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domingo, 21 de julho de 2024

O QUE É DE GOSTO REGALA A VIDA (PARTE III)

O TEMPO PERDIDO JAMAIS É RECUPERADO; SEMPRE QUE DIZEMOS QUE TEMOS TEMPO DE SOBRA DESCOBRIMOS QUE NOS FALTA TEMPO.

 

Ainda sobre as delícias da carne vermelha (assunto dos dois últimos domingos), veremos hoje como preparar Steak Tartare e quibes crus, fritos e de bandeja. A postagem do dia 7 explica como limpar a peça de filé-mignon, separá-la em cabeça, lateral, miolo e ponta e cortar em chateaubriands, torneadores, medalhões ou escalopes. Para as receitas de hoje, sugiro moer a cabeça e/ou a lateral e/ou a ponta da peça, lembrando patinho, alcatra ou outra carne magra de sua preferência pode substituir o filé (neste caso específico) sem comprometer o resultado. Dito isso, passemos ao que interessa.
 
O Steak Tartare — também conhecido como Filé Tártaro — é uma prato russo feito com carne crua que você pode servir como aperitivo, entrada ou prato principal. Os ingredientes (para uma pessoa) são os seguintes: 
 
— 150g de filé-mignon moído ou picada na ponta faca; 
— 1 colher (sobremesa) de cebola ralada; 
— 1 colher (café) de alcaparras (que você pode substituir por azeitonas verdes picadas); 
— 2 colheres (chá) de cheiro verde (salsinha e cebolinha) picado; 
— 1 colher (chá) de molho inglês; 
— 1 colher (sopa) de mostarda; 
— Suco de 1 limão (taiti ou siciliano);
—  1 gema de ovo; 
— Azeite de oliva extravirgem para regar e sal, pimenta do reino, pimenta caiena e molho tabasco para temperar.
 
Passe a carne duas vezes pelo moedor (ou corte em tirinhas, sempre contra o sentido das fibras, e pique com a ponta de uma faca bem afiada), junte a cebola ralada, a salsinha e a cebolinha picadas e misture gentilmente (usando as mãos ou uma colher de pau) enquanto rega com um fio de azeite e adiciona o sal, as pimentas e os demais temperos. Faça uma “bola” com a carne, coloque num prato, achate com a mão até formar um "hamburgão" e pressione o centro com o polegar, de modo a criar a concavidade que vai acomodar a gema do ovo (crua, segundo a receita original, mas você pode cozinhar o ovo e usar a clara para decorar). Leve à geladeira para resfriar e sirva com torradinhas ou batatas chips dispostas volta do prato.
 
ObservaçãoMinha releitura pessoal inclui alface picado, ervilhas em conserva, rodelas de tomate e de palmito. Depois de acomodar a carne na parte central do prato e colocar a gema cozida na concavidade, eu distribuo esses ingredientes em volta, acrescento a clara picada e rego tudo com um fio de azeite.
 
Passando agora aos quibes, você vai precisar de:
 
— 1kg de carne moída duas vezes;
— ½kg de trigo para quibe (fino e de boa qualidade);
— 3 cebolas grandes;
— 4 dentes de alho;
— 2 colheres (sopa) de tempero árabe (canela, noz-moscada, cominho e pimenta da Jamaica, moídas e misturadas em partes iguais);
— 1 xícara (chá) de salsinha fresca;
— 1 xícara (chá) de hortelã bem fresquinha (use só as folhas);
— Azeite extravirgem, sal e pimenta a gosto.
 
Lave o trigo até a água ficar limpa e deixe de molho por aproximadamente 15 minutos. Nesse entretempo, pique, processe ou bata no liquidificador o alho, as cebolas, a salsinha e a hortelã, junte a carne, regue com um fio de azeite, acrescente o tempero árabe, acerte o ponto do sal e torne a processar por mais 30 segundos. Escorra a água, passe o trigo por uma peneira ou um pano limpo, espremendo até remover toda a umidade.
 
A esta altura, existem duas possibilidades: se for fazer quibes crus ou de bandeja, junte a carne temperada e processada com o trigo lavado e escorrido, molhe as mãos em água gelada, misture até obter uma pasta homogênea, cubra com um pano e deixe no refrigerador por aproximadamente ½ hora. Se for fazer quibes fritos, divida a carne em duas porções iguais, junte o trigo escorrido a uma delas e proceda conforme o tópico anterior. 
 
Enquanto a massa descansa na geladeira, derreta uma colher (sopa) de manteiga — com um fio de azeite para não queimar —, doure duas cebolas grandes raladas e cozinhe a metade remanescente da carne temperada e processada. Acerte o ponto do sal, acrescente duas colheres de suco de limão, tempere com pimenta do reino a gosto, coloque na geladeira e deixe descansar por 30 minutos.
 
Retire a carne da geladeira, torne a molhar as mãos em água gelada e molde os quibes crus (vide figura à direita), decore-os com folhas de hortelã e sirva com pão sírio, cebola em pétalas ou em rodelas, limão em gomos ou em fatias e azeite extravirgem.
 
Para o quibe de bandeja, divida a massa em duas, espalhe uma metade numa travessa refratária untada, disponha uma camada de cebola picadinha refogada na manteiga, cubra com a outra metade, pincele com manteiga, risque desenhos em forma de losango e leve ao forno (pré-aquecido a 180°) por cerca de 40 minutos ou até a superfície ficar dourada. Corte então os losangos e sirva quente, com o acompanhamento de sua preferência.

 
Para quibes fritos, molhe as mãos em água gelada, faça bolinhas de massa com aproximadamente 5 centímetros de diâmetro, fure cada uma delas com o dedo indicador, rode na palma da mão para que dar o formato de um pequeno ovo de páscoa, adicione o recheio que você preparou, feche as pontas, frite em óleo bem quente, transfira para uma travessa forrada com papel-toalha, enfeite com folhas de hortelã e sirva com gomos de limão para espremer e pimenta tabasco (também fica gostos com mostarda e ketchup).
 
Dica: Experimente substituir a carne moída do recheio dos quibes por requeijão cremoso ou Polenguinho sabor gorgonzola.
 
Bom apetite.

domingo, 7 de julho de 2024

O QUE É DE GOSTO REGALA A VIDA

AS FEIAS QUE ME PERDOEM, MAS BELEZA É FUNDAMENTAL.

Os veganos que me perdoem, mas carne vermelha é fundamental. Gosto dela crua no Steak Tartar, assada na brasa ou no forno, cozida na pressão, em bifes (fritos ou de panela), acompanhada de salada, fritas, farofa, arroz, purê, e por aí vai. Mas cozinhar é arte, e até fritar ovos requer expertise. 

O que deveria ser um bife suculento fica com textura de sola de sapato quando a gente tira os bifes da geladeira e coloca na frigideira sem esperar pelos menos 10 minutos. E o resultado será ainda pior se a frigideira não estiver quente, pois os bifes irão cozinhar em vez de fritar. 

A diferença entre cortes do dianteiro e do traseiro do boi, popularmente conhecidos como carnes de primeira e de segunda, está na quantidade de gordura e no trabalho muscular realizados por cada região. Carnes provenientes de partes menos utilizadas do animal, como filé-mignon, picanha, contrafilé e alcatra, têm menos fibras e colágeno, o que as torna mais macias e de sabor marcante que o acém, a paleta, a fraldinha e o músculo. Mas a técnica de preparo é crucial para aproveitar o melhor de cada corte. 

A picanha é a estrela dos churrascos, mas o filé é tido como uma das melhores carnes bovinas, sobretudo por sua maciez. Já o contrafilé e o miolo da alcatra são ótimas opção para bifes fritos — além de suculentos, ele contam com aquela gordurinha que deixa as receitas mais saborosas. O coxão-mole é versátil e tem ótimo custo-benefício, e o coxão-duro e o lagarto dão excelentes assados e ótimos bifes rolê e de panelaFilé, contrafilé e miolo de alcatra podem ser cortados em bifes grossos, mas coxão-molepatinho devem ser cortados finos (sempre no sentido contrário ao das fibras). Independentemente do corte e da espessura, os bifes devem ser fritos individualmente e virados uma única vez. 


O "ponto" vai do gosto do comensal e varia conforme a espessura do bife, o material da frigideira e a potência do fogão. Para bifes médios (2,5 cm de altura) malpassados como manda o figurino, aqueça bem a gordura e frite cada lado por 2 ou 3 minutos. Se quiser seus bifes "ao ponto" ou bem-passados, frite-os por 4 ou 5 minutos ou de 6 a 8 minutos de cada lado, respectivamente. Ao final, coloque os bifes numa travessa, cubra com papel laminado e deixe descansar por alguns minutos, para que os sucos que se concentraram na parte central da carne durante a cocção se redistribuam por igual, deixando-a mais macia e suculenta. 

 

Bifes à milanesa devem ser finos e fritos por imersão em gordura bem quente (180°C). Recomenda-se usar frigideiras ou panelas largas e borda alta e fritar um bife de cada vez (para o óleo não esfriar). A casca ficará mais crocante e não se desprenderá da carne durante a fritura se, ao empanar os bifes, você passá-los na farinha de trigo, no ovo batido e na farinha panko (nessa ordem). Ao final, coloque-os numa travessa forra com toalhas de papel, que absorverão o excesso de gordura, deixando os bifes mais sequinhos.

 

Carne moída (ou "picadinho", como ela é chamada no norte do país) é comumente usada como recheio de pastéis, esfihas, almôndegas e empadões, no molho à bolonhesa ou para acompanhar o popular arroz com feijão. Crua, ela é a base de hambúrgueres e do sofisticado Steak Tartar. Como é difícil saber se a carne pré-moída vendida nos supermercados é premium (de melhor qualidade), intermediária ou industrial (mais baratas), faça como nossas avós: escolha o pedaço desejado e peça ao açougueiro para passá-lo duas vezes no moedor. Melhor ainda é moer a carne em casa, pois assim você poderá misturar 20% de gordura de picanha à paleta ou ao patinho (hambúrguer sem gordura não dá liga nem tem sabor). 


Para preparar quibe cru e Steak Tartar, o filé é o corte mais indicado. Supermercados de grife e "butiques" de carne vendem escalope, medalhões, tornedor e chateaubriand de filé, mas sai mais barato comprar a peça e cortá-la em casa. Comece removendo a fáscia (aquela membrana prateada que deixa os bifes duros se não for retirada). Use uma faca de ponta fina, bem afiada, e mantenha-a quase em paralelo com a peça (para minimizar a quantidade de carne que fatalmente será retirada junto com o tecido conjuntivo). 

 

Separe o filé em cabeça, lateral, miolo e ponta (a cabeça é a extremidade maior, a lateral é a parte que fica ao lado, quase solta, o miolo é o corpo cilíndrico do filé, e a ponta é a parte final da peça, onde a carne "afina"). Corte o filé em chateaubriands (com cerca de 4cm de altura e de 300g a 400g), tornedor (3cm e 250g), medalhão (2cm e 180g) ou escalope (cubinhos de 1cm de lado), e o restante em bife (aproveite as sobras para fazer strogonoff ou escondidinho de filé, por exemplo).


Continua no próximo domingo.

segunda-feira, 8 de abril de 2024

NADA É TÃO RUIM QUE NÃO POSSA PIORAR

 

"Morre-se de tudo no jornalismo, menos de tédio", dizia o Ricardo Boechat, que ancorava um programa na BandNews FM cujo bordão, "em 20 minutos tudo pode mudar", havia mudado para "em 1 minuto tudo pode mudar" meses antes de o helicóptero em que ele viajava colidiu com um caminhão. 
 
Observação: Em 2016, o Sensacionalista publicou que "o brasileiro tinha medo de ir ao banheiro na democracia e voltar na monarquia", e sugeriu que a emissora reduzisse o intervalo para "dois segundo ou mesmo alguns milésimos". A sugestão foi atendida em novembro de 2019, quando o slogan passou a ser "em 1 segundo tudo pode mudar".
 
Magalhães Pinto ensinou "política é como as nuvens no céu; a gente olha e elas estão de um jeito, olha de novo e elas já mudaram". Indo mais além, escrever sobre política é como trocar pneu com o carro andando. Para pior, "mudar" não é sinônimo de "evoluir". No país do futuro que nunca chega, as mudanças costumam ser para pior.
 
Eleito presidente em 1994, Fernando Henrique alterou a Constituição para disputar a reeleição e derrotou Lula em 1998, mas não conseguiu fazer seu sucessor em 2002, e a derrota de José Serra deu início a 13 anos e fumada de jugo lulopetista. Em 2016, o impeachment de Dilma, foi como uma lufada de ar fresco numa catacumba, mas o ministério de notáveis prometido por
 Michel Temer era na verdade uma notável confraria de corruptos, e um conversa de alcova com o moedor de carne bilionário Joesley Batista transformou o vampiro do Jaburu em "pato manco". 
 
Eleito em 2018, Bolsonaro ressuscitou a extrema-direita radical que pensávamos ter sido sepultada com o fim da ditadura e a volta dos militares aos quartéis. Para piorar, sua derrota em 2022 não despachou o bolsonarismo boçal para armário e, para piorar ainda mais, trouxe de volta o egum mal despachado que julgávamos ter sido exorcizado pelo impeachment de Dilma.
 
Marx ensinou que "a história acontece como tragédia e se repete como farsa". O retorno do ex-tudo (ex-retirante, ex-metalúrgico, ex-sindicalista, ex-presidiário e ex-corrupto) é a prova provada de que, pelo menos nisso, o filósofo alemão estava coberto de razão. Como também estava Pelé e Figueiredo, que alertaram para o risco de misturar brasileiros com urnas em eleições presidenciais. E assiste razão também ao jornalista Ricardo Kertzman, quando ele diz que "para o líder do mensalão passar por Pinóquio só falta o nariz e ser de madeira".
 
A investigação da PF que envolve Rui Costa possui todos os ingredientes para se transformar numa espécie de "Disneylândia do bolsonarismo": um ministro petista com gabinete no Planalto, um negócio da China, a pandemia da Covid, uma delação e um inusitado aroma de maconha. 
O caso envolve a compra de respiradores chineses, em abril de 2020, para abastecer o Consórcio Nordeste — grupo composto por estados governados por petistas e aliados e presidido por Costa, então governador da Bahia. A transação foi orçada em R$ 48 milhões, a emergência fez sumir a licitação, e pagou-se antecipadamente por equipamentos que jamais foram entregues.
 
Escolheu-se para importar os respiradores pulmonares a Hempcare 
 empresa sem qualificação para a tarefa que, no papel, dedicava-se a distribuir medicamentos à base de canabidiol. Sócia da arapuca, a delatora Cristiana Taddeo empurrou para dentro do inquérito um enredo que deixa mal o homem forte do governo Lula 3 e mencionou dois intermediários, um deles com supostos laços de amizade com a mulher de Costa. O inquérito irá delimitar as culpas, mas a alegação não livra o ex-governador petista sequer da pecha da incompetência. 
 
Mário Henrique Simonsen, ministro da Fazenda de 1974 a 1979, ensinou que, quando alguém traz o projeto de uma obra, deve-se perguntar quanto custará a comissão e, descoberto o percentual, pagar e não falar mais na obra. Costa não teria virado matéria-prima para o bolsonarismo se tivesse aplicado essa regra quando da proposta de importar respiradores da China através de uma distribuidora de remédios derivados da maconha.
 
art. 5º da Constituição Cidadã explicita que todos são iguais perante a lei, mas até as pedras sabem que alguns são mais iguais que os outros. 
A exemplo do que fez com os ministro Juscelino Filho (Comunicações), Fufuca (Esportes) e Alexandre Silveira (Minas e Energia), Lula presenteou Costa — a quem considera como um primeiro-ministro — com a mesma blindagem assegurada aos suspeitos do Centrão.

Observação: Acusado de aplicar R$ 5 milhões do orçamento federal em benefício próprio, Juscelino continua na Esplanada. Autor de emenda que derramou R$ 4,7 milhões na construção de um estádio desnecessário, Fufuca segue ministro. Continua no cargo também Alexandre Silveira, um ex-policial civil, servidor e parlamentar que esconde atrás de sua modéstia patrimônio de notáveis R$ 79 milhões.
 
Costa reconhece que avalizou a compra dos respiradores com pagamento antecipado e que a empresa contratada
 jamais entregou os equipamentos. Ele alega que, consumada a lambança, ele próprio chamou a polícia, mas silencia diante da acusação da delatora de que a polícia baiana tentou apagá-lo do inquéritoNa prática, o ministro de Lula pede à plateia que o enxergue como um gestor inepto, não um reles desonesto. O diabo é que nenhuma das duas condições orna com o tamanho do cofre que Lula lhe confiou ao acomodar na Casa Civil a coordenação do PAC — um programa de obras orçado em R$ 1,7 trilhão, entre verbas públicas e privadas.
 
Lula subiu a rampa pela terceira vez prometendo uma gestão de mostruário, mas dirige o país com os olhos no retrovisor. Enxergando o terceiro reinado como uma extensão do segundo, quando ele se orgulhava se ser capaz de "eleger qualquer poste", acha que a sociedade ainda o vê como antigamente. Se ele limitar sua segunda reforma ministerial a uma troca de cúmplices (como fez na primeira), baterá mais um prego em seu caixão (metaforicamente falando, claro).

Lula fez duras críticas à atuação de Bolsonaro no enfrentamento da Covid. Agora, em meio a uma das maiores epidemias de dengue da história do país, seis das oito secretarias de seu Ministério da Saúde (que manejam um orçamento de R$ 169,5 bi) estão sob influência de Alexandre Padilha. O Centrão, liderado por Arthur Lira, trava uma disputa com o governo por verbas da Saúde, e a queda de braço escancara a falta de autonomia de Nísia Trindade, que não pode sequer escolher seu subordinado direto — a contratação de Swedenberger Barbosa para secretário-executivo foi uma demanda de Lula

Observação: Homem de confiança de José Dirceu nos primeiro governos petistas, Berger monitora a execução do orçamento da Saúde — da verba própria às emendas parlamentares. Em 2023, a pasta deixou pela primeira vez R$ 32 bilhões do orçamento em "restos a pagar" a serem executados em 2024 — R$ 5 bilhões a mais do que deixou o governo anterior. A responsabilidade pela paralisia no Congresso é creditada a ele mas é Nísia quem recebe as críticas do PT, do "centrão-raiz" (formado por PPPL e Republicanos) e do próprio "presidengue" (como os bolsonaristas se referem ao xamã petista nas redes sociais). 

O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, que vinha sendo dissolvido em banho-maria na Casa Civil de Rui Costa, foi empurrado por Alexandre Silveira para dentro do óleo quente. Costa, Silveira e Haddad decidiram, à revelia de Prates, distribuir os R$ 43,9 bilhões em dividendos extraordinários da Petrobras que foram retidos em 7 de março. Informado de que Aloizio Mercadante foi sondado para ocupar seu lugar, o quase ex-presidente da estatal percebe que Lula o carbonizou sem tocá-lo.
 
O vírus do intervencionismo intoxica a Petrobras e assusta investidores, mas Lula, aferrado a um período mesozoico que deixou na maior estatal do país um rastro ruinoso, diz que "o mercado é um dinossauro voraz".
 
Com Josias de Souza

sábado, 13 de janeiro de 2024

O 8 DE JANEIRO E A POLARIZAÇÃO (CONTINUAÇÃO)


Sir Winston Churchill ensinou que "a democracia é a pior forma de governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos", e que "o melhor argumento contra a democracia é uma conversa de cinco minutos com um eleitor mediano." Anthony Downs ensinou que ganha a eleição quem conquista o eleitor mediano, pois os candidatos de esquerda e direita têm garantidos os votos dos eleitores que comungam de suas convicções político-ideológicas.
 
Conhecido como Teorema do Eleitor Mediano, esse axioma vicejou no Brasil de 1994 até 2014, quando então a reeleição de mulher sapiens gerou uma polarização que vazou da política para as ruas. Em 2016, a insatisfação popular deu azo ao impeachment da gerentona de araque e à ascensão de Michel Temer, que prometeu um ministério de notáveis e empossou uma notável confraria de corruptos. Sua "ponte para o futuro" era de vidro e se quebrou quando O Globo publicou uma conversa de alcova gravada à sorrelfa por certo moedor de carne bilionário travestido de x-9. 
 
Alvo de três "Flechadas de Janot" — o PGR que mais adiante reconheceu ter ido armado ao STF para matar o semideus togado e se suicidar —, 
vampiro que tem medo de fantasma empenhou nossas cuecas em troca de apoio das marafonas do Centrão, mas terminou sua gestão como um patético "lame duck" — termo usado pelos americanos para definir políticos que chegam tão desgastados ao final do mandato que até os garçons demonstram seu desprezo servindo-lhes o café frio.
 
Como desgraça pouca é bobagem, desse caldeirão infernal emergiu o amálgama mal ajambrado de mau militar e parlamentar medíocre que, em 2018, fantasiado de outsider antiestablishment e surfando na onda do antipetismo, impôs ao títere
 do então presidiário mais famoso do Brasil uma derrota acachapante. 
 
Observação: Como eu antecipei numa postagem de novembro de 2021, a maldita polarização transformou o pleito de 2022 em mais plebiscito, obrigando-nos (mais uma vez) a escolher o menor de dois males (lembrando que toda má escolha feita por falta de alternativa continua sendo uma má escolha). E não há nada como o tempo para passar. 
 
Sétimo filho (noves fora quatro que "não vingaram") de um casal de lavradores pernambucanos pobres e analfabetos, Luiz Inácio da Silva nasceu em 1945, conheceu o pai aos 5 anos e retirou para São Paulo aos 7, em 1952, onde morou com o pai, a mãe e os irmãos até que uma surra de mangueira levou dona Lindú a deixar o marido alcoólatra, rude e ignorante e se mudar para um cubículo nos fundos de um boteco do bairro paulistano do Ipiranga, onde Lula trabalhou como auxiliar de tinturaria, engraxate e office-boy até se formar torneiro mecânico e perder o dedo mínimo da mão esquerda num acidente pra lá de suspeito. 
 
Observação: Vale destacar que Aristides Inácio da Silva — que foi alcunhado de "homem das sete mulheres" pelos colegas estivadores, morreu de cirrose em 1978 e foi enterrado numa vala comum: nem dona Lindú, nem as amantes, nem os vinte e tantos filhos que ele espalhou Brasil afora lhe deram um túmulo e um epitáfio. 
 
Estimulado pelo irmão Frei Chico (que não era frade, mas ateu, não se chamava Francisco, mas José, e era membro do Partido Comunista Brasileiro), Luiz Inácio iniciou sua trajetória de sindicalista e ganhou o apelido pelo qual é conhecido até hoje, mas que só incorporou depois de fundar o PT e de ficar em 4º lugar na primeira eleição direta (pós-ditadura) para governador de São Paulo. 

Falando em apelidos, Brizola — que chamava Lula de "cachaceiro" — disse em 1989 que "política é a arte de engolir sapos" — daí o epíteto "sapo barbudo". Em 2002, quando se elegeu presidente pela primeira vez (após três tentativas fracassadas), o xamã do PT ficou conhecido como "Lulinha paz e amor"; em 2006, durante a campanha pela reeleição, ganhou da adversária Heloísa Helena a alcunha de "sua majestade barbuda"; nos bastidores do Planalto, era chamado de "chefe", "grande chefe" e "nine" (numa alusão ao dedo mindinho decepado em 1964, num acidente pra lá de duvidoso); nas planilhas de propina da Odebrecht, identificado como "Amigo" e "Brahma". 
 
Observação: Em meados dos anos 1980, Golbery do Couto e Silva — ex-chefe da Casa Civil em dois governos militares, idealizador do SNI da ditadura e arquiteto da "abertura lenta, gradual e segura" — confidenciou a Emílio Odebrecht que Lula nada tinha de esquerda, que não passava de 
um bon vivant

Em 1986, Lula foi o deputado federal mais votado do país; em 1989, no segundo turno da primeira eleição direta para presidente pós-ditadura, perdeu para Fernando Collor; em 1994, foi derrotado por Fernando Henrique, que tornou a vencê-lo em 1998, sempre no primeiro turno. Em 2002, sua vitória sobre José Serra deu início ao jugo lulopetista que só terminaria 13 anos 4 meses e 12 dias depois, com o afastamento da nefelibata da mandioca. Dois meses antes, ao ser conduzido coercitivamente à PF para depor, Lula esbravejou: "Quiseram matar a jararaca, mas bateram na cabeça, bateram no rabo, e a jararaca está viva como sempre esteve". 
 
Continua... 

quinta-feira, 2 de novembro de 2023

DIA DE FINADOS -- DUAS RECEITAS E UMA HOMENAGEM

 

A postagem de hoje é uma homenagem a meu pai, que, entre muitas outras coisas, me apresentou, nos anos 1960, o inesquecível Filé à Moraes e o delicioso Steak TartareO filé em questão foi criado pelo português Salvador Domingos Vidal, dono de um boteco na região central da capital paulista, e batizado de "bife sujo" pelos frequentadores — como a casa funcionava 24/7 horas por dia, a limpeza era feita com os clientes sendo atendidos. Em 1929, Vidal entrou de sócio do Bar, Café e Confeitaria Moraes (na Praça Júlio Mesquita, também no centro de Sampa), e aproveitou a chapa aquecida à lenha para criar sua mais famosa receita. 

Trata-se de um medalhão de filé de 500 g, grelhado por 3 minutos de cada lado (de modo a ficar tostado por fora e rosado por dentro), ao alho e óleo e acompanhado de fritas e agrião. Há quem diga que o nome do prato deveu-se ao chapeiro, a quem os fregueses (entre os quais Monteiro Lobato) pediam: "salta um filé, Moraes", e que Adoniran Barbosa compôs Trem das Onze enquanto tomava chope numa mesa do boteco. 

 Na década de 1960, o botequim passou a se chamar "Restaurante Moraes- O Rei do Filé", e nos anos 1980, durante o nefasto "plano cruzado", suspendeu suas atividades em razão do tabelamento de preços e consequente falta de carne. Mais adiante, passou a funcionar em dois endereços (na Praça Júlio Mesquita e na Alameda Santos), mas os proprietários não eram parentes dos fundadores. 
 
Para preparar um filé capaz de empanturrar dois bons garfos, providencie 500 g de filé-mignon cortado grosso (em medalhão), 8 dentes de alho, óleo para fritar e sal e pimenta-do-reino branca para temperar. Feito isso, amoleça os dentes de alho em água fervente por 1 ou 2 minutos, descasque, corte ao meio, doure em óleo bem quente, escorra e reserve. Grelhe o bife por 3 minutos de cada lado (se preferir bem-passado, o que é um pecado, leve ao forno pré-aquecido a 180 ºC por 2 minutos). Tempere com sal e pimenta, espalhe o alho e um pouco do óleo da fritura e sirva com salada de agrião (ou agrião refogado no alho e óleo) e batatas fritas.
 
Também conhecido como Filé Tártaro, o Steak Tartare é um acepipe russo feito com carne crua e servido tanto como aperitivo quanto entrada ou prato principal. Os ingredientes (por pessoa) são: 150 g de filé-mignon (moído ou finamente picado); 1 colher (sobremesa) de cebola ralada; 1 colher (café) de alcaparras (se preferir, substitua por azeitonas verdes picadas); 1 colher (chá) de salsinha picada; 1 colher (chá) de cebolinha picada; 1 colher (chá) de molho inglês; 1 colher (sopa) de mostarda; suco de 1 limão; 1 gema de ovo; azeite de oliva extravirgem para regar e sal, pimenta do reino, pimenta caiena e molho tabasco para temperar.
 
Após remover a "capa espelhada", passe a carne (duas vezes) pelo moedor ou corte-a em tirinhas contra o sentido das fibras, pique com a ponta de uma faca bem afiada. 
Transfira para uma tigela, junte a cebola ralada, a salsinha e a cebolinha picadas e misture gentilmente (usando as mãos ou uma colher de pau) enquanto rega com um fio de azeite e adiciona o sal, as pimentas e os demais temperos. 

Faça uma “bola” com a carne, coloque num prato, achate com a mão até formar um "hamburgão" e pressione o centro com o polegar, para criar a concavidade que acomodará a gema do ovo (crua, segundo a receita original, mas você pode cozinhar o ovo e usar a clara para decorar). Leve à geladeira para resfriar e sirva com torradinhas ou batatas chips em volta do prato.
 
Observação: Minha releitura inclui alface picado, ervilhas em conserva, rodelas de tomate e de palmito. Depois de acomodar a carne na parte central do prato e colocar a gema cozida na concavidade, eu distribuo esses ingredientes em volta, acrescento a clara picada e rego tudo com bastante azeite.

Bom apetite.

E. T. - Braga Netto e Bolsonaro foram condenados por 5 votos a 2. Prevaleceu o entendimento segundo o qual a perversão eleitoral foi urdida pela chapa. O relator Benedito Gonçalves, que havia livrado o general da inelegibilidade na sessão anterior, refez o seu voto para acompanhar a maioria. Além da inelegibilidade, os condenados terão que pagar multas de R$ 212 mil e R$ 425 mil, respectivamente.

sábado, 30 de setembro de 2023

O JACARÉ E O COELHINHO BRANCO

O Brasil jamais se notabilizou pela qualidade de seus governantes, e o motivo foi cantado em prosa e verso por Pelé e por João Figueiredo durante a ditadura militar. Em 1984, pressionada pelos militares, a Câmara Federal sepultou a Emenda Dante de Oliveira, mas a mobilização popular seguiu firme e forte e, em janeiro do ano seguinte, Tancredo Neves foi eleito presidente por um colégio eleitoral, mas baixou ao hospital horas antes da posse e morreu 38 dias e 7 cirurgias depois, levando para a tumba as esperanças do povo brasileiros.


Com a morte de Tancredo, o oligarca maranhense José Sarney desgovernou o país até 15 de março de 1990, quando entregou o cetro e a coroa a Fernando Collor (o caçador de marajás de araque que derrotou o desempregado que deu certo na primeira eleição direta desde 1960). Com a condenação do "Rei-Sol" no primeiro impeachment da "Nova República" (em dezembro de 1992), o vice Itamar Franco foi promovido a titular e nomeou Fernando Henrique Cardoso Ministro da Fazenda.


FHC e sua equipe de notáveis gestaram e pariram o Plano Real, cujo sucesso ensejou a vitória do tucano no primeiro turno do pleito presidencial de 1994. Três anos depois, picado pela mosca azul, sua excelência comprou a PEC da Reeleição e tornou a derrotar Lula em 1998. A maré mudou em 2022: na quarta tentativa seguida, o demiurgo de Garanhuns conseguiu se eleger presidente, dando início ao jugo petista que seria interrompido 13 anos, 4 meses e 11 dias depois, com afastamento de Dilma


Com a deposição da gerentona de festim, o país voltou a ter na presidência alguém que falava português sem exterminar o plural nem descambar para o "dilmês". Mas nuvens negras surgiram surgiram no horizonte quando o ministério de notáveis prometido por Temer revelou-se uma notável confraria de corruptos, e tempestade desabou quando o jornalista Lauro Jardim revelou uma conversa mui suspeita entre o vampiro do Jaburu e certo moedor de carne com vocação para delator e estúpido a ponto de delatar a si mesmo.


Despido do manto da moralidade, o nosferatu tupiniquim cogitou renunciar, mas, dissuadido por sua entourage, anunciou num pronunciamento à nação que não renunciaria, e que a investigação no STF seria "o terreno onde surgiriam as provas de sua inocência". Ato contínuo, lançou mão de toda sorte de artimanhas para escapar da cassação. 


Como o Diabo sempre cobra sua parte no pacto, Temer se tornou refém do Congresso e claudicou pela conjuntura como pato manco até janeiro de 2019, quando transferiu o cargo para aquele que seria o pior mandatário que o Brasil já teve desde a chegada de Cabral. 

 
Vinte e um anos se passaram do golpe de 64 à volta dos militares à Caserna, mas poucos meses bastaram para Bolsonaro trazê-los de volta e transformar o Estado em quartel. O pedaço que viu nele a chance de "salvar a sociedade do comunismo" conferiu péssima fama à ala das Forças Aramadas que manteve os pés na democracia, e a reversão de uma urucubaca tão disseminada exige mandinga mais forte do que o lero-lero de "separar o joio do trigo".  A intentona de 8 de Janeiro só não deu certo porque porque o aspirante a tiranete não conseguiu o apoio de "seu Exército" e de "suas Forças Armadas"

Observação: Depois que a PF descobriu que fardados de alto coturno (como o almirante Almir Garnier) foram coniventes com o projeto autoritário do "mito", o Datafolha apurou que 6 em cada dez brasileiros acham que as Forças Armadas se meteram em irregularidades por se deixarem cavalgar pelo ex-capitão que o general Ernesto Geisel bem definiu como "mau militar". 


É inegável que mãos fardadas apalparam todas as cumbucas, da trama golpista ao comércio de joias; da "pazuellização" da Saúde à falsificação de cartões de vacina; do ataque sistemático ao sistema eleitoral às visitas do picareta de Araraquara à pasta da Defesa. E que, ao testemunhar em silêncio as extravagâncias do capetão, a banda muda do Alto-Comando das FFAA como que se aliou às multidões que acamparam na porta dos quartéis para pedir intervenção militar.

 

Segundo a PF, o tenente-coronel Mauro Cid revelou em sua delação que: 1) após a derrota nas urnas, Bolsonaro se reuniu com integrantes da Marinha para discutir uma proposta de golpe; 2) além de militares, participaram do encontro integrantes do chamado "Gabinete do Ódio"; 3que a minuta discutida na reunião tratava de uma série de ilegalidades, mas não é possível afirmar que fosse a mesma encontrada na casa do ex-ministro Anderson Torres; 4) que a proposta de golpe foi recebida com entusiasmo pelo representante da Marinha, mas o Exército ficou mais reticente; 5) que o plano não foi adiante por causa da falta de adesão.

 

Como disse alguém, "se tem boca de jacaré, dentes de jacaré, couro de jacaré e rabo de jacaré, não deve ser um coelhinho branco".