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sexta-feira, 2 de dezembro de 2022

LULA NO PAÍS DAS MARAVILHAS

 

A derrota de Bolsonaro foi um alívio. O mal que sua passagem pelo Planalto causou ao país foi inominável e o comportamento de seus acólitos extremistas, execrável. Mas nem tudo são flores. 


Depois de ir ao Egito de carona com o fundador da Qualicorp e dono da Qsaúde, o presidente eleito — que sequer tomou posse — viajou de São Paulo a Brasília num jatinho da empresa Millennium Locadora, que já figurou em confusões envolvendo os governadores do Amazonas Amazonino Mendes e Wilson LimaÉ preocupante ver o futuro mandatário repetindo "erros" cometidos no passado e a cambada que apoiou sua volta, disputando a tapa uma boquinha na futura administração. 


A principal excentricidade da crise atual é a delinquência acéfala, a máfia sem capo abateu prontamente a penúltima manobra golpista ao rejeitar o "esdrúxulo e ilícito pedido" do PL e multar o partido em R$ 22,9 milhões por litigância de má-fé. No entanto, mesmo acertando no ritmo e no tamanho da paulada, "Xandão" mandou a conta para o contribuinte — seria mais justo se o CNPJ do PL fosse trocado pelo CPF de Valdemar Costa Neto e de Jair Bolsonaro, mas o bunker do golpe opera num mundo próprio, onde a República virou monarquia e a imunidade reina no planalto central.
 
Em 2018, o "mito" dos atoleimados prometeu combater a corrupção e o toma-lá-dá-cá na política, mas não fez nem uma coisa nem outra. Seus apoiadores lobotomizados ecoam a falácia de que não houve uma única denúncia de corrupção durante a gestão de seu ídolo, mas são desmentidos pelos fatos

Houve casos de corrupção em áreas estratégicas, como Saúde e Educação, bem como pastores cobrando propina em barras de ouro e dinheiro em pneus, sem mencionar as famosas rachadinhas e a compra de imóveis com dinheiro vivo por Bolsonaro e seu clã. O relatório produzido pela CPI da Covid propôs o indiciamento de 78 pessoas e atribuiu pelo menos 9 crimes ao capetão. 

Mais recentemente, o MPF abriu 33 investigações sobre repasses de dinheiro para prefeituras de municípios maranhenses. As investigações começaram a partir de uma nota técnica do Ministério da Saúde feita em setembro, segundo a qual foram gastos R$ 21 milhões com tratamento pós-Covid em todo o Brasil. As prefeituras das 33 cidades maranhenses abocanharam 93% desse total, a pretexto de ter havido 1,1 milhão de atendimentos pós-Covid neste ano, a despeito de todo o resto do país ter notificado cerca de 200 mil terapias. 
 
A boa notícia é que falta menos de um mês par Bolsonaro ir com Deus paro diabo que o carregue. A má notícia é que Lula não terá os cem dias de tolerância que uma lei consuetudinária, mas respeitada na política, concede a toda nova gestão. Primeiro, porque o verdugo do Planalto se autoconverteu num caso raro de ex-presidente ainda no exercício da Presidência; segundo, porque, com o país acéfalo, o ex-presidiário descondenado e reconduzido ao Planalto teve de entrar em campo mais cedo e já preside sua primeira crise. 

Do PL de Bolsonaro ao PT de Lula, todos se renderam ao charme de Arthur Lira. A dois meses da eleição interna, o presidente da Câmara já garantiu um segundo mandato com o apoio de ao menos 15 partidos e mais de 300 votos. Pelo menos, o pagador de impostos não será mais enganado. Essa é a verdadeira democracia brasileira, não a simulada durante a campanha eleitoral, quando os protagonistas do duelo nacional, com apoio de suas militâncias e das redes sociais, arrastaram o país para uma polarização teatral — polarização fabricada, mas que muitas vezes é levada a sério por parentes, amigos e colegas de trabalho, maconheiros ou patriotas.


Nosso guerreiro Alexandre de Moraes poderá, finalmente, descansar de sua épica batalha contra caminhoneiros, tias do zap e blogueiros golpistas. Lira é garantia de estabilidade institucional. Assim como engavetou mais de 150 pedidos de impeachment contra Bolsonaro, prolongando a tragédia da pandemia, nosso Ulysses decaído garantiu um orçamento de guerra para amenizar a dor das famílias, e garantirá que o Brasil de Lula também não passe por turbulências, desde que o petista não mexa em seu butim. Nem ele nem ninguém, use toga ou não.


Para os fãs do futebol e da seleção canarinho, resta torcer pela vitória do escrete tupiniquim no jogo contra o time de Camarões. Afinal, o povo precisa de pão e circo. O pão está pela hora da morte, mas o circo vem sendo transmitido ao vivo pela rede Globo. Cerveja, picanha e salgadinhos são cobrados à parte.

 
Com Josias de Souza

sábado, 30 de julho de 2022

O DESEMPREGADO QUE DEU CERTO (SÉTIMA PARTE)

 

Um dia após a divulgação da carta em defesa da democracia, o número de signatários passou de 3 mil para 100 mil. No dia 29, já eram mais de 300 mil. Num primeiro momento, Bolsonaro tripudiou: "Não precisamos de 'cartinha' em favor da democracia". Mais adiante, porém, publicou sua própria carta: "Carta de manifesto em favor da democracia. Por meio desta, manifesto que sou a favor da democracia. Assinado: Jair Messias Bolsonaro, presidente da República Federativa do Brasil". Foram apenas 27 palavras, mas, segundo o historiador e youtuber Marco Antonio Villa, o vocabulário do presidente é limitado a 500 verbetesDito isso, passo à postagem do dia:


Em fevereiro de 1995, época áurea do Plano Real, Dilma Vana Rousseff abriu uma lojinha de bugigangas nos moldes das populares casas de $ 1,99. Batizado de Pão & Circo, o negócio em gestação cumpriu a liturgia comercial habitual. Ao registro do CNPJ na Junta Comercial seguiu-se o aluguel de um imóvel em Porto Alegre (RS) para instalar a matriz. A filial foi erguida 4 meses depois no centro comercial Olaria, também na capital gaúcha. 


O problema é que a "gerenta" que cuidou da contabilidade da empresa era a mesma que lidaria mais adiante com as finanças do país. A loja quebrou em apenas 17 meses; o Brasil continua resistindo, mas nada garante que sobreviva a mais 4 anos de bolsonarismo boçal ou à volta do lulopetismo corrupto (conforme o resultado das urnas em outubro próximo).

 

Tocar uma lojinha de quinquilharias baratas deveria ser algo trivial, principalmente para alguém que, 15 anos depois, Lula apresentaria aos eleitores como a "gerentona" capaz de manter o Brasil no rumo do desenvolvimento. Mas, ao administrar seu comércio, a mulher sapiens cometeu erros banais e em sequência. E qualquer semelhança com a barafunda administrativa do país e os equívocos cometidos na área econômica a partir de 2010, que levaram ao desequilíbrio completo das contas públicas e à irresponsabilidade fiscal, não foi mera coincidência. 

 

Para começar, a loja foi aberta sem que os donos soubessem ao certo o que seria comercializado ali. A empresa foi registrada para vender de tudo um pouco a preços módicos, entre bijuterias, confecções, eletrônicos, tapeçaria, livros, bebidas, tabaco e até flores naturais e artificiais, mas acabou apostando no comércio de brinquedos para crianças, em especial os "Cavaleiros do Zodíaco". Os artigos eram importados de um bazar localizado no Panamá, para onde a sumidade e uma de suas sócias — a ex-cunhada Sirlei Araújo — viajaram três vezes para comprar os produtos. No entanto, apesar do baixo preço das mercadorias, o negócio da Pão & Circo era impopular — tão impopular quanto a própria Dilma se tornaria ao longo de seu aziago governo. 

 

Ao abrir a vendinha, Dilma não levou em conta que o olho do dono engorda o porco. Ela só aparecia por lá eventualmente, preferindo dar ordens e terceirizar as tarefas do dia a dia — como fez mais adiante no governo, ao delegar a economia ao ministro Joaquim Levy e a política a Michel Temer. Na sociedade da Pão & Circo, era Carlos Araújo, ex-marido de Dilma, que a aconselhava sobre como turbinar as vendas. Mas ele era tão inepto quanto ela seria anos depois, por ocasião da negociata de Pasadena.

 

Durante as duas primeiras gestões petistas, Dilma foi presidenta do Conselho de Administração da Petrobras nos períodos em que respondeu pela pasta de Minas e Energia (2003-2005) e chefiou a Casa Civil (2005-2010). Nesse entretempo, a petrolífera tupiniquim pagou US$360 milhões por metade de uma refinaria que um ano antes havia sido comprada pela empresa belga ASTRA OIL por US$40,5 milhões, e uma decisão judicial a condenou a comprar a outra metade da sucata, o que resultou num prejuízo de US$ 1,18 bilhão


Como de costume, Lula e sua pupila negaram conhecimento da maracutaia. Dilma atribuiu o monumental prejuízo a "riscos subestimados e decisões equivocadas", afirmou que o negócio só foi aprovado porque "cláusulas fundamentais lhe eram desconhecidas" e botou a culpa em Nestor Cerveró — que, curiosamente, não foi punido, mas promovido a diretor financeiro da BR DistribuidoraMais adiante, Lindinho” — como Cerveró era chamado por seus comparsas devido à blefaroptose — declarou aos investigadores da Lava-Jato que a campanha de Lula à reeleição teria sido financiada com propina paga pelo contrato dos navios-sonda Petrobras 10.000 e Vitória 10.000, que custaram US$1,2 bilhão (valor equivalente ao da compra da igualmente inútil refinaria de Pasadena). 


Ao alegarem que foram ludibriados, Lula e Dilma reconheceram sua total inadequação aos cargos que ocupavam, e creditar nessa falácia demonstra uma indescritível ingenuidade. Mas num país onde Lula e Bolsonaro disputam pesquisa a pesquisa a preferência do esclarecidíssimo eleitorado, dizer o quê?


Mesmo assim, "o Pacheco de terninho" (detalhes no próximo capítulo) teve uma carreira meteórica: Sem saber atirar, virou modelo de guerrilheira; sem ter sido vereadora, virou secretária municipal; sem passar pela Assembleia Legislativa, virou secretária de Estado, sem estagiar no Congresso, virou ministra; sem ter inaugurado nada de relevante, fez posse de gerente de país; sem saber juntar sujeito e predicado, virou estrela de palanque; sem jamais ter tido um único voto na vida até 2010, virou presidente do Brasil. 
Quatro anos depois, mediante o maior estelionato eleitoral da história (que só seria superado em 2018 pelo "mito" dos bolsomínions), a calamidade em forma de gente renovou o mandato, mas acabou afastada do cargo em maio de 2016 e penabundada em agosto, depois de levar o país à insolvência, a inflação à casa dos 2 dígitos e o desemprego à das dezenas de milhão.


Vale relembrar o pronunciamento da petista em rede nacional, em janeiro de 2013, dando conta de que "a economia ia de vento em popa" e concitando os apedeutas a reelegê-la no ano seguinte:


Queridas brasileiras e queridos brasileiros,

Acabo de assinar o ato que coloca em vigor, a partir de amanhã, uma forte redução na conta de luz de todos os brasileiros. Além de estarmos antecipando a entrada em vigor das novas tarifas, estamos dando um índice de redução maior do que o previsto e já anunciado. A partir de agora, a conta de luz das famílias brasileiras vai ficar 18% mais barata. É a primeira vez que isso ocorre no Brasil, mas não é a primeira vez que o nosso governo toma medidas para baixar o custo, ampliar o investimento, aumentar o emprego e garantir mais crescimento para o país e bem-estar para os brasileiros. Temos baixado juros, reduzido impostos, facilitado o crédito e aberto, como nunca, as portas da casa própria para os pobres e para a classe média. Ao mesmo tempo, estamos ampliando o investimento na infraestrutura, na educação e na saúde e nos aproximando do dia em que a miséria estará superada no nosso Brasil.

No caso da energia elétrica, as perspectivas são as melhores possíveis. Com essa redução de tarifa, o Brasil, que já é uma potência energética, passa a viver uma situação ainda mais especial no setor elétrico. Somos agora um dos poucos países que está, ao mesmo tempo, baixando o custo da energia e aumentando sua produção elétrica. Explico com números: como acabei de dizer, a conta de luz, neste ano de 2013, vai baixar 18% para o consumidor doméstico e até 32% para a indústria, a agricultura, o comércio e serviços. Ao mesmo tempo, com a entrada em operação de novas usinas e linhas de transmissão, vamos aumentar em mais de 7% nossa produção de energia, e ela irá crescer ainda mais nos próximos anos. Esse movimento simultâneo nos deixa em situação privilegiada no mundo. Isso significa que o Brasil vai ter energia cada vez melhor e mais barata, significa que o Brasil tem e terá energia mais que suficiente para o presente e para o futuro, sem nenhum risco de racionamento ou de qualquer tipo de estrangulamento no curto, no médio ou no longo prazo. No ano passado, colocamos em operação 4 mil megawatts e 2.780 quilômetros de linhas de transmissão. Este ano, vamos colocar mais 8.500 megawatts de energia e 7.540 quilômetros de novas linhas. Temos uma grande quantidade de outras usinas e linhas de transmissão em construção ou projetadas. Elas vão nos permitir dobrar, em 15 anos, nossa capacidade instalada de energia elétrica, que hoje é de 121 mil megawatts. Ou seja, temos contratada toda a energia que o Brasil precisa para crescer, e bem, neste e nos próximos anos.

O Brasil vive uma situação segura na área de energia desde que corrigiu, em 2004, as grandes distorções que havia no setor elétrico e voltou a investir fortemente na geração e na transmissão de energia. Nosso sistema é hoje um dos mais seguros do mundo porque, entre outras coisas, temos fontes diversas de produção de energia, o que não ocorre, aliás, na maioria dos países. Temos usinas hidrelétricas, nucleares, térmicas e eólicas, e nosso parque térmico, que utiliza gás, diesel, carvão e biomassa foi concebido com a capacidade de compensar os períodos de nível baixo de água nos reservatórios das hidrelétricas. Praticamente todos os anos as térmicas são acionadas, com menor ou maior exigência, e garantem, com tranquilidade, o suprimento. Isso é usual, normal, seguro e correto. Não há maiores riscos ou inquietações.

Surpreende que, desde o mês passado, algumas pessoas, por precipitação, desinformação ou algum outro motivo, tenham feito previsões sem fundamento, quando os níveis dos reservatórios baixaram e as térmicas foram normalmente acionadas. Como era de se esperar, essas previsões fracassaram. O Brasil não deixou de produzir um único quilowatt que precisava, e agora, com a volta das chuvas, as térmicas voltarão a ser menos exigidas. Cometeram o mesmo erro de previsão os que diziam, primeiro, que o governo não conseguiria baixar a conta de luz. Depois, passaram a dizer que a redução iria tardar. Por último, que ela seria menor do que o índice que havíamos anunciado.


Hoje, além de garantir a redução, estamos ampliando seu alcance e antecipando sua vigência. Isso significa menos despesas para cada um de vocês e para toda a economia do país. Vamos reduzir os custos do setor produtivo, e isso significa mais investimento, mais produção e mais emprego. Todos, sem exceção, vão sair ganhando. Aproveito para esclarecer que os cidadãos atendidos pelas concessionárias que não aderiram ao nosso esforço terão, ainda assim, sua conta de luz reduzida, como todos os brasileiros. Espero que, em breve, até mesmo aqueles que foram contrários à redução da tarifa venham a concordar com o que eu estou dizendo.

Aliás, neste novo Brasil, aqueles que são sempre do contra estão ficando para trás, pois nosso país avança sem retrocessos, em meio a um mundo cheio de dificuldades. Hoje, podemos ver como erraram feio, no passado, os que não acreditavam que era possível crescer e distribuir renda. Os que pensavam ser impossível que dezenas de milhões de pessoas saíssem da miséria. Os que não acreditavam que o Brasil virasse um país de classe média. Estamos vendo como erraram os que diziam, meses atrás, que não iríamos conseguir baixar os juros nem o custo da energia, e que tentavam amedrontar nosso povo, entre outras coisas, com a queda do emprego e a perda do poder de compra do salário. Os juros caíram como nunca, o emprego aumentou, os brasileiros estão podendo e sabendo consumir e poupar. Não faltou comida na mesa, nem trabalho. E nos últimos dois anos, mais 19 milhões e 500 mil pessoas, brasileiros e brasileiras, saíram da extrema pobreza.

O Brasil está cada vez maior e imune a ser atingido por previsões alarmistas. Nos últimos anos, o time vencedor tem sido o dos que têm fé e apostam no Brasil. Por termos vencido o pessimismo e os pessimistas, estamos vivendo um dos melhores momentos da nossa história. E a maioria dos brasileiros sente e expressa esse sentimento. Vamos viver um tempo ainda melhor, quando todos os brasileiros, sem exceção, trabalharem para unir e construir. Jamais para desunir ou destruir. Porque somente construiremos um Brasil com a grandeza dos nossos sonhos quando colocarmos a nossa fé no Brasil acima dos nossos interesses políticos ou pessoais.

Muito obrigada e boa noite.


Pois é, deu no que deu.


Continua...

domingo, 18 de junho de 2017

NO MATO SEM CACHORRO

Quem não tem cão caça com gato, diz um velho ditado. Mas nem gato sobrou. O que se tem é gatuno roubando a esperança dos brasileiros, gatuno ignorando provas em julgamentos, gatuno governando o país, gatuno candidato à reeleição presidencial e até gatuno defendendo a antecipação das diretas. Tudo em nome da governabilidade e do estado democrático de direito, como se a palavra democracia ainda significasse alguma coisa nesta republiqueta de bananas.

Em 2012, assistimos estarrecidos, mas esperançosos, a condenação da alta cúpula do Mensalão. No ano passado, livramo-nos daquela que afundou o Brasil na maior recessão da sua história, e que entrou para a vida pública após levar à falência duas lojinhas tipo R$1,99 quando a paridade cambial entre o real e o dólar favorecia sobremaneira a importação e revenda de badulaques ― a propósito, leia o post que publiquei no final de 2014, caso não lhe baste o excerto que transcrevo a seguir:

Pão & Circo. Com esse nome sugestivo — alusivo à estratégia romana destinada a entreter e ludibriar a massa insatisfeita com os excessos do Império —, Dilma montou, em fevereiro de 1995, uma lojinha de bugigangas, nos moldes das populares casas de R$ 1,99. O negócio em gestação cumpriu a liturgia comercial habitual. Ao registro do CNPJ na Junta Comercial seguiu-se o aluguel de um imóvel em Porto Alegre, onde funcionava a matriz. Quatro meses depois, uma filial foi erguida no centro comercial Olaria, também na capital gaúcha. O problema, para Dilma e seus três sócios, é que a presidente cuidou da contabilidade da empresa como lida hoje com as finanças do País. (...) Em apenas 17 meses, a loja quebrou; em julho de 1996, ela já não existia mais. Tocar uma lojinha de quinquilharias baratas deveria ser algo trivial, principalmente para alguém que 15 anos depois se apresentaria aos eleitores como a “gerentona” capaz de manter o Brasil no rumo do desenvolvimento. Mas, ao administrar seu comércio, Dilma cometeu erros banais e em sequência. Qualquer semelhança com a barafunda administrativa do País e os equívocos cometidos na área econômica a partir de 2010, levando ao desequilíbrio completo das contas públicas e à irresponsabilidade fiscal, é mera coincidência. Ou não. (...) Para começar, a loja foi aberta sem que os donos soubessem ao certo o que seria comercializado ali. Às favas o planejamento — primeiro passo para criação de qualquer negócio que se pretenda lucrativo. A empresa foi registrada para vender de tudo um pouco a preços módicos, entre bijuterias, confecções, eletrônicos, tapeçaria, livros, bebidas, tabaco e até flores naturais e artificiais. Mas acabou apostando no comércio de brinquedos para crianças, em especial os “Cavaleiros do Zodíaco”. Os artigos revendidos pela Pão & Circo eram importados de um bazar localizado no Panamá, para onde Dilma e uma das sócias, a ex-cunhada Sirlei Araújo, viajaram três vezes para comprar os produtos. Apesar de os produtos custarem bem pouco, o negócio de Dilma era impopular — como se tornou a ex-presidanta ao longo do seu governo. Ao abrir a vendinha, a anta vermelha não levou em conta que “o olho do dono engorda o porco”, e só aparecia por lá eventualmente, preferindo dar ordens e terceirizar as tarefas do dia a dia, como fez ao delegar a economia ao ministro Joaquim Levy e a política ao vice Michel Temer, até este desistir da função dizendo-se boicotado pelo (então) ministro-chefe da Casa Civil Aloizio Mercadante. Na sociedade da Pão & Circo, o equivalente ao Mercadante era Carlos Araújo, o ex-marido, que aconselhava a “chefa” sobre como ela turbinar as vendas, mas era tão inepto quanto aquela que viria ser a chefe da Casa Civil e presidente do Conselho de Administração da Petrobrás no governo de Lula, por ocasião da negociata de Pasadena. Mesmo assim, a gerentona de araque teve uma carreira meteórica: sem saber atirar, virou modelo de guerrilheira; sem ter sido vereadora, virou secretária municipal; sem passar pela Assembleia Legislativa, virou secretária de Estado; sem estagiar no Congresso, virou ministra; sem ter inaugurado nada de relevante, virou estrela de palanque; sem jamais ter tido um único voto na vida até 2010, virou presidente da Banânia.

Livramo-nos de Dilma, mas herdamos Michel Temer, que jamais conquistou a simpatia dos brasileiros ― e nem poderia, tendo sido vice de quem foi e presidente do PMDB por 15 anos ―, mas que vinha logrando êxito em descascar o monumental abacaxi herdado das gestões lulopetistas até ser abatido em seu voo de galinha pela delação premiada de Joesley Batista e mais 6 altos executivos da JBF/J&F.

Temer nos prometeu um ministério de notáveis, mas cercou-se de uma notável confraria de corruptos. O primeiro a cair foi Romero Jucá, o “Caju”, que deixou o Ministério do Planejamento uma semana depois de ser nomeado ― só que continua no governo, ocupando uma secretaria criada especialmente para preservar seu direito ao foro privilegiado. Na sequência, demitiram-se ― ou foram demitidos ― Fabiano Silveira, Henrique Eduardo Alves, Geddel Vieira Lima e outra meia dúzia de ministros e/ou assessores presidenciais, em grande parte por serem investigados na Justiça ou acusados de corrupção por delatores na Lava-Jato. Temer moveu mundos e fundos para preservar Eliseu Padilha, o “Primo”, e Wellington Moreira Franco, o “Angorá”, que o ajudam a comandar a quadrilha mais perigosa do Brasil, como afirmou o megaempresário moedor de carne em entrevista à revista Época desta semana.

Até os pedalinhos do Sítio Santa Bárbara, em Atibaia, sempre souberam que Lula institucionalizou a corrupção no Brasil. E quem não sabia ficou sabendo pelo procurador Deltan Dallagnol, que, no final do ano passado, apresentou à imprensa um PowerPoint tosco, mas indiscutivelmente elucidativo, mostrando que o molusco abjeto, ora penta-réu e às vésperas de sua primeira condenação na Lava-Jato, era, sim, o comandante máximo da ORCRIM. Agora, a se confirmarem as acusações de Joesley Batista, o petralha perderá o posto para Temer, como o Mensalão perdeu para o Petrolão o título de “maior escândalo de corrupção da nossa história” e rebaixou o famigerado “Esquema PC”, responsável pelo impeachment de Collor em 1992, a “coisa de ladrão de galinhas”.

Parece de nada adiantou o esforço do ministro Gilmar Mendes (que ora é alvo de um pedido de impeachment) para preservar o cargo de Michel Temer ao arrepio da avassaladora torrente de provas de práticas espúrias que propiciaram a reeleição da chapa Dilma-Temer em 2014. Como de nada deve adiantar a nota divulgada pelo Planalto, na manhã deste sábado, segundo a qual “o dono da JBS é um bandido notório que desfia mentiras”, e que o presidente ingressará com ações na Justiça contra ele. Resta explicar porque Temer não pensou nisso quando recebeu o empresário à sorrelfa nos “porões do Jaburu”, ouviu seu relato de práticas criminosas ― como a compra do silencio de Eduardo Cunha e Lúcio Funaro e o pagamento de suborno a magistrados e procuradores da República ― e encerrou conversa como se nada houvesse acontecido, sem lhe dar voz de prisão ou determinar a imediata abertura de um inquérito para apurar os fatos.   

Na entrevista, Joesley reafirma as denúncias que fez ao Ministério Público e à Polícia Federal contra as cúpulas de PT, PMDB e PSDB. Segundo ele, tudo começou há cerca de 10, 15 anos, quando surgiram grupos com divisão de tarefas: um chefe, um operador e um tesoureiro. Disse também que esses esquemas organizados começaram no governo do PT, com a criação de núcleos, divisão de tarefas entre integrantes, em estados, ministérios, fundos de pensão e bancos, dentre os quais o BNDES; que o modelo foi reproduzido por outras legendas, e que, na maioria dos casos, os pagamentos viraram uma obrigação (ele cita como exemplo Guido Mantega, ex-ministro da Fazenda nos governos Lula e Dilma: “Era só o Guido dizer no BNDES que não era mais do interesse do governo investir no agronegócio e pronto. Bastava uma mudança de diretriz de governo para acabar com o negócio”).

Joesley disse ainda que o presidente “não é um cara cerimonioso com dinheiro” (para bom entendedor...), além de acusa-lo de chefiar “a organização criminosa da Câmara, composta por Eduardo Cunha, Geddel Vieira Lima, Henrique Eduardo Alves, Eliseu Padilha e Moreira Franco”, e que, “em Brasília, quem não está preso está no Planalto”.

Durma-se com um barulho desses!

Confira minhas atualizações diárias sobre política em www.cenario-politico-tupiniquim.link.blog.br/

domingo, 7 de março de 2021

VERGONHA NACIONAL

 

O Brasil está fedendo com a desenvoltura dos maus, pois os canalhas descobriram que ninguém os pode deter e, como ratos, tiraram seus disfarces ou saíram de seus esconderijos, eriçando com orgulho sua suja pelagem, diz Carlos Fernando dos Santos Lima em sua coluna na revista eletrônica Crusoé.

Alguns jornais embarcam felizes em campanhas de comunicação difamatórias contra a Lava-Jato, requentando material ilícito, sem qualquer comprovação de veracidade, picotando supostas conversas para satisfazer o seu interesse político a favor de Lula”, afirma, ainda, o jornalista, que adverte: O Conselho Nacional do Ministério Público avança na perseguição contra Deltan Dallagnol, numa vingança planejada por Renan Calheiros e seus asseclas, buscando tornar sua punição um exemplo para calar definitivamente o Ministério Público; e órgãos do estado como a Abin e a Polícia Federal são aparelhados para satisfazer interesses políticos e familiares do presidente da República.

Até quando Bolsonaro incentivará a morte de tantos brasileiros apenas para fazer política e satisfazer sua ignorância e a da horda que o apoia? Por quanto tempo suportaremos a louca escalada de nossos políticos na destruição das leis e da ética para se apropriarem do poder, do dinheiro e dos bens públicos? A que extremos alguns ministros do STF chegarão para defender o status quo da qual se originaram? Considerando a audácia de nossas “elites” políticas, será que Nelson Rodrigues estava certo em dizer que o “mundo estaria salvo se os homens de bem tivessem a mesma ousadia dos canalhas”?

Aquilo que era para evitar o abuso do poder, como o sistema de freios e contrapesos previstos na Constituição, transformou-se em um arremedo, uma farsa, pois Jair Bolsonaro comprou a presidência da Câmara para Arthur Lira, que, por sua vez, impede qualquer processo de impeachment contra o próprio presidente, assim como o Senado faz com as denúncias contra ministros do Supremo, os quais, convenientemente, arquivam acusações substanciais de corrupção. O sistema que prevalece hoje não é mais aquele da Constituição, mas, sinteticamente o de “uma mão lava a outra e as duas lavam a bunda”.

Enquanto isso, alguns jornais embarcam felizes em campanhas de comunicação difamatórias contra a Lava-Jato, requentando material ilícito, sem qualquer comprovação de veracidade, picotando supostas conversas para satisfazer o seu interesse político a favor de Lula. Ao mesmo tempo o CNMP avança na perseguição contra Deltan Dallagnol, numa vingança planejada por Renan Calheiros e seus asseclas, buscando tornar sua punição um exemplo para calar definitivamente o Ministério Público; e órgãos do estado como a Abin e a PF são aparelhados para satisfazer interesses políticos e familiares do presidente da República. Completando todo este enredo, o TCU pede acesso às mensagens roubadas para investigar o ex-juiz Sergio Moro, como se uma corte de contas tivesse competência para julgar atos de natureza jurisdicional.

Não bastasse a sanha persecutória contra pessoas ligadas ao combate à corrupção, especialmente contra aqueles que participaram da Operação Lava-Jato, agora também esses mesmos roedores alongam suas garras contra pessoas comuns, usando para isso toda desfaçatez de quem já não se importa mais em cobrir as pegadas de seus malfeitos. O pedido da Câmara dos Deputados para que o STF prenda o comediante e apresentador Danilo Gentili por ter dito que a população deveria socar deputados por causa da PEC da Impunidade é algo completamente inconstitucional, pois aquele tribunal não tem qualquer competência para analisar condutas de particulares, mesmo que ilícitas ou criminosas. Goste-se ou não da sugestão de Gentili, só a ideia de que podemos calar pessoas comuns passando por cima das leis já demonstra o grau de deslegitimação e ignorância de nossa classe política.

Não fosse somente a ética, coisa que nunca foi exatamente uma real preocupação de nossa classe política, estamos regredindo também em todos os indicadores de progresso, sejam eles legais, sociais e econômicos. Enfrentamos um ataque às leis que impedem que o estado seja apenas o butim de interesses privados, de piratas políticos profissionais e de grupos econômicos incapazes de viver em um ambiente de livre mercado. Os limites impostos pela Lei da Ficha-Limpa, pela Lei de Responsabilidade Fiscal e pela Lei de Improbidade Administrativa estão na mira do destrutivo avanço da rataria, que deseja a volta da livre corrupção do governo Lula, daquele propinoduto sistematizado, contabilizado e organizado que resultou em bilhões de prejuízos para o bolso dos brasileiros, uma vez que o estado é uma ficção que se sustenta com nosso suor e trabalho.

Na economia não é diferente, pois a promessa de um estado menor feita por Bolsonaro sempre foi uma falácia. Ele é um mau político de origem sindical, um militar que deixou Exército pela porta dos fundos, alguém acostumado a viver como um chupim do setor público. Para ele nunca houve nenhuma bandeira real de campanha salvo a de si mesmo e a da família. Aproveitou-se da Operação Lava-Jato para se dizer mentirosamente contra a corrupção, bem como, para agradar a uma parcela da população, abraçou falsamente um ideário liberal. Por tudo, Bolsonaro é apenas um oportunista consumado. Entretanto, ao contrário dos deslizes éticos e legais de nossa elite, em relação aos quais o nosso sistema é incapaz de fazer justiça, a economia pune os erros de modo inexorável. E é o que estamos vivendo.

Imagine-se seguindo uma receita dia após dia sempre com o mesmo resultado errado. E no dia seguinte, mesmo com tudo e todos apontando seu erro, você prefere novamente seguir o mesmo desacerto na esperança mágica de que o resultado será diferente. O que me parece um pesadelo é, para muitos, inclusive nosso presidente, o pensamento mágico de que tudo vai dar certo mesmo se cometermos os mesmos erros do passado. Basta, acreditam eles, desejarem que as coisas sejam diferentes e, “voilà“, tudo se realiza como num truque de circo. Só que não, pois a realidade, especialmente na economia, não se conforma à vontade. Erros nunca se transformarão em acertos só porque são feitos por Lula, Dilma ou Bolsonaro.

Assim é o caso recente da Petrobras. Após os escândalos de corrupção desvendados pela Lava-Jato no interior da estatal — e não somente dela, diga-se — e as seguidas intervenções equivocadas da então presidente Dilma, a nossa companhia de petróleo encontrava-se no caminho do saneamento financeiro. Uma política saudável de preços, como em qualquer caso de commodities, é regulada pelo mercado. Entretanto, em uma situação de descalabro econômico que resulta em um dólar valendo mais de R$ 5,50, em meio a uma epidemia mortal em que o governo federal age de modo criminosamente omisso, não há como segurar o valor dos derivados do petróleo sem sangrar a empresa. Já vimos isso com Dilma, sem bons resultados, e vemos agora com Bolsonaro. Ambos, com raso entendimento econômico, só poderiam levar ao desastre. E em economia, como na saúde pública, o desastre vem.

O povo francês revoltou-se contra a falta de pão e liberdade. O povo americano revoltou-se contra a opressão e a tirania. Mas nós, brasileiros, que, como povo, temos o direito inalienável de nos revoltar, agimos como gado indo para o abate. Com certeza os grupos que apoiam Bolsonaro, de um lado, e Lula, do outro, desejam a manutenção dessa situação, pois se apoiam uns nos outros para se manterem politicamente vivos. Só há uma saída: revoltarmo-nos como em 2013, forçando a rataria a voltar, amedrontada, para dentro de suas tocas.

Precisamos reconstruir um espaço público de sensatez, de diálogo e de consenso mínimo entre as pessoas de boa vontade, que são a maioria — infelizmente silenciosa. Precisamos de candidatos com capacidade de tomar decisões difíceis e impopulares, mas necessárias. Precisamos reestruturar nossas leis para que punam, com cadeia e perda dos direitos políticos, todos os corruptos e ladrões que infestam os palácios.

Precisamos restabelecer a autonomia das instituições, livrando-as da influência do poder econômico. Seja quem for o candidato que tenha a audácia de defender o certo e o bom senso, não importa se de centro-direita ou centro-esquerda, e que tenha a ousadia de se contrapor vitoriosamente a Lula e Bolsonaro, já estaremos, então, melhor do que estamos hoje.

sábado, 12 de março de 2022

NÃO CONFUNDA PALHAÇO PRESIDENTE COM PRESIDENTE PALHAÇO


Não é justo atribuir aos políticos a culpa pelas mazelas dos brasileiros. Políticos não brotam em seus gabinetes por geração espontânea; se os três Poderes da República foram tomados por criminosos de colarinho-branco (pode-se argumentar que os juízes de cortes superiores não são eleitos pelo voto popular, mas quem os indica e quem chancela a indicação o são), a culpa é de um eleitorado incapaz de tirar água de uma bota, mesmo com as impressas no calcanhar.

O brasileiro já votou em rinoceronte para vereador, em macaco para prefeito, em palhaço de circo para deputado e — a cereja do bolo — num analfabeto, num poste e num dublê de mau militar e parlamentar medíocre para presidir este país. É graças a essa caterva (falo da récua de muares munidos de título eleitoral) que a eleição de outubro próximo tem tudo para ser uma reedição piorada do pleito plebiscitário de 2018.

Situações surreais como essas não são exclusividade nacional. Nos EUA, Donald Trump venceu Hillary Clinton em 2016 (apesar de a candidata democrata ter obtido mais votos) e uma corja de vândalos invadiu o Capitólio, quatro anos depois, para protestar contra a derrota de seu ídolo. Questionado sobre a situação no leste europeu, Trump afirmou que Putin não teria invadido a Ucrânia se ele ainda estivesse na Casa Branca. Como se costuma dizer, presunção e água benta, cada um toma a que quer.

Sobre Vladimir Putin, o buraco é ainda mais embaixo. Três dias após a invasão da Ucrânia, Diogo Mainardi escreveu em sua coluna que o carniceiro russo já havia sido derrotado. Que havia perdido o rublo, a Copa do Mundo, o ouro do Banco Central, as estantes Ikea, o primeiro bailarino do Bolshoi, os cintos da Gucci, a sucursal do New York Times, as villas no lago de Como, o Facebook, os parlamentares de direita e esquerda na Europa e nos Estados Unidos, o centroavante Lukaku. Até as empresas que tentaram resistir ao boicote, como Pepsi e McDonald’s, tiveram de fechar suas lojas na Rússia, constrangidas por seus consumidores e acionistas. E isso tudo em apenas duas semanas. Até o Brasil, que faz parte de outro sistema solar, condenou déspota. 

Uma pesquisa divulgada dias atrás mostrou que, enquanto Bolsonaro e Lula abanavam o rabo para o tirano eslavo, o povo brasileiro queria mais era mijar no seu túmulo. O problema é que esse сукин сын continuará matando pessoas (inclusive civis) até alguém lhe dar uma dose de seu próprio próprio veneno — um chazinho como aquele que "acalmou ad aeternum" o papa João Paulo I estaria de bom tamanho, e talvez fosse até bom essa moda pegar.

Por aqui, um aumento brutal no preço dos combustíveis foi prontamente repassado por donos de postos (não todos), pouco se importando com o fato de o combustível servido nas bombas ter sido comprado antes do reajuste (isso se chama “crime contra a economia popular”). Esse "reajuste" terá efeitos nefastos na inflação e afetará a população em geral, já que praticamente tudo que é produzido no Brasil é transportado através de nossa esburacada, enlameada e detonada malha rodoviária (salvo raras e honrosas exceções).

Os combustíveis e o gás de cozinha vinham subindo de preço descontroladamente, e não só devido à alta do dólar. O problema, como sempre, é a falta de previsão de um mandatário que só tem olhos para a reeleição, e que prefere participar de motociatas e andar de jet-ski a dar expediente no Palácio do Planalto. E como Lula, que institucionalizou a compra de apoio parlamentar com o Mensalão e sangrou a Petrobrás com o PetrolãoBolsonaro se vale do nefando Orçamento Secreto (cerca de R$ 17 bilhões por ano) para comprar votos das marafonas do Parlamento, e isso enquanto a população mais carente sequer têm o que comer.

Voltando aos combustíveis, “em casa onde falta pão todos gritam e ninguém tem razão”. O que se vê é um jogo de empurra. O capetão culpa o ICMS, os governadores culpam o governo federal, todos culpam a Petrobrás — que distribui bilhões aos acionistas e paga ao general Silva e Lula um salário nababesco (mais de R$ 200 mil) — e ninguém faz nada. Ou, quando faz, faz o que Dilma fez durante sua campanha à reeleição.

Lula insiste na falácia da autossuficiência brasileira em petróleo e atribui a alta dos preços à privatização da BR-Distribuidora, mas, para surpresa de ninguém, ele não menciona que faltam refinarias e que ele e seu espúrio partido foram os responsáveis pela cleptocracia que quase quebrou a Petrobras. Esperar o que de um egun mal despachado, um ex-sindicalista malandro, amante da vida fácil e expert na arte de enganar trouxas

Em 2018, o ainda candidato Bolsonaro disse que o preço dos combustíveis já havia ultrapassado todos os limites — mas, uma vez eleito e empossado, não se preocupou em criar o tal fundo de estabilização no início de sua execrável gestão. Mesmo assim, o ministro Paulo Guedes alardeava que o botijão de gás deveria custar cerca de R$ 30 — e já tem gente pagando R$ 150. O que nem um nem o outro disseram é que somente um governo competente e responsável seria capaz de resolver esse e um sem-número de outros problemas. 

Observação: O PL 1.472/2021, em trâmite no Senado, prevê a criação de um fundo de equilíbrio para controlar a volatilidade do preço dos derivados de petróleo. A ideia é utilizar recursos da União (dividendos que a Petrobras paga ao governo federal) como uma espécie de “colchão", visando manter o preços estáveis — ou, no mínimo, reduzir o percentual de aumento  em situações adversas como a atual.

Ao trágico governo em curso restam nove meses, e a nós, decidir entre suportar mais 4 anos de incompetência chapada ou amargar a volta da ladroagem institucionalizada. Não que não exista corrupção nem corruptos no mar de lama que se tornou a Praça dos Três Poderes. Essa falastrice não passa de mera cantilena para dormitar bovinos e já não convence sequer nem mesmo os poucos fãs do “mito” com Q.I. superior ao de um repolho. Na última quarta-feira a Transparência Internacional Brasil apresentou um relatório à OCDE denunciando retrocessos no combate à corrupção, e mencionou, dentre outros descalabros, os R$17 bi (do tal Orçamento Secreto) que o governo federal usou para comprar deputados.

A alta dos combustíveis propiciou mais uma troca de farpas entre os presidenciáveis. Enquanto os bolsonaristas comemoraram a mudança do cálculo do ICMS, o ex-presidiário de Curitiba tuitou: “Agora você tem empresas importando gasolina dos Estados Unidos em dólar enquanto temos auto suficiência (sic) e produzimos petróleo em reais". 

Observação: O ICMS (que é um imposto estadual) terá a alíquota unificada em todo o Brasil e incidirá nos combustíveis apenas uma vez. O pacote aprovado no Senado também incluiu a isenção do PIS e da Cofins (que são tributos federais) sobre o diesel e o gás de cozinha até o final do ano. Na prática, as duas medidas juntas representarão uma redução de R$ 0,60 por litro de diesel. Governadores já anunciaram que vão questionar judicialmente o projeto, alegando queda na arrecadação. Com a mudança, o governo pode evitar, pelo menos por enquanto, a criação de um programa de subsídio direto da a gasolina, algo que o Posto Ipiranga de fancaria quer deixar de lado e disse que só será considerado se a se a guerra no leste europeu continuar por mais "30, 60 dias". Enquanto isso, Bolsonaro voltou a atacar a política de preços da Petrobras (sim, de novo) e chamou o reajuste de ontem de “absurdo”.

Sobre o tuíte do ex-presidiário, o pré-candidato pelo Partido Novo, Felipe D'Ávila, escreveu: "um tweet, quatro mentiras". Sergio Moro também tuitou: "Sabe por que a Petrobras ainda existe, Lula? Porque a Lava-Jato impediu que o governo do PT continuasse saqueando e desviando recursos da maior estatal do Brasil". E Ciro Gomes: "Enquanto isso todos brasileiros sofrem, mesmo vivendo num país que tem uma das maiores reservas de petróleo do mundo, e vendo concessionárias da Petrobras vendidas a preço de banana. Até quando vamos suportar este absurdo?".

Do alto de sua inesgotável sabedora, o vereador Carlos Bolsonaro comemorou a decisão do desgoverno do pai, alegando que a mudança (no cálculo do ICMS) fará com que “o povo pague mais barato" e criticou governadores que não querem abrir mão da arrecadação em ano eleitoral.

Para não encompridar ainda mais este texto, falo sobre o palhaço que se tornou presidente no post de amanhã.

sexta-feira, 4 de junho de 2021

DESGRAÇA POUCA É BOBAGEM


Na última segunda-feira, quando os protestos contrários ao governo ocorridos no sábado anterior eram o assunto mais comentado nas redes sociais, Bolsonaro mudou o foco dos internautas anunciando a decisão de sediar a Copa América. Nesta quinta, feriado de Corpus Christi, driblou jornalistas na porta do Alvorada e foi passear de moto em Formosa (cidade goiana que fica a 80 quilômetros de Brasília), onde assistiu a uma missa e conversou com apoiadores locais.

Bolsonaro faz bem em rezar. O menosprezo pelas vítimas da pandemia, a inoperância administrativa, a falta de um plano econômico, as revelações trazidas à luz pela CPI do Genocídio, o Tratoraço e os escândalos no Ministério do Meio Ambiente estão cobrando seu preço. Levantamento feito pelo instituto Paraná Pesquisas mostra que 52,7% dos fluminenses desaprovam o governo e 45,9% consideram seu desempenho ruim ou péssimo — lembrando que o Rio de Janeiro é o reduto eleitoral do presidente. 

Mais de 460 mil pessoas já perderam a vida para a Covid no Brasil. Maio se tornou o terceiro mês com maior número de óbitos (59.010), atrás apenas de abril (82.266) e março (66.673). Na avaliação do epidemiologista Pedro Hallal, o negacionismo foi responsável por mais de 300 mil mortes. Para piorar, o ritmo da imunização segue lento — até a última terça-feira, apenas 10,6% dos brasileiros haviam recebido as duas doses da vacina. E depois a jornalista Daniela Lima, da CNN, que é quadrúpede.

O passeio desta quinta-feira não constava da agenda oficial do chefe do Executivo e ocorreu um dia depois de seu pronunciamento em rede nacional de rádio e televisão — durante o qual um panelaço com direito a gritos de “Fora, genocida!” se fez ouvir em São Paulo, Rio e NiteróiRecifeBelo Horizonte, Florianópolis, Vitória, FortalezaPorto AlegreSalvadorBelém e várias regiões do Distrito Federal.

Em sua fala, além de enaltecer a própria gestão e divulgar números distorcidos sobre os avanços da vacinação, Bolsonaro afirmou que todos os brasileiros que assim o desejarem serão vacinados ainda este ano. Curiosamente, o governador João Doria havia anunciado horas antes que toda a população adulta do Estado de São Paulo estará vacinada até o final de outubro.

Na CPI da Pandemia, o senador Otto Alencar fez picadinho do conhecimento científico da Dra. Nise Yamaguchi, defensora de quatro costados do uso da hidroxicloroquina no combate à Covid. Médico como a depoente, o parlamentar fez uma série de perguntas — entre elas a diferença entre um protozoário e um vírus — que sua colega não soube responder, embora seja uma das principais integrantes do gabinete paralelo que dá sustentação pseudo científica às teses estapafúrdias do Executivo.

Já a infectologista Luana Araújo deu uma verdadeira aula aos membros da CPI — e aos milhões de brasileiros que assistiram à transmissão do circo parlamentar. Sobre tratamento precoce, kit-covid, cloroquina e assemelhados, as respostas da médica foram de uma precisão cirúrgica (se me desculpam o trocadilho). A certa altura, ela classificou a discussão de delirante, esdrúxula, anacrônica e contraproducente: Nós ainda estamos discutindo uma coisa que não tem cabimento, como se a gente estivesse escolhendo de que borda da ‘Terra plana’ vai pular”.

Sobre sua rápida passagem pelo Ministério da Saúde — interrompida antes da nomeação oficial para o cargo de secretária extraordinária de Enfrentamento à Covid —, a médica disse que o ministro lhe havia garantido autonomia para agir na secretaria, mas que, dez dias depois, ele próprio comunicou “com pesar” que sua nomeação “não iria passar”. 

Em depoimento anterior à CPI, Marcelo Queiroga reconheceu que a confirmação de Luana no cargo dependia de “validação política”. Pelo visto, nem o próprio ministro tem autonomia para gerir a pasta que supostamente comanda.

A médica não deixou pergunta sem resposta. Esclareceu por que o modelo de testagem escolhido pelo governo está errado e não pode funcionar, explicou com clareza por que as medidas de isolamento e uso de máscara são absolutamente necessárias e mostrou que a ideia de “imunidade de rebanho natural” não faz sentido. 

Luana também deixou claro que todo profissional de saúde é favorável a tratamento precoce — desde que tal tratamento exista — e mostrou a diferença entre a autonomia pessoal do médico para, com a anuência do paciente, prescrever o que quiser, e a política pública de saúde, que tem a obrigação de seguir parâmetros científicos e recomendar medicamentos com eficácia comprovada. Diante da insistência do senador governista Marcos Rogério sobre o tratamento precoce, a resposta da doutora foi didática: “Se eu pegar essa cultura viral [da Covid] e botar no micro-ondas, os vírus vão morrer, mas não é por isso que vou pedir ao paciente que entre no forno duas vezes por dia.” 

Seu depoimento calou a tropa de choque e revelou um segredo de polichinelo: os ministros do capitão não têm poder de decisão, somente executam a política determinada pelo chefe.

Ao recepcionar no Brasil uma Copa América que a Argentina e a Colômbia se recusaram a sediar, escreveu Josias de Souza em sua coluna, Bolsonaro inaugurou uma nova fase da pandemia: a etapa do circo. 

Faz todo sentido, porque a inépcia fez com que a administração da crise ficasse muito parecida com o futebol. A diferença é que o campo não é demarcado, canelada é liberada e gol contra conta a favor. Mal comparando, a pandemia é uma avalanche. Infectadas, as pedras deslizam por um penhasco de incertezas e contágios. Esse movimento, quando foge ao controle, soterra o sistema de saúde, provocando mortes.

Quem enxerga nesse ambiente fúnebre razões para autorizar competições esportivas e promover aglomerações potencializa um desastre que abarrota os hospitais, tira o sono dos profissionais da saúde, sobrecarrega os coveiros e dilacera a alma dos familiares e amigos dos quase 500 mil mortos que a Covid já produziu no Brasil.

Se a sociedade brasileira estivesse próxima da imunização coletiva, a irresponsabilidade já seria intolerável. Num cenário em que a maioria dos brasileiros enxerga na vacina que não chega algo tão indispensável quanto o pão, as concessões ao circo são desvios patológicos.

Em tempo

O Exército informou ontem que o procedimento administrativo contra o ex-ministro da Saúde, por participação no comício bolsonarista no Rio, foi arquivado: “Acerca da participação do General de Divisão EDUARDO PAZUELLO em evento realizado na Cidade do Rio de Janeiro, no dia 23 de maio de 2021, o Centro de Comunicação Social do Exército informa que o Comandante do Exército analisou e acolheu os argumentos apresentados por escrito e sustentados oralmente pelo referido oficial-general. Desta forma, não restou caracterizada a prática de transgressão disciplinar por parte do General PAZUELLO. Em consequência, arquivou-se o procedimento administrativo que havia sido instaurado”.

Fato é que Pazuello participou de um ato político em meio a uma aglomeração, sem máscara, dias depois de ter defendido o uso da proteção na CPI do Genocídio, da qual ele é um dos principais alvos. Sua postura deixou nítido que ele estava ali a mando do capitão, do qual foi uma patética marionete no comando do Ministério da Saúde. Por ter mentido e omitido em seu depoimento à CPI visando blindar o chefe, o general ganhou um cargo de ASPONE, ou melhor, de secretário de Assuntos Estratégicos, que somará R$ 16 mil aos cerca de R$ 13 mil que ele recebe como general da ativa

Só um idiota não vê que punir o protegido do capetão produziria represálias (quiçá nova troca do comando do Exército). O megalômano lunático e psicótico que acontece de ser comandante em chefe das Forças Armadas acha que essa e outras prerrogativas inerentes ao cargo de Presidente lhe dão o direito de agir como Luiz XIV (L'État, c'est moi), logo não admite que seu poder absoluto seja posto em xeque. 

Não é bem assim (ou não deveria ser), mas nem o Legislativo nem o Judiciário tiveram peito para botar trambelha nesse destrambelhado. Além disso, conforme eu já mencionei em outras oportunidades, ser ministro ou exercer outro cargo de confiança do inquilino de turno do Planalto exige dar o rabo e pedir desculpas por estar de costas. Assim, para não criar nova crise com o Executivo, o general Paulo Sérgio cedeu às pressões do presidente... e criou uma crise no meio militar. 

Durma-se com mais essa.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

RESTAURE-SE O IMPÉRIO DA MORALIDADE OU LOCUPLETEMO-NOS TODOS! (PARTE X)


Em 2012, assistimos estarrecidos (mas esperançosos) à condenação da alta cúpula do Mensalão. Em 2016, livramo-nos de Dilma, que afundou o Brasil na maior recessão da história republicana do país — e está prestes a perder o primeiro lugar no ranking para Bolsonaro, mas isso é outra história.

Quanto ao poste de Lula, nenhuma surpresa: em fevereiro de 1995, quando a paridade cambial entre o real e o dólar favorecia sobremaneira a importação e revenda de badulaques, a calamidade em forma de gente faliu duas lojinhas tipo R$ 1,99 que havia montado em Porto Alegre e batizado com o sugestivo nome de “Pão & Circo” — que remete a uma estratégia romana destinada a entreter a plebe ignara, insatisfeita com os excessos do Império.

Comercializar quinquilharias baratas deveria ser algo trivial para alguém que, 15 anos depois, se apresentaria aos eleitores como a “gerentona” capaz de manter o Brasil no rumo do desenvolvimento. O problema, para Dilma e seus três sócios, é que a futura presidente cuidou da contabilidade da empresa como lidaria mais adiante com as finanças do País: em julho de 1996 seu comercio já não existia mais.

Para começar, a loja foi aberta sem que os donos soubessem ao certo o que seria comercializado ali. Às favas o planejamento — primeiro passo para criação de qualquer negócio que se pretenda lucrativo. A empresa foi registrada para vender de tudo um pouco a preços módicos, entre bijuterias, confecções, eletrônicos, tapeçaria, livros, bebidas, tabaco e até flores naturais e artificiais. Mas Dilma acabou apostando no comércio de brinquedos para crianças, em especial os “Cavaleiros do Zodíaco”.

Os artigos revendidos pela Pão & Circo eram importados de um bazar localizado no Panamá, para onde a grande economista e a sócia e ex-cunhada Sirlei Araújo viajavam regularmente para comprar os produtos. Apesar de a mercadoria custar barato, o negócio era impopular — como Dilma se tornaria mais adiante. 

Ao abrir a vendinha, a mulher sapiens não levou em conta que “o olho do dono engorda o porco”, e só aparecia por lá eventualmente, preferindo dar ordens e terceirizar as tarefas do dia a dia — como fez ao delegar a economia ao ministro Joaquim Levy e a política ao vice Michel Temer — até este desistir da função dizendo-se boicotado pelo (então) ministro-chefe da Casa Civil Aloizio Mercadante.

Na sociedade da Pão & Circo, o equivalente a Mercadante era Carlos Araújo, ex-marido de Dilma, que a aconselhava sobre como turbinar as vendas, mas era tão inepto quanto a futura chefa da Casa Civil e presidenta do Conselho de Administração da Petrobrás no governo de Lula demonstrou ser na negociata de Pasadena. Mesmo assim, a empresária de festim teve uma carreira meteórica: sem saber atirar, virou modelo de guerrilheira; sem ter sido vereadora, virou secretária municipal; sem passar pela Assembleia Legislativa, virou secretária de Estado; sem estagiar no Congresso, virou ministra; sem ter inaugurado nada de relevante, virou estrela de palanque; sem jamais ter tido um único voto na vida até 2010, virou presidente de país.

Observação: Até os pedalinhos do Sítio Santa Bárbara, em Atibaia, sabiam desde sempre que Lula institucionalizou a corrupção no Brasil. E quem não sabia ficou sabendo quando o procurador Deltan Dallagnol apresentou à imprensa um PowerPoint tosco, mas elucidativo, demonstrando que o picareta dos picaretas era o comandante máximo da ORCRIM. Dilma foi o maior erro tático que o petista cometeu em sua trajetória política. Dias atrás, ele próprio disse em entrevista à CBN que não pretende incluir a nefelibata da mandioca em sua campanha à Presidência nem em um eventual futuro governo. A obviedade chapada dos motivos dispensa maiores considerações.

Arrogante, pedante, intransigente e mouca à voz da razão, Dilma montou uma arapuca para si mesma, mas levou de embrulho tanto os inconsequentes que a reconduziram ao Planalto quanto a parcela pensante dos brasileiros. Num monumental estelionato eleitoral, sua alteza irreal preços administrados, aumentou gastos com programas eminentemente eleitoreiros e “pedalou” a mais não poder. Somado à irresponsabilidade fiscal, seu apetite eleitoral aumentou o inchaço da máquina pública e resultou na falência do Estado — para se ter uma ideia, enquanto a Casa Branca contava com 468 servidores, o Palácio do Planalto contabilizava 4.487 funcionários.

Em setembro de 2015, nove meses depois do início da segunda (e ainda mais funesta) gestão da estocadora de vento, o Orçamento já acumulava um rombo de R$ 30 bilhões — algo nunca visto até então. Era o começo do fim: a despeito de as pedaladas fiscais terem sido o “motivo oficial” da deposição, a petista foi expelida do cargo pelo conjunto de sua obra e por sua absoluta falta de traquejo no trato com o Parlamento. 

Num primeiro momento, a troca de comando foi como uma lufada de ar fresco numa catacumba. O novo presidente sabia até falar! Considerando que passáramos 13 anos ouvindo os garranchos verbais de um semianalfabeto e as frases desconexas de uma destrambelhada que não era capaz de juntar sujeito e predicado numa frase que fizesse sentido, ter um mandatário que usava até mesóclises era um refrigério. 

Embora fosse impossível consertar o país da noite para o dia, Temer conseguiu debelar a inflação (que rodava pelos 10% quando ele assumiu), reduzir de maneira “responsável” a Selic e aprovar a PEC do Teto dos Gastos e a Reforma Trabalhista. Mas seu ministério de notáveis revelou-se uma notável agremiação de corruptos — que foram caindo à razão de um por mês.

O primeiro a cair foi Romero Jucá, o “Caju”, que deixou o Ministério do Planejamento uma semana após a nomeação — só que continuou no governo, ocupando uma secretaria criada especialmente para preservar seu direito ao foro privilegiado. Na sequência, demitiram-se ou foram demitidos Fabiano SilveiraHenrique Eduardo AlvesGeddel Vieira Lima e mais meia dúzia de ministros e/ou assessores de primeiro escalão. Temer moveu mundos e fundo$ para preservar Eliseu Padilha, o “Primo”, e Wellington Moreira Franco, o “Angorá”, que o ajudavam a comandar “a quadrilha mais perigosa do Brasil”, como disse Joesley em entrevista à revista Época.   

Livramo-nos de Dilma, mas herdamos Michel Temer, que jamais conquistou a simpatia dos brasileiros. E nem poderia, tendo sido vice de quem foi e presidido o PMDB por 15 anos. Após o julgamento do impeachment, a imprensa publicou vários artigos acusando o procurador Deltan Dallagnol, coordenador da Lava-Jato em Curitiba, de defender um “direito autoritário, próprio das tiranias” e a “relativização do direito de defesa”. Curiosamente, esses mesmos veículos de comunicação não manifestaram a mesma preocupação quando a petista era presidente. Coisas do Brasil.

Em fevereiro de 2017 o partido de Temer indicou Edison Lobão para presidir a CCJ do Senado, numa evidente estratégia de frear os avanços da operação anticorrupção. Lobão era defensor ferrenho da anistia ao caixa 2 e crítico figadal das delações premidas (uma das principais ferramentas da força-tarefa), e dizia que acordos de colaboração haviam virado “um inquérito universal” e poderiam levar o Brasil à “tirania”. Para surpresa de ninguém, partidos investigados se empenharam em bloquear um eventual terceiro mandato de Janot e a possível escolha de alguém próximo a ele para chefiar a PGR.

Mesmo com a podridão aflorando no seu entorno, o presidente seguia adiante, levando a Nau dos Insensatos pelas águas revoltas da crise como um timoneiro experimentado. Sob seu comando, dizia, o Brasil chegaria são e salvo às próximas eleições e seria entregue fortalecido ao próximo dirigente. 

A coisa até funcionou durante algum tempo, a despeito da pecha da ilegitimidade — uma falácia petista, pois quem votou em Dilma votou na chapa; como vice da anta, Temer não só era seu substituto eventual como encabeçava a linha sucessória presidencial. O que ele fez para ser promovido a titular e o fato de seu governo ter degringolado já é outra conversa.

Mas o nosferatu que jurou que não interferiria na Lava-Jato, que afastaria quem fosse denunciado e exoneraria quem se tornasse réu deu um salvo-conduto aos assessores citados nas delações, pois precisava deles para blindar o governo. Só que faltou combinar com os russos, ou melhor, com Joesley Batista: Em maio de 2017, Temer foi abatido em seu voo de galinha pela delação premiada do moedor de carne bilionário e de outros seis altos executivos da JBF/J&F.

Nossa história recomenda darmos mais atenção à figura do vice-presidente. Em 15 de novembro de 1889, um golpe militar capitaneado pelo marechal Deodoro da Fonseca apeou D. Pedro II do trono e substituiu a monarquia constitucionalista pela república presidencialista. Deodoro presidiu o país até 1891, quando então "foi convidado a renunciar" e substituído pelo vice — o também marechal Floriano Peixoto —, que concluiu o mandato-tampão e foi sucedido por Prudente de Moraes, que entrou para a história não só como o primeiro civil a presidir o país, mas também como o primeiro presidente eleito pelo voto direto.

Seria pedir demais aos eleitores brasileiros — que raramente se lembram em que votaram para deputado — analisarem cuidadosamente a composição das chapas que disputam a Presidência, mas o fato é que nove vices terminaram os mandatos de seus titulares: Floriano PeixotoNilo Peçanha, Delfim Moreira, Café Filho, João Goulart, José SarneyItamar Franco e Michel Temer.

Claro que, não fossem os vices, outros sucessores e outras formas de sucessão haveria, mas seria oportuno questionar a real necessidade da figura do vice nos tempos atuais. Para o reserva é ótimo: a vice-presidência rende palácio à beira do lago, diversas mordomias e, em caso de infortúnio do titular, até a Presidência. Para o país, no entanto, essa peça serve apenas para decoração, quando não para conspirar contra o titular, como fez Michel Temer.

Filho imigrantes libaneses, Michel Miguel Elias Temer Lulia nasceu em Tietê (SP), graduou-se em Direito pela USP, atuou como advogado trabalhista e lecionou na PUC-SP e na Faculdade de Direito de Itu antes de ingressar na vida pública como oficial de gabinete de Ataliba Nogueira, então secretário de Educação do governo de São Paulo. Em 1981, filiou-se ao PMDB (hoje MDB); em 1983, foi nomeado procurador-geral do Estado de São Paulo pelo então governador Franco Montoro; no ano seguinte, assumiu a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo; dois anos depois, disputou uma vaga na Câmara Federal, conseguiu uma suplência e assumiu a cadeira do deputado licenciado Tidei de Lima, tornando-se constituinte.

Ao longo de seis mandatos, Temer presidiu a Câmara em 1997, 1999 e 2009 e o PMDB de 2001 até o final de 2010, quando se licenciou do cargo para assumir a vice-presidência da República. Em maio de 2016, quando Dilma foi afastada, passou de “vice decorativo” a presidente interino e acabou efetivado no cargo em agosto, depois que a titular foi devida e definitivamente defenestrada.

Continua...