quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

DE VOLTA ÀS VIAGENS NO TEMPO

ASSIM COMO AS ÁGUAS DO MAR E DO RIO SE ENFRENTAM BRAVAMENTE NA FOZ, O NOVO E O VELHO TEMPO SE CHOCAM E SE MISTURAM.

Nossos ancestrais começaram a contar o tempo quando identificaram padrões no ciclo do dia e da noite, nas fases da Lua e nas mudanças das estações. Os primeiros calendários surgiram milênios antes da era cristã, e o Calendário Gregoriano, adotado atualmente pela maioria dos países, foi instituído em 1582, sucedendo ao modelo implementado por Júlio César em 46 a.C.

Embora o hoje seja o amanhã de ontem e o ontem de amanhã, o tempo não flui da mesma maneira para todos. De acordo com a Teoria da Relatividade — principal sustentáculos da física moderna —, tudo no Universo é relativo, exceto a velocidade da luz, que é constante e absoluta porque o tempo é relativo — ou seja, quanto mais depressa o observador se move, mais devagar o tempo passa para ele em relação a quem está parado. 

Não percebemos os efeitos da dilatação do tempo no dia a dia porque as velocidades que experimentamos são muito pequenas. Mas os relógios dos satélites que orbitam a Terra a 14.000 km/h atrasam 7 microssegundos/dia em razão da velocidade e adiantam 45 microssegundos/dia devido à gravidade — que é menor a 20.000 km de altitude. Se fosse possível acelerar uma espaçonave a 80% da velocidade da luz, 5 horas corresponderiam a 8 horas e 19 minutos pelo tempo terrestre. A 99,999999999% da velocidade da luz, a partida e a chegada seriam praticamente simultâneas, embora o tempo continuasse passando normalmente na Terra, como ilustra o paradoxo dos gêmeos

 

Observação: Até o século XVII, acreditava-se que a luz era "instantânea". Isso mudou em 1676, quando o astrônomo Ole Romer observou um atraso de 22 minutos nos eclipses das luas de Júpiter e estimou a velocidade da luz em 225.000.000 m/s — o valor correto, de 299.792.458 m/s, só foi determinado em 1926 pelo físico alemão Albert Michelson, que passou 25 anos aperfeiçoando o interferômetro. 

Considerando que o tempo "congela" quando o observador alcança a velocidade da luz, e retrocede a uma velocidade superluminal, os tripulantes da nossa hipotética nave desembarcariam quase instantaneamente em algum ponto no futuro ou no passado do calendário terrestre. Ainda que alguns astrofísicos sustentem que o tempo não para nem retrocede, apenas se dilata conforme a velocidade do observador aumenta, o conceito de tempo negativo deixou de ser mera ficção científica depois que pesquisadores da Universidade de Toronto, no Canadá, demonstraram sua existência física tangível. 

Mas nem tudo que é matematicamente possível é passível de ser comprovado na prática com a tecnologia de que dispomos atualmente. A sonda Parker Solar Probe — o objeto mais veloz lançado pelo homem até agora — atingiu respeitáveis 692.000 km/h no final do ano passado. Essa velocidade permite ir da Terra à Lua em menos de meia hora, mas uma viagem a Proxima Centauri, que fica a 4,2 anos-luz de nós (cerca 40 trilhões de quilômetros), demoraria cerca de 7.000 anos. 

Observação: Outro problema é que a massa relativística de um objeto aumenta conforme sua velocidade cresce e tende ao infinito quando ele se aproxima da velocidade da luz, exigindo uma quantidade igualmente infinita de energia para continuar acelerando. 

Se a velocidade da luz no vácuo é a própria velocidade do tecido do espaço-tempo e o limite universal segundo a física moderna, então jamais colheremos o fruto mais ambicionado da "árvore da relatividade de Einstein", certo? Talvez não. Basta lembrar que viagem que Cabral fez em 44 dias em 1500 hoje é feita por ar em cerca de 10 horas (o saudoso supersônico Concorde voou de Nova Iorque a Londres em 2 horas, 52 minutos e 59 segundos em 1996, mas foi aposentado por motivos de segurança em 2003).

Como veremos nos próximos capítulos, teorias inovadoras sugerem que viagens superluminais podem migrar da ficção para a realidade, se não nesta década ou na próxima, talvez no final do século. Se isso se confirmar, as próximas gerações poderão tomar um cafezinho com D. Pedro II, fazer uma excursão pela Roma Antiga ou mesmo conferir ao vivo e em cores se foi realmente um meteoro que extinguiu os dinossauros. 

Se a viagem tripulada à Lua — que Júlio Verne "profetizou" com riqueza de detalhes em 1865 — se tornou realidade, por que não as viagens no tempo, já que as equações de Einstein as admitem em cenários específicos?
 
Continua...

terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

CAUTELA E CANJA DE GALINHA...

A CURIOSIDADE MATOU O GATO.

Quanto mais discreto o ataque, mais eficaz, daí os cibercriminosos agirem "na surdina" para não levantar suspeitas. Uma maneira de passar despercebido é adulterar extensões para o Google Chrome para coletar informações — como token de acesso do Facebook e ID do usuário, por exemplo — e enviá-las, juntamente com os cookies da plataforma, para um servidor de comando e controle.

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

Na física, polos opostos se atraem, na política, se apresentam como antagonistas irreconciliáveis. Lula é o roto que critica o esfarrapado e Bolsonaro, o sujo tripudia do mal-lavado, mas ambos são populistas, demagogos, agentes da polarização — que os retroalimenta — e devotos de S. Francisco do Centrão ("é dando que se recebe), não porque o presidencialismo requer maioria no Congresso para aprovar projetos "de interesse público", mas porque presidentes incompetentes e ímprobos precisam das marafonas do Congresso para não acabarem como Collor (em 1992) ou Dilma (em 2016). 
Os espelhamentos não param por aí. Em 2018, o então ex-presidente presidiário esticou sua candidatura ficcional até o último minuto, e não conseguindo convencer Jaques Wagner a lhe servir de preposto, resignou-se a indicar Fernando Haddad como bonifrate (sempre existe um chinelo velho para um pé doente). Em 2026, essa tragicomédia tem grandes chances de ser reprisada, com Bolsonaro — que está inelegível até 2030 por duas decisões do TSE — no papel principal e com ainda-não-se-sabe-quem no papel de esbirro. 
Mas nada é tão ruim que não possa piorar: o deputado bolsonarista Bibo Nunes propôs reduzir de 8 para dois anos a inelegibilidade de políticos condenados por crimes eleitorais, e seu colega Hélio Lopes (também conhecido como Hélio Negão e Hélio Bolsonaro), vincular a inelegibilidade ao trânsito em julgado da sentença condenatória. 
Mesmo que as propostas sejam aprovadas na Câmara e no Senado, sua aplicação dependerá de análises do TSE — que pode avaliar a retroatividade ao julgar os pedidos de registro de candidatura — e do STF — que pode considerar as mudanças inconstitucionais ou entender que a redução do período de inelegibilidade tornará inócua a Lei da Ficha Limpa.
Se for condenado por abolição violenta do estado democrático de direito, golpe de estado, organização criminosa, venda das joias sauditas e fraude em cartões de vacinação, Bolsonaro pode pegar até 28 anos de prisão. Mas vale lembrar que Lula foi condenado a 25 anos por corrupção e lavagem de dinheiro (somadas as penas do caso do tríplex e do sítio), mas deixou a carceragem da PF após míseros 580 dias (6 das 11 supremas togas decidiram mudar as regras da prisão em segunda instância) e foi "descondenado" (com 5 anos de atraso, uma epifania revelou ao ministro Fachin que a 13ª Vara Federal de Curitiba não tinha competência territorial para julgar o pontifex maximus da Petelândia. 
Para bom entendedor, meia palavra basta.
 
O vetor de ataque inicial, que foi usado para adulterar extensões de ao menos 30 empresas — dentre as quais a Cyberhaven, que é voltada à prevenção de perda de dados —, evidencia que as técnicas dos cibercriminosos estão cada vez mais sofisticadas: um
 email de phishing tendo o Google como remetente avisava a empresa de que sua extensão seria removida por violar as políticas da Chrome Web Store. Quando alguém da equipe de desenvolvimento clicava no botão que supostamente dava acesso às políticas, entregava de bandeja o controle da extensão aos criminosos, que posteriormente publicaram versões manipuladas para fazer novas vítimas.

Em rio que tem piranha, jacaré nada de costas.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

CADA POVO TEM O GOVERNO QUE MERECE

QUANDO SE TEM 20 ANOS, A VIDA É UM MAPA RODOVIÁRIO; QUANDO SE CHEGA AOS 25, COMEÇA-SE A ACHAR QUE O MAPA DE CABEÇA PARA BAIXO; AOS 40, VEM A CERTEZA DISSO, E AOS 60, A PERCEPÇÃO DE QUE SE ESTÁ ABSOLUTAMENTE PERDIDO.

 

Durante a campanha pelo terceiro mandato, Lula prometeu "devolver a picanha e a cervejinha" aos depauperados, recolocar o Brasil nos trilhos do crescimento e pendurar as chuteiras chulezentas em janeiro de 2027. Eleito, disse que quer viver até os 120 anos e disputar mais umas 10 eleições (que deuses e demônios se unam para nos livrar de tamanha desgraça). Em 26 messes de gestão, detonou teto de gastos via assistencialismo eleitoreiro, ressuscitou a inflação e empurrou o dólar para a casa do R$ 6; hoje, seus índices de rejeição superam os de aprovação (algo inédito para o xamã-petista, que se orgulhava de eleger — como de fato elegeu — até postes). 
 
Em contraposição, contando com o ovo na cloaca da galinha — refiro-me a duas propostas de mudança na Lei da Ficha Limpa —, Bolsonaro fala como se fosse a última bolacha do pacote. Mesmo que o apoio do Centrão facilite a aprovação das PLs, é preciso observar o princípio da anterioridade eleitoral, sem falar que o TSE pode entender pela não-retroatividade, e o Supremo, considerá-las inconstitucionais.

 

São grandes as chances do "mito" de ser condenado a mais de 20 anos de prisão pelos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, organização criminosa, venda das joias sauditas e fraude em cartões de vacinação. Espera-se que o procurador-geral Paulo Gonet ofereça a denúncia já nas próximas semanas, e que o STF liquide a fatura entre outubro e novembro. Por outro lado, além de cega e surda, a Themis brasileira se tornou uma espécie de dogma: só acredita nela quem tem muita fé: Lula pegou 25 anos de cana (somadas as penas do caso do tríplex e do sítio), mas cumpriu míseros 580 dias e foi "descondenado" por uma sequencia de decisões teratológicas.
 
Em sua campanha eleitoreira antecipada pelo Nordeste, 
a autoproclamada "alma viva mais honesta do Brasil" disse que Bolsonaro perderia novamente se o enfrentasse em 2026, e que "não há possibilidade de a mentira ganhar a eleição no Brasil (pausa para as gargalhadas). Mas não há guerra dos bonés que dê jeito na comunicação de um gestor que, com a geladeira do Alvorada abarrotada de todas as iguarias que o déficit público pode pagar, mimetiza Maria Antonieta — a última rainha da França antes da Revolução Francesa, que teria recomendado aos franceses que não tinham pão que comessem brioches — e tenta culpar as vítimas pela carestia

Como falar besteira lhe é tão natural quanto respirar, o grande xamã da petralhada perorou para um bando de pacóvios amestrados que "na hora em que o dinheiro começar a circular na mão das pessoas, ninguém aqui vai comprar dólar, ninguém vai gastar no exterior". Se a ideia era atrair a sociedade para um combate conjunto à inflação, de duas, uma: ou falhou o conselheiro e novo mago da Esplanada, Sidônio Palmeira, ou o presidente abusou se sua descabida confiança nos improvisos. 

A culpa pela carestia pode ser da disparada do dólar, da alta dos juros, da volta da inflação, do desapreço do governo pelo controle dos gastos, enfim, mas jamais da população, que não tem tempo a perder com guerras de bonés e embates entre sujos e mal lavados. Nos casos mais crônicos, o brasileiro só tem tempo para certas horas — a hora do café, a hora do almoço, a hora do jantar. Quem convive com a sobra do mês no fim do salário sonha com o dia em que terá uma fome típica de presidente, dessas que se pode resolver simplesmente abrindo a geladeira do palácio.
 
A historiografia moderna já demonstrou que Maria Antonieta jamais pronunciou a frase que lhe foi atribuída, mas a declaração do Sun Tzu de Atibaia foi filmada e caiu nas redes como um brioche fornecido à oposição. Mas falto senso de ridículo ao bolsonarismo, pois a inflação dos alimentos foi ainda maior no governo do capetão — a fila do osso é parte da iconografia da Presidência do "mito".
 
Lá atrás, quando da edição do Plano Real, houve colaboração da população, mas a partir de uma solução objetivamente apresentada pelo governo. Aqui, a impressão é de que o governo quer tirar o corpo fora. Lula vem a público compartilhar sua indignação com a carestia (termo usado pelo PT quando era oposição) como se suas palavras tivessem o dom de se sobrepor aos fatos. O truque não funciona, a exemplo da estratégia de trazer de volta a figura de Roberto Campos Neto para culpar pela inflação que o ex-presidente do BC buscou conter com a anuência do sucessor indicado por Lula

Se quiser recuperar a confiança dos brasileiros, o macróbio precisa fazer jus à delegação recebida nas urnas, começando por assumir suas responsabilidades sem falácias, transferências ou maquiagens nas prefere flertar com a autocombustão jogando a inflação dos alimentos no colo das vítimas (com a ajuda do PT e até de Janja) quando ministério chefiado pelo petista Wellington Dias, que cuida do Bolsa Família está metido num caso que envolve dois contratos com ONGs de São Paulo — um, orçado em R$ 5,6 milhões, deveria fornecer comida a quem passa fome; outro, avaliado em R$ 5,2 milhões, levaria cursos de capacitação a quem rala por um emprego. Numa ponta está o ministro petista, na outra, entidades ligadas a petistas da notória família Tatto, com representantes na Câmara Federal e na Assembleia Legislativa de São Paulo. 

Junto com a inflação e a suspeita de corrupção veio a opacidade: o MP instaurou inquérito para investigar a recusa do governo em fornecer dados requisitados com base na Lei de Acesso à Informação — das despesas com a alimentação do Alvorada ao número de servidores mobilizados para assessorar a primeira-dama. Na campanha, Lula prometeu revelar por que Bolsonaro "escondia tanta coisa" sob o sigilo de 100 anos. Eleito, aderiu ao esconde-esconde. Sua situação não é tão crítica como foi durante o Mensalão ou enquanto ele esteve prisão, mas está longe de ser tranquila: além da crise de credibilidade e da popularidade declinante, o parteiro do Brasil Maravilha vê o Centrão amealhar cada vez com mais poder e convive com um paradoxo: se ceder ainda mais espaços no governo aos aliados de hoje, estará favorecendo sues adversários de amanhã.

Enfim, quem pariu Mateus que o embale (dizem que o certo é "quem pariu que mantenha e embale", mas o sentido é o mesmo). 

domingo, 9 de fevereiro de 2025

MAMINHA OU FRALDINHA?

TANTA GENTE IMPRESTÁVEL POR AÍ E OS RAIOS AINDA INSISTEM EM CAIR EM ÁRVORES.

 

A despeito da preferencia nacional dos churrasqueiros pela picanha (que anda pela hora da morte), a maminha, a fraldinha e, claro, o miolo de alcatra, não decepcionam, seja na brasa, seja no forno (para mais detalhes, clique aqui e aqui).

 

Apesar de serem "pinga da mesma pipa", a maminha costuma ser mais macia que a fraldinha (desde que cortada no sentido contrário ao das fibras), e fica excelente em bifes, no forno ou na panela. Ambas são suculentas, saborosas, grelham rápido — o que as torna opções prática para matar a fome dos apressadinhos —, e podem ser temperadas apenas com sal e pimenta-do-reino. As marinadas não trazem benefícios significativos para o sabor, mas você pode acrescentar salsinha e cebolinha desidratadas, tomilho, alecrim, pimenta calabresa e outras especiarias.
 
Para uma carne suculenta, macia e saborosa é importante escolher uma peça de maminha de formato triangular, com capa de gordura e algum grau de marmoreio (gordura entremeada nas fibras da carne), ou a chamada Fraldinha RED, que vem sem a capa de gordura. A cor vermelha-vibrante é sinal de frescor — uma cor muito escura pode ser sinal de má-conservação ou deterioração (e a esverdeada indica bactérias em franca proliferação).

O ponto é uma questão de preferência pessoal, mas carne muito passada perde a maciez e a suculência, além de produzir glicotoxina — substância relacionada a obesidade, diabetes e demência — e outros compostos que induzem o aparecimento de células cancerígenas.  

Para preparar uma deliciosa maminha na cerveja preta, você vai precisar de:
 
— 1 peça de maminha (cerca de 1 kg);
 
— 5 colheres (sopa) de molho de tomate;
 
— 3 dentes de alho;
 
— 1 pacote de creme de cebola;
 
— Cerveja preta (350 ml);
 
— Sal e salsinha picada a gosto.
 
1) Amasse o alho em um pilão, transfira-o para uma tigela, junte o creme de cebola, a cerveja preta, o molho de tomate, a salsa picadinha, misture bem e ajuste o ponto do sal. 
 
2) Regue o fundo de uma panela de pressão com um fio de azeite, aqueça em fogo médio e sele a carne por todos os lados. Quando estiver bem douradinha, acrescente molho que você preparou, tampe a panela, espere pegar pressão, baixe o fogo e deixe cozinhar por cerca de uma hora.
 
4) Fatie a carne como desejar e sirva com a guarnição de sua preferencia (sugiro farofa de ovo e batatas fritas).
 
Dica: Caso o seu fogão seja muito potente, desligue o fogo com menos tempo (para a carne não queimar) e, se necessário, acrescente um pouquinho de água e deixe cozinhar na panela destampada até a água secar.
 
Bom apetite.

sábado, 8 de fevereiro de 2025

EXOPLANETA NA "CACHINHOS DOURADOS"

SE O UNIVERSO É INFINITO, SEM CONTORNO NEM BORDA, ELE NÃO TEM INÍCIO NEM FIM, ELE SIMPLESMENTE É. NESSE CASO, QUAL SERIA O PAPEL DE UM CRIADOR?

 

Seguido o periódico Astronomy & Astrophysics, pesquisadores da Universidade de Genebra descobriram um exoplaneta habitável a 19,7 anos-luz da Terra. Considerando que a luz se propaga a 1,08 bilhão de quilômetros por hora, um ano-luz corresponde a cerca de 9,5 trilhões de quilômetros, logo, o corpo celeste em questão fica a 187,15 trilhões de quilômetros da Terra. 
 
Essa distância é ínfima em termos cósmicos — Gliese 12 b, um outro humilde rochedo aparentemente apto a abrigar vida, fica a 40 anos-luz de nós —, mas a sonda espacial mais veloz lançada até agora, que cravou 692 mil km/h no final do ano passado, levaria 30.852 anos para percorrer, e isso se mantivesse sua velocidade máxima durante toda a jornada, o que dificilmente aconteceria devido a fatores como resistência gravitacional e falta de propulsão contínua.
 
Na astronomia, a zona habitável é chamada de "Cachinhos Dourados" — uma alusão ao conto infantil homônimo, no qual a protagonista não gosta do mingau doce como o do bebê urso nem salgado como o do papai urso, mas "no ponto certo", como o da mamãe ursa. Essa região é considerada habitável porque planeta recebe tanta luz de sua estrela quanto a Terra recebe do Sol, e a temperatura em sua superfície permite a existência de água em estado líquido.
 
Batizado com o código HD 20794 d, o exoplaneta tem uma órbita excêntrica — ou seja, o trajeto que ele faz ao orbitar sua estrela é elíptico, alternando entre momentos de grande aproximação e de grande afastamento. No ponto mais próximo da estrela, sua orbita é de 0,75 UA — uma "unidade astronômica" equivale à distancia média entre a Terra e o Sol, que é de 149,5 mil quilômetros — no ponto mais próximo da estrela, e de 2 UA no ponto mais distante.


Embora todo planeta percorra um caminho elíptico, a translação da Terra é quase um círculo — as estações do ano se devem à inclinação do eixo de rotação —, o que a mantém sempre dentro da zona habitável do nosso sistema solar. Já HD 20794 d entra e sai de sua zona habitável ao longo do ano, que dura cerca de 600 dias. Assim, caso exista água em sua superfície, ela se alterna entre os estados sólido e o líquido.
 
Ainda é impossível saber exatamente como a variação na órbita impacta o clima do planeta, já que tudo depende das características de sua atmosfera. Uma grande concentração de gases de efeito estufa, por exemplo, pode reter calor e impedir que o frio se torne insuportável em dias mais "marcianos".
 
A primeiro planeta fora de nosso sistema solar foi descoberto em 1995 pelos pesquisadores Michel Mayor e Didier Queloz, também da Universidade de Genebra, que foram laureados com o Nobel de Física de 2019. Desde então, mais de 7 mil exoplanetas foram catalogados, mas é difícil obter informações detalhadas sobre eles. Tradicionalmente, os astrônomos inferem o tamanho desses corpos celestes a partir da sombra produzida quando eles passam diante de suas estrelas, mas observá-los diretamente é outra conversa.
 
HD 20794 d está próximo o suficiente para que alguns telescópios high tech possam vê-lo, mas um instrumento chamado espectrógrafo, capaz de decompor e analisar a luz que atravessa a atmosfera do planeta, permite obter informações sobre sua composição química. Resta saber se existe oxigênio, embora isso não seja um pré-requisito para a existência de vida, já que a atmosfera terrestre não tinha quantidades relevantes de O2 quando surgiram os primeiros microrganismos. 

SOBRE PAPAS E ESCÂNDALOS (FINAL)

TALVEZ EXISTA UM DEUS, MAS EU DUVIDO QUE SEJA O DEUS QUE MOISÉS DESCREVEU NO VELHO TESTAMENTO E QUE AS RELIGIÕES PERPETUARAM POR INTERESSES ESCUSOS.

Durante o Renascimento, Inocêncio VIII (r. 1484-1492) e Leão X (r. 1513-1521) abusaram de indulgências para financiar seus luxos e campanhas militares, mas o caso mais notório foi o de Rodrigo Bórgia, nomeado cardeal pelo tio Calisto III e eleito papa no conclave de 1492, quando passou a atender por Alexandre VI

Seus filhos Cesare Lucrécia foram a personificação do nepotismo e da corrupção — ele abandonou o cardinalato para se tornar um líder militar implacável (inspirando Maquiavel a escrever O Príncipe), enquanto ela foi usada como peça de barganha nas alianças do clã, mediante conspirações e casamentos políticos. 

Apesar da fama de cruel e manipuladora, Lucrécia era uma administradora habilidosa e mecenas das artes. Seus atributos negativos podem ter sido exagerados por desafetos e pela propaganda anticlerical da época. Como peça fundamental nas alianças políticas dos Bórgia, ela foi casada três vezes, sempre de acordo com os interesses de sua família. Seu primeiro marido, Giovanni Sforza, foi descartado quando deixou de ser útil; o segundo, Alfonso de Aragão, assassinado em circunstâncias suspeitas (supõe-se que a mando de seu irmão, Cesare Bórgia); o terceiro, Alfonso d’Este, garantiu-lhe uma vida mais estável e respeitável. Apesar das acusações de envenenamento e incesto, sua fama de femme fatale parece ter sido mais fruto da lenda do que da realidade.

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

Há situações em que virar a página não basta. É preciso arrancá-la. O terceiro mandato de Lula é uma delas, pois prova que eguns mal despachados sempre voltam para nos assombrar. 

Diz um velho ditado que a justiça tarda, mas não falha, No Brasil, ela nem sempre chega, e, quando chega, pode pode mudar de ideia. Foi o que aconteceu com a condenação de Lula, depois que uma epifania revelou ao ministro Fachin, com cinco anos de atraso, que a 13ª Vara Federal de Curitiba não era a vara competente para processar, julgar e condenar o xamã petista. 

Bolsonaro é outro egun mal despachado. Ele fala como se não estivesse inelegível e já fosse candidato à presidência em 2026. Por mal dos nossos pecados, o PL definiu como prioridade a aprovação do Projeto de Lei Complementar 141/2023, que esvazia a Lei da Ficha Limpa e reduz de 8 para 2 anos o período de inelegibilidade dos condenados por abuso de poder político, como é o caso do refugo da escória da humanidade.

Bolsonaro e outros 39 aspirantes a golpistas estão na bica se tornarem réus no STF. Se for condenado pela 1ª turma por abolição do estado democrático de direito, roubo e venda de joias do acervo da União e falsificação de cartões de vacina contra Covid, o ex-mandatário pode ser agraciado com até 28 anos de prisão. 

As chances de votos divergentes seriam maiores no plenário, já que André Mendonça e Nunes Marques devem suas togas ao capetão. Mas o ministro Luís Roberto Barroso, presidente de turno da Corte, deixou claro que o caso só irá a plenário se o relator (Alexandre de Moraes) assim o desejar. 


Liderada por Martinho Lutero em 1517, a revolta protestante resultou na fragmentação do cristianismo ocidental. O Concílio de Trento (1545-1563) tentou reformar a Igreja, mas a estrutura de poder permaneceu intacta. Com a Revolução Francesa (1789) e a unificação da Itália (1870), o poder político dos pontífices foi reduzido, e o fim dos Estados Papais limitou a Igreja às questões espirituais. Mesmo assim, sua influência persistiu, apesar dos escândalos financeiros e de abusos sexuais que abalaram sua credibilidade do Vaticano.
 
Atualmente, a Igreja Católica tende ao conservadorismo, mas sua história de corrupção e ingerência política continua a influenciar o mundo ocidental — com a omissão de Pio XII diante do avanço do nazismo durante a 2ª Guerra Mundial. A renúncia de Bento XVI, em 2013, foi a primeira desde 1415, quando Gregório XII abdicou ao Trono de Pedro o Concílio de Constança. O primeiro papa a abdicar foi Ponciano (r. 230-235), que foi exilado na Sardenha e morreu em decorrência dos maus-tratos impostos pelo imperador Máximo, e o penúltimo foi Gregório XII (r. 1406-1415), que renunciou para pôr fim à crise que levou a Igreja a ter até três papas disputando a autoridade máxima simultaneamente. 
 
Voltando agora à morte de João Paulo I, o Vaticano informou que sua santidade sofreu um ataque cardíaco enquanto dormia, que seu corpo foi encontrado pela manhã pelo bispo irlandês John Magee, seu secretário pessoal, e que a família se opôs à autópsia. Mais adiante, soube-se que quem encontrou o cadáver foi uma das freiras que cuidavam de afazeres domésticos (e que fez voto de silêncio), que o papa morreu no escritório e que o laudo da autópsia não foi divulgado porque acusou envenenamento. Somada ao breve pontificado (33 dias), essa sequencia de contradições, erros e imprecisões deram azo a diversas teorias conspiratórias. 
 
Passados mais de 40 anos, o mafioso Antoni Raimondi, sobrinho de Lucky Luciano, revelou em seu livro de memórias que envenenou o papa a mando do arcebispo norte-americano Paul Marcinkus, seu primo e então presidente do Banco do Vaticano, para evitar que um fraude financeira bilionária viesse a público. Em In God's Name, o escritor britânico David Yallop anota que plano era drogar o chá que o pontífice tomava antes de dormir, entrar em seus aposentos e lhe administrar uma dose letal de cianeto (versão foi dramatizada por Mario Puzzo e Francis Ford Copolla no terceiro capítulo da imperdível trilogia "The Godfather"), e que o Marcinkus se encarregou pessoalmente dessa tarefa.
 
Marcinkus começou sua carreira como secretário de Estado em Roma e presidiu o Banco do Vaticano de 1971 até 1989. Foi investigado por envolvimento com ações falsas avaliadas em mais de 13 milhões de euros, por participação no escândalo do colapso do Banco Ambrosiano e pelo assassinato do banqueiro Roberto Calvi e do jornalista Mino Pecorelli. Mas as investigações não seguiram adiante por falta de provas de provas, e ele morreu aos 84 anos, no Arizona, sem jamais ter sido formalmente acusado. 
 
Ao longo da história, o nepotismo tem sido uma prática tão comum quanto condenável. Desde os tempos antigos, líderes políticos, religiosos e monarcas favoreceram parentes com cargos, títulos e privilégios, frequentemente à revelia da competência ou do interesse público. O termo, aliás, tem raízes na Igreja Católica, onde papas concediam benesses a sobrinhos ("nipoti"), consolidando um sistema que perduraria por séculos. Mais recentemente, o termo "nepobaby" passou a ser usado para aludir a filhos/parentes de pessoas famosas, que prosperam na carreira graças ao vínculo familiar.
 
Os papas transformaram o nepotismo em arte — caso mais notório foi o de Alexandre VI, mas Júlio IIPaulo III e tantos outros seguiram o mesmo roteiro, distribuindo bispados e fortunas a parentes, muitas vezes sem o menor escrúpulo —, mas muitas monarquias seguiram suas pegadas, garantindo que o sangue valesse mais do que a capacidade. No absolutismo francês, a nobreza se perpetuava com privilégios herdados, enquanto o povo arcava com os custos da corte. No Império Otomano, o sistema de sucessão frequentemente envolvia intrigas e assassinatos dentro da própria família real para garantir que o poder ficasse em mãos "seguras".
 
Com a ascensão das democracias, esperava-se que o mérito finalmente superasse os laços de sangue, mas o nepotismo se adaptou, e dinastias familiares continuam garantindo que o poder permaneça entre os seus — como bem sabe quem acompanha a abjeta política tupiniquim. Nos setores privado e público, filhos de empresários e apadrinhados políticos recebem vantagens que não raro os colocam à frente de candidatos mais qualificados. 
Afinal, vícios e velhos hábitos são difíceis de erradicar.


sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025

SEM TPM

NÃO HÁ MAL EM MUDAR DE OPINIÃO, DESDE QUE SEJA PARA MELHOR.

 

Dentre as restrições que a Microsoft impôs à instalação do Windows 11 em máquinas antigas, o chip TPM 2.0 era um requisito "inegociável". Como 60% dos PCs mundo afora ainda rodam o Win 10  que deixará de ser suportado em outubro próximo —, a empresa incluiu em seu site informações detalhadas sobre como burlar essa exigência e fazer o upgrade, bem como o passo a passo para revertê-lo em caso de incompatibilidade. 

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

Quando se ouve Lula e seus ministros falarem sobre o que se pretende fazer em Brasília para baixar o preço dos alimentos vem à mente o personagem Rolando Lero, que, quando não sabia a resposta à pergunta, enrolava o professor Raimundo com uma fieira de frases vazias. Está assim o governo desde que se deu conta do efeito nefasto da inflação no humor das pessoas. Nem se pode dizer que o Planalto dormiu no ponto, mas, ao dizer que "ainda é cedo" para a população fazer uma avaliação justa de sua (indi)gestão, Lula sugere apenas um leve despertar. A crise do Pix provocou uma perda expressiva de apoio no Nordeste, mas não foi suficiente para um alinhamento de posições. As autoridades dizem cada qual uma coisa diferente para "explicar" como vai se dar a solução e, ao final da explanação, ficamos na mesma sobre o rumo a ser seguido. O macróbio só foi assertivo ao se negar a adotar uma política mais austera nas contas a fim de assegurar a estabilidade econômica, dando de ombros para o risco inflacionário das escolhas equivocadas. Gilberto Kassab, que não é de desperdiçar palavras, foi ao ponto: "governo sem ministro da Fazenda forte é governo fraco; nas condições de hoje, Lula perderia a eleição — o que, dependendo de quem o derrotasse, seria um refrigério para o Brasil. Enfim, sonhar ainda é de graça.

 

Com o lançamento da atualização 24H2 do Win 11, a Gigante do Software suprimiu "sigilosamente" a ferramenta que criava a chave de Registro destinada a contornar a exigência do chip TMP 2.O, permitindo a instalação do sistema em máquinas mais antigas. Até então, quando o assistente de instalação exibia a tela de incompatibilidade com o Windows 11, podia-se abrir o prompt de comando com o atalho Shift + F10, digitar regedit.exe, localizar a chave  HKEY_LOCAL_MACHINE\SYSTEM\Setup\MoSetup e criar uma DWORD com o nome AllowUpgradesWithUnsupportedTPMOrCPU, modificar o tipo para REG_DWORD e configurar o valor para 1.

 

Quem dormiu no ponto terá de recorrer a um método "não oficial" para instalar o Win 11 em PCs não compatíveis — ou seja, sem chip TPM 2.0 —, ou pagar US$ 30 por um ano adicional de atualizações de segurança para o Win 10 (lembrando que novos recursos, correções de bugs e suporte técnico não fazem parte do pacote), caso não possa (ou não queira) adquirir um computador novo, com a versão atual do sistema pré-instalada pelo fabricante. 
 
Vale lembrar que o Windows 12 (ou seja lá qual for o nome dele) já está no forna do empresa de Redmond, e também fará essa exigência (ou exigirá uma versão aprimorada do chip TPM).

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

AINDA SOBRE PAPAS E ESCÂNDALOS

MEIAS VERDADES BEM CONTADAS PODEM LEVAR ALGUÉM A CULPAR O INOCENTE E APLAUDIR O MENTIROSO.

 

Poder e corrupção sempre andaram de mãos dadas. Na Igreja Católica, a ascensão política e econômica se deu através de alianças com impérios, manipulação de monarcas, interesses escusos e casos de corrupção de deixar a banda podre do Congresso Nacional se roendo de inveja. Mas nada se compara ao pontificado de Alexandre VI (r. 1492-1503), que foi marcado por acusações de nepotismo, promiscuidade, simonia e corrupção. Não à toa, ele é lembrado como o papa mais corrupto de todos os tempos (detalhes nesta postagem).

Pedro, cujo nome original era Simão, foi o primeiro chefe da Igreja Católica, mas jamais recebeu o título de "papa" e foi crucificado por ordem do imperador Nero, o déspota crossdresser, cruel e violento que governou Roma de 54 a 68 e, dizem as más-línguas, assistiu ao grande incêndio dedilhando sua lira e cantando. 

Depois que Calígula foi assassinado, Cláudio subiu ao trono e se casou com Agripina, mãe de Nero, que já tramava a ascensão do filho ao trono imperial. Com a morte "misteriosa" do marido e Nero no poder, a maquiavélica achou que seria a éminence grise, mas morreu esfaqueada a mando do filho, que se suicidou quando o Senado o declarou inimigo público.
 
Nos primeiros séculos do cristianismo, a Igreja conviveu com a perseguição romana. Em 313, o imperador Constantino legalizou a fé cristã, e Silvestre I assumiu o papado no ano seguinte. Com a queda do Império Romano do Ocidente (476), os papas passaram a atuar como líderes políticos, e a Igreja se tornou a instituição mais poderosa da Europa, detendo, inclusive, o poder de coroar e excomungar reis. 

A rivalidade entre pontífices e governantes era flagrante, e a simonia (comercialização de cargos eclesiásticos) e a interferência na política feudal, tão corriqueiras quanto a corrupção na política dos dias atuais. Leão I (r. 461-468) ficou conhecido por convencer Átila a não saquear Roma em troca de uma pilha de saques. Formosus (r. 891-896) foi exumado em 897, vestido com trajes completos, sentado em um trono papal, levado a julgamento e condenado, seus éditos papais foram considerados inválidos, os dedos que ele usava para oficiar sacramentos foram decepados. Seus restos mortais foram jogados no rio Tibre.
 
Consta que o papa João (r. 855-877) teria sido uma mulher, mas não há provas que sustentem essa versão. Em 964, cansados do comportamento corrupto e venal dos pontífices, os romanos guindaram Bento V ao Trono de Pedro, mas ele renunciou quando o Rei Otto elegeu Leão VIII como "antipapa". Já Bento IX foi papa em três ocasiões entre 1032 e 1048 e o
 primeiro a vender papado.
 
Vários papas morreram dias ou semanas depois do conclave — entre os quais Estêvão (752), Damásio II (1048) e Celestino IV (1241) —, mas o reinado mais breve da história foi o de Urbano VII (1590), que durou apenas 12 dias. 

João Paulo I foi encontrado morto em seus aposentos 33 dias após a unção. Na véspera, dizem, ele havia confidenciado a seu secretário que "alguém mais forte e que merecia estar em seu lugar sentou-se a sua frente durante o conclave". Esse alguém era o cardeal polonês Karol Wojtyla, que se tornou João Paulo II (mais detalhe no próximo capítulo).