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segunda-feira, 8 de abril de 2024

NADA É TÃO RUIM QUE NÃO POSSA PIORAR

 

"Morre-se de tudo no jornalismo, menos de tédio", dizia o Ricardo Boechat, que ancorava um programa na BandNews FM cujo bordão, "em 20 minutos tudo pode mudar", havia mudado para "em 1 minuto tudo pode mudar" meses antes de o helicóptero em que ele viajava colidiu com um caminhão. 
 
Observação: Em 2016, o Sensacionalista publicou que "o brasileiro tinha medo de ir ao banheiro na democracia e voltar na monarquia", e sugeriu que a emissora reduzisse o intervalo para "dois segundo ou mesmo alguns milésimos". A sugestão foi atendida em novembro de 2019, quando o slogan passou a ser "em 1 segundo tudo pode mudar".
 
Magalhães Pinto ensinou "política é como as nuvens no céu; a gente olha e elas estão de um jeito, olha de novo e elas já mudaram". Indo mais além, escrever sobre política é como trocar pneu com o carro andando. Para pior, "mudar" não é sinônimo de "evoluir". No país do futuro que nunca chega, as mudanças costumam ser para pior.
 
Eleito presidente em 1994, Fernando Henrique alterou a Constituição para disputar a reeleição e derrotou Lula em 1998, mas não conseguiu fazer seu sucessor em 2002, e a derrota de José Serra deu início a 13 anos e fumada de jugo lulopetista. Em 2016, o impeachment de Dilma, foi como uma lufada de ar fresco numa catacumba, mas o ministério de notáveis prometido por
 Michel Temer era na verdade uma notável confraria de corruptos, e um conversa de alcova com o moedor de carne bilionário Joesley Batista transformou o vampiro do Jaburu em "pato manco". 
 
Eleito em 2018, Bolsonaro ressuscitou a extrema-direita radical que pensávamos ter sido sepultada com o fim da ditadura e a volta dos militares aos quartéis. Para piorar, sua derrota em 2022 não despachou o bolsonarismo boçal para armário e, para piorar ainda mais, trouxe de volta o egum mal despachado que julgávamos ter sido exorcizado pelo impeachment de Dilma.
 
Marx ensinou que "a história acontece como tragédia e se repete como farsa". O retorno do ex-tudo (ex-retirante, ex-metalúrgico, ex-sindicalista, ex-presidiário e ex-corrupto) é a prova provada de que, pelo menos nisso, o filósofo alemão estava coberto de razão. Como também estava Pelé e Figueiredo, que alertaram para o risco de misturar brasileiros com urnas em eleições presidenciais. E assiste razão também ao jornalista Ricardo Kertzman, quando ele diz que "para o líder do mensalão passar por Pinóquio só falta o nariz e ser de madeira".
 
A investigação da PF que envolve Rui Costa possui todos os ingredientes para se transformar numa espécie de "Disneylândia do bolsonarismo": um ministro petista com gabinete no Planalto, um negócio da China, a pandemia da Covid, uma delação e um inusitado aroma de maconha. 
O caso envolve a compra de respiradores chineses, em abril de 2020, para abastecer o Consórcio Nordeste — grupo composto por estados governados por petistas e aliados e presidido por Costa, então governador da Bahia. A transação foi orçada em R$ 48 milhões, a emergência fez sumir a licitação, e pagou-se antecipadamente por equipamentos que jamais foram entregues.
 
Escolheu-se para importar os respiradores pulmonares a Hempcare 
 empresa sem qualificação para a tarefa que, no papel, dedicava-se a distribuir medicamentos à base de canabidiol. Sócia da arapuca, a delatora Cristiana Taddeo empurrou para dentro do inquérito um enredo que deixa mal o homem forte do governo Lula 3 e mencionou dois intermediários, um deles com supostos laços de amizade com a mulher de Costa. O inquérito irá delimitar as culpas, mas a alegação não livra o ex-governador petista sequer da pecha da incompetência. 
 
Mário Henrique Simonsen, ministro da Fazenda de 1974 a 1979, ensinou que, quando alguém traz o projeto de uma obra, deve-se perguntar quanto custará a comissão e, descoberto o percentual, pagar e não falar mais na obra. Costa não teria virado matéria-prima para o bolsonarismo se tivesse aplicado essa regra quando da proposta de importar respiradores da China através de uma distribuidora de remédios derivados da maconha.
 
art. 5º da Constituição Cidadã explicita que todos são iguais perante a lei, mas até as pedras sabem que alguns são mais iguais que os outros. 
A exemplo do que fez com os ministro Juscelino Filho (Comunicações), Fufuca (Esportes) e Alexandre Silveira (Minas e Energia), Lula presenteou Costa — a quem considera como um primeiro-ministro — com a mesma blindagem assegurada aos suspeitos do Centrão.

Observação: Acusado de aplicar R$ 5 milhões do orçamento federal em benefício próprio, Juscelino continua na Esplanada. Autor de emenda que derramou R$ 4,7 milhões na construção de um estádio desnecessário, Fufuca segue ministro. Continua no cargo também Alexandre Silveira, um ex-policial civil, servidor e parlamentar que esconde atrás de sua modéstia patrimônio de notáveis R$ 79 milhões.
 
Costa reconhece que avalizou a compra dos respiradores com pagamento antecipado e que a empresa contratada
 jamais entregou os equipamentos. Ele alega que, consumada a lambança, ele próprio chamou a polícia, mas silencia diante da acusação da delatora de que a polícia baiana tentou apagá-lo do inquéritoNa prática, o ministro de Lula pede à plateia que o enxergue como um gestor inepto, não um reles desonesto. O diabo é que nenhuma das duas condições orna com o tamanho do cofre que Lula lhe confiou ao acomodar na Casa Civil a coordenação do PAC — um programa de obras orçado em R$ 1,7 trilhão, entre verbas públicas e privadas.
 
Lula subiu a rampa pela terceira vez prometendo uma gestão de mostruário, mas dirige o país com os olhos no retrovisor. Enxergando o terceiro reinado como uma extensão do segundo, quando ele se orgulhava se ser capaz de "eleger qualquer poste", acha que a sociedade ainda o vê como antigamente. Se ele limitar sua segunda reforma ministerial a uma troca de cúmplices (como fez na primeira), baterá mais um prego em seu caixão (metaforicamente falando, claro).

Lula fez duras críticas à atuação de Bolsonaro no enfrentamento da Covid. Agora, em meio a uma das maiores epidemias de dengue da história do país, seis das oito secretarias de seu Ministério da Saúde (que manejam um orçamento de R$ 169,5 bi) estão sob influência de Alexandre Padilha. O Centrão, liderado por Arthur Lira, trava uma disputa com o governo por verbas da Saúde, e a queda de braço escancara a falta de autonomia de Nísia Trindade, que não pode sequer escolher seu subordinado direto — a contratação de Swedenberger Barbosa para secretário-executivo foi uma demanda de Lula

Observação: Homem de confiança de José Dirceu nos primeiro governos petistas, Berger monitora a execução do orçamento da Saúde — da verba própria às emendas parlamentares. Em 2023, a pasta deixou pela primeira vez R$ 32 bilhões do orçamento em "restos a pagar" a serem executados em 2024 — R$ 5 bilhões a mais do que deixou o governo anterior. A responsabilidade pela paralisia no Congresso é creditada a ele mas é Nísia quem recebe as críticas do PT, do "centrão-raiz" (formado por PPPL e Republicanos) e do próprio "presidengue" (como os bolsonaristas se referem ao xamã petista nas redes sociais). 

O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, que vinha sendo dissolvido em banho-maria na Casa Civil de Rui Costa, foi empurrado por Alexandre Silveira para dentro do óleo quente. Costa, Silveira e Haddad decidiram, à revelia de Prates, distribuir os R$ 43,9 bilhões em dividendos extraordinários da Petrobras que foram retidos em 7 de março. Informado de que Aloizio Mercadante foi sondado para ocupar seu lugar, o quase ex-presidente da estatal percebe que Lula o carbonizou sem tocá-lo.
 
O vírus do intervencionismo intoxica a Petrobras e assusta investidores, mas Lula, aferrado a um período mesozoico que deixou na maior estatal do país um rastro ruinoso, diz que "o mercado é um dinossauro voraz".
 
Com Josias de Souza

sábado, 13 de janeiro de 2024

O 8 DE JANEIRO E A POLARIZAÇÃO (CONTINUAÇÃO)


Sir Winston Churchill ensinou que "a democracia é a pior forma de governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos", e que "o melhor argumento contra a democracia é uma conversa de cinco minutos com um eleitor mediano." Anthony Downs ensinou que ganha a eleição quem conquista o eleitor mediano, pois os candidatos de esquerda e direita têm garantidos os votos dos eleitores que comungam de suas convicções político-ideológicas.
 
Conhecido como Teorema do Eleitor Mediano, esse axioma vicejou no Brasil de 1994 até 2014, quando então a reeleição de mulher sapiens gerou uma polarização que vazou da política para as ruas. Em 2016, a insatisfação popular deu azo ao impeachment da gerentona de araque e à ascensão de Michel Temer, que prometeu um ministério de notáveis e empossou uma notável confraria de corruptos. Sua "ponte para o futuro" era de vidro e se quebrou quando O Globo publicou uma conversa de alcova gravada à sorrelfa por certo moedor de carne bilionário travestido de x-9. 
 
Alvo de três "Flechadas de Janot" — o PGR que mais adiante reconheceu ter ido armado ao STF para matar o semideus togado e se suicidar —, 
vampiro que tem medo de fantasma empenhou nossas cuecas em troca de apoio das marafonas do Centrão, mas terminou sua gestão como um patético "lame duck" — termo usado pelos americanos para definir políticos que chegam tão desgastados ao final do mandato que até os garçons demonstram seu desprezo servindo-lhes o café frio.
 
Como desgraça pouca é bobagem, desse caldeirão infernal emergiu o amálgama mal ajambrado de mau militar e parlamentar medíocre que, em 2018, fantasiado de outsider antiestablishment e surfando na onda do antipetismo, impôs ao títere
 do então presidiário mais famoso do Brasil uma derrota acachapante. 
 
Observação: Como eu antecipei numa postagem de novembro de 2021, a maldita polarização transformou o pleito de 2022 em mais plebiscito, obrigando-nos (mais uma vez) a escolher o menor de dois males (lembrando que toda má escolha feita por falta de alternativa continua sendo uma má escolha). E não há nada como o tempo para passar. 
 
Sétimo filho (noves fora quatro que "não vingaram") de um casal de lavradores pernambucanos pobres e analfabetos, Luiz Inácio da Silva nasceu em 1945, conheceu o pai aos 5 anos e retirou para São Paulo aos 7, em 1952, onde morou com o pai, a mãe e os irmãos até que uma surra de mangueira levou dona Lindú a deixar o marido alcoólatra, rude e ignorante e se mudar para um cubículo nos fundos de um boteco do bairro paulistano do Ipiranga, onde Lula trabalhou como auxiliar de tinturaria, engraxate e office-boy até se formar torneiro mecânico e perder o dedo mínimo da mão esquerda num acidente pra lá de suspeito. 
 
Observação: Vale destacar que Aristides Inácio da Silva — que foi alcunhado de "homem das sete mulheres" pelos colegas estivadores, morreu de cirrose em 1978 e foi enterrado numa vala comum: nem dona Lindú, nem as amantes, nem os vinte e tantos filhos que ele espalhou Brasil afora lhe deram um túmulo e um epitáfio. 
 
Estimulado pelo irmão Frei Chico (que não era frade, mas ateu, não se chamava Francisco, mas José, e era membro do Partido Comunista Brasileiro), Luiz Inácio iniciou sua trajetória de sindicalista e ganhou o apelido pelo qual é conhecido até hoje, mas que só incorporou depois de fundar o PT e de ficar em 4º lugar na primeira eleição direta (pós-ditadura) para governador de São Paulo. 

Falando em apelidos, Brizola — que chamava Lula de "cachaceiro" — disse em 1989 que "política é a arte de engolir sapos" — daí o epíteto "sapo barbudo". Em 2002, quando se elegeu presidente pela primeira vez (após três tentativas fracassadas), o xamã do PT ficou conhecido como "Lulinha paz e amor"; em 2006, durante a campanha pela reeleição, ganhou da adversária Heloísa Helena a alcunha de "sua majestade barbuda"; nos bastidores do Planalto, era chamado de "chefe", "grande chefe" e "nine" (numa alusão ao dedo mindinho decepado em 1964, num acidente pra lá de duvidoso); nas planilhas de propina da Odebrecht, identificado como "Amigo" e "Brahma". 
 
Observação: Em meados dos anos 1980, Golbery do Couto e Silva — ex-chefe da Casa Civil em dois governos militares, idealizador do SNI da ditadura e arquiteto da "abertura lenta, gradual e segura" — confidenciou a Emílio Odebrecht que Lula nada tinha de esquerda, que não passava de 
um bon vivant

Em 1986, Lula foi o deputado federal mais votado do país; em 1989, no segundo turno da primeira eleição direta para presidente pós-ditadura, perdeu para Fernando Collor; em 1994, foi derrotado por Fernando Henrique, que tornou a vencê-lo em 1998, sempre no primeiro turno. Em 2002, sua vitória sobre José Serra deu início ao jugo lulopetista que só terminaria 13 anos 4 meses e 12 dias depois, com o afastamento da nefelibata da mandioca. Dois meses antes, ao ser conduzido coercitivamente à PF para depor, Lula esbravejou: "Quiseram matar a jararaca, mas bateram na cabeça, bateram no rabo, e a jararaca está viva como sempre esteve". 
 
Continua... 

quinta-feira, 2 de novembro de 2023

DIA DE FINADOS -- DUAS RECEITAS E UMA HOMENAGEM

 

A postagem de hoje é uma homenagem a meu pai, que, entre muitas outras coisas, me apresentou, nos anos 1960, o inesquecível Filé à Moraes e o delicioso Steak TartareO filé em questão foi criado pelo português Salvador Domingos Vidal, dono de um boteco na região central da capital paulista, e batizado de "bife sujo" pelos frequentadores — como a casa funcionava 24/7 horas por dia, a limpeza era feita com os clientes sendo atendidos. Em 1929, Vidal entrou de sócio do Bar, Café e Confeitaria Moraes (na Praça Júlio Mesquita, também no centro de Sampa), e aproveitou a chapa aquecida à lenha para criar sua mais famosa receita. 

Trata-se de um medalhão de filé de 500 g, grelhado por 3 minutos de cada lado (de modo a ficar tostado por fora e rosado por dentro), ao alho e óleo e acompanhado de fritas e agrião. Há quem diga que o nome do prato deveu-se ao chapeiro, a quem os fregueses (entre os quais Monteiro Lobato) pediam: "salta um filé, Moraes", e que Adoniran Barbosa compôs Trem das Onze enquanto tomava chope numa mesa do boteco. 

 Na década de 1960, o botequim passou a se chamar "Restaurante Moraes- O Rei do Filé", e nos anos 1980, durante o nefasto "plano cruzado", suspendeu suas atividades em razão do tabelamento de preços e consequente falta de carne. Mais adiante, passou a funcionar em dois endereços (na Praça Júlio Mesquita e na Alameda Santos), mas os proprietários não eram parentes dos fundadores. 
 
Para preparar um filé capaz de empanturrar dois bons garfos, providencie 500 g de filé-mignon cortado grosso (em medalhão), 8 dentes de alho, óleo para fritar e sal e pimenta-do-reino branca para temperar. Feito isso, amoleça os dentes de alho em água fervente por 1 ou 2 minutos, descasque, corte ao meio, doure em óleo bem quente, escorra e reserve. Grelhe o bife por 3 minutos de cada lado (se preferir bem-passado, o que é um pecado, leve ao forno pré-aquecido a 180 ºC por 2 minutos). Tempere com sal e pimenta, espalhe o alho e um pouco do óleo da fritura e sirva com salada de agrião (ou agrião refogado no alho e óleo) e batatas fritas.
 
Também conhecido como Filé Tártaro, o Steak Tartare é um acepipe russo feito com carne crua e servido tanto como aperitivo quanto entrada ou prato principal. Os ingredientes (por pessoa) são: 150 g de filé-mignon (moído ou finamente picado); 1 colher (sobremesa) de cebola ralada; 1 colher (café) de alcaparras (se preferir, substitua por azeitonas verdes picadas); 1 colher (chá) de salsinha picada; 1 colher (chá) de cebolinha picada; 1 colher (chá) de molho inglês; 1 colher (sopa) de mostarda; suco de 1 limão; 1 gema de ovo; azeite de oliva extravirgem para regar e sal, pimenta do reino, pimenta caiena e molho tabasco para temperar.
 
Após remover a "capa espelhada", passe a carne (duas vezes) pelo moedor ou corte-a em tirinhas contra o sentido das fibras, pique com a ponta de uma faca bem afiada. 
Transfira para uma tigela, junte a cebola ralada, a salsinha e a cebolinha picadas e misture gentilmente (usando as mãos ou uma colher de pau) enquanto rega com um fio de azeite e adiciona o sal, as pimentas e os demais temperos. 

Faça uma “bola” com a carne, coloque num prato, achate com a mão até formar um "hamburgão" e pressione o centro com o polegar, para criar a concavidade que acomodará a gema do ovo (crua, segundo a receita original, mas você pode cozinhar o ovo e usar a clara para decorar). Leve à geladeira para resfriar e sirva com torradinhas ou batatas chips em volta do prato.
 
Observação: Minha releitura inclui alface picado, ervilhas em conserva, rodelas de tomate e de palmito. Depois de acomodar a carne na parte central do prato e colocar a gema cozida na concavidade, eu distribuo esses ingredientes em volta, acrescento a clara picada e rego tudo com bastante azeite.

Bom apetite.

E. T. - Braga Netto e Bolsonaro foram condenados por 5 votos a 2. Prevaleceu o entendimento segundo o qual a perversão eleitoral foi urdida pela chapa. O relator Benedito Gonçalves, que havia livrado o general da inelegibilidade na sessão anterior, refez o seu voto para acompanhar a maioria. Além da inelegibilidade, os condenados terão que pagar multas de R$ 212 mil e R$ 425 mil, respectivamente.

sábado, 30 de setembro de 2023

O JACARÉ E O COELHINHO BRANCO

O Brasil jamais se notabilizou pela qualidade de seus governantes, e o motivo foi cantado em prosa e verso por Pelé e por João Figueiredo durante a ditadura militar. Em 1984, pressionada pelos militares, a Câmara Federal sepultou a Emenda Dante de Oliveira, mas a mobilização popular seguiu firme e forte e, em janeiro do ano seguinte, Tancredo Neves foi eleito presidente por um colégio eleitoral, mas baixou ao hospital horas antes da posse e morreu 38 dias e 7 cirurgias depois, levando para a tumba as esperanças do povo brasileiros.


Com a morte de Tancredo, o oligarca maranhense José Sarney desgovernou o país até 15 de março de 1990, quando entregou o cetro e a coroa a Fernando Collor (o caçador de marajás de araque que derrotou o desempregado que deu certo na primeira eleição direta desde 1960). Com a condenação do "Rei-Sol" no primeiro impeachment da "Nova República" (em dezembro de 1992), o vice Itamar Franco foi promovido a titular e nomeou Fernando Henrique Cardoso Ministro da Fazenda.


FHC e sua equipe de notáveis gestaram e pariram o Plano Real, cujo sucesso ensejou a vitória do tucano no primeiro turno do pleito presidencial de 1994. Três anos depois, picado pela mosca azul, sua excelência comprou a PEC da Reeleição e tornou a derrotar Lula em 1998. A maré mudou em 2022: na quarta tentativa seguida, o demiurgo de Garanhuns conseguiu se eleger presidente, dando início ao jugo petista que seria interrompido 13 anos, 4 meses e 11 dias depois, com afastamento de Dilma


Com a deposição da gerentona de festim, o país voltou a ter na presidência alguém que falava português sem exterminar o plural nem descambar para o "dilmês". Mas nuvens negras surgiram surgiram no horizonte quando o ministério de notáveis prometido por Temer revelou-se uma notável confraria de corruptos, e tempestade desabou quando o jornalista Lauro Jardim revelou uma conversa mui suspeita entre o vampiro do Jaburu e certo moedor de carne com vocação para delator e estúpido a ponto de delatar a si mesmo.


Despido do manto da moralidade, o nosferatu tupiniquim cogitou renunciar, mas, dissuadido por sua entourage, anunciou num pronunciamento à nação que não renunciaria, e que a investigação no STF seria "o terreno onde surgiriam as provas de sua inocência". Ato contínuo, lançou mão de toda sorte de artimanhas para escapar da cassação. 


Como o Diabo sempre cobra sua parte no pacto, Temer se tornou refém do Congresso e claudicou pela conjuntura como pato manco até janeiro de 2019, quando transferiu o cargo para aquele que seria o pior mandatário que o Brasil já teve desde a chegada de Cabral. 

 
Vinte e um anos se passaram do golpe de 64 à volta dos militares à Caserna, mas poucos meses bastaram para Bolsonaro trazê-los de volta e transformar o Estado em quartel. O pedaço que viu nele a chance de "salvar a sociedade do comunismo" conferiu péssima fama à ala das Forças Aramadas que manteve os pés na democracia, e a reversão de uma urucubaca tão disseminada exige mandinga mais forte do que o lero-lero de "separar o joio do trigo".  A intentona de 8 de Janeiro só não deu certo porque porque o aspirante a tiranete não conseguiu o apoio de "seu Exército" e de "suas Forças Armadas"

Observação: Depois que a PF descobriu que fardados de alto coturno (como o almirante Almir Garnier) foram coniventes com o projeto autoritário do "mito", o Datafolha apurou que 6 em cada dez brasileiros acham que as Forças Armadas se meteram em irregularidades por se deixarem cavalgar pelo ex-capitão que o general Ernesto Geisel bem definiu como "mau militar". 


É inegável que mãos fardadas apalparam todas as cumbucas, da trama golpista ao comércio de joias; da "pazuellização" da Saúde à falsificação de cartões de vacina; do ataque sistemático ao sistema eleitoral às visitas do picareta de Araraquara à pasta da Defesa. E que, ao testemunhar em silêncio as extravagâncias do capetão, a banda muda do Alto-Comando das FFAA como que se aliou às multidões que acamparam na porta dos quartéis para pedir intervenção militar.

 

Segundo a PF, o tenente-coronel Mauro Cid revelou em sua delação que: 1) após a derrota nas urnas, Bolsonaro se reuniu com integrantes da Marinha para discutir uma proposta de golpe; 2) além de militares, participaram do encontro integrantes do chamado "Gabinete do Ódio"; 3que a minuta discutida na reunião tratava de uma série de ilegalidades, mas não é possível afirmar que fosse a mesma encontrada na casa do ex-ministro Anderson Torres; 4) que a proposta de golpe foi recebida com entusiasmo pelo representante da Marinha, mas o Exército ficou mais reticente; 5) que o plano não foi adiante por causa da falta de adesão.

 

Como disse alguém, "se tem boca de jacaré, dentes de jacaré, couro de jacaré e rabo de jacaré, não deve ser um coelhinho branco". 

quinta-feira, 16 de março de 2023

OSPÁLIA TUPINIQUIM (CONTINUAÇÃO)

 

Há quem diga que as investigações seguirão adiante se Bolsonaro não der as caras até o final deste mês, e que ele pode ser preso quando desembarcar no Brasil. Eu não sou tão otimista. Acho que ele até pode ser inabilitado politicamente — e impedido de disputar eleições em 2026 e 2030 —, mas puxar cadeia, como manda o figurino, só quando galinha criar dente.

Observação: O capitão disse que pode voltar ao Brasil no próximo dia 29, mas avaliará a situação antes de tomar a decisão final. Ele reconhece que 15 ações têm potencial para cassar seus direitos políticos, mas negou a possibilidade de uma candidatura de Michelle ao Palácio do Planalto: "Não é candidata ao Executivo, mas pode disputar um cargo eletivo".
 
Lula foi réu em 26 ações criminas e chegou a ser condenado em duas delas,  por uma dezena de magistrados de três instâncias do Judiciário, a mais de 25 anos de reclusão, mas cumpriu míseros 580 dias e deixou sua cela VIP no dia seguinte ao do sepultamento da prisão em segunda instância. Mais adiante, uma decisão teratológica do STF anulou as condenações e determinou que os processos fossem reiniciados na Justiça Federal do DF (o que vai acontecer no Dia de São Nunca).  
 
Dilma foi impichada e perdeu o cargo, mas não os direitos políticos (ao arrepio da Constituição Federal e da Lei do Impeachment). Isso lhe permitiu disputar uma boquinha no Senado em 2018, mas ela ficou em quarto lugar. Agora, com a volta de Lula, madame passará uma temporada na China, embolsando quase R$ 300 mil por mês
 
Michel Temer se beneficiou do financiamento espúrio das campanhas milionárias do PT e foi conivente com os malfeitos da chefa. Por estar no lugar certo na hora certa, ele passou de vice a titular, mas sua "ponte para o futuro" foi pra ponte que partiu quando Lauro Jardim revelou uma conversa de alcova mui suspeita com certo moedor de carne bilionário. 

Três meses após deixar a Presidência, o eterno vampiro do Jaburu foi preso preventivamente — e libertado cinco dias depois por uma liminar concedida por um desembargador que voltou à ativa depois de ficar sete anos afastado da magistratura por acusações de praticar estelionato. 
 
Observação: Na mesma ocasião e no mesmo local, a ALERJ deu posse a quatro deputados que estavam presos na Penitenciária de Bangú e a mais um detido em prisão domiciliar. Ou seja, no Brasil o sujeito não pode andar na rua, mas pode ser parlamentar
 
No faroeste à brasileira, bandidos são soltos e o xerife é encarcerado. A bola da vez é o juiz federal Marcelo Bretas, responsável pelos processos da Lava-Jato no Rio de Janeiro, que é alvo de três reclamações disciplinares. Mas isso é assunto para uma próxima postagem.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

PONTOS A PONDERAR...


Quatro anos sob o comando de um sociopata fizeram a volta de Ali-Babá e seus 37 ministros parecer um refrigério, mas convém lembrar que o impeachment de Dilma e a ascensão de Michel Temer pareciam ser uma lufada de ar fresco numa catacumba, e deu no que deu. 
 
Após 13 anos e fumaça ouvindo garranchos verbais de um apedeuta e frases desconexas de uma destrambelhada, ter no Planalto alguém que não só sabia falar como até usava mesóclises pareceu ser o melhor dos mundos, mas o "ministério de notáveis" — que faria Temer entrar para a história como "o cara que recolocou o Brasil nos eixos" — não passava de uma confraria de corruptos. 

Depois que sua conversa de alcova com certo moedor de carne bilionário veio a público, Temer passou ser lembrado pela célebre frase "tem de manter isso, viu?". O prosaico procurador-geral Rodrigo Janot ofereceu duas denúncias contra ele, que, auxiliado pela tropa de choque capitaneada Carlos Marun, montou sua tenda de mascate libanês na porta da Câmara e passou a oferecer cargos e verbas em troca de votos.

Observação: Mais ou menos como Lula fez durante o impeachment de Dilma, com a diferença de que o Vampiro do Jaburu aliciou carpideiras em número suficiente para entoar a marcha fúnebre enquanto as denúncias eram sepultadas.
 
Temer concluiu seu mandato tampão aos trancos e barrancos e passou a faixa para o estrupício que o antipetismo e a facada desfechada por um aloprado ajudaram a eleger em 2018 — e que fez da Presidência uma Disneylândia particular, e do mandato, o palanque para sua interminável campanha pela reeleição. 

Observação: Por alguma razão incerta e não sabida, ¼ do eleitorado tupiniquim se declara bolsonarista e aplaude o "mito", que, emulando o último presidente-general da ditadura (aquele que preferia o cheiro dos cavalos ao cheiro do povo), deixou o país para não ter de transferir a faixa presidencial ao ex-presidiário que o derrotou nas urnas. 
 
Evitar a reeleição de Bolsonaro era fundamental, mas a volta de Lula et caterva era opcional. Faltou combinar com a récua de muares travestidos de "eleitores" sempre prontos a fazer as piores escolhas. Prova disso é que o presidente empossado no último domingo foi alvo de 26 ações criminais, condenado em duas, tirado da cadeia por togados camarada e guindado ao Planalto pela terceira vez em duas décadas. Detalhe: de seus 37 ministros, pelo menos 19 são investigações na Justiça. 
 
O terceiro mandato de Lula será a 12ª tentativa de renascimento do Brasil em seis décadas de história republicana, anotou Josias de Souza em sua coluna no UOL. Fracassos anteriores deixaram ensinamentos e aproximaram o país de resoluções relevantes, mas o desastre Bolsonaro serviu apenas para demonstrar o que não deve ser tentado nunca mais. 
 
Continua...

domingo, 3 de abril de 2022

LULA LÁ DE NOVO OUTRA VEZ


O tempo em que Lula era o presidiário mais famoso do Brasil e Sergio Moro um herói nacional perdeu-se nas brumas da corrupção que assola o país desde a célebre carta que Pero Vaz de Caminha enviou ao rei de Portugal. A Lava-Jato, que era tida e havida como a mais bem sucedida operação saneadora da história, foi desmantelada pelo dublê de mau militar e parlamentar medíocre que elegemos por falta de opção à volta do lulopetismo corrupto. E a menos que o imprevisto tenha voto decisivo na assembleia dos acontecimentos, a próxima eleição presidencial (que está cada vez mais próxima) será uma reprise da anterior, mas com os protagonistas em posições invertidas. 

A jugar pelas pesquisas, o lulopetismo corrupto deve derrotar o bolsonarismo boçal. Mas enquetes eleitoreiras não são 100% confiáveis. Até porque a maioria é encomendada a empresas que cobram caro para apresentar o resultado desejado pelos marqueteiros dos candidatos. Demais disso, se a eleição fosse um filme, o resultado das pesquisas seria apenas um frame que registrava o humor dos eleitores naquele exato momento.

Em 1980, quando Lula et caterva fundaram o PT, disseram tratar-se de um “partido diferente”, que não roubaria nem deixaria roubar. Anos depois, o Mensalão e o Petrolão demonstraram que não há santos na política, apenas corruptos em maior ou menor grau. 

Lula disputou (e perdeu) o governo de São Paulo em 1982, elegeu-se deputado federal em 1986 (e instruiu seu espúrio partido a não assinar a Constituição de 1988, de cuja elaboração ele participou). Disputou e perdeu as três eleições presidenciais seguintes — para Collor em 1989 e para FHC em 1994 em 1988 —, até que derrotou José Serra e 2002 e, a despeito do Mensalão, venceu Geraldo Alckmin em 2006. Em 2010, com a popularidade nos píncaros, empalou o Brasil com o “poste” que viria a derrotar Aécio Neves dali a quatro anos, no maior estelionato eleitoral pré-Bolsonaro

O impeachment da Dilma promoveu Michel Temer a titular, mas sua ponte para o futuro foi para a ponte que partiu depois que Lauro Jardim revelou sua conversa de alcova mui suspeita com certo moedor de carne bilionário. No Brasil, a corrupção desafia até a lei da gravidade, e o vampiro do Jaburu se equilibrou no Planalto — graças aos favores das marafonas da Câmara, que custaram bilhões de reais em verbas e emendas parlamentares  e terminou o mandato-tampão como um patético “pato-manco” (ermo cunhado pelos norte-americanos para designar políticos que terminam seus mandatos tão desgastados que até os garçons demonstram seu desprezo servindo-lhes café frio).

Lula se tronou réu em 20 ações criminais e foi condenado em duas por uma dezena de juízes de três instâncias do Judiciário — a mais de 25 anos de reclusão, mas deixou a cela VIP na PF de Curitiba depois de míseros 580 dias e foi reconduzido ao cenário político por um consórcio de magistrados que vestiram a suprema toga por cima da farda de militante. Agora, segundo as tais pesquisas, conta com a preferência de 171% dos eleitores. 

Nunca é demais lembrar que, em 2018, essas mesmas empresas de pesquisa deram como certa a derrota de Bolsonaro (em qualquer cenário, não importando quem fosse seu adversário no segundo turno) e a eleição de Dilma para o Senado. Acabou que o capitão derrotou o preposto do presidiário por uma diferença de quase 11 milhões de votos e a eterna nefelibata da mandioca amargou um humilhante quinto lugar.

Uma coisa é torcer pelo que se quer que aconteça e outra, bem diferente, é fazer previsões com base nos fatos. A única semelhança é que tanto uma quanto a outra podem não acontecer. Exijamos, pois, a união dos candidatos da assim chamada “terceira via”, que precisam deixar de lado o ego, a vaidade e a empáfia, descer do salto e se unir em torno de quem tiver mais chances de romper essa maldita polarização. 

Entre a volta de Lula e sua quadrilha e a permanência de Bolsonaro et caterva, resta-nos seguir a sugestão de Diogo Mainardi. O problema é que a maioria de nós vive no Brasil — e não na Itália, como é o caso do jornalista retrocitado —, situação em que a opção menos traumática talvez seja anular o voto ou simplesmente não dar as caras no dia da eleição.

Kim Kataguiri disse para a Folha que “não seria omissão, mas uma expressão do eleitorado (...) ter a maioria de votos nulos e brancos ou abstenção é mostrar que a maior parte da população rejeita os candidatos”. João Amoedo comparou o ato de decidir entre Bolsonaro e Lula a uma escolha entre morrer afogado ou com um tiro, e Vinicius Poit, seu colega de partido, concordou: “Precisamos de uma outra opção que não seja nem esses dois nem o Ciro, que é um outro populista. Eu votaria nulo porque populismo, seja de direita ou de esquerda, não faz bem ao país”.

A meu ver, não há como discordar. Resta combinar com eleitorado, lembrando que, segundo profetizou Pelé, em meados dos anos 1970, o brasileiro está preparado para votar. Dez anos depois, o general João Figueiredo — o presidente que preferia o cheiro dos cavalos ao cheiro do povo — foi mais longe: “Um povo que não sabe sequer escovar os dentes não está preparado para votar”.

Triste Brasil.

sábado, 12 de fevereiro de 2022

RESTAURE-SE O IMPÉRIO DA MORALIDADE OU LOCUPLETEMO-NOS TODOS! (PARTE XII)


— Não renunciarei. repito: não renunciarei. Se quiserem, me derrubem! — rosnou Michel Temer, o dedo em riste demonstrando que o que lhe importava era se manter no cargo a qualquer custo. “Renunciar seria uma confissão de culpa”, asseverou o nosferatu tupiniquim, como se àquela altura suas justificativas estapafúrdias tivessem alguma credibilidade.

Na verdade, (quase) todo mundo queria ver Temer pelas constas, só que ninguém queria fazer o trabalho sujo. Assim, o governo ruiu, mas o mandatário continuou lá, aprovando coisas um tanto sem sentido, apenas para sinalizar que tudo estava na mais perfeita ordem, na mais santa paz (nada muito diferente do que acontece com o atual governo, onde Bolsonaro finge que preside enquanto o Centrão dá as ordens).

Quando a delação de Joesley Batista veio à tona, Temer perdeu a segunda grande chance de renunciar (a primeira foi por ocasião da deposição de Dilma). Comentou-se que ele chegou a pensar seriamente em fazê-lo, mas foi demovido da ideia por Eliseu PadilhaMoreira Franco, Carlos Marun, Romero Jucá e outros assessores puxa-sacos, igualmente investigados ou suspeitos de práticas nada republicanas, que perderiam os cargos e o foro privilegiado se o presidente renunciasse.

Em seu primeiro pronunciamento à nação depois que Lauro Jardim revelou a conversa de alcova de Temer e o moedor de carne bilionário, o presidente disse que o inquérito no STF seria “o território onde surgiram as explicações e restaria provada sua inocência”. E o que fez a partir de então? Mentiu descaradamente para justificar o injustificável, atacou seus acusadores e moveu mundos e fundos (especialmente fundos) para obstruir a denúncia. 

Descartada a renúncia e afastado o impeachment, não só porque Rodrigo Maia decidira empurrar a coisa com a barriga enquanto pudesse, mas também porque o processo demoraria demais e o país sofreria as consequências de outra deposição presidencial, via Congresso, em menos de 18 meses, só restou o inquérito no STF e o julgamento da chapa Dilma-Temer no TSE — ação proposta pelo PSDB a pretexto de “encher o saco do PT”, conforme revelou o candidato derrotado Aécio Neves numa conversa gravada por (ele de novo!) Joesley Batista, que vinha se arrastando havia anos. 

Por (mais) uma ironia do destino, o partido que se tornou o maior aliado do governo com o impeachment transformou-se em seu algoz. Mas os tucanos mantiveram um pé no poleiro e os olhos no TSE, prontos para bater asas e voar assim que a cassação da presidanta lhes parecesse inevitável.

A procrastinação do julgamento complicou ainda mais a situação de Temer, pois ensejou a inclusão de outros elementos contra ele. Assim, se não havia evidências de que o vice não recebeu dinheiro de caixa 2 para sua campanha, não falavam provas de que a chapa recebeu, e ele se beneficiou dos mesmos recursos que garantiram a reeleição da presidanta. 

Depois de dizer que “os juízes não são de Marte” — dando a entender que seria impossível ignorar o cenário político e as consequências da cassação de (mais) um presidente — Gilmar Mendes adiantou para a imprensa que o julgamento seria “jurídico e judicial”, que o Tribunal não era “joguete de ninguém”, e que não cabia à Corte “resolver crise política”.

Antes do vazamento da delação dos donos da JBS, dava-se de barato que o TSE livraria a pele de Temer. A última coisa que se desejava naquele momento era mais uma troca de comando, mesmo porque o governo vinha tocando as reformas e a economia, dando sinais de recuperação. Mas seria difícil justificar a manutenção de um presidente altamente impopular e, ainda por cima, investigado por corrupção passiva, organização criminosa e obstrução da Justiça.

O ministro-relator Hermann Benjamin — que produziu um calhamaço de mais 1.000 páginas — defendia eleições diretas para a escolha do próximo presidente. Em sua avaliação, se a eleição de 2014 sagrou vencedora uma chapa que comprovadamente fraudara o pleito, a vontade popular fora desrespeitada e a eleição deveria ser anulada, dispensando o cumprimento do art. 81 da Constituição (que estabelece a realização de eleições indiretas no caso de vacância a partir de dois anos do mandato). Acabou que Gilmar Mendes entrou em ação e a chapa foi absolvida por 4 votos a 3 — “por excesso de provas”, como observou posteriormente o relator.

Enquanto houver bambu, vai ter flecha”, avisou o PGR Rodrigo Janot, que simpatizava com Dilma, mas não suportava Temer. Respaldado nos depoimentos de Joesley Batista e Lúcio Funaro (o homem da mala do presidente), Janot apresentou duas denúncias contra o vampiro do Jaburu, mas ambas foram barradas pela Câmara. Temer não foi apeado do cargo porque: 

1) Faltou consenso em torno do seu eventual sucessor (os parlamentares não estavam dispostos a abrir mão das eleições indiretas nem de escolher um de seus pares para o mandato-tampão); 

2) Não houve vontade política dos nobres congressistas; 

3) Não faltam, entre os 513 deputados federais, quem se disponha a votar contra ou a favor de qualquer coisa, desde que haja a "devida reciprocidade".

Continua...