segunda-feira, 3 de junho de 2024

CAPTURA DE TELA EM SMARTPHONES ANDROID E IPHONES

SOMOS COMO BORBOLETAS QUE VOAM POR UM DIA E ACHAM QUE É PARA SEMPRE.

Tirar um print (ou screenshot) da tela do celular é fácil. Na maioria dos aparelhos com sistema Android, basta pressionar simultaneamente os botões para bloquear a tela e diminuir o volume. Em modelos como o Galaxy J e o M32, que têm um botão Home físico na parte inferior da tela, é só pressionar o dito cujo em conjunto com a tecla de bloquear a tela e aguardar o flash.

Nos iPhones sem botão Home, pressione ao mesmo tempo a tecla lateral que bloqueia a tela e a tecla de aumentar o volume, aguarde o "flash" que confirma a captura e localize o print no app Galeria (no Android) ou no rolo da câmera (no iOS). 
 
Observação: O tempo que esse flash leva para aparecer varia — nos modelos da Samsung, basta tocar uma vez, mas nos aparelhos da Xiaomi é preciso manter os botões pressionados por alguns segundos
 
Alguns aparelhos permitem capturar a tela deslizando o canto da mão de um lado para outro do display. Para habilitar esse recurso (quando disponível), deve-se tocar ícone da Engrenagem, selecionar Recursos avançados > Movimentos e gestos e ativar a opção Deslizar a lateral da mão (note que em alguns dispositivos pode-se tirar o print deslizando três dedos de cima para baixo da tela). 

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

A multa prevista para infratores da regra da chamada pré-campanha eleitoral (marcada neste ano para começar em 16 de agosto) é de R$ 25 mil. Aconteceu outro dia com Lula por causa do pedido de votos a Guilherme Boulos, pré-candidato à prefeitura de São Paulo, durante a comemoração do 1º de Maio. O valor é irrisório quando comprado ao ganho presumido com o apelo explícito e descontado o cunho imoral da infração legal para o qual não se dá importância — a própria Justiça Eleitoral, dona da norma feita letra morta na prática, é frouxa na definição do que seria exatamente o conceito de pré-campanha. Ninguém sabe direito o que pode ou não pode, como se viu no julgamento que absolveu o senador Sergio Moro por ausência de provas consistentes e provavelmente veremos no caso do senador Jorge Seif, também acusado de irregularidades antes do prazo regulamentar. Ou bem se define o regramento com rigorosa clareza e se impõem punições efetivas, ou seguiremos no faz de conta de uma total desfaçatez.
 
Ouras opções são usar o menu de atalhos — arraste a tela de cima para baixo e, no menu de ferramentas, toque em Captura de tela — e solicitar a captura da tela ao assistente virtual do Google — para configurá-lo, abra o aplicativo do Google, toque no ícone do perfil (no canto superior direito), selecione Configurações > Voz e siga as instruções para habilitar o reconhecimento de voz.

Nos smartphones Samsung, os Painéis Edge — menus laterais que são exibidos quando deslizamos o dedo pela tela da direita para a esquerda — oferecem 4 opções de captura de tela: retangular, oval, GIF animado (de até 15 segundos) e uma captura fixa, que permite a inserção direta em outros apps. Para habilitar o recurso, toque em Configurações > Visor e ligue a chavinha ao lado de Painéis Edge. Para acessar as opções de captura, arraste a tela da direita para a esquerda duas vezes — a primeira página exibe alguns apps frequentemente utilizados, e a segunda, as ferramentas de captura.

 
Observação: Por questões de segurança, a captura de tela é bloqueada nos apps de bancos, de autenticação, nas abas privadas dos navegadores. Pode-se contornar essa proibição com ferramentas de terceiros, mas isso foge ao escopo desta postagem.
 
Nos iPhone SE (todas as gerações), iPhone 8 e antecessores, pressione o botão Home em conjunto com a tecla de bloquear a tela, aguarde o "flash" e localize a imagem no rolo da câmera. Nas versões X, 11, 12 e posteriores, esse botão foi eliminado para aumentar o espaço útil na tela, mas basta pressionar simultaneamente a tecla lateral que bloqueia a tela e a tecla de aumentar o volume, aguardar o flash e acessar a captura no rolo da câmera. 
 
Observação: O Assistive Touch é um recurso de acessibilidade que inclui um painel flutuante com várias funções na tela. Entre as opções disponíveis, é possível usá-lo para tirar print, bastando acessar a tela Ajustes, tocar em Acessibilidade, habilitar a opção Assistive Touch, tocar no círculo branco para abrir o menu, selecionar Dispositivo, tocar no ícone de três pontos e pressionar Captura de tela. 

domingo, 2 de junho de 2024

AZEITE — CUIDADO COM A REDUFLAÇÃO

A ESTUPIDEZ É UMA DAS DUAS COISAS QUE VEMOS COM MAIS CLAREZA EM RETROSPECTO. A OUTRA SÃO AS OPORTUNIDADES PERDIDAS.

Com o preço dos azeites e laticínios nas alturas, óleos compostos, margarinas e produtos lácteos à base de soro de leite representam uma alternativa mais barata. Para quem não abre mão do sabor diferenciado do azeite extravirgem e das manteigas, da cremosidade do requeijão e da consistência leite condensado "de verdade", sites como Buscapé, Zoom e Bondfaro poupam tempo e sola de sapato, mas nem sempre vale a pena atravessar a cidade para obter 10% de desconto numa garrafa — ou 25% na segunda unidade — do seu azeite preferido.
 
Cotejar produtos similares, mas de marcas diferentes, exige alguns cuidados adicionais. No caso do azeite, a comparação deve levar e conta o tipo (os extravirgens são mais caros que os virgens), a acidez (quanto menor, melhor), a safra e a data de fabricação (quanto mais recentes, melhor), o índice de peróxidos (que deve ficar abaixo de 20 meq/kg) e a quantidade contida no vasilhame — cuja redução pode induzir o consumidor a erro.
 
O fato de a embalagem indicar que o azeite foi produzido na Itália, por exemplo, não garante que ele tenha sido envasado naquele país. É comum os importadores comprarem os azeites em tonéis e engarrafá-los localmente, e é aí que mora o perigo: segundo levantamento feito pelo Ministério da Agricultura e Pecuária em 2023, 84% dos azeites extravirgens pesquisados continham óleos vegetais mais baratos, além de corantes e aromatizantes proibidos pela legislação brasileira.

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

Magda Chambriard soou contraditória ao dizer que pretende gerir a Petrobras para dar lucro e atender aos interesses dos acionistas tanto privados quanto públicos, já que a agenda que Lula quer implementar — e pela qual Prates foi apeado da presidência da empresa  torna essa missão impossível. Magda afirmou que vai "abrasileirar" os preços dos combustíveis e que não faz sentido repassar toda a volatilidade do mercado internacional  ou seja, a Petrobras continuará subsidiando a gasolina e o diesel enquanto Lula achar necessário  e que recebeu a missão de "gerir a estatal com respeito à sociedade brasileira". Só faltou explicar como isso combina com subsidiar gasolina barata, elevar investimentos em navios e gás para atender lobbies e pagar dividendos ao Tesouro. 
 
A cor do azeite varia do dourado ao esverdeado, mas o vidro escuro, usado para proteger o produto da luz, dificulta a visualização do conteúdo. Também não possível sentir o aroma ou o gosto no momento da compra, a menos que o fabricante e/ou estabelecimento promovam algum tipo de degustação.

Uma vez aberto o vasilhame, consuma o azeite em até 60 dias (famílias de até 3 pessoas devem optar por garrafinhas de 250 ml). Nesse entretempo, mantenha o vidro tampado (o oxigênio do ar deixa o azeite rançoso), abrigado da luz e longe de fontes de calor (como fogão, micro-ondas etc.), mas não convém guardá-lo na geladeira, já que a umidade acelera a degradação. 
 
O azeite é o segundo alimento mais fraudado no mundo, e o risco de levar gato por lebre é maior num país onde se falsifica até pinga 51 é maior. Como é difícil separar o joio do trigo visualmente, prefira comprar o produto em hipermercados e empórios de boa reputação. 

A "reduflação" é uma estratégia usada por fabricantes de papel higiênico, salgadinhos, biscoitos, requeijões, chocolates, queijos ralados etc. para cobrar mais pelos produtos reduzindo o tamanho ou a quantidade do produto, que passa ser disponibilizado em embalagens menores. O biscoito recheado Trakinas passou de 200g para 126g, as barras de chocolate Garoto, de 180g para 90g, alguns queijos ralados, de 50g para 40g, e, mais recentemente, o azeite Andorinha, que era comercializado em vasilhames de 1l, 500ml e 250ml, agora vem também em garrafinhas de 400ml, já que os consumidores percebem mais os aumentos de preço do que as reduções de tamanho. 
 
A reduflação é um golpe no bolso dos consumidores, especialmente porque o preço dos produtos geralmente não cai, como a inflação — isso quando eles não aumentam. As embalagens de batatas chips continuaram a diminuir, mesmo em meio à contração da inflação. A empresa de salgadinhos Lay's — uma divisão da PepsiCo — respondeu a essa mudança relançando seu produto num pacote maior, com um novo nome – Party Size — mas o preço também subiu. Até limpar a bunda está custando mais caro: os rolos de papel higiênico, que tinham 60m nos anos 1970, hoje têm entre 30m e 20m.

Para encerrar: uma das "vantagens" da margarina em relação à manteiga é a cremosidade — se você não tirar a manteiga da geladeira de véspera, terá de usar uma britadeira no café da manhã, e acabará com pedaços enormes no pãozinho ou na torrada. Deixá-la sob um fio de água corrente por 30 segundos pode ajudar, mas existem outras maneiras de amolecê-la, como você pode conferir neste vídeo

sábado, 1 de junho de 2024

MELHOR IDADE É A PQP!

QUALQUER IDIOTA CONSEGUE SER JOVEM, MAS ENVELHECER EXIGE TALENTO.

Ao dizer que quer viver até os 120 anos e disputar mais 10 eleições, Lula feriu de morte o apoio da "frente ampla" em 2026, caso ele ainda caminhe entre os vivo e esteja em condições de disputar a reeleição em 2026. 
Disputar eleições e vencê-las são coisas diferentes. O aspirante a Matusalém sabe que conquistou o terceiro mandato por um triz, devido ao pavor que a perspectiva  de mais 4 anos do catastrófico governo do antecessor provocava, mas parece não entender que o contingente nada desprezível de votantes antipetistas escolheu evitar o mal maior na expectativa de um governo que corrigisse os erros do passado e correspondesse ao crédito de confiança dado pelos tradicionais oponentes. Ele não precisava ter nomeado ministro extraordinário alguém sem expertise em infraestrutura e pouquíssimo afeito à diplomacia, como é o caso do "cumpanhêro" Paulo Pimenta, que, além do mais, será candidato ao governo do Rio Grande do Sul em 2026. Dizer que a intenção não foi projetar o "cumpanhêro" nem rivalizar com a figura do governador Eduardo Leite equivale a nos chamar de idiotas.

"Terceira idade", "melhor idade" e "feliz idade" não passam de eufemismos para "idoso", "velho" e "macróbio". A expressão "terceira idade" surgiu na década de 60, na França, e "melhor idade", em Baltimore, nos EUA, a partir de uma pesquisa que exaltou o óbvio ao concluir que as pessoas adquirem experiência com o passar dos anos. Mas muitos sexagenários e septuagenários discordam desse besteirol (a propósito, vale a pena ler esta crônica de Rui Castro). Segundo eles, o único aspecto positivo da velhice é a alternativa (morrer jovem) ser ainda pior.
 
Viver para sempre é um sonho tão antigo quanto utópico. Apesar de todo o progresso da ciência nos últimos anos, a morte continua tão inevitável quanto os impostos. Mas isso pode mudar no médio prazo. Ou pelo menos é o que afirma o gerontólogo inglês Aubrey de Grey, que se dedica há anos à busca da imortalidade. Segundo ele, "a primeira pessoa que vai viver mais de 1.000 anos já nasceu". 
E o professor de biogerontologia molecular português João Pedro de Magalhães é ainda mais ousado: "Se conseguirmos criar células resistentes ao câncer e imunes ao envelhecimento, nossa expectativa de vida pode chegar a 20 mil anos."

Delírios à parte, ainda não se sabe por quanto tempo um ser humano pode viver. A expectativa média de vida, que era de 47,1 anos na década de 1950, aumentou para 73,4 anos em 2023 e deve alcançar 82,1 no final deste século. Com a morte da francesa Jeanne Calment aos 122 anos e 164 dias, a espanhola Maria Branyas, que soprou sua 117ª vilinha no dia 4 de março passado, é a macróbia mais "matusalênica" da atualidade.
 
Entre os mamíferos, os mais longevos são as baleias da Groenlândia, que chegam a viver mais de 200 anos. Entre os peixes, algumas espécies de tubarões passam dos 500 anos. 
Em determinadas fases de sua existência, um hidrozoário conhecido como "medusa imortal" (turritopsis dohrnii) pode reverter a seu primeiro estado de vida e formar um novo pólipo, que gera clones da versão original. Isso significa que ele consegue "ressuscitar" se morrer de fome ou devido a um dano físico que não o destrua totalmente.

Uma esponja-do-mar do tamanho de uma minivan encontrada no Havaí pode ser o animal vivo mais antigo do mundo. Sua família, a Rossellidae, pode viver mais de 2 mil anos e possui grande importância para o ecossistema, pois é responsável por filtrar a água do mar, reciclar nutrientes e fornecer habitat para outros animais. Além de possivelmente ser o animal vivo mais antigo ainda vivo, o estudo de seus fósseis indica que podem ser os primeiros já encontraram no planeta. Em 2021, geólogos descobriram vestígios de esponjas do mar que devem ter vivido há cerca de 890 milhões de anos.  Até então, o recorde pertencia a um fóssil de espículas de esponjas encontradas no Irã, datadas de cerca de 535 milhões de anos atrás.
 
Segundo um artigo publicado na Nature Aging, cientistas conseguiram obter uma redução no número de células senescentes em camundongos. Essas células são responsáveis pelo envelhecimento, e estão presentes
 em qualquer tecido humano. O aspecto mais curioso é que, apesar de não se regenerarem, elas tampouco morrerem, impedindo o organismo de se livrar delas. E além de não repararem tecidos nem realizarem outras funções necessárias, elas propiciam o aparecimento de doenças e o desenvolvimento de tumores.
 
Os cientistas vêm buscando desenvolver uma vacina capaz de estimular o corpo a criar anticorpos que se juntem às células senescentes e sejam eliminados pelos glóbulos brancos. Uma alternativa à base senolíticos também vem sendo aperfeiçoada. Um grupo de pesquisadores britânicos já conseguiu resolver o problema dos efeitos colaterais: ao testar o tratamento em células humanas, os cientistas constataram as células senescentes foram atingidas, mas as normais escaparam ilesas.

Enfim, quem viver verá.

sexta-feira, 31 de maio de 2024

O GÊNESIS SEGUNDO STEPHEN HAWKING

NENHUMA TEORIA CIENTÍFICA JAMAIS FOI ACEITA SEM OPOSIÇÃO

Na reta final de seu mandato como presidente do TSE (que termina no próximo dia 3), Alexandre de Moraes negou seguimento ao recurso apresentado pela defesa de Bolsonaro, que busca no STF a reversão da inelegibilidade imposta a seu cliente. Em seu despacho, o ministro anotou que não houve divergências processuais, que o formato do recurso não atendia aos requisitos adequados e que não houve cerceamento do direito de defesa ao capetão ao general a Braga Netto. A defesa ainda pode recorrer ao Supremo, o que deve ocorrer 'em momento oportuno', segundo os nobres causídicos.

Um ser vivo tem dois elementos: um conjunto de instruções que lhe dizem como continuar vivo e como se reproduzir e um mecanismo para levar a cabo essas instruções. Em biologia, isso se chama genes e metabolismo, mas nada neles é exclusivo da biologia. Se um vírus eletrônico é um programa que faz cópias de si mesmo na memória do computador e as transfere para outros computadores, ele condiz com a definição de sistema vivo. A exemplo de seus correspondentes biológicos, esse vírus é uma forma degenerada, já que contém instruções (ou genes) e carece de metabolismo próprio, mas capaz de reprogramar o metabolismo do computador (célula anfitriã). 

Alguns acreditam que os vírus não devam ser considerados vida,  pois são parasitas e, como tal, não conseguem subsistir sem um hospedeiro, mas o que é a maioria das formas de vida senão parasitas — inclusive nós, que nos alimentamos e dependemos de outras formas de vida para sobreviver? Na esteira desse raciocínio, os vírus eletrônicos não só devem ser considerados vida como a única forma de vida que o ser humano foi capaz de criar até agora. 

A "vida" que surgiu e evoluiu em nosso planeta consiste basicamente em cadeias de átomos de carbono e outros, como nitrogênio ou fósforo. Ocorre que os átomos de carbono só podem existir com as propriedades que têm graças a um ajuste fino das constantes físicas, como a escala da cromodinâmica quântica, a carga elétrica e a dimensionalidade do espaço-tempo. Se essas constantes tivessem valores diferentes, o núcleo desses átomos não seria estável, e seus elétrons entrariam em colapso. 

Isso pode ser uma evidência de que o universo foi especialmente desenhado para produzir a espécie humana, mas é preciso ter cuidado com tais argumentos: o Princípio Antrópico, por exemplo, se baseia no fato de que, se o universo não tivesse sido adequado para a vida, nós não estaríamos aqui, imaginando por que ele tem um equilíbrio tão refinado. 
 
Podemos aplicar esse princípio nas versões forte ou fraca. A primeira pressupõe a existência de múltiplos universos diferentes, cada qual com valores distintos de constantes físicas. Em um número pequeno de tais universos, os valores permitem a existência de objetos como os átomos de carbono, que atuam como blocos de construção dos sistemas vivos. E como devemos viver em um desses universos, não surpreende que as constantes físicas estejam finamente sintonizadas (se não estivessem, não estaríamos aqui). 
 
Quando o Big Bang eclodiu, não havia carbono, e o calor era tamanho que toda a matéria estava na forma de prótons e nêutrons. A princípio, a quantidade de prótons e de nêutrons era a mesma, mas a temperatura baixou cerca de 1 bilhão de graus centígrados segundos depois que o Universo começou a se expandir e os nêutrons, a se decompor em prótons. 

Se isso fosse tudo o que aconteceu, toda a matéria teria terminado como o elemento mais simples — o hidrogênio —, cujo núcleo consiste em um único próton. Mas alguns nêutrons se chocaram com prótons e se uniram a eles, formando o segundo elemento mais simples — o hélio —, cujo núcleo é composto por dois prótons e dois nêutrons. 

No livro póstumo Breves Respostas para Grandes Questões, o astrofísico Stephen Hawking especula sobre o desenvolvimento da vida no Universo o comportamento da espécie humana ao longo da história, que ele considera bastante estúpido. Segundo Hawking, a vida é um sistema ordenado, resiliente à desordem, que pode produzir sistemas ordenados similares a ele, mas independentes. Esse sistema deve transformar a energia recebida em alguma forma ordenada  como alimentos, luz solar ou energia elétrica  em energia desordenada  na forma de calor. Mas a pergunta é: que significado operacional pode ser dado à existência de todos os outros universos? E se eles estão separados do nosso Universo, como é que o que ocorre neles pode nos afetar? 

É difícil imaginar que um sistema vivo tenha sido construído apenas com hidrogênio e hélio, até porque o Universo estava quente demais para que os átomos se combinassem em moléculas. Mas ele continuou se expandindo e esfriando. Como algumas regiões tinham densidades ligeiramente mais altas do que as outras, a atração gravitacional da matéria extra nesses pontos foi reduzindo o ritmo da expansão até finalmente detê-lo, e, cerca de dois bilhões de anos depois do Big Bang, elas entraram em colapso e formaram as estrelas e as galáxias. 

Hawking sustenta que as primeiras estrelas eram mais massivas e quentes do que nosso Sol, e por isso elas converteram o hidrogênio e o hélio originais em elementos mais pesados, como carbono, oxigênio e ferro. Milhões de anos depois, algumas delas explodiram como supernovas e pulverizaram os elementos pesados no espaço, formando a matéria-prima para as gerações posteriores de estrelas.

quinta-feira, 30 de maio de 2024

O STF E A MALDITA POLARIZAÇÃO


Divergências de opinião e disputas pelo poder sempre fizeram parte da política, mas a polarização como a conhecemos hoje, com a divisão da sociedade em dois grupos opostos e antagônicos, é um fenômeno relativamente recente. Com o fim da ditadura militar e a volta do pluripartidarismo, Lula gestou e pariu seu abjeto "nós contra eles", mas os embates eram mais civilizados quando PSDBPT eram os adversários de turno. 

O advento do "bolsonarismo" e a ascensão das "mídias sociais" levaram água ao moinho das "fake news" e à criação de "bolhas" onde as pessoas, tomadas pelo fanatismo, só tomam em consideração as notícias e opiniões que confirmam suas convicções. E a desconfiança no governo, nos partidos políticos e na imprensa tradicional estimula essa récua a busca fontes alternativas de informação (nem sempre confiáveis) que reforcem sua visão deturpada de mundo. 

As eleições presidenciais de 2018 foram as mais polarizadas da nossa história recente, mas perderam o posto para o pleito de 2022, em que Lula, "descondenado" e reabilitado politicamente por uma sequência de decisões teratológicas do STF, derrotou o "mito" dos descerebrados pela menor diferença de votos válidos desde a redemocratização. 

Com o eleitorado dividido entre "nhô-ruim" e "nhô-pior", não havia como a quimérica "terceira via" prosperar — a menos que, metaforicamente falando, um meteoro como o que extinguiu os dinossauros há 66 milhões de anos varresse do cenário político as duas seitas do inferno. 

Dizem que o sábio aprende com os erros dos outros e os tolos, com os próprios, mas o inigualável eleitorado tupiniquim os repete eleição após eleição, como se essa perseverança tivesse o condão de produzir um resultado diferente. Pelo andar da carruagem, teremos neste ano mais um pleito plebiscitário, com postulantes à prefeitura de quase 5.600 municípios apadrinhados pelo capitão-golpista e pelo aspirante a Matusalém. Parece até coisa de Superman x Lex Luthor ou Coringa x Batman! E ainda dizem que Deus é brasileiro!
 
Na desvaliosa opinião deste humilde articulista, J.R. Guzzo, Augusto Nunes, Dora Kramer, Josias de Souza e Reinaldo Azevedo são "monstros sagrados" do  jornalismo político. Mas o mundo gira, a Lusitana roda, a terra plana capota e, como ensinou o saudoso Vinicius de Moraes, "não há nada como o tempo para passar". 

Dora e Josias continuam produzindo textos isentos, mas Guzzo e Nunes se converteram em bolsonaristas convictos, e Azevedo, que cunhou o termo "petralha" quando o escândalo do Mensalão veio à tona, em lulista de carteirinha. De Rodrigo Constantino, então, nem se fala. Parafraseando um slogan do maior jornal paulista — "Folha: Não dá para não ler —, Constantino: "não dá mais para ler". 
 
Seria exagero dizer que nada se aproveita de tudo que esses "convertidos" escrevem. Afinal, até um relógio analógico parado marca a hora certa duas vezes por dia. Além disso, cabe ao leitor sensato diferenciar fatos das versões e "pesquisas de intenção de voto" das manifestação de torcidas organizadas em prol de seus corruptos de estimação. 
 
Após esta breve introdução, segue uma versão condensada do texto (magistral) que Augusto Nunes publicou na edição de 24 de maio da Revista Oeste:  
 
Que García Márquez, que nada. Muito mais assombroso que o universo fictício criado pelo grande escritor colombiano é o estranho país que vem sendo redesenhado desde o início de 2020 por 11 figuras que, em silêncio e vestindo trajes normais, parecem gente como a gente. As diferenças começam pelo dialeto que elas falam e se acentuam quando vestem a fantasia completa. Versão nativa da capa que promove a Superman o introvertido jornalista Clark Kent, a toga pendurada nos ombros do mais medíocre bacharel em Direito anuncia a entrada em cena de um Doutor em Tudo, um Eminente Superjuiz, uma sumidade a serviço do STF, uma alta patente da tropa que recriou o Poder Moderador — que só existiu na experiência constitucional brasileira na Constituição de 1824, e que era exercido pelo Imperador — para salvar a democracia em perigo com métodos que até um ditador parido pelo realismo fantástico acharia exagerados.
 
Que Cem Anos de Solidão, que nada. A esplêndida saga do clã que não terá uma segunda chance na face da Terra é coisa de amador se confrontada com o que fazem e desfazem as estrelas (e os roteiristas) do mais longo e intragável faroeste à brasileira. O coronel Aureliano Buendia meteu-se em dezenas de revoluções. Perdeu todas. Numa visita à cidade natal, o filho revolucionário foi impedido de abraçar a mãe pelos soldados designados para garantir-lhe a integridade física. No Brasil controlado pelo STF, o ministro Alexandre de Moraes não dispensa a companhia de oito brucutus, nem para zanzar pelo clube do qual é sócio. O esquema de segurança não permite que os brasileiros ao menos apertem as mãos do homem que os livrou da ressurreição do fascismo ao sufocar o primeiro golpe de Estado orientado por uma minuta, abastecido por um vendedor de algodão-doce e consumado por civis desarmados e sem comandantes com experiência militar. 
 
Se faltam autores brasileiros no ranking dos melhores do realismo fantástico, não é por falta de personagens prontos e acabados. Em O Outono do Patriarca, Márquez criou um ditador de idade indefinida (calcula-se que tem mais de 107 anos e menos de 232). Moraes terá de viver ao menos mais dois séculos, sem aposentar-se, para concluir o julgamento dos casos que o transformaram em gerente da maior e mais vagarosa Vara Criminal do planeta. O Primeiro Carcereiro disse recentemente que são mais de 2 mil. Não é pouca coisa. Mas o sorriso que acompanhou o cálculo avisou que está longe do fim o aumento da população carcerária embutido no recado que fez publicamente ao parceiro Dias Toffoli em outro comício sem plateia: “Tem muita gente pra prendê (sic), muita multa pra aplicá (sic)”, animou-se o carrasco de plurais, direitos e liberdades. 
 
"Os idiotas perderam o pudor e estão por toda parte”, constatou Nelson Rodrigues na década de 1970. Passados 50 anos, sobram imbecis também na cúpula dos Três Poderes. Alguns ajudam a piorar o Judiciário, mas no Supremo prevalece a tribo dos napoleões de hospício sem remédio. Daqui a muitos anos, diante das verdades preservadas por um punhado de jornalistas decentes, todo brasileiro com mais de dez neurônios se perguntará o que aconteceu com o Brasil na primeira metade da terceira década do século 21. 
 
Em cinco anos, o Supremo pariu o flagrante perpétuo, a presunção de culpa, a prisão sem julgamento, a multa com seis zeros, a verdade oficial, a prisão provisória sem prazo para terminar, o criminoso que não descumpriu nenhuma lei em vigor e outras obscenidades chicaneiras. Decidiu que o ônus da prova agora cabe ao acusado, revogou o devido processo local, aposentou o sistema acusatório e o direito de ampla defesa, tornou rotineira a condenação por decisão monocrática de quem não pode ser julgado pelo Supremo. Fora o resto.
 
Nesta semana, o Brasil que pensa e presta foi insultado por outra carga de cavalaria liderada pela mais insolente dupla de coveiros da Justiça, dos direitos democráticos e do Estado de Direito. Indignado com os brasileiros que rejeitaram a meia-liberdade, jogaram tornozeleiras no lixo e partiram para o exílio, Alexandre de Moraes anunciou que vai prender de novo homens e mulheres que soltou por falta de provas para condená-los. 

Perfeitamente afinado com o colega de toga, Dias Toffoli decidiu que o empreiteiro Marcelo Odebrecht não cometeu as ilegalidades que confessou em depoimento eternizado num vídeo. Coisa de doido? Não deixa de ser. Mas há uma lógica por trás dessas loucuras, como provará esta coluna na próxima edição. Mais importante ainda: é uma indignidade inútil. Mesmo enterrada, a verdade segue viva. E logo estará assombrando os que se julgam condenados à eterna impunidade.
 
Volto a frisar que, a meu ver, Nunes se converteu ao bolsonarismo e a destacar que não concordo com muito do que escreveu sobre Alexandre, mas a parte que toca ao Supremo — e a Toffoli em particular — me levou a publicar esta postagem. 
Cabe ao leitor tirar suas próprias conclusões. 

quarta-feira, 29 de maio de 2024

DE VOLTA ÀS PIRÂMIDES DE GIZÉ

QUEM SABE FAZ, QUEM NÃO SABE ENSINA.

No dia 11 de abril de 2019, a revista eletrônica Crusoé revelou que o epíteto "o amigo do amigo de meu pai", cunhado por Marcelo Odebrecht, referia-se ao ministro Dias Toffoli (aliás, o Príncipe das Empreiteiras e sua gangue eram mestres em criar apelidos, como "Coxa", para Gleisi Hoffmann; "Justiça", para Renan Calheiros; "Caju", para Romero JucáBabel, para Geddel Vieira Lima; "Caranguejo", para Eduardo Cunha, "Botafogo", para Rodrigo Maia); "Gripado", para Agripino Maia, e por aí vai). Marcelo referia-se a Toffoli como "amigo do amigo de meu pai" por causa da proximidade do ministro com Lula, e deste com Emílio Odebrecht
Em março de 2016, quando a Lava-Jato estava no auge, o filho do pai foi condenado a 19 anos de prisão, mas teve a pena reduzida para 7 anos, passou pouco mais de dois na cadeia e o resto da pena em prisão domiciliar. Na última sexta-feira — dia do "escárnio dos escárnios", como anotou Ricardo Kertzman em sua coluna na revista IstoÉ —, o Supremo, escorado numa dessas tecnicidades jurídicas que parecem ter sido feitas sob medida para favorecer criminosos poderosos e seus advogados com honorários de 7 dígitos, extinguiu uma condenação do mensaleiro, quadrilheiro, terrorista, corrupto e falsário José Dirceu e anulou todos os atos da Lava-Jato contra Marcelo Odebrecht.
Toffoli deixou o idealizador do departamento de propinas da empreiteira tão inocente quanto o mais inocente dos monges budistas a despeito de o empresário ter comprado metade dos políticos e governantes desta banânia e de outras pocilgas mundo afora, ter confessado, juntamente com quase 80 executivos da companhia, crimes de corrupção, evasão de divisas, sonegação fiscal, formação de quadrilha, superfaturamento etc. As planilhas, os nomes, os depósitos, o dinheiro devolvido? Bobagem. Foi tudo ilusão de ótica. Delírio coletivo após a canetada suprema. 
A decisão monocrática de Toffoli é a prova provada de que o Brasil é, de fato, o país mais amigável do mundo.

Em "Eram os Deuses Astronautas?", o pesquisador suíço Erich von Däniken sugere explicações sedutoras para diversos enigmas que historiadores e arqueólogos não conseguem desvendar, como o das Pirâmides de Gizé, que foram construídas milhares de anos antes da era Cristã na península de Gizé. A maior das três é a de Quéops, que, com 174 m de altura e 230 m de largura, é também a maior das 140 pirâmides egípcias e das mais de 1.000 que existem no mundo.

Autores como Pierre Houdin e Bob Brier não só refutam a Teoria dos Antigos Astronautas como atribuem a Däniken a pecha de pseudocientista e tripudiam de suposições como as de que extraterrestres teriam visitado a Terra há milhares de anos e os deuses das civilizações antigas seriam representações de alienígenas. Mas isso não muda o fato de que os livros do pesquisador suíço têm fortíssimo apelo popular — além de venderem 80 milhões de cópias mundo afora, eles inspiraram a bem-sucedida série Alienígenas do Passado, produzida pelo History Channel
 
Afirmam os arqueólogos, egiptólogos e assemelhados que 30 mil egípcios munidos de cinzéis passaram décadas cortando milhões blocos de pedra de até 80 toneladas, rolando-os por centenas de quilômetros de deserto sobre toras de madeira, alinhando-os perfeitamente com os pontos cardeais e a constelação de Orion (valendo-se apenas do "olhômetro" e da sombra projetada por uma haste) e, usando rudimentares e rampas em espiral, ergueram os monumentos faraônicos (literalmente).
 
Parece não lhes causar estranheza os antigos egípcios fazerem cálculos matemáticos complexos usando simples ábacos, dominarem a escrita e disporem de um calendário baseado não no Sol ou na Lula, mas na estrela Sirius — que só era avistada nas madrugadas durante o inicio da enchente do rio Nilo, que não acontecia todos os anos e, quando acontecia, não começava sempre no mesmo dia. 

Também lhes parece "natural" que os Contos das Mil e Uma Noites, ambientados 3 mil anos antes da nossa era, descrevam tapetes voadores, lâmpadas de onde surgem "gênios" capazes de grandes prodígios de magia, e até portas que dão acesso a cavernas repletas de tesouros quando alguém simplesmente se aproxima e diz "Abre-te Sésamo" (lembrando que os primeiros edifícios com portas automáticas surgiriam somente na segunda metade do século 20). 
 
Se os antigos egípcios eram obcecados por proporções, como explicar a discrepância entre a cabeça e o corpo da Esfinge de Gizé? Ou o rosto da estátua não se parecer com outras representações de Quéfren, o 4º faraó da 4ª dinastia (2575-2465 a.C.), que supostamente mandou construí-la? Ou o corpo não ser felino (leões são conhecidos pelas costas curvas e pela juba), mas semelhante ao de um cão? Seria porque Anúbis, o deus dos mortos da mitologia egípcia, fosse comumente retratado com a cabeça de um chacal? 
 
De duas, uma: ou a imaginação dos "escritores das arábias" era muito mais prodigiosa que a dos autores de ficção científica contemporâneos, ou suas "fantasias" retratavam coisas que eles já conheciam. Segundo Aristóteles, diante de diversas hipóteses formuladas sobre as mesmas evidências o mais racional é acreditar na mais simples. Mas até aí morreu Neves. Ou não: uma antiga ramificação do Nilo com centenas de metros de largura foi descoberta recentemente. 

Ramificação Ahramat, que partia de Faiyum e passava por 38 sítios diferentes de pirâmides até chegar a Gizé, secou há muito tempo, mas pode ter sido usada para transportar os trabalhadores e os materiais necessários à construção das pirâmides. Os pesquisadores tencionam analisar amostras do solo do antigo leito do rio para determinar se ele estava ativo na época em que os monumentos foram construídos. 

Além de ajudar a entender a construção das pirâmides (pelo menos no que diz respeito ao transporte dos blocos de pedra), a exploração dessa antiga ramificação pode auxiliar a localização de outros sítios perdidos do Egito Antigo, como cidades e povoados que foram desaparecendo ao longo do tempo devido às mudanças no curso do segundo maior rio do planeta (com base em imagens de satélite, constatou-se recentemente que o Amazonas tem 6.992,06 quilômetros de extensão, enquanto o Nilo tem 6.852,15 quilômetros). 
 
A conferir.

terça-feira, 28 de maio de 2024

CONSCIÊNCIA E VIDA APÓS A MORTE (PARTE VI)

O QUE É A HISTÓRIA SENÃO UMA FÁBULA COM QUE TODOS CONCORDAM?

Enquanto desmonta a Lava-Jato e finge não ver os malfeitos feitos por Renan Calheiros e Romero Jucá — aquele Jucá que proferiu uma das pérolas mais célebres da Lava-Jato, cujo vaticínio foi plenamente confirmado ao longo dos anos —, o STF perde a pouca majestade que lhe resta. Estranhamente, suas excelências estranham ser atacadas nas ruas e nas redes e cobram respeito sem se mostrarem respeitáveis. Ao dar a impressão que prestam favores a outrem e/ou obtêm vantagens de cunho pessoal, os togados prestam um desserviço a si mesmos e à coletividade; por olharem o panorama do alto, os semideuses de toga não se dão conta do tamanho da erosão sofrida na sociedade e do quanto esse desgaste por ser nocivo para a confiança nas instituições. A disseminação da azo ao entusiasmo pela anormalidade barulhenta, que confere ao autoritarismo a chance de sugerir aos incautos a pior das soluções.

Até meados do século passado, declarava-se a morte de uma pessoa 15 minutos depois da parada cardiorrespiratória. Como o surgimento dos respiradores artificiais tornou esse critério obsoleto, convencionou-se associar o fim da vida à morte cerebral. 

Quando o sangue para de circular no cérebro, os neurônios começam a morrer, e a partir de determinado ponto o corpo deixa de ser capaz de controlar as funções vitais ou mesmo funcionar. A questão é que casos como o de Pam Reynolds (vide capítulo anterior) colocam esse conceito em xeque.

Após ouvir relatos de supostas experiências "do outro lado", o médico e professor Sam Parnia, responsável pela unidade de tratamento intensivo do hospital da Universidade de Stony Brook, nos EUA, teorizou que o cérebro seria um intermediário, uma espécie de computador que processa um sistema operacional externo (a consciência, ou a "alma", como preferem os religiosos), e não a origem da consciência em si. 
 
Para determinar se a consciência continua presente depois que toda a atividade cerebral cessa, Parnia criou o projeto AWARE (sigla em inglês para “consciência durante ressuscitação”), que documenta experiências de “pós-morte”, como ele prefere chamá-las, em hospitais dos EUA e da Europa. Num de seus principais experimentos, ele mandou fixar placas em salas cirúrgicas de 25 hospitais, posicionadas de modo que ficassem visíveis para alguém flutuando perto do teto, mas escondidas de quem estivesse de pé ou deitado. Assim, se alguém voltasse de uma morte clínica e contasse o que estava escrito nos cartazes, ficaria comprovado que a consciência pode "enxergar" coisas após a morte do corpo.

Os resultados preliminares apresentados em um encontro da Associação Americana do Coração em novembro de 2013 não foram conclusivos: dos152 sobreviventes entrevistados, 37% descreveram lembranças do período crítico, mas só dois viram alguma coisa que remetesse a EQMs e apenas um relatou eventos verificáveis, como instrumentos cirúrgicos, mas não falou nada sobre os cartazes. 

Na prática, a maior contribuição de Parnia para o debate tem sido o prolongamento do período de ressuscitação. Pacientes do hospital da Universidade de Stony Brook têm 33% de chance de resistir a paradas cardíacas, enquanto a média nos Estados Unidos é de apenas 16%. Para alcançar esses números, o médico passou a adotar medidas como resfriar o corpo de pacientes e manter alta a oxigenação no sangue enquanto o coração está parado, tudo com o objetivo de atrasar ao máximo a "apoteose" — ou seja, o "suicídio" das células cerebrais quando privadas de oxigênio. 

Foram processos semelhantes que permitiram, por exemplo, que o jogador de futebol Fabrice Muamba fosse ressuscitado mais de uma hora depois de sofrer uma parada cardíaca em pleno gramado, em 2012. Em outro livro, O que Acontece Quando MorremosParnia cita o caso de uma japonesa que esteve morta por mais de três horas e, graças a procedimentos de ressuscitação, resfriamento do corpo e oxigenação artificial do cérebro, voltou à vida sem apresentar sequelas.

Fato é que não se sabe ao certo se a mente continua a existir depois que o cérebro desliga, mas um estudo feito pela Universidade de Michigan em 2013 monitorou o cérebro de ratos que tiveram a morte induzida e descobriu que, nos primeiros 30 segundos contados a partir da parada cardíaca, eles tiveram um aumento significativo de atividade cerebral. Em tese, isso explicaria as visões e sensações descritas por pessoas clinicamente mortas que foram reanimadas, pois o corpo poderia lançar uma última cartada para se defender e permanecer vivo.
 
Há registros de EQMs em todas as partes do mundo, e menos de 20% delas evocam sensações ruins. As principais discrepâncias se
 devem a diferenças culturais: cristãos tendem a ver anjos ou o próprio Jesus Cristo em suas espiadas no além, índios americanos costumam mencionar encontros com animais mitológicos, como a águia da guerra, ao passo que os melanésios que visitam o outro lado relatam encontros com feiticeiros. O indiano Vasudev Pandey, que foi dado como morto em 1975 devido à febre tifoide, disse que foi recebido do outro lado por Yamaraja (não confundir com Iemanjá), mas que, ao perceber que ele não era o morto certo, o deus da morte mandou-o de volta à vida. 

A despeito das diferenças culturais, a maioria das EQMs tem em comuns a sensação de sair do corpo e encontrar gente que já morreu e relatos do que se convencionou chamar de "revisão de vida" — uma memória ampla, cronológica e quase imediata de tudo que a pessoa vivenciou em vida, exibida como um filme em 3D, em tela panorâmica e com riqueza de detalhes — o que pode ser uma sensação terrível ou encantadora, dependendo do que cada pessoa causou com suas ações. 

Continua...

segunda-feira, 27 de maio de 2024

SURFISTAS DO DILÚVIO

Conhecidos pelo negacionismo climático, Carlos e Eduardo Bolsonaro desembarcaram na calamidade que se abateu sobre o Rio Grande do Sul e passaram a produzir e postar nas redes sociais bolsonaristas, já inundadas de desinformação sobre as ações dos governos federal e estadual, vídeos que o ex-presidente se apressou a compartilhar em seus perfis eletrônicos.

Autoconvertido em "vereador federal", Carluxo deu as caras na cidade de Bento Gonçalves, no dia 16, levando a tiracolo Fabio Wajngarten. A dupla desfilou ao lado do prefeito do município, Diogo Segabinazzi Siqueira, tucano como o governador gaúcho Eduardo Leite. Na véspera, em sua terceira visita ao estado gaúcho, Lula anunciara medidas de socorro direto às vítimas das enchentes. 

O interesse súbito do filho do pai pelo suplício dos gaúchos contrasta com seu tradicional descaso pela emergência climática. Em julho de 2019, em meio a uma onda de frio que derrubou as temperaturas no Sul e no Sudeste, o pitbull do clã Bolsonaro rosnou no ex-Twitter: "Quando está quente a culpa é sempre do possível aquecimento global e quando está frio fora do normal como é que se chama?"
 
Em dobradinha com o irmão, Dudu Bananinha deixou-se filmar passeando de jet-ski sobre as águas que inundaram a cidade gaúcha de Eldorado do Sul. Antes, bateu bumbo nas redes sociais para alardear que destinara uma de suas emendas orçamentárias para o Estado — coisa de R$ 1 milhão. Sua antiga aversão aos alertas científicos sobre as variações climáticas revela que o barulho que ele produz é cenográfico. Seu tambor é vazio por dentro.
 
Em 2018, num prenúncio do que estava por vir depois da posse do pai no Planalto, zero três propagou um vídeo tóxico no qual apoiava a decisão de Donald Trump de retirar os Estados Unidos do Acordo de Paris. Em visita ao país de seu ídolo, rodeado de neve, Eduardo indagou: "Que aquecimento global é esse? Não deixe que o discurso, principalmente dos globalistas, matéria em cima de matéria, jogando essa mentira para vocês, que ela reste sedimentada como verdade".
 
Bolsonaro pai, que ainda estava internado em São Paulo quando os filhos chegaram ao Rio Grande do Sul, recebeu alta hospitalar na sexta-feira, 17, após 12 dias no estaleiro. Antes, postou a movimentação dos rebentos. Insinuou que Carlos iluminava em Bento Gonçalves cenas sonegadas ao país por uma legião de repórteres ao revelar "as peculiaridades dos problemas locais, expondo situação catastrófica do Vale, algo pouco exposto na mídia convencional, que está focada na região de Porto Alegre, Lajeado e Canoas". Para realçar a hipotética solidariedade de Eduardo,  disse sua insolência: "Meu outro filho, o deputado federal Eduardo, remanejou parte de suas emendas parlamentares para ajuda na região e outras áreas afetadas nesta enchente histórica que destruiu todo o estado em questão. Seguimos acreditando e fazendo nossa parte na união do nosso amado Brasil."
 
Nos quatro anos que passou no Planalto, Bolsonaro trafegou na contramão do receituário da ciência. Em 2019, o Brasil deveria ter sediado a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, mas sua recusa despachou o encontro para Madri e
 escancarou, no cercadinho do Alvorada, trombeteou que a pressão internacional por medidas contra a emergência climática era "mero jogo comercial". 

Na época, o chanceler era Ernesto Araújo, negacionista de mostruário, expôs o Brasil ao vexame em palestra nos Estados Unidos, na Heritage Foundation, uma entidade conservadora de viés trumpista, e o ministro Ricardo Salles, mais preocupado em passar a boiada do que com o crime ambiental, disse que Bolsonaro e Trump pegavam em lanças contra o sistema internacional liderando uma "insurgência universal contra a bobagem", classificou de "climatismo" os esforços contra a transformação do clima e atribuíu a preocupação dos líderes globais não à sensatez, mas a uma "hipnose coletiva", um "apocalipse zumbi".  
 
Se tragédias como a do Rio Grande do Sul servem para alguma coisa, é para demonstrar que, embora pessoas como Bolsonaro, seus filhos e seus cúmplices odeiem os fatos, a realidade ainda é o único lugar onde é possível obter medidas de prevenção contra os desastres climáticos. Uma criança de cinco anos, com a mente ainda despolarizada, seria capaz e perceber que gente como Jair, Eduardo e Carlos Bolsonaro confunde amnésia com consciência limpa. A ex-primeira família aposta no tumulto. Quem não quiser fazer papel de bobo precisa se dar conta de que pessoas que nunca levaram em conta a realidade não merecem ser levadas em conta.
 
Com Josias de Souza