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quinta-feira, 18 de abril de 2024

RASTREAMENTOS INDESEJADOS

A CONFIANÇA DO INGÊNUO É A ARMA MAIS ÚTIL DO MENTIROSO.

Guiados dos bastidores pelo ex-deputado cassado Eduardo Cunha - que é do Rio, deve ter ligação com o grupo dos irmãos Brazão e visa a algum ganho político, além da vontade de enfraquecer Alexandre de Moraes - os parlamentares bolsonaristas acusam o STF e a PF de estarem "aparelhados". Por ser a última instância, a Corte tem o direito de errar por último, e sua interpretação do que é ou não constitucional é a que prevalece, mesmo quando, como nesse caso da prisão do deputado Chiquinho Brazão, pareça "um pouco flexível demais".
Se a Câmara tivesse decidido pela soltura do encrencado, teria criado uma crise de bom tamanho. Mesmo assim, seus nobres pares acham perigoso o precedente de autorizar uma prisão sem flagrante óbvio.
Mas mais perigoso ainda seira a Câmara, movida por interesses próprios, desrespeitar uma decisão do Supremo para proteger criminosos ligados a milicianos. Uma democracia onde deputados corporativistas se unem para fazer absolutamente qualquer coisa em interesse próprio não é uma democracia de verdade.

Em meados do ano passado o Google lançou um recurso que alerta usuários de smartphones e tablets Android (versões 6.0 e posteriores) caso dispositivos de rastreamento desconhecidos que sejam detectados movendo-se junto com o portador do aparelho.  
 
Notícias envolvendo o uso de etiquetas inteligentes AirTag para roubos de automóveis, stalking e rastreamento por parceiros ciumentos levou as empresas de tecnologia a desenvolver formas de proteger usuários desavisados — aliás, a própria Apple já lançou um app para Android, visando minimizar esses riscos.
 
Com o novo mecanismo de segurança, alertas automáticos em forma de notificação são exibidos sempre que um rastreador via Bluetooth não identificado está se movendo junto com o usuário do celular. Basta clicar no aviso para obter detalhes sobre o dispositivo-espião, o mapa com a indicação de onde ele se encontra e até uma opção para fazer com que o smartphone emita um som para avisar do rastreamento.
 
Se você for notificado de uma smart tag desconhecida, desabilite manualmente o Bluetooth para desligar o objeto, anote o número de série do dito-cujo e, se for o caso, denuncie o fato às autoridades.

terça-feira, 2 de agosto de 2022

O DESEMPREGADO QUE DEU CERTO (DÉCIMA PARTE)

Pelo que foi exposto até aqui, percebe-se que conferir a Lula um terceiro mandato é tão perigoso para nossa frágil democracia quanto reeleger Bolsonaro. Senão vejamos.


Como vimos no capítulo anterior, a "inocência" do ex-presidiário é uma falácia que busca atribuir a um político corrupto a aura de "preso político". No processo do tríplex, a despeito dos mais de 400 recursos apresentados pela defesa, o petista foi condenado por mais de 10 magistrados em três instâncias do Judiciário.


Lula teve a pena aumentada pelo TRF-4 porque se valeu do cargo para permitir a nomeação de diretores na Petrobras que dividiam propina com dirigentes partidários em troca de apoio ao governo. Segundo os desembargadores, o esquema de corrupção petista fragilizou não só a Petrobras, mas também "todo o processo político brasileiro", uma vez que parte do dinheiro bancou campanhas milionárias via caixa 2 eleitoral. 


A culpabilidade do petralha foi reconhecida também pelo STJ, onde a condenação transitou em julgado, e nada disso foi revisto pelo STF, onde os processos foram anulados porque o ministro Fachin entendeu (com quase seis anos de atraso) que a 13ª Vara Federal de Curitiba carecia de competência territorial para julgar Lula et caterva. Não obstante, o "ex-corrupto" posa de "salvador da democracia", como se o Mensalão não tivesse sido criado para comprar apoio parlamentar e o Petrolão não tivesse sido sua expansão para além do Congresso — com efeitos devastadores para a democracia no Brasil e em alguns países vizinhos. 


Lula apoiou regimes autoritários em Cuba e na Venezuela. Teceu rasgados elogios ao comunismo na China e na Coreia do Norte. Lamentou a morte de Fidel como "a perda de um irmão mais velho, de um companheiro insubstituível, do qual jamais me esquecerei". Disse (em entrevista à agência oficial de notícias Xinhua) que o governo de Xi Jinping era um "exemplo de que é possível cuidar da população por meio de um governo sério e com responsabilidade para com seu povo", e que vitória do Partido Socialista Unido da Venezuela "ocorreu em total respeito às regras democráticas" e que a reeleição de Ortega na Nicarágua foi "uma grande manifestação popular e democrática" (a despeito de todos os adversários do tiranete estarem presos ou exilados).

 

Lula já disse publicamente que um de seus maiores arrependimentos (noves fora a criação de Dilma, que ele só reconhece em off) foi não ter "democratizado os meios de comunicação", e vem ameaçando regulamentar tanto a imprensa formal quanto as mídias sociais: "Eu vi como a imprensa destruía o Chávez. Aqui eu vi o que foi feito comigo. Nós vamos ter um compromisso público de que vamos fazer um novo marco regulatório dos meios de comunicação". Em 2004, ele enviou ao Congresso projeto de lei para criar um Conselho Federal de Jornalismo para "orientar, disciplinar e fiscalizar" o exercício da profissão. 


Salta aos olhos que, quando fala em "salvar a democracia", Lula visa aos interesses dos petistas e de partidos aliados, todos seguidores incondicionais do "grande líder". Que o PT e seu discurso "democrático, inclusivo e pregador da diversidade" toleram tudo, menos a opinião que diverge da deles. Assim, reconduzir políticos dessa catadura ao poder é permitir a volta do criminoso à cena do crime, como disse Geraldo Alckmin — antes de se tornar o mais novo amigo de infância de Lula — e Bolsonaro parafraseou seis meses atrás.

 

Voltando a Dilma, a inolvidável, consta que essa senhora ingressou na resistência em 1967, quando era noiva de Cláudio Galeno, seu primeiro marido e um dos líderes da Polop na capital mineira. Que se uniu ao Colina no fim de 1968 e se mudou para São Paulo, onde participou das tratativas para fundir o Colina e a VPR (de Carlos Lamarca) na VAR-Palmares (depois de se casar com o gaúcho Carlos Araújo, que seria corresponsável pelo fiasco das lojinhas Pão & Circo em meados dos anos 1990, como foi detalhado no capítulo 7).


O grupo de Lamarca achava o Colina muito estudantil, e a turma de Dilma temia que o movimento se militarizasse. Para a polícia, a guerrilheira "chefiou greves e assessorou assaltos a bancos", mas ela nega, e não há acusação dos militares sobre ações armadas. Ao final de seu depoimento no Dops — que tem 19 páginas —, Dilma deixa claro que não se arrepende de nada.

 

Observação: Dilma foi presa em São Paulo em 1970, portando documentos falsos. Numa das raras vezes que falou sobre tortura, disse que foi submetida à "cadeira do dragão" — onde o preso era amarrado para receber choques elétricos nas orelhas, na língua e nos órgãos genitais. Acabou condenada em dois processos pelo mesmo crime, mas seus advogados conseguiram manter apenas a pena menor (13 meses). Segundo o SNI, a VAR-Palmares tinha planos para tirá-la da cadeia — consta que uma autoridade seria sequestrada e trocada por presos políticos, entre os quais a "gênia" que Lula transformaria, décadas depois, em presidanta desta republiqueta de bananas. 

 

Depois de deixar a prisão, Dilma fixou residência Porto Alegre. Daqueles que conviveram com ela, somente o então diretor do Presídio Central acreditou que a mulher do trabalhista Carlos Araújo — esse, sim, um ícone do PDT gaúcho — pudesse alçar voos mais altos. Consultado na época se autorizava uma série de projetos elaborados pelos presos políticos para a cadeia da capital, incluindo as aulas para presidiários comuns ministradas por Dilma, o clarividente profetizou: "Claro, os presos políticos de hoje podem ser os dirigentes do país amanhã." 


Depois que o marido foi solto, Dilma manteve as aulas particulares, mas apenas para um pequeno núcleo que pretendia reerguer o PTB no Rio Grande do Sul. Também trabalhou pela fundação do PDT sob a batuta de Leonel Brizola. Foi nessa época que a outrora Wanda, Janete, Luísa, Stela, Marina e Maria Lúcia — que os militares chamavam de Joana D'Arc e Papisa da Subversão — desenvolveu o estilo professoral que nunca mais a abandonaria. 

 

Dilma foi secretária municipal de Finanças no governo do gaúcho Alceu Collares e duas vezes secretária estadual de Energia e Comunicação. Fez grandes amigos e aliados fiéis, mas também deixou um saldo de brigas e inimizades — graças a seu estilo arrogante e a notória incapacidade de contornar crises ou acalmar correligionários. Em 2000, quando Brizola deixou de apoiar o governo do petista Olívio Dutra, ela rompeu com o PDT e se filiou ao PT.

 

Atribui-se a Carlos Lacerda a máxima segundo a qual "quem nunca foi comunista aos 18 anos não teve juventude, e quem continua comunista depois dos 30 não tem juízo" Numa situação ditatorial, uma postura combativa se justifica, mas eleger presidente da República alguém com uma vida pregressa como a de Dilma (ou de Collor, de Lula e de Bolsonaro) não tem cabimento. Triste Brasil. 


Em tempoMuita gente tem saudades de ouvir a presidanta perorando, especialmente de improviso. De fato, não havia programa humorístico melhor. Há até quem sofre de crise de abstinência e fica no YouTube babando, com as mãos trêmulas, buscando antigos pronunciamentos. Para esses saudosistas (ou seriam masoquistas?), relembro um discurso que madame fez em portunhol. Além da versão castelhana do "dilmês" ser tosco, o conteúdo também deixou a desejar. Segundo a "gênia", o "neoliberalismo" é o grande culpado por todos os males do mundo! Vale a pena assistir, até porque agora se pode rir sem ter de chorar depois (como acontecia quando ela ainda posava de presidente desta banânia).  

 

Continua...

quarta-feira, 22 de junho de 2022

RECORDAR É VIVER

 

O mundo gira, a Lusitana Roda e as coisas mudam, até porque, na política, é preciso mudar para que tudo fique do jeito que está. Confiram a seguir o que eu escrevi na postagem de 22 de junho de 2018, a pouco mais de 100 dias do primeiro turno das eleições que culminaram com a vitória do "mito".

Não é de hoje que o Estado brasileiro atua exclusivamente para satisfazer ânsias de riqueza de seus mandatários e funcionários, a ponto de o verbo "servir" perder o sentido ativo e preservar apenas o significado passivo para a casta privilegiada e a burocracia que se presta a trabalhar só para ela.

Notícias recentes trazem a público indícios claros de que os Poderes da República, na ânsia de proteger seus privilégios corporativos, tomam o mando — que em teoria é do povo — para exercê-lo em função de uma classe social que se reproduz por via hereditária, como no ancien régime, por nomeação do chefe do Estado, por concurso público ou até pelo voto.

Essa ruptura do mais pétreo dos preceitos constitucionais — aquele segundo o qual todo o poder emana do povo e em seu nome ser exercido — teve seu apanágio retórico no julgamento do habeas corpus impetrado por um condenado por crime comum. Nele, o advogado de defesa e político profissional Roberto Battochio elegeu como símbolo da justiça que pedia para seu representado, o ex-operário Lula, o discurso do nobre advogado do monarca Luís XVI, Guillaume-Chrétien de Lamoignon de Malesherbes (atenção para a duplicação da nobiliárquica preposição de) contra o “punitivismo” jacobino na Revolução Francesa.

Agora é muito provável que estejamos em pleno paroxismo dessa lenta e inexorável tomada de poder numa democracia que se perde pela aristocracia de estamento nesta República (de res publica, no latim, coisa pública) assaltada pelos interesses privados de uma classe cínica e insaciável, que não tem espírito cívico nem dá a mínima para a moral e os bons costumes.

O presidente mais impopular da História, Michel Temer, protagonizou recentemente um dos episódios mais representativos, mas não o único, nesse sentido. Para resolver o impasse criado pela falta de rumo, autoridade e competência na gestão — o movimento organizado para defender os interesses exclusivos de caminhoneiros e empresas transportadoras —, o chefe do governo atropelou o bom senso e a lei, cedendo a tudo o que exigiam os amotinados. Com isso interrompeu a política de preços adotada para recuperar as finanças da Petrobras, quase falida pelo furto de seus ativos nos desgovernos de Lula e Dilma, restabelecendo o tabelamento de seu correligionário José Sarney para o diesel e para o frete.

Com a “bolsa caminhoneiro”, como definiu o Estado em primeira página na edição de domingo 17 de junho, o chefe do Executivo adotou uma medida ilegal, pois, conforme advertiu o CADE, violou o princípio da livre concorrência, marco basilar da economia de mercado vigente no País. Ou não é mais?

O economista Edmar Bacha lembrou que Temer teve o juízo de montar “uma equipe econômica da melhor qualidade (que) opera com relativa autonomia, dentro dos estreitos limites da atual conjuntura”. Isso só não funcionou porque o presidente perdeu todo o seu capital político com a revelação de suas tratativas pouco republicanas na calada na noite com o empresário Joesley Batista. A partir daí o governo teve de se dedicar a barrar o impeachment, incapaz de desenvolver uma agenda econômica positiva, disse Bacha.

O episódio lembrado pelo criador do termo “Belíndia” (para definir o Brasil como parte Bélgica e parte Índia) é um dos marcos de fundação dessa aristocracia de cartéis. Estes vão do pacto entre políticos governistas e da oposição, grandes empresários, principalmente empreiteiros, e burocratas de estatais, em particular a Petrobras, e autarquias, até o compromisso ilegal do presidente para interromper a recente pane seca e o consequente desabastecimento de derivados de petróleo e gêneros alimentícios.

Um dos lemas dessa situação surreal em que o quinteto Temer, Padilha, Moreira, Marun e Etchegoyen meteu o País é a frase com que o primeiro recebeu o meliante do abate Joesley Batista na garagem do Jaburu (mais adequado seria chamar o palácio de Guabiru) na calada da noite: “Tem que manter isso, viu?”

Apesar da desesperada tentativa dos asseclas palacianos de desqualificarem a gravação do palpite pra lá de infeliz, ela se perdeu por lembrar outro lema, que pode valer para essa classe de roedores do erário, da lavra do presidente do MDB temerário, Romero Jucá, ao correligionário que presidiu a BR Distribuidora (de derivados e propinas), Sérgio Machado: “Tem que mudar o governo pra poder estancar essa sangria”.

A sangria ainda não foi estancada, apesar do esforço que tem sido feito pelos chefões políticos. Mas as eleições gerais de outubro não são nada promissoras em relação à atuação do combate à corrupção na polícia e na Justiça. Nenhum presidenciável deu até agora sinal de que esteja fora desse pacto. Um deles, Geraldo Alckmin, cujo PSDB foi derrotado por Dilma e Temer em 2014 e hoje é parceiro do governo, teve o descaramento de dizer que este “padece de uma questão de legitimidade”, como se o chanceler Aloysio Nunes Ferreira não fosse tucano.

As duas frases sobre as quais se sustenta a oligarquia dos cartéis nos levam, destarte, a introduzir nessa constatação da total deturpação do Estado de Direito em estágio de defeito o Poder Legislativo. Jucá, pernambucano de Roraima, onde faz praça e troça, é um bom exemplo da transformação do governo do povo em desgoverno dos polvos. Desde que o “caranguejo” Eduardo Cunha se assenhoreou do comando da produção de leis, o Congresso passou a servir apenas a “manter o que está aí” e, para isso, a procurar fórmulas legais para “estancar essa sangria”, aplicando um garrote vil contra a ação moralizadora de agentes, procuradores e juízes federais de primeira instância.

Essa tarefa mesquinha e traiçoeira contra o povo que deputados e senadores fingem representar começou a ser cumprida com a “lei da bengala” que mantém os compadritos (apud Jorge Luís Borges) nos tribunais superiores de Contas, Justiça e Supremo. Com a vigilância sobre propinas e caixa 2 na contabilidade das campanhas eleitorais, para garantir suas vagas e as de parentes e cupinchas, os legisladores criaram o Fundo Eleitoral, que, segundo a Folha de S. Paulo, usando dados do TSE, representa 86,5% das receitas de seus partidos.

Duas notícias, publicadas lado a lado na primeira página do Estado de segunda-feira 18, complementam a anterior. Uma dá conta de que a eleição para o Senado este ano terá número recorde de candidatos – 70% – em busca de reeleição. Em entrevista a Fausto Macedo e Ricardo Galhardo, o ex-diretor da Polícia Federal Leandro Daiello informou que “há material para mais cinco anos de operações”.

A reeleição de qualquer político que possa estar nesse “material” é uma ameaça à continuidade do combate à corrupção, sem o qual não há como o Brasil deixar de ser este trem descarrilado, cujo farol é a luz que se poderá ver saindo do túnel das urnas. O pior de tudo é que a esperança que a sociedade passou a ter na ação das operações a que Daiello se referiu está nas mãos de quem mais as põe em risco. Os seguidores de Malesherbes, representados pelo quinteto Gilmar, Lewandowski, Toffoli e a dupla Mello, continuam a atuar como garantes não da igualdade dos cidadãos perante a lei, assegurada pela Constituição vigente, mas dos caprichos e “dodóis” dos clientes abonados das bancas que abrigam mulher, genro, amigos e antigos parceiros de convescotes e salamaleques.

Vitimados pelo desemprego, pela violência e por saúde e educação de péssima qualidade, os pobres, que nem sonham poder um dia exigir seus direitos no fechadíssimo clube da impunidade dos que são mais iguais perante a lei, pagam a conta do desgoverno do Executivo, da safadeza do Legislativo e do cômodo uso da definição de Corte para seu colegiado com os mesmos frufrus e minuetos das monarquias absolutistas. A proibição da condução coercitiva de delinquentes de colarinho-branco e a tentativa de garantir a honra de políticos desonrados proibindo fake news são exemplos recentes, mas não os únicos, de como os ministros de tribunais superiores participam, sem pudor, do golpe dos “aristo-ratos” que se locupletam como dantes nos cartéis de Abrantes.


Como se vê, o Brasil, os brasileiros e o papel higiênico têm algo em comum: quando não estão no rolo, estão na merda.

terça-feira, 14 de junho de 2022

SEXTOU PARA O CAPITÃO

 

Bolsonaro disse que os militares propuseram ao TSE a realização de uma apuração paralela nas eleições de outubro. Segundo ele afirmou em várias oportunidades, os votos são contados numa “sala secreta”, donde a proposta de os dados serem transmitidos concomitantemente para um computador específico das Forças Armadas. 


A existência da tal “sala secreta” — tese baseada em relatos mentirosos — já foi contestada pela Corte Eleitoral. Na verdade, a apuração é feita automaticamente em cada urna eletrônica e as informações são impressas nos chamados boletins de urna. Além disso, o ministro Fachin, atual presidente do TSE, afirmou que sugestão em questão jamais constou das propostas feitas pela Ministério da Defesa. 


A Folha de S. Paulo pediu ao Ministério da Defesa a lista de todos os questionamentos das FFAA ao TSE sobre as eleições desde 1996, ano de lançamento das urnas eletrônicas, e a resposta foi que “não foram encontrados ‘questionamentos’ feitos por este ministério ao TSE antes de 2021/2022, versando sobre o sistema eleitoral”. 

 

Bolsonaro vem usando as Forças Armadas contra a democracia. Segundo Ricardo Noblat (lulista até o último fio de cabelo), ele receia não se reeleger e ser preso após passar o cargo a seu sucessor — daí ter implorado ajuda a Biden para derrotar Lula. O presidente reconhece que “conversou vagamente” com o colega americano sobre as eleições de outubro, mas negou ter pedido ajuda, embora essa informação tenha sido confirmada pela agência de notícias americana Bloomberg. Biden teria desconversado e enfatizado a importância de preservar a integridade das eleições brasileiras. Nem o Planalto e nem Casa Branca — de onde certamente a notícia vazou — quiseram se pronunciar, mas tampouco negaram a informação. 

 

No ano passado, emissários de Biden vieram três vezes ao Brasil para advertir Bolsonaro de que o governo americano jamais apoiará um golpe. Bolsonaro seria mais permeável aos interesses dos EUA do que Lula. O capitão bate continência para a bandeira americana toda vez que vê uma ser hasteada; Zero Três, antes de se eleger deputado, trabalhou numa lanchonete no estado do Maine, e chegou a ser cogitado para o posto de embaixador do Brasil em Washington.

 

O que Bolsonaro fez configura crime de responsabilidade, e crime de responsabilidade é motivo para um processo de impeachment. Mas seria apenas mais um para a coleção de Arthur Lyra, que já engavetou mais de 140 pedidos de impeachment contra Bolsonaro. Lyra e seus cupinchas na Câmara têm interesse em blindar o chefe do Executivo, até porque essa é uma via de mão dupla. 


Fala-se que o presidente se tornou refém do Centrão, mas a recíproca é verdadeira, na medida em que a liberação do dinheiro do Orçamento Secreto depende da caneta Bic mais poderosa desta banânia. No início do governo, achava-se que os militares atuariam como curadores de Bolsonaro — um político que só “falava merda” —, mas salários polpudos, mordomias e prestígio levaram uma parcela do generalato a bater continência para o capitão, quando não apoiar seu plano de melar as eleições. 

 

Sem dedicar uma hora de trabalho na Cúpula da Américas, Bolsonaro emendou o fim de semana em Orlando. Sextou a semana inteira e ainda constrangeu o país (mais uma vez) participando de uma motociata nos EUA. A ida a Los Angeles foi apenas mais um pretexto para veranear na Flórida. Trabalhar que é bom, neca. Só repetição de seu velho e batido discurso (que não se renova jamais), um script decorado com ataques ao sistema eleitoral brasileiro e negacionismo quanto a destruição da Amazônia. 


No Brasil, 33 milhões de bocas abertas sem comida, enquanto o “mito” dos descerebrados culpa os empresários, os desaparecidos, os pobres pela miséria, inflação e desgoverno. Sextou para o capitão. A semana toda.

segunda-feira, 4 de abril de 2022

WINDOWS 11 - VALE A PENA MIGRAR? (PARTE 4)

UM AMOR LÚCIDO, QUE VÊ COM CLAREZA, É SEMPRE UM AMOR TERRÍVEL.

Depois que meu notebook parou de brigar com o Win11 (detalhes nos capítulos anteriores) eu pude analisar melhor as novidades, e as que mais me chamaram a atenção foram a nova barra de tarefas — muito parecida com a do macOS — e os efeitos de transparência e cantos arredondados nas janelas e ícones. 


Na nova versão, a barra de tarefas, seus botões e o menu Iniciar — que ficavam à esquerda desde o Win95 — estão centralizados. Esteticamente falando, isso não deixa de ser interessante, mas “old habits die hard”. Quem usa o Windows há mais de duas décadas, como é o deste humilde escriba, vai continuar buscando o botão Iniciar no canto esquerdo da barra e, consequentemente, abrindo sem querer o painel “notícias e interesses” — que, no Win10, aparecia no canto inferior direito da tela. 


A boa notícia é que é possível reverter ao status quo ante dando um clique direito num ponto vazio da barra de tarefas, clicando em Configurações da barra de tarefas > Comportamentos da barra de tarefas > Alinhamento da barra de tarefas e mudando o ajuste padrão de “Centro” para “Esquerda”.


No Win10, bastava abrir menu Iniciar para visualizar a lista dos programas instalados no computador; na versão atual, é preciso clicar também em Todos os aplicativos. Aliás, muitos recursos e funções que ficavam ao alcance de um clique do mouse exigem agora dois ou mais cliques.


Arrastar ícones para a barra de tarefas já não resulta em atalhos para lançamento rápido, e tampouco é possível arrastar a barra para alinhá-la com a borda superior ou as laterais da tela, nem reduzir sua altura e o tamanho dos botões sem editar manualmente o Registro do Windows


Quem vasculhar a Web encontrará trocentas dicas sobre como remover o botão de Widgets da barra de tarefas, fazer o menu Iniciar abrir como na versão anterior, mudar os ícones do sistema, restaurar o antigo menu de contexto, enfim, “deixar o Win11 com ‘a cara’ do Win10”. A pergunta é: se for para ter todo esse trabalho, por que, então, fazer a migração? Não seria melhor esperar mais um pouco e adotar o Win12, ou o Win13, ou o Win14


Em tese, o que é definitivo não tem sucessor. Segundo a Microsoft, o Win10 era a versão “definitiva” do sistema, mas ela lançou o Win11 e já circulam rumores de que o Win12 está no forno (relatos do Swift on Security nesse sentido foram reforçados por sites como o Deskmodder). 


Não há qualquer informação oficial sobre novas versões, e o fato de a atual ter sido lançada comercialmente há menos de seis meses contribui para desmentir essa boataria. Porém, se essa história se confirmar, a coisa pode não parar por aí.


Continua... 

sexta-feira, 1 de abril de 2022

WINDOWS 11 — VALE A PENA MIGRAR? (PARTE 3)

O POVO DIZ QUERER HONESTIDADE NA POLÍTICA, MAS AS PESSOAS NÃO SABEM VOTAR NEM SER HONESTAS COM O PRÓXIMO. COMO A POLÍTICA É O REFLEXO DO SEU POVO, CADA POVO TEM O GOVERNO QUE MERECE.


O Windows 11 ficou mais bonito  e mais “palatável” para quem ingressou no universo digital através do smartphone. Mas efeitos de transparência e cantos arredondados nas janelas passam despercebidos para usuários menos atentos. Barra de Tarefas centralizada (como no iOS), com o widget do clima posicionado na extremidade esquerda (onde tradicionalmente ficava o botão Iniciar) desagradou a muita gente, quando mais não seja porque basta “esbarrar” o cursor sobre o ícone do tempo para 1/3 da área de trabalho ser obstruído pelo painel “notícias e interesses”. 

A tendência é deixamos de cometer esse "erro" depois que nos acostumamos com a nova localização do botão Iniciar, mas é possível contornar o problema a qualquer tempo acessando as Configurações da barra de tarefas e selecionando “Esquerda” em Alinhamento da barra de tarefas (não é necessário reiniciar o computador para efetivar esse ajuste). 

Outro detalhe que merece menção é o "sumiço" de diversas funções providas pela Barra de Tarefas que nos habituamos a usar nas versões anteriores do sistema. Arrastar ícones com o mouse para criar atalhos na área de lançamento rápido da barra, por exemplo, não é mais possível. Também não se pode mais arrastar a própria barra para alinhá-la à borda superior ou às laterais da tela, nem reduzir sua altura ou modificar o tamanho dos botões. 

Claro que usuários tarimbados podem fazer tudo isso e muito mais editando o Registro do Windows, mas é bom lembrar aos mais afoitos que qualquer alteração indevida ou mal sucedida nesse importante banco de dados dinâmico pode desestabilizar o sistema ou mesmo impedir a reinicialização do computador. 

Considerando que algumas das funções suprimidas serão restabelecidas ao longo das próximas atualizações, o risco inerente à manipulação do Registro não justifica o benefício. Por outro lado, reduzir o consumo de memória RAM é um procedimento simples e produz resultados que compensam o trabalho, sobretudo em sistemas que dispõe de menos de 8GB de memória, como é o caso da maioria dos computadores de "entrada de linha". Para isso, basta pressionar as teclas Win+I para acessar as Configurações, clicar em Personalização > Barra de Tarefas e desativar as funções Widgets e Bate-papo. Sugiro aproveitar o embalo para desativar o início rápido do MS Edge: com o navegador aberto, clique nos três pontinhos, depois em Configurações e, em Sistema e Desempenho, desligue a chavinha que controla o Início rápido.

Para além das atualizações de qualidade (Patch Tuesday) que a Microsoft libera todos os meses, (sempre na segunda terça-feira), espera-se para breve uma atualização de conteúdo com grandes mudanças e novos recursos. Segundo o Windows Latest, a nomenclatura 22H2 indica que o lançamento será no segundo semestre. Quem não quer esperar até lá — e não se importa com o fato de os pioneiros serem reconhecidos pela flecha espetada no peito — pode testar os novos recursos inscrevendo-se no Windows Insider.

Continua...

terça-feira, 8 de março de 2022

NOVIDADES NO WINDOWS 11

EM TODA GUERRA, A PRIMEIRA VÍTIMA É SEMPRE A VERDADE.

A atualização de fevereiro trouxe ao Windows 11 a prévia pública do suporte a apps Android, além de melhorias para a Barra de Tarefas, Media Player e Bloco de Notas repaginados, emojis 3D e... bugs de impressão e CPU (que a esta altura já devem ter sido corrigidos).

Quando redigi este texto, o suporte ao Android só estava disponível para usuários dos EUA. Já havia gambiarras que permitiam acessar Google Play Store no Brasil, mas difíceis de implementar por leigos e iniciantes, já que habilitar o suporte ao Google Play Services e à loja do Android requer a alteração de parâmetros do Subsistema Windows para Android. 

Observação: Esse recurso já vinha sendo avaliado (desde outubro de 2021) através do programa Windows Insider, mas a experiência era bastante limitada, com disponibilidade de apenas 50 títulos — incluindo Clash of KingsThe Washington Post e Coin Master, entre outros.

Já a Barra de Tarefas recebeu diversos aprimoramentos, entre os quais se destaca o widget “Notícias e Interesses”, que foi redesenhado especialmente para a nova versão do Windows. Agora é possível conferir informações sobre o tempo e clima a partir do ícone localizado à esquerda da interface, bem como gerenciar transmissões de tela e acesso ao microfone com apenas alguns cliques, o que aprimora a experiência de conferências no Microsoft Teams.

O Media Player e o Bloco de Notas ganharam um visual atualizado. O reprodutor de mídia foi baseado no Groove Música, mas recebeu incrementos que lhe permitem substituir com vantagens o app Filmes e TV. Já o editor de texto oferece uma experiência atualizada, com melhor disposição de ferramentas e (finalmente) suporte ao modo escuro.

Os prometidos emojis 3D são compostos por quase duas mil figurinhas com moldes tridimensionais, conforme, aliás, a Microsoft havia antecipado em meados do ano passado. Por enquanto, somente membros do programa Windows Insider podem conferir a novidade e apenas na versão de teste do no Microsoft Teams (a novidade está presente na “prévia pública” da plataforma de comunicação).

sábado, 15 de janeiro de 2022

ATÉ QUANDO, CATILINA, ABUSARÁS DA NOSSA PACIÊNCIA? (FINAL)

 

Jair Messias Bolsonaro nasceu no município paulista de Campinas, cursou a Academia Militar das Agulhas Negras e se formou em Educação Física e mestre em saltos pela Brigada Paraquedista do Rio de Janeiro. Em 1986, quando servia no 8º Grupo de Artilharia de Campanha, ganhou projeção nacional ao escrever, na seção Ponto de Vista da revista Veja, o artigo intitulado O salário está baixo”. A insubordinação lhe rendeu 15 dias de prisão e 150 telegramas de solidariedade das mais variadas regiões do país, além do apoio de oficiais e de mulheres de oficiais, que realizaram manifestação defronte ao complexo militar da Praia Vermelha, no Rio.

No ano seguinte, Veja noticiou a invasão da prefeitura de Apucarana (PR) pelo capitão Luís Fernando Valter de Almeida — que, à frente de 50 homens, leu manifesto contra os baixos salários das forças armadas — e divulgou um plano em que Bolsonaro e o também capitão Fábio Passos da Silva pretendiam “explodir bombas em várias unidades da Vila Militar, da Academia Militar das Agulhas Negras (...) e em vários quartéis” (a operação só seria executada se o reajuste concedido aos militares ficasse abaixo de 60%, e serviria para “assustar” o ministro do Exército).

Os capitães “negaram peremptoriamente, da maneira mais veemente, por escrito, do próprio punho, qualquer veracidade daquela informação”, mas, após o surgimento de provas documentais (na ocasião da reportagem realizada na Vila Militar, Bolsonaro havia desenhado um croqui, no qual, de forma didática, explicara à repórter o funcionamento de uma carga de dinamite) e depoimentos testemunhais, o ministro do Exército, general Leônidas Pires Gonçalves, deu sinal verde para uma sindicância que concluiu que os insurretos deveriam ser expulsos das forças armadas. Ainda assim, o Superior Tribunal Militar acolheu a tese da defesa, segundo a qual os acusados "foram vítimas de um processo viciado", e a expulsão dos capitães não aconteceu. Mas a carreira militar de ambos terminou ali. 

Bolsonaro passou para a reserva e chegou a cogitar de trabalhar como limpador de casco de navio, aproveitando o curso de mergulho que fizera anos antes, mas sua notória aversão ao batente levou-o a aproveitar a repercussão de sua reforma nos meios militares para se eleger vereador pelo e, na sequência, deputado federal, ambas as vezes pelo PDC. Em 1993, ajudou a fundar o PPR — fruto da fusão do PDC com o PDS — e voltou a provocar polêmica ao defender o retorno do regime de exceção e o fechamento temporário do Congresso.

Observação: A despeito da evidente contradição, o deputado que defendia o fechamento do Congresso — dizendo que preferia “sobreviver no regime militar a morrer nesta democracia” — tornou a se candidatar em 1994 e foi reeleito com 135 mil votos. O TRE-RJ anulou a eleição por suspeita de fraude e realizou um novo pleito, mas Bolsonaro confirmou sua reeleição e foi empossado em fevereiro do ano seguinte.

Em agosto de 1995, com a criação do PPB — resultado da fusão do PPR com o PP —, Bolsonaro migrou para a nova agremiação e foi reeleito, em 1988, com 102.893 votos. Em junho de 1999, a Mesa Diretora da Câmara decidiu propor ao plenário sua suspensão por um mês, por ter defendido o fechamento do Congresso e afirmado que “a situação do país seria melhor se a ditadura tivesse matado mais gente”, incluindo o presidente Fernando Henrique Cardoso. Acabou que a Mesa recebeu uma retratação e decidiu aplicar apenas uma censura, mas voltou atrás quando Bolsonaro alegou que sua assinatura havia sido falsificada. Mesmo assim, a proposta nunca chegou a ser votada pelo plenário da Câmara.

Questionado por empregar em seu gabinete a companheira Ana Cristina Vale, o pai e a irmã dela, Bolsonaro alegou que estava se divorciando e argumentou que, por não ser casado com Ana Cristina, a contratação não caracterizava nepotismo. Em dezembro, durante um almoço de desagravo ao ex-comandante da Aeronáutica, Walter Braüer, o ex-capitão defendeu o fuzilamento do presidente Fernando Henrique Cardoso — chegando mesmo a dizer que o fuzilamento era até “algo honroso para certas pessoas”. O líder do governo na Câmara pediu a cassação de seu mandato, mas, mais uma vez, a proposta nunca chegou ao plenário da casa.

No início de 2000, Bolsonaro defendeu a pena de morte para qualquer crime premeditado e a tortura em casos de tráfico de drogas. Atacou os homossexuais, dizendo não “admitir abrir a porta do meu apartamento e topar com um casal gay se despedindo com beijo na boca, e meu filho assistindo a isso”, e seguiu defendendo os interesses das FFAA. Inconformado com o aumento da ingerência civil sobre os militares a partir da criação do Ministério da Defesa pelo governo FHC, chamou o ministro de “canalha”, “patife” e “imoral”, acusou-o de postergar o reajuste dos militares e de estar “servindo aos interesses dos EUA no país”.

Reeleito em 2002 com 88.945 votos, nosso herói declarou-se contrário à reforma da previdência. Trocou o PPB pelo PTB, que deixou em 2005 para se filiar ao PFL, que deixou meses depois para ingressar no PP (nova denominação do PPB, sua antiga legenda). Quando Roberto Jefferson denunciou o esquema do mensalão, Bolsonaro endureceu seus ataques ao PT e aos políticos do partido envolvidos nos escândalos. Chamou José Dirceu de “terrorista” e José Genoíno de “delator”. Chegou mesmo a levar à CPI do Mensalão o coronel reformado Lício Augusto Ribeiro Maciel, responsável pela prisão e interrogatório do petista em 1972, para desmentir a versão de que ele teria sido torturado para entregar os companheiros.

Em outubro de 2005, por ocasião do referendo sobre a comercialização de armas de fogo, Bolsonaro, crítico contumaz das campanhas de desarmamento anteriores, mandou confeccionar cartazes com frases como “O exército do PT é o MST” e “Entregue suas armas: os vagabundos agradecem”, e posicionou-se entre os defensores e organizadores da campanha do “não”, dizendo ser favorável “ao desarmamento, sim, mas dos bandidos” (ao final, venceram os partidários do “não”, com 63% dos votos).

Reeleito para o quinto mandato consecutivo com 99.700 votos, Bolsonaro se envolveu em mais uma polêmica, dessa vez por conta da situação da reserva indígena Raposa/Serra do Sol, no estado de Roraima. Na ocasião, o representante indígena no debate atirou água no ex-capitão. Em 2009, o PCdoB entrou com representação contra ele, por quebra de decoro.

Reeleito em 2010 com 120.646 votos, Bolsonaro foi candidato à presidência da Câmara e obteve 9 votos — contra 375 do parlamentar eleito, Marco Maia, 106 de Sandro Mabel e 16 de Chico Alencar. Em abril de 2011, criticou o que batizou de “kit gay” e atacou o deputado homossexual Jean Willys (“Eu não teria orgulho de ter um filho como você”). No mês seguinte, meteu-se em nova polêmica envolvendo o projeto de lei que criminalizava a homofobia. 

Em 2014, já de olho no Palácio do Planalto e diante da recusa de Ciro Nogueira, dono PP, em lançar sua candidatura à Presidência, filiou-se ao PSC. Como a sigla também não lhe fez a vontade, reelegeu-se mais uma vez deputado federal (com 464 mil votos). Durante o impeachment de Dilma, dedicou seu voto ao coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, apontado como torturador durante a ditadura militar, o que lhe rendeu mais uma denúncia ao Conselho de Ética da Câmara (dessa vez por apologia à tortura). 

Em 2017, concorreu novamente à presidência da Câmara, mas obteve míseros quatro votos (o vencedor foi Rodrigo Maia). Ainda em 2017, sem garantias sobre o lançamento de sua candidatura ao Planalto, cogitou de migrar para o PSDC e chegou a assinar um compromisso de filiação ao PEN.

Em 2018, Gustavo Bebianno articulou a filiação de Bolsonaro e filhos e ao PSL de Luciano Bivar. Na condição de pré-candidato à Presidência, o ainda deputado se dedicou a fazer campanha Brasil afora. Sua candidatura foi oficializada em julho de 2018 e recebeu o apoio formal do PRTB, que indicou como postulante a vice o general Hamilton Mourão. À época, Bolsonaro ressaltou que, embora não tivesse amplas estruturas partidárias e dispusesse de pouco tempo de propaganda na televisão, confiava na espontaneidade dos seus apoiadores, que se mobilizariam em plataformas digitais e viabilizariam uma campanha massiva, mas de baixo custo.

No evento de lançamento da candidatura ao Planalto, defendeu a fusão de ministérios, a privatização de braços da Petrobras e o fim da "indústria de multas", fazendo referência às estradas e também a órgãos associados à defesa do meio ambiente e à fiscalização de condições de trabalho. Foram lançadas ainda as candidaturas dos filhos 01 ao Senado e 03 à Câmara Federal (o primeiro pelo Rio de Janeiro e o segundo por São Paulo). 

Nas pesquisas divulgadas ao longo de 2018, o candidato do PSL chegou a ser apontado como o segundo na preferência dos eleitores, atrás apenas do presidiário Lula, que ainda recorria da condição de inelegível, embora já apontasse o duble de poste e bonifrate Fernando Haddad como seu preposto. Iniciada oficialmente a campanha, Bolsonaro seguiu com sua agenda de viagens pelo Brasil até ser esfaqueado, internado e submetido a uma série de intervenções cirúrgicas. O caso teve ampla repercussão e não só colocou o candidato em evidência como lhe serviu de pretexto para escapar dos debates televisivos.

Tendo o antipetismo como principal cabo eleitoral, Bolsonaro confirmou sua liderança no primeiro turno (e ajudou a eleger diversos parlamentares e que o apoiaram em campanha — entre os quais os filhos Flávio Rachadinha, que conquistou uma cadeira no Senado, e Eduardo Bananinha, que passou a integrar a segunda maior bancada na Câmara Federal) e derrotou Haddad no segundo, (com 55% dos votos válidos) eleger. 

Na condição de presidente eleito, iniciou as tratativas para composição de seu quadro ministerial, que prometeu balizar por critérios técnicos (e não ideológicos). Empossado em 1 de Janeiro de 2019, defendeu ampla agenda de reformas, assumiu compromissos com o combate à criminalidade e à ideologia de gênero, alardeou um modelo conservador e tradicional para a "família", implementou um mote com os dizeres "Mais Brasil e menos Brasília" e defendeu o porte de armas, o excludente de ilicitude e o livre mercado como diretriz econômica. E deu no que deu.

Bolsonaro foi casado com Rogéria Nantes Nunes Braga Bolsonaro, vereadora no Rio de Janeiro entre 1993 e 2001 — com quem teve os filhos Flávio, Carlos e Eduardo, que também seguiram pelo política —, contraiu segundas núpcias com Ana Cristina Vale, com quem teve outro filho (Jair Renan), e, em 2007, com Michele Bolsonaro, com quem teve a menina Laura, hoje com 11 anos de idade. 

No âmbito judicial, o "mito" é investigado em seis inquéritos. O assim chamado inquérito das fake news, que tramita no STF, investiga um esquema de disseminação sistemática e organizada de informações falsas com o objetivo de fragilizar as instituições e a democracia. Outro inquérito (esse no TSE) investiga ataques sem provas às urnas eletrônicas e tentativa de deslegitimar o sistema eleitoral brasileiro. Além disso, aliados do presidente foram alvo de operações contra atos ofensivos à democracia e às instituições do Estado. Por último, mas não menos importante: dos cinco filhos que o capitão teve em três casamentos, quatro são investigados pela PF (a exceção fica por conta da caçula).

FONTESPortal da Câmara dos Deputados; Portal do Estado de São Paulo; Portal da Folha de São Paulo; Portal O Globo; Portal Jornal do Brasil; Portal IstoÉ; Portal Veja; Portal do Tribunal Superior Eleitoral; Portal de notícias do Jornal Extra; Portal do El País; Portal do jornal Estado de Minas.

quarta-feira, 27 de outubro de 2021

NINGUÉM MERECE!


Resolvi publicar a sequência histórica iniciada no post do último dia 9 devido ao desalento — não sei se o termo define a sensação que tenho ao acompanhar o noticiário, sobretudo a parte que trata da política tupiniquim, mas não me ocorre outro melhor diante de um país que vai de mal a pior. 

Li certa vez que furacões e tempestades tropicais são batizados a partir de uma lista de 126 nomes escolhidos pelo comitê da Organização Meteorológica Mundial e repetidos em um ciclo de 6 anos. E que, desde a implantação dessa lista, 67 nomes já foram retirados — o primeiro foi Hazel, em 1954, e o últimos foram Dennis, Katrina, Rita, Stan e Wilma, na violenta temporada de 2005. Talvez fosse a hora de incluir Bolsonaro em tão seleta confraria.

Dias atrás, nosso indômito capitão — cuja maior habilidade consiste em culpar os outros pelos próprios malfeitos — teve o desplante de dizer que a CPI do Genocídio conspurcou a imagem do Brasil aos olhos do mundo, e que vacinas contra a Covid podem causar AIDS. De tão rocambolesca, essa bolsonarice mereceu críticas do próprio deputado-réu que preside a Câmara e é unha e carne com sua alteza irreal. Não à toa, às vésperas da leitura do relatório final, a Comissão resolveu incluir o pedido de suspensão das redes sociais de Bolsonaro devido à disseminação de notícias falsas e desinformação sobre a pandemia. Também não à toa, o YouTube removeu 33 vídeos do canal de Bolsonaro desde abril.

Durante seis meses, o Brasil acompanhou o desenrolar da mais importante CPI da história desta banânia desde sua redemocratização. Reconheço que a visibilidade proporcionada pela transmissão ao vivo dos depoimentos e embates acalorados transformou alguns senadores desconhecidos em celebridades instantâneas, resgatou a imagem de outros e serviu de palanque eleitoral para a grande maioria. Mas é impossível negar que o relatório foi devastador para a imagem do governo como um todo — e para o Sultão do Bolsonaristão em particular.

Em quase 1.200 páginas, o senador Renan Calheiros enumerou uma teia de ações e omissões do governo, listando uma série de decisões equivocadas, exemplos de incompetência, suspeitas de corrupção e inúmeras situações que ressaltam o negacionismo e a pregação oficial contra as medidas de prevenção à doença. São acusações sérias e precisam ser investigadas. Para que todo esse trabalho não se perca, e imperativo que a encenação política dê agora lugar à realidade e os fatos ocupem o lugar das teorias.

Convencido pelos colegas, o relator suprimiu o crime de “genocídio” — até porque exageros motivados por conveniências políticas podem fragilizar a credibilidade do relatório e comprometer todo o árduo trabalho dos senadores. A princípio, Renan solicitou o indiciamento de Bolsonaro e outras 65 pessoas — entre as quais 4 ministros do governo (Marcelo Queiroga, Onyx Lorenzoni, Wagner Rosário e Braga Netto), três ex-ministros (Eduardo Pazuello, Ernesto Araújo e Osmar Terra) e 3 filhos do presidente (Flávio, Eduardo e Carlos Bolsonaro). Na versão atualizada ontem, porém, já havia 81 nomes, sendo 79 de pessoas físicas e dois de pessoas jurídicas. É a primeira vez na história que uma comissão parlamentar aponta uma lista de delitos tão extensa atribuídos a um presidente da República.

O relator destaca em seu parecer que Bolsonaro agiu de modo consciente e sistemático contra os interesses do Brasil, colaborou fortemente para a propagação da Covid, foi responsável por erros de gestão e tinha interesse em encorajar os brasileiros a se expor ao contágio sem proteção, para que pudessem ser infectados pelo vírus sem barreiras. "A população inteira foi deliberadamente submetida aos efeitos da pandemia, com a intenção de atingir a imunidade de rebanho por contágio e poupar a economia, o que configura um ataque generalizado e sistemático no qual o governo tentou, conscientemente, espalhar a doença", diz o relatório em um dos trechos, segundo matéria publicada em O Globo.

O relatório está sendo votado enquanto eu rabisco estas linhas. Em entrevista à CNN Brasil, o senador Randolfe Rodrigues, vice-presidente da Comissão, afirmou que Bolsonaro é mencionado 80 vezes e lidera a lista dos supostos crimes com nove citações. Uma vez aprovadas pela Comissão, as propostas de indiciamento devem ser encaminhadas ao Ministério Público e à Câmara dos Deputados. O documento traz ainda 17 propostas legislativas, entre as quais a de instituição dos crimes de extermínio e de criação e disseminação de fake news, bem como de alterar a lei 1079/1950, estabelecendo um prazo de 30 dias, prorrogável por igual período, para manifestação do presidente da Câmara dos Deputados sobre pedidos de impeachment contra o presidente da República, e determinando que, uma vez cumpridos os requisitos legais, o recebimento da denúncia será deferido.

Atualização: Deu a lógica: o relatório foi aprovado pelo G7 e rechaçado pelos governistas MoeLarry e Curly e por um coió autodeclarado "independente", que admitiu que Bolsonaro "errou ao provocar aglomerações e ao dar declarações infelizes sobre a vacina", mas votou contra mesmo assim, afirmando que o relator "se perdeu, errou a mão". Renan, por seu turno, caprichou: "Há um homicida no Palácio do Planalto". Para o senador alagoano, Bolsonaro agiu como “missionário enlouquecido para matar o próprio povo”, e “bestas feras” tentaram ameaçar a Comissão, mas não obtiveram sucesso.

Na manhã de ontem, a lista de indiciados chegou a 79 pessoas. A pedido do senador Alessandro Vieira, o relator incluiu o nome do também senador Luis Carlos Heinze — defensor incondicional da eficácia do "tratamento precoce" e bobagens que tais. Ao final, Vieira voltou atrás (ainda que a contragosto), e Renan acolheu sua solicitação. O relatório deve ser apresentado ao presidente do Senado e encaminhado à PGR na manhã desta quarta-feira. Aras havia dito disse que não será omisso diante dos fatos levantados pela comissão — caso ele não dê sequência às investigações, os senadores estudam cogitam de ingressar com uma ação penal privada subsidiária no STF.

Em sua última manifestação na CPI, o sujo criticou o mal lavado, ou melhor, o senador Flávio "Rachadinha" Bolsonaro leu uma relação de 21 crimes “supostamente cometidos” por Renan durante a pandemia, entre eles o de “perseguição”, e disse que o relatório final era uma “peça política”.

Desde o início da pandemia, Bolsonaro, de maneira absolutamente irresponsável, colocou o governo na contramão de praticamente todas as recomendações feitas pelas autoridades sanitárias. Foi contra o isolamento social e a obrigatoriedade do uso de máscaras, demorou a comprar as vacinas, infringiu reiteradamente as medidas sanitárias impostas pelos governadores e prefeitos, praticou curandeirismo e charlatanismo, estimulou a população a se aglomerar, incentivou a produção de medicamentos reconhecidamente ineficazes contra a Covid, e por aí segue a procissão. A CPI ouviu vários depoimentos que mostraram ações explícitas de negacionismo e pregação oficial contra as medidas de prevenção, além de obter relatos de omissões que podem ter ampliado a contaminação e o número de mortes.

A despeito do que reza a Constituição de 1988 — que o próprio Ulysses Guimarães reconheceu ser imperfeita, tanto que admitia reforma —, não pode caber apenas ao presidente da Câmara a última palavra sobre os pedidos de impeachment; é preciso criar uma comissão permanente para avaliar as solicitações ou atribuir a outra já existente essa função. Para além disso, diferentemente das decisões de arquivamento de inquéritos determinadas por procuradores e promotores — que são submetidas a revisão —, as do procurador-geral da República são "soberanas". E o atual, Augusto Aras, disputa com Geraldo Brindeiro o epíteto de "engavetador-geral da República". Para mudar essa vergonha, o relator incluiu uma PEC que prevê que o procedimento seja seguido "inclusive pelo chefe do Ministério Público", ou seja, pelo procurador-geral de plantão.

Não faltam motivos para considerarmos o governo Bolsonaro o pior da história recente — eu achava a nefelibata da mandioca insuperável, mas o capitão conseguiu me surpreender. Claro que a escolha feita pelo sempre mui esclarecido eleitorado tupiniquim, no primeiro turno do pleito de 2018, não nos deixou alternativa que não apoiar o "furação Bolsonaro" no segundo. Até porque o bonifrate do então presidiário de Curitiba jamais foi uma opção. Mal sabíamos nós, então, que não tardaríamos a comprovar (da pior maneira possível) o quão acertado é o adágio segundo o qual "quem semeia ventos colhe tempestades". Que Deus nos ajude no ano que vem, se ainda houver um Brasil no ano que vem.

Como diz outro aforismo, "o que começa mal acaba mal". Mas eu não esperava que esse "mal" pudesse ser "tão pior". Em fevereiro de 2019, dias antes de Bolsonaro completar 2 meses no cargo para o qual ele próprio reconheceu que não foi talhado, eu comentei que me causava espécie o fato de muitos que defendiam o governo se comportarem nas redes sociais como petistas de sinal trocado, como se não tivessem se dado conta de que a disputa eleitoral terminara, que o treino acabara e que o jogo havia começado, embora o próprio presidente desse sinais de continuar em campanha. Pena eu não ter feito uma fezinha no jogo do bicho naquele dia. Segue um excerto da postagem:

"Não há como não ficar apreensivo diante da ingerência da prole real no governo federal, como se viu no lamentável episódio que resultou na exoneração do coordenador de campanha, advogado e pau-pra-toda-obra, Gustavo Bebianno. Escolher seus ministros e demiti-los a qualquer tempo é prerrogativa do presidente, mas não é aceitável ele transformar uma questão de somenos numa aula magna sobre as misérias políticas do governo. (...)Apoiar Bolsonaro no comando desta nau de insensatos é fundamental. Torcer contra e sabotar projetos importantes, como a PEC da Previdência e o pacote de medidas anticrime e anticorrupção, é coisa da escória inconformada com a derrota do ventríloquo e seu boneco, de quem não se poderia esperar comportamento diferente (...), mas daí a aplaudir as asnices do governo vai uma longo distância. (...)Para além do manifesto despreparo e do 'estilo despojado' de Bolsonaro — que beira o ridículo quando ele se deixa fotografar, numa reunião de cúpula sobre a reforma da previdência, trajando uma camiseta pirata do Palmeiras e calçando chinelos Rider —, a constante preocupação do presidente com supostas conspirações orquestradas por adversários reais e imaginários gera um clima de desconfiança e incerteza sobre seu processo mental e sua sistemática atuação em relação aos filhos. Talvez a imagem tosca que ele transmite seja uma construção planejada e conscientemente administrada, mas daí a ter um compromisso deliberado com o mau gosto..."

Dois anos e sete meses depois, durante a reunião do G20 em NYC, Bolsonaro voltou a demonstrar que não tem a menor noção da liturgia do cargo. Para além de outras barbaridades, ele sua comitiva de puxa-sacos foram fotografados como uma trupe de indigentes comendo pizza em pé, na calçada. Como bem lembrou o ex-ministro Maílson da Nóbrega em sua coluna na edição de Veja desta semana, o cargo de presidente da República tem alto valor simbólico — o modo como ele discursa, se veste e se dirige ao público repercute, e dele se esperam compostura, tolerância, sobriedade, temperança e autocontrole.

Bolsonaro não deveria calçar chinelos de plástico em público, nem receber autoridades trajando camisetas de clubes de futebol. Nada a ver com elitismo. Na democracia representativa, pressupõe-se que a eleição é um processo de seleção de pessoas da elite com atributos para o trato da coisa pública. Isso implica a percepção da liturgia e do significado do exercício do poder, requerendo posturas compatíveis com essas qualificações. Foi assim com George Washington.

Herói épico da vitória na Guerra da Independência contra a Inglaterra, o líder político, militar e estadista norte-americano renunciou à remuneração de comandante das tropas. Liderou com equilíbrio, firmeza e dignidade a assembleia que escreveu a Constituição. Lá, perguntado se o chefe do governo deveria ser tratado como “Sua Alteza”, optou por chamá-lo simplesmente de “Senhor Presidente”, como é até hoje. A força de seu caráter foi fundamental para a aprovação do texto final e para sua ratificação pelos treze estados originais.

Eleito por unanimidade pelo Colégio Eleitoral, Washington pensou nos mínimos detalhes quando se deslocou, em 1789, de Mount Vernon para Nova York, onde tomaria posse do cargo (a cidade foi a capital entre 1785 e 1790). Avaliava que cada gesto e cada ação criariam precedentes para os próximos governos. No discurso de posse, declarou que gostaria de renunciar a seus honorários. Seu desprendimento não resistiu à lógica. Não foi atendido nessa pretensão. Se fosse assim, somente os ricos, como ele era, poderiam exercer a Presidência.

Washington foi um mestre na arte da liturgia do cargo. O termo denomina os ritos e as cerimônias das igrejas cristãs, mas a área política adotou a ideia por seu conteúdo solene. Bolsonaro é o antípoda de Washington. Voltando ao lamentável episódio da pizza, houve quem idealizasse a cena como o retrato de um presidente autêntico, mas o que se viu ali se viu desleixo e comportamento lamentáveis.

Altos servidores precisam dar-se ao respeito. Washington foi talvez o presidente que mais honrou o cargo. Aqui, o desapreço de Bolsonaro pela forma como procede na Presidência bem diz de seu despreparo para ocupar a posição mais excelsa desta banânia. Vituperar aos berros as instituições — como fez na Avenida Paulista no último dia 7 de setembro —, chamar de canalha um ministro do STF e arvorar-se de rei medieval ao dizer que não cumpriria determinação judicial são provas eloquentes de seu destempero e desequilíbrio.

São muitos os casos de comportamento reprovável. Não é estranho, pois, que Bolsonaro não se preocupe em seguir, com bons modos, a liturgia do cargo. Estranho é que ele ainda continue ocupando o cargo. Vamos esperar que o relatório da CPI mude alguma coisa. Aturar esse indigitado por mais catorze meses, ninguém merece. Nem mesmo quem votou nele.

Retomo amanhã a sequência histórica a que me referi no início deste texto.