato de Dirceu também foi cassado.

 

Em seu primeiro pronunciamento sobre Mensalão, Lula se disse "indignado com a crise política" e pediu desculpas à nação. Meses depois, em entrevista ao Fantástico, afirmou que não tinha conhecimento do esquema e classificou as denúncias de "facada nas costas". Em março de 2006, a partir das conclusões da CPMI dos Correios, o então PGR apresentou denúncia ao STF contra 40 pessoas — entre as quais Dirceu, acusado de ser o "chefe da organização criminosa" — por formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, evasão ilegal de divisas, corrupção ativa e passiva, peculato, falsidade ideológica e gestão fraudulenta. Em agosto do ano seguinte, o Supremo aceitou a denúncia e, após 53 sessões, condenou 24 dos acusados, com destaque para Marcos Valério — o "operador" do mensalão —, que foi condenado a 40 anos, dois meses e dez dias de prisão, além de uma multa milionária.

 

Vinicius de Moraes ensinou que não há nada como o tempo para passar; Ivan Lessa, que o brasileiro esquece a cada 15 anos o que aconteceu nos últimos 15 anos; e um velho ditado, que quando um porco entra num palácio, ele não se torna rei, mas o palácio se torna um chiqueiro. Em 2018, o antipetismo levou Bolsonaro do obscuro baixo-clero da Câmara ao gabinete mais cobiçado do Palácio do Planalto; em 2022, o antibolsonarismo levou Lula de volta ao mesmo gabinete por uma vantagem de 1,8% dos votos válidos. 

 

Como se vê, mesmo que o cardápio inclua pão amanhecido e biscoito esfarelado, o eleitor brasileiro prefere escolher entre um prato de merda e um suco de bosta. 

quarta-feira, 11 de junho de 2025

AINDA SOBRE O BIG BANG

QUEM TEM CALOS E JUÍZO NÃO SE METE EM APERTOS.

Um esforço para melhorar as comunicações por rádio, um ruído vindo do espaço e alguns físicos teóricos formaram uma improvável conjunção de fatores que ajudou a comprovar a Teoria do Big Bang, segundo a qual o Universo — e tudo o que existe nele — teria "nascido" da expansão súbita e violenta de um ponto (ou singularidade) sem volume, mas extremamente quente e denso, há cerca de 13,8 bilhões de anos.

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

Lula disputou a Presidência em 1989 e perdeu para Collor no segundo turno. Voltou à carga em 1994 e 1998, e foi derrotado por FHC, no primeiro turno, em ambas as ocasiões. Finalmente eleito em 2002, tropeçou no mensalão, escapou do petrolão e resolveu escalar um "poste" para manter aquecida a poltrona que tencionava voltar a disputar em 2014. Mas a "mulher sapiens" pegou gosto pelo poder, fez o diabo para se reeleger, mas jogou a economia nacional do fundo do poço e foi arrancado em 2016.

Em 2018, mesmo gozando férias compulsórias na Superintendência da PF em Curitiba, o detento insistiu numa quimérica candidatura presidencial. Não levou, mas plantou as sementes que lhe renderam frutos em 2022. 

Bolsonaro, inelegível e na bica de ver o sol nascer quadrado, segue o mesmo script do arquirrival ao sustentar uma candidatura juridicamente natimorta para 2026. Quando (ou se) ele colherá os frutos, só os oráculos do populismo podem responder. Seus apoiadores podem mugir que Lula começou tudo — e não estão errados; foi o encantador de burros que instaurou o populismo mais rasteiro, surfando na herança bendita deixada por FHC. O "mito" surgiu como uma espécie de antídoto, mas não demorou a se revelar pior que o próprio veneno. 

A boa notícia é que nhô-ruim e nhô-pior já não são unanimidades nem entre seus devotos. Segundo as ultimas pesquisas, muitos petistas de carteirinha não querem ver seu "maximus pontifex" disputando um quarto mandato, a despeito de ele ter impedido qualquer alternativa de brotar à sua sombra. Entre os eleitores de centro-direita, a situação é ainda mais alarmante: 55% preferem que o imbrochável inelegível apoie outro nome em 2026. Já entre os "isentões", 70% acham que o "mito" deveria indicar um sucessor e 73%, que o macróbio não deve tentar um quarto mandato. Claro que os fiéis mais fervorosos (de ambos os lados) juram que as pesquisas são manipuladas, que seus ídolos arrastam multidões e que tudo não passa de armação da imprensa ou do sistema. 

A má notícia é que ainda não se pode dizer que a maioria do eleitorado não aguenta mais escolher entre o passado e o pesadelo, e a péssima é que, caso um deles vença novamente, o próximo governo tende a ser tão ou ainda mais fraco que o atual. 

Essa rinha de populistas demagogos tem custado caro demais à democracia, e quem paga a conta é a parcela da população que não tem bandido de estimação. 


Segundos depois da grande expansão, o Universo era uma verdadeira "sopa primordial" — um plasma incandescente de quarks e glúons, partículas subatômicas que ainda não formavam nada reconhecível como matéria. Com temperaturas próximas a 5,5 bilhões de graus Celsius, esse caldo fervente era tão denso e energético que sequer permitia a formação de átomos. Cerca de 380 mil anos depois do Big Bang, o Universo esfriou o bastante para que prótons e elétrons finalmente se unissem, formando os primeiros átomos de hidrogênio e hélio


Conhecido como "era da recombinação", esse período marcou uma virada crucial: com os elétrons agora presos aos núcleos, o espaço deixou de ser opaco, e a luz, antes constantemente dispersa pelas partículas livres, pôde finalmente viajar livremente pelo cosmos — um evento que deixou como rastro a chamada radiação cósmica de fundo de micro-ondas, um brilho tênue que ainda hoje permeia o Universo e serve como uma das principais evidências do Big Bang. 


Os astros primordiais, gigantescos e efêmeros, fundiram elementos leves em mais pesados e os espalharam pelo cosmos quando explodiam em supernovas. Dessas explosões vieram os ingredientes básicos para planetas, oceanos, montanhas e, eventualmente, vida — pequenos átomos viajando bilhões de anos para se organizar em olhos capazes de olhar para o céu e tentar entender de onde tudo veio.


Embora seja o principal pilar da cosmologia moderna, a teoria do Big Bang não explica o que existia antes da "grande expansão" e afirma que as leis da física conhecidas não se aplicam àquele momento inicial. Essa lacuna deu origem a alternativas como a Teoria M, segundo a qual existem inúmeros universos paralelos, e a colisão entre dois deles teria gerado toda a matéria e energia que compõem o nosso Universo.

 

Algumas correntes sustentam que espaço e tempo sempre existiram, e que a grande expansão não foi o ponto inicial de tudo, mas o resultado do colapso entre diferentes dimensões — nesse caso, a explosão primordial não teria dado origem a um único universo, mas a vários, que surgiram como bolhas em um caldo cósmico de possibilidades. 


Essas ideias já foram consideradas pura ficção científica, mas hoje ensejam debates sérios entre físicos teóricos, que tentam conciliar a Teoria da Relatividade, que explica o muito grande, com a Mecânica Quântica, que rege o muito pequeno, dando azo a hipóteses como a de que o nosso universo pode ser apenas uma "membrana" flutuando em um espaço de dimensões superiores invisíveis aos nossos sentidos.

 

Se nosso universo for realmente uma bolha entre muitas, então o que chamamos de “realidade” pode ser apenas um entre incontáveis cenários possíveis, com leis físicas diferentes, constantes variadas e talvez até versões alternativas de nós mesmos em outras configurações do espaço-tempo. Assim, o Big Bang deixaria de ser o "início de tudo" e se tornaria apenas um episódio em uma história muito maior — uma entre trilhões de páginas de uma história que ninguém escreveu, mas que insiste em se desenrolar.

 

Pode-se dizer que tudo isso não passa de hipóteses, mas hipóteses escoradas em equações, observações indiretas e modelos matemáticos complexos. Para muitos físicos, a elegância de uma teoria é quase tão sedutora quanto sua capacidade de ser testada, e é nesse limite entre o rigor e o devaneio que a ciência avança. Aliás, a verdadeira "beleza" da ciência não está nas respostas, mas nas novas perguntas que cada resposta suscita. Dito isso, o que veio antes do tempo? O que existe fora do espaço? O nada é mesmo nada ou apenas algo que ainda não fomos capazes de entender?

 

The answer, my friend, is blowing in the wind.


Em tempo: Se calhar, assista a este vídeo: