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sábado, 5 de outubro de 2024

A CAIXA DE PANDORA — O MITO E A REALIDADE (CONCLUSÃO)

LASCIATE OGNI SPERANZA VOI CHE ENTRATE

 

No Brasil, os chefes do Executivo federal, estadual e municipal são eleitos em dois turnos. Caso nenhum candidato obtenha mais de 50% dos votos válidos no primeiro turno, os eleitores voltam às urnas para escolher entre os dois mais votados. 

No primeiro turno, um eleitor que não vota no candidato com quem tem mais afinidade porque o dito-cujo está mal colocado pesquisas eleitorais é um idiota. Mas o que esperar de um eleitorado com Q.I. de ameba e lobotomizado pela polarização?

Pesquisas de intenções de voto devem ser vistas com reservasEm 2018, todas apontavam a vitória de Haddad e a eleição de Dilma para o Senado, mas Bolsonaro foi eleito e a mulher sapiens ficou em quarto lugar. Dias após o primeiro turno, eu cantei essa bola. Não por ser clarividente, mas porque o capetão obteve quase o dobro dos votos do bonifrate de Lula, e todos os candidatos à Presidência que chegaram ao segundo turno na dianteira até então acabaram sendo eleitos. 
 
Pandora abriu sua caixa uma vez, mas os brasileiros borrifam desgraças em si mesmos a cada dois anos. Em 2018, preferindo errar com convicção a tentar acertar, despacharam Bolsonaro e Haddad para o segundo turno, embora pudessem testar Geraldo Alckmin (ainda tucano), Henrique Meirelles, João Amoedo, ou mesmo Ciro Gomes (afinal, situações desesperadoras justificam medidas desesperadas). E deu no que deu. 

Em 2022, podendo dar uma chance a Simone Tebet, Felipe D'Ávila ou Ciro, a récua de muares votou a escolher a execrável "dupla de dois". Lula, já "descondenado", não precisou de preposto e se beneficiou da gestão desastrosa de seu antecessor. E deu no que está dando: enviado pela terceira vez ao Planalto, o petista levou na bagagem a corja mensaleira e petroleira que havia submergido no auge da Lava-Jato. A (indi)gestão em curso só não é pior que a anterior porque nada pode ser pior que o refugo da escória da humanidade. Mas o páreo é duro. 

Diz a sabedoria popular que cada povo tem o governo que merece. Sob Bolsonaro, o "centrão" transformou a ocupação do Orçamento num processo de bolsonarização das instituições. Lula escapou do mensalão, tropeçou no Petrolão e foi libertado da prisão, mas segue refém do Imperador da Câmara. Tanto nhô-ruim como nhô-pior são meros agentes transmissores de um mal maior. 
 
Comparado aos vexames que Bolsonaro fez o Brasil passar no exterior, um espirro que Lula desse no microfone da ONU soaria como um esguicho de bom senso. Foi assim na cerimônia de abertura no ano passado, mas as diferenças ficaram menos evidentes neste ano. 

De volta ao mesmo púlpito, com o dedo e riste e a voz roufenha, o Sun Tzu de fancaria discursou como discursa para os ignorantes que o endeusam. Falou sobre meio ambiente enquanto as queimadas estragavam o ambiente inteiro de seu discurso. Não repetiu o ridículo de seu antecessor, que culpava os indígenas, a imprensa e as ONGs pelo fogo, mas foi compelido a reconhecer que os incêndios na Amazônia dizimaram cinco milhões de hectares só no mês de agosto. 
 
Lula lamentou a falta de perspectiva de paz na Ucrânia e a crise humanitária em Gaza e na Cisjordânia, lastimou a expansão do conflito para o Líbano, avaliou que resposta de Israel ao Hamas tornou-se "punição coletiva para o povo palestino" e voltou a criticar o embargo econômico dos EUA a Cuba. Mas não deu um único pio sobre as violações aos direitos humanos na Venezuela do tirante-companheiro Nicolás Maduro.
 
Lamúrias não ornam com a pretensão de liderar o debate sobre a emergência climática, e um chefe de Estado que silencia sobre as atrocidades cometidas em um país vizinho não pode ser levado a sério quando palpita sobre perversões que enxerga na Europa, no Oriente Médio e na América do Norte. Antes de atuar como professor do mundo, Lula deveria extrair lições de suas próprias contradições.
 
A raiz da degeneração da nossa democracia é profunda. Apesar dos avanços obtidos com a redemocratização, o Brasil não progrediu graças aos governantes, mas apesar delesA conivência, mesmo dos menos desonestos, permitiu que a corrupção se disseminasse por todas as esferas do poder

A vida ensina que a primeira regra dos buracos é "quem cair dentro de um deve parar de cavar", mas o povo brasileiro, habituado ao precipício, prefere jogar mais terra por cima. Brecht ensinou que o pior analfabeto é o analfabeto político, que se orgulha de ignorar a política sem se dar conta de que da sua ignorância nasce o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio dos exploradores do povo, e Churchill, que a democracia é "a pior forma de governo afora todas as outras".

A lição do dramaturgo alemão fazia sentido na época em que ele caminhava entre os vivos; hoje, qualquer pessoa que tenha dois neurônios funcionais percebe que não precisa dos políticos para viver e que viveria melhor sem eles. Quanto ao ensinamento do estadista britânico, quem apoiou as Diretas Já, festejou a vitória Tancredo, lamentou sua morte e se decepcionou com a redemocratização  como é o caso deste que vos fala  endossa o que disseram Pelé e Figueiredo sobre misturar brasileiros com urnas em eleições presidenciais.

Numa democracia de respeito, eleger o chefe do Executivo pelo voto direto é a expressão suprema da soberania popular; num país como o nosso, onde o voto é obrigatório dos 18 aos 70 anos, falar em "festa da democracia" é gozação. Nossas eleições deveriam ser uma ação de cidadãos racionais e interessados, mas nosso eleitorado jamais se notabilizou pela capacidade cognitiva e incorporou a desinformação e a ignorância que norteiam desde sempre seu comportamento nas urnas. E vale tudo para se aproveitar dos mais despreparados e menos qualificados, até mesmo levar urnas aos confins da selva amazônica para que silvícolas que sequer falam português exerçam o "sagrado direito do voto". 
 
Às vésperas de completar 18 anos, minha prioridade era a carteira de habilitação; alistamento militar e título de eleitor, meros inconvenientes que vinham no pacote da maioridade. Votei pela primeira em 1978, quando os generais ainda ditavam as regras e os governadores e parte dos parlamentares eram "biônicos" (indicados pela alta cúpula militar). 
Em 1989, votei em Mario Covas no primeiro turno e em Collor no segundo, mas só porque a alternativa era Lula, e Lula não era uma alternativa. 

Muita coisa mudou desde então, incluindo a mentalidade dos adolescentes. Mas esse empenho dos políticos pela participação dos "eleitores facultativos" é eminentemente oportunista, sobretudo em tempos de polarização, quando se mais com o fígado do que com a razão.
 
Às vésperas das eleições municipais, os paulistanos estão novamente numa sinuca de bico. Votar em Tábata Amaral é escolher o mal menor – a despeito do que eu disse sobre "voto útil", Datena tem menos chances de se eleger do que eu de ser ungido papa. A deputada
 está longe de ser a candidata dos sonhos dos paulistanos minimamente esclarecidos, mas votar nos afilhados de Bolsonaro e de Lulaou no franco-provocador despirocado Pablo Marçal, é insanidade em estado bruto. 

Sempre se pode votar em branco ou anular o voto, mas eu acho melhor aproveitar o fim de semana para tomar um chopp à beira-mar e acompanhar a apuração pela TV. 

Observação: O voto em branco indica que o eleitor não se identifica com nenhum candidatos, mas não é considerado na contagem. Já o voto nulo é um protesto mais explícito  mas é mito que 50% + 1 votos nulos anulam a eleição. Não comparecer às urnas, por sua vez, é uma forma de protestar contra o sistema como um todo, embora muitos a vejam como desinteresse ou alienação política.
 
Pandora abriu sua caixa movida pela curiosidade, mas os brasileiros o fazem por cegueira mental. Não há outra explicação para um ex-presidente semianalfabeto, que foi réu em duas dúzias processos criminais, condenado a mais de 20 anos de reclusão, solto e reabilitado politicamente graças a uma tecnicidade claramente fabricada por togas camaradas, voltar a presidir o país que ele e seus comparsas foram acusados de assaltar.
 
Nossa caixa de Pandora será reaberta amanhã (alea jacta est!). As pesquisas indicam que Nunes, Boulos e Marçal estão tecnicamente empatados. O
 tanto de votos que o franco-provocador obtiver espelhará o número de eleitores que, como ele, têm a cabeça cheia de merda. 

A exemplo do escorpião da fábula, Marçal é incapaz de agir contra sua própria natureza. A despeito da cadeirada, voltou a trocar insultos com Nunes, responder com embromação a indagações objetivas de especialistas e eleitores, cutucar Boulos e Datena com provocações subliminares e, numa tabelinha com Marina Helena, defender a atuação anticientífica de Bolsonaro na pandemia de Covid. Enquanto os prefeitáveis brigam entre si, dois milhões de cidadãos brasileiros residentes de São Paulo não têm o que comer. 

Nosso maior problema é o eleitorado (vide postagem anterior). Uma ampla reforma política ajudaria um bocado, mas como esperar que os fisiologistas corruptos que dominaram a "res publica" contrariem os próprios interesses? Qual força popular poderia, em nome da decência, reverter o fiasco da nossa democracia? Como diria Bob Dylan, the answer, my friend, is blowing in the wind.
 
Considerando que a esperança ficou presa no fundo da caixa, talvez seja a hora de votar nas putas. Está visto que continuar elegendo os filhos delas jamais fará com que o Brasil reencontre seu norte.

quinta-feira, 20 de junho de 2024

E LA NAVE VA GIU


A DIFERENÇA ENTRE ESTADISTA E POLÍTICO É QUE O ESTADISTA 
PERTENCE À NAÇÃO E O POLÍTICO PENSA QUE A NAÇÃO LHE PERTENCE.

Em março de 2020, três meses depois de alcançar os 120 mil pontos, o Ibovespa pegou Covid e caiu para 63.569. Restabelecido, voltou ao patamar anterior em 2021 e 2022 e beirou os 135 mil pontos em dezembro de 2023. Mas o ano virou e o vento mudou. 

Depois que os gringos sacaram R$ 4,63 bilhões em apenas dois dias, os 125 mil pontos foram para o beleléu. Agora, o iBov sua a camisa para retornar à casa dos 120 mil — e, pelo andar da carruagem, deve encerrar o ano bem abaixo dos 200 mil preconizados anteriormente pelos analistas mais otimistas.

A meta de déficit zero de Haddad ficou para 2025. O ex-poste e ex-bonifrate do ex-corrupto amarga seu pior momento no Ministério da Fazenda. Além de convencer Lula da necessidade de equilibrar as contas públicas, ele precisa resgatar a própria credibilidade como fiador do arcabouço fiscal. E servir a dois senhores é uma missão quase impossível — perguntado sobre a fórmula do sucesso, JFK disse que ela não existia, mas que a do fracasso era tentar agradar a todos. 

O ministro esperava arrecadar mais de R$ 29 bilhões com a "MP do Fim do Mundo", mas ela foi devolvida pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. No passado, os parlamentares aprovaram medidas que aumentaram a arrecadação; agora, recusam-se a compactuar com o aumento da carga tributária — não por estarem preocupados com a situação periclitante dos "contribuintes", mas porque haverá eleições em outubro. 

Haddad diz que não há plano B, mas vai ter de negociar com o Congresso para "encontrar" os R$ 26 bilhões de que precisa para compensar a desoneração da folha de salários de 17 setores da economia e dos municípios de até 156,2 mil habitantes. O problema e que ele e Simone Tebet estão isolados. A ministra sugeriu a revisão da vinculação do salário-mínimo aos benefícios previdenciários, mas foi desancada nas redes por Gleisi Hoffman, presidente do PT, e criticada por Rui Costa e outros ministros palacianos contrários ao corte de despesas em ano eleitoral. Ninguém se dignou de defendê-la.

O desgaste do ministro não interessa ao governo nem (muito menos) ao mercado. "Se quem entrar se meter a besta, a inflação começar a subir e o mercado perder a confiança, vai ser um grande e rápido fiasco político", ponderou Armínio Fraga, ex-presidente do BC. O custo político da demissão seria elevado, sem falar que de nada adianta trocar as rodas da carroça quando o problema é o burro. 

Rumores sobre a troca de comando na Fazenda levaram líderes governistas a defender a permanência de Haddad no cargo. O senador  Jacques Wagner — que elogiou a devolução da MP por Pacheco — foi um deles, e o próprio Lula disse que Haddad é um ministro extraordinário e que desconhece pressões sobre ele. Mas o presidente se irrita com as discussões sobre o déficit fiscal. Dias atrás, disse que o aumento da arrecadação e a queda da taxa de juros reduzirão o déficit sem comprometer o investimento público. Ato contínuo, a Bolsa caiu e o dólar fechou o dia em R$ 5,42

Segundo um velho ditado, os sábios aprendem com os erros alheios e os tolos aprendem com os próprios erros. Lula não aprendeu nada nos dois reinados anteriores nem nos 580 dias de férias compulsórias que gozou em Curitiba. Dirige o país com os olhos no retrovisor, mas não é capaz de enxergar a própria imagem refletida no espelho. Talvez "caia na real" quando se der conta de que o trono está em risco. 

Sempre existe a possibilidade de um presidente não concluir o mandato ou de não mais caminhar entre os vivos para disputar a reeleição, mas análise é análise, torcida é torcida e fato e fato, e o fato é que imbróglio da MP 1.227 ainda não produziu um choque de realidade. Em abril, o déficit nominal atingiu o recorde de R$ 1,043 trilhão no acumulado de 12 meses, e a mudança da meta do arcabouço fiscal para 2025 tornou pior o que já era ruim. 

As falas de Lula e de Haddad contribuem para a desconfiança sobre a leniência em relação ao avanço de preços às vésperas da troca de comando do BC. Lula repete ad nauseam que Campos Neto "tem lado político" e o culpa por tudo que deu errado no mundo desde as 10 pragas do Egito. Em seu penúltimo ataque, tentou terceirizar os desafios impostos à política econômica — "não tem explicação a taxa de juros do jeito que está" — e pisou no economista ao revelar sua inconformidade com o jantar de 70 convidados oferecido ale por Tarcísio Gomes de Freitas no Palácio dos Bandeirantes (detalhes na entrevista à CBN).

Lula não está fazendo nada diferente do que fez desde o início de seu terceiro (e queira Deus derradeiro) mandato, e o próprio Campos Neto forneceu a munição para as críticas, sobretudo ao participar do tal jantar — procedimento que não orna com o caráter independente do Banco Central. O xamã petista sabe muito bem como explorar esses episódios, mas o tiro pode sair pela culatra se ele acreditar realmente que o BC é a única coisa desajustada no país.

 
A irresignação presidencial não influenciou a decisão sobre a Selic, que ficou mantida em 10,5% ao ano encerrando um ciclo de sete cortes seguidos. A unanimidade na decisão, ao contrário do que ocorreu na última reunião. A decisão mostra um Copom alinhado com investidores, já que não cedeu à pressão política de Planalto. 
 
Com o cenho carregado, a voz roufenha e o dedo indicador em riste como a cauda de um escorpião antes do bote, Lula acusou Campos Neto de usar a autonomia do BC como trampolim para acrobacias políticas e mimetizar o comportamento de Sergio Moro, que trocou a 13ª Vara de Curitiba pelo Ministério da Justiça sob Bolsonaro. Trovejou que, "se for necessário", ele disputará um quarto mandato "para evitar que trogloditas voltem a governar o país".

Observação: Em atenção aos desmeriados e descerebrados de sempre, cumpre esclarecer que o morubixaba petista se referiu ao mico do bolsomínions, que bateu no iceberg das urnas em 2022 quando o conservadorismo civilizado trocou o Titanic do capetão pelo "arco democrático" que reconduziu o molusco de Garanhuns, e afundou na inelegibilidade da Justiça Eleitoral depois que a direita neandertal que o elegera em 2018 foi para a rua no 8 de janeiro de 2023

Num ambiente polarizado como o atual, cara feia, dedo e riste e chuva de perdigotos não bastam para evitar que a "direita não-troglodita" migre para Tarcísio em 2026Lula terá que exibir resultados efetivos. E aí que a porca torce o rabo.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

SEM RETROSPECTIVAS NEM PERSPECTIVAS


Passagem de ano é terreno fértil para retrospectivas, mas revisitar a gestão que terminou ontem é puro masoquismoBolsonaro deveria ter sido defenestrado no primeiro ano de sua malfadada gestão, mas agarrou-se ao cargo com unhas e dentes e fez da presidência parque de diversões particular e palanque para a reeleição. Derrotado, fechou-se em copas. Desapareceu do cercadinho, parou de gravar as tradicionais lives de quinta-feira e deixou o país antes da virada do ano, para não transferir a faixa presidencial a Lula.

Observação: Não que o capitão fosse "chegado no batente": em 2019, sua média de trabalho diária era de 5,6 horas; em 2020, 4,7 horas; em 2021, 4,3 horas; neste ano, até outubro, 3,6 horas; depois da derrota, 36 minutos por dia. 

Desde janeiro de 2019, Bolsonaro fez 16 pronunciamentos em rede nacional. Nos primeiros três anos de "governo", divulgou vídeos de Boas Festas. Mas 2022 passou em branco. No dia de Natal, foi publicada em suas redes sociais uma postagem em que ele aparece distribuindo presentes para crianças. "Um feliz Natal, com muita paz ao lado daqueles que vocês mais amam".
 
Livrarmo-nos do pior mandatário desde Tomé de Souza é uma benção. No entanto, graças ao esclarecidíssimo eleitorado tupiniquim, isso custou a volta de Lula et caterva. E as perspectivas não são alvissareiras. Para satisfazer o apetite voraz do PT e da tal "Frente Democrática" que o apoiou, Lula aumentou de 23 para 37 os Ministérios e nomeou "gente da melhor qualidadepara comandá-los. Como dizia o velho Bezerra da Silva...
 
O Brasil não merecia — e talvez nem suportasse — mais quatro anos sob Bolsonaro. Mas caiu do cavalo quem "fez o L" esperando que Lula governasse com responsabilidade fiscal, que o PT não tentasse avançar sobre as estatais e que entregasse cargos importantes a partidos ou políticos como os quais sua afinidade foi meramente de ocasião. A serventia desses "aliados" — políticos com mandato, líderes partidários, economistas influentes ou formadores de opinião — terminou às 18 horas de 30 de outubro de 2022. Daquele momento em diante, eles se tornaram fardos a tolerar em nome da tal “governabilidade”. 

Considerando que o partido está na vida pública do Brasil há quatro décadas e governou o Brasil por quase catorze dos últimos vinte anos, isso não é exatamente uma surpresa. Mas boa parte dos que "fizeram o L" não entendeu — talvez porque não não quis entender — que, como escorpião da fábula, o PT esta sendo o PT e fazendo o que ele sempre fez. É uma lição dura para aqueles que, por conveniência ou aversão (justificada ou não) a Bolsonaro, abraçaram o lulopetismo apesar de seu histórico.

Eles poderão continuar a fazer o "L", mas desta vez de "ludibriados".

Feliz 2023 a todos.

quarta-feira, 23 de novembro de 2022

BLACK FRIDAY 2022.

NÃO ACREDITE EM TUDO QUE VOCÊ LÊ OU OUVE. QUANTO AO QUE VÊ, DÊ UM DESCONTO. NEM TUDO É O QUE PARECE.


A Black Friday desembarcou no Brasil em 2010. No começo, as promoções eram limitadas ao e-commerce, mas as lojas físicas logo aderiram, aumentando a concorrência e, consequentemente, o leque de oportunidades para os consumidores. 
 
Para supresa de ninguém, maus comerciantes inflaram os preços antes de aplicar os descontos — daí o apelido Black Fraude e o slogan "tudo pela metade do dobro", mas os consumidores forma ficando mais conscientes de seus direitos e os lojistas (nem todos, infelizmente) passaram a agir com lisura no evento, que neste ano acontece depois de amanhã. 

Observação: Claro que ainda há gatunagem — até porque, como o escorpião da fábula, nem sempre as pessoas conseguem agir contra sua própria natureza.
 
De uns anos para cá, os descontos são anunciados nas primeiras semanas de novembro, numa espécie de Black Friday antecipada. Mas é preciso ficar atento para não ser feito de bobo. Liste com antecedência os produtos de seu interesse e certifique-se de que os produtos são autênticos (redobre os cuidados com preços muito abaixo da média) e se a loja não coleciona reclamações no Reclame Aqui ou integra a lista negra do Procon, por exemplo. Atente para o prazo de entrega e cheque a política de devolução/troca — que costuma variar de um site para outro. Para se resguardar de golpes, documente a compra desde o início do processo e guarde emails, prints das telas da oferta e demais informações relevantes, e prefira pagar as compras com cartões virtuais (prática recomendada para qualquer compra online, mas sobretudo nesta época do ano e daqui para o Natal).
 
O Pix já não é mais uma novidade, mas os cibercriminosos ainda se aproveitam da pouca familiaridade dos usuários com essa ferramenta, especialmente por meio de ofertas relâmpago com pagamento. De acordo com o presidente da Febraban, o sistema em questão é um meio de transferência de recursos tão seguro quanto qualquer outro, mas os golpistas costumam aproveitar a temporada mais intensa de compras para se passar por lojas e marcas e levar os clientes a fazer pagamentos em favor das quadrilhas. 
Só realize pagamentos via Pix para empresas conhecidas e confira todos os dados do beneficiário antes de concluir as transações. Diante de alguma divergência ou dado estranho, não conclua a operação sem antes entrar em contato com um canal oficial de atendimento ao consumidor para esclarecer a situação.

Observação: Estudos recentes da McAfee dão conta de que 96% das crianças e adolescentes utilizam dispositivos móveis no Brasil, donde a importância de alertar esse segmento de usuários para o risco de mensagens falsas (enviadas por email ou WhatsApp) com anexos ou um links conterem vírus e outros artifícios que visam roubar dados pessoais. Para além disso, mesmo sendo majoritariamente apedeuta e mal-informado, nosso povo não se furta a apoiar campanhas de doações frente a desastres (chuvas, deslizamentos, entre outros), o que contribui para os fraudadores de plantão fazerem a festa.


Boa sorte.

quarta-feira, 16 de novembro de 2022

O LOBO PERDE O PELO, MAS NÃO PERDE O VÍCIO

Antes de embarcar para a COP27, no Egito, Lula anotou nas redes sociais que foi trabalhar "pelo futuro do nosso país e do planeta". Em estado de pureza moral, optou por voar rumo ao futuro nas asas do atraso: viajou num jato companheiro do empresário José Seripieri Júnior, um amigo que fez escala na cadeia há dois anos, após ser pilhado num escândalo de caixa dois do tucano José Serra.
 
O brasileiro que admira a biografia de Lula tem prazer em recordar a travessia que levou o personagem do pau de arara ao avião presidencial. O eleitor que não gosta do PT, mas votou em Lula como um mal menor, imaginando que seus dois primeiros mandatos no Planalto deixaram um legado de ensinamentos, deve estar preocupado.
 
Não faz o menor sentido que o presidente eleito do Brasil viaje para o Egito em um compromisso oficial em uma aeronave de um empresário amigo (registrada nos EUA para não pagar impostos de importação no Brasil) que uma ficha corrida complicada. Lula ainda não tem o direito de viajar em aviões da FAB, mas o PT poderia ter pedido ao ainda presidente que disponibilizasse uma aeronave. Em caso de negativa, deveria ter viajado num voo de carreira. 

É inacreditável que autoproclamado "animal político" cometa um erro dessa magnitude (talvez a fábula do sapo e o escorpião ajude a elucidar essa questão). Lula parece não ter aprendido nada com os erros que transformaram o antipetismo numa das maiores forças políticas do país.  

Com Josias de Souza

sábado, 1 de outubro de 2022

LEIA ISTO ANTES DE VOTAR


Segundo uma antiga e filosófica anedota, Deus estava criando o mundo quando um anjo apontou para a porção continental que seria o Brasil e disse: "Essa terra será um verdadeiro paraíso, pois o clima é agradável, há lindas florestas e praias, grandes e belos rios, e nada de desertos, geleiras, terremotos, vulcões ou furacões". E o Criador respondeu: Ah, meu caro anjo, espera só pra ver o povinho filho da puta que eu vou colocar aí.”

Quando a trupe de Cabral desembarcou em Pindorama, Pero Vaz de Caminha plantou a sementinha da corrupção na carta que enviou a El Rey, pedindo-lhe que intercedesse por seu genro. Trezentos anos depois, o Brasil passou de colônia a reino-unido porque a família real portuguesa se desabalou para o Rio de Janeiro (para fugir de Napoleão). Nossa independência — paga a peso de ouro — foi proclamada por D. Pedro I quando o então príncipe regente esvaziava os intestinos
Despida do glamour que lhe atribuem os livros de História, a "Proclamação da República" foi um golpe de Estado político-militar (o primeiro de muitos, como se viu mais adiante). 

De 1889 para cá 38 presidentes chegaram ao poder pela via do voto popular, eleição indireta, linha sucessória ou golpe, e oito deles, a começar do primeiro, foram apeados antes do fim do mandato. A renúncia de Jânio Quadros deu azo ao golpe de 1964 e duas décadas de ditadura militar. A primeira eleição direta para presidente desaguou no primeiro impeachment — de Fernando Collor, e o segundo — de Dilma Rousseff —, veio 24 anos depois (não fosse a pusilanimidade de Rodrigo Maia e a cumplicidade escrachada de Arthur Lira, o terceiro teria ocorrido em algum momento dos últimos 40 meses). 
 
Em 2018, Bolsonaro derrotou o bonifrate de Lula por uma diferença superior a 10,7 milhões de votos. Segundo o empresário Paulo Marinho — que abrigou na própria casa o comitê de campanha —, a vitória do dublê de mau militar e parlamentar medíocre deveu-se ao antipetismo, ao articulador Gustavo Bebianno, ao publicitário Marcos Carvalho e ao esfaqueador Adélio Bispo de Oliveira

Imaginava-se que o ex-capitão jamais seria um presidente como manda o figurino, mas era ele ou a volta do presidiário encarnado em Fernando Haddad. Acabou que Bolsonaro superou as piores expectativas. Para piorar, o candidato que prometeu acabar com a reeleição passou os últimos 3 anos e 9 meses em campanha. E como nada é tão ruim que não possa piorar, faltou à “terceira via” uma narrativa eleitoral que sensibilizasse o eleitorado refratário à polarização e oferecesse propostas consistentes. 

Depois que sucessivos boicotes forçaram Doria a desistir e impediram Moro de seguir adiante, restaram Simone, que patinou na largada, e Ciro, que parece estar fadado a amargar mais uma derrota (a quarta). Mesmo que nenhum dos dois tenha chances reais de passar para segundo turno, os votos que lhes serão dirigidos evitarão que o pleito decidido no primeiro turno.  E tudo aponta para a vitória de Lula — ou, nas palavras do ex-adversário e ora candidato a vice na chapa petista, "a volta do criminoso à cena do crime". 

Graças a uma sequência decisões judiciais teratológicas, o ex-detento mais famoso do país foi convertido em ex-corrupto e o recolocado no tabuleiro da sucessão presidencial. Seus advogados estrelados conseguiram finalmente criminalizar o xerife, a despeito das evidências de que, durante as gestões petistas, um cartel obtinha contratos superfaturados com a Petrobras e pagava propina ao PT, PP e MDB. 
 
Antes de passar o supremo bastão para sua sucessora, o ministro Luiz Fux disse que as anulações dos processos da Lava-Jato ocorreram por razões formais e situações de corrupção no escândalo da Petrobras e do mensalão não podem ser esquecidas. "Aqueles R$ 50 milhões das malas eram verdadeiros, não eram notas americanas falsificadas. O gerente que trabalhava na Petrobras devolveu 98 milhões de dólares e confessou efetivamente que tinha assim agido", reconheceu o magistrado. Mas o PT publicou uma obra de ficção visando reforçar a narrativa de que "não houve corrupção sistêmica na Petrobras nem superfaturamento em contratos" (contrariando afirmações do TCU e da própria estatal). 

Sempre que é pressionado, Lula relativiza sua participação na megarroubalheira, embora o preposto do do petista na campanha de 2018 tenha reconhecido que faltou controle na Petrobras e que o ex-juiz Sergio Moro fez "um bom trabalho" (menos ao condenar seu chefe). 
 
O sucesso da finada Lava-Jato no combate à corrupção deveu-se a acordos de delação de executivos da Petrobras, da Odebrecht, OAS e de outras empresas. No curso das investigações, foram obtidos documentos e evidências que confirmaram a corrupção na estatal e o pagamento de propinas pelo Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht. Em 2015, a Petrobras divulgou balanço contabilizando uma perda de R$ 6 bilhões com o esquema de corrupção. No início do ano passado, a estatal informou que o total recuperado mediante acordos de colaboração, leniência e repatriações era de R$ 6,17 bilhões.
 
Com a anulação dos processos e a declaração da "suspeição" de Moro, o pajé do PT estufa o peito e, com o dedo indicador em riste qual cauda de escorpião, alardeia que foi "absolvido" e que sua "inocência" foi reconhecida até pela ONU. Mas não é bem assim.
 
Continua...

sexta-feira, 16 de setembro de 2022

A ELEIÇÃO SEGUNDO O CONTA-GOTAS DAS PESQUISAS



No dia 29 de junho, por 4 votos a 1, a 8ª Câmara de Direito Privado do TJSP manteve a condenação de Bolsonaro por ofensas dirigidas à repórter Patrícia Campos Mello, do jornal Folha de S. Paulo. O presidente havia sido condenado em 2021, em primeira instância, por dizer que a repórter queria "dar o furo" para obter informações. No dia 7 de junho, a juíza Tamara Hochgreb Matos, da 24ª Vara Cível da Comarca de São Paulo, condenou-o a pagar R$ 100 mil de indenização por ataques a jornalistas. Foi a primeira vez que um presidente da República no exercício do cargo foi condenado pela Justiça por dano moral coletivo à categoria. 

 

A repercussão que a violência verbal de Bolsonaro encontra entre seus apoiadores e as repercussões desse clima em atos de violência se materializam na vida cotidiana do país. Em um artigo publicado em 2018, o antropólogo Luiz Eduardo Soares antecipou o que estava por vir a acontecer no Brasil. “Não é preciso incluir no programa de governo referências a um plano de extermínio, não é preciso apresentar publicamente um programa genocida. (...) A mensagem já foi passada à sociedade e se resume a uma autorização à barbárie. A morte foi convocada. O horror saiu do armário”.

 

Além de condenações na Justiça brasileira, iniciativas semelhantes começam a aparecer fora do país. A violência verbal e o posicionamento negacionista de Bolsonaro durante a pandemia já chegaram aos tribunais internacionais. Mas o capitão não se emenda. Como o escorpião da fábula, ele é incapaz de agir contra a própria natureza. Ainda assim, seu favoritismo é eloquente. Enquanto a vantagem de Lula decresce em conta-gotas, o capitão apresenta uma trajetória lenta e gradual de ascensão. 


A menos que o imprevisto tenha voto decisivo na assembleia dos acontecimentos, a tão propalada vitória petista no primeiro turno subiu no telhado. Bolsonaro parece ter sido imunizado conta as mortes na Amazônia, o escândalo no MEC, os desvios do orçamento secreto e a execução do tesoureiro petista em Foz do Iguaçu por um devoto de sua seita abjeta. E sobrevive até mesmo às crises que ele próprio produz ao desqualificar as urnas e atacar magistrados. Mesmo sendo improvável que o pacote de bondades eleitoreiras resulte numa explosão de votos, a lógica sugere que o presidente continuará sendo favorecido pelo conta-gotas das pesquisas .

 

O que se vislumbra no horizonte é um segundo turno sangrento e lamacento. Em se confirmando a tendência favorável a Lula, a vitória tende a ser menos consagradora do que o petismo gostaria. Isso leva água ao moinho do Apocalipse que o capitão prepara para o final do ano, e inocula nos membros do Centrão a confiança de que, seja qual for o resultado, o grupo ganha por esperar. Quanto menor for o triunfo do eleito, maiores serão as perspectivas de negócio da turma que percorre os corredores do Congresso com código de barras na lapela.


A conferir.