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terça-feira, 14 de maio de 2024

A CONSCIÊNCIA E A VIDA APÓS A MORTE — PARTE III

DIPLOMACIA É A ARTE DE MANDAR ALGUÉM À MERDA FAZENDO COM QUE ESSE ALGUÉM FIQUE ANSIOSO PELA VIAGEM.

 

Como sói acontecer diante de calamidades, o país se uniu para acudir as vítimas do drama gaúcho. Mas alguns políticos preferem surfar na onda da polarização. A desavença que opõe o prefeito bolsonarista de Farroupilha e o ministro petista da Secom é a penúltima evidência de que nenhuma borrasca é capaz de pôr termo à dicotomia nesta banânia. Num momento delicado, em que a população está abrigada precariamente, sem água e passando frio, era de esperar uma união de forças para aliviar esse sofrimento, mas bolsonaristas têm usado as redes sociais para disseminar fake news, espetacularizar a tragédia e jogar lenha na fogueira da cizânia. A postagem de Eduardo Bolsonaro é um exemplo de oportunismo e hipocrisia. A exemplo do pai negacionista e golpista, o filho pacóvio insulta a ciência ao troçar do extremo climático — que é um fenômeno mundial e vem sendo negligenciado em âmbito geral. Quantos ainda terão de morrer para a questão tratada da maneira adequada? Na hora do desastre, a consciência brota, mas, nas eleições, ela se recolhe a sua insignificância. Triste Brasil.


Evidências são indícios que apontam para a ocorrência de fatos; fatos são os acontecimentos propriamente ditos; e provas são os meios usados para demonstrar que os fatos efetivamente ocorreram. Na percepção distorcida e limitada dos que padecem de cegueira mentalEQMs (detalhes no capítulo anterior) não são evidências de coisa alguma; os céticos as veem como um fato, mas não como provas da existência da "alma imortal" ou de que a consciência sobrevive à morte clínica; para os que têm a mente aberta e cultivam o saudável hábito de raciocinar, esse fenômeno dá o que pensar. 

 

As experiências de quase morte que acontecem quando não há atividade no córtex frontal (morte clínica) são documentadas a partir de relatos feitos pelos próprios pacientes após a reanimação. Se não há registros de EQMs em casos de morte encefálica, é porque a irreversibilidade dessa condição exclui a possibilidade de reanimação. Em outras palavras, se o paciente já atravessou a via de mão única que leva ao "lado de lá", não há como colher seu depoimento — a não ser que ele compareça a uma sessão de mesa branca ou reencarne e preserve lembranças da vida anterior.

 

O "roteiro" da maioria das EQMs documentadas é quase sempre o mesmo: a pessoa "trazida de volta" relata que viu próprio corpo morto, foi "sugada" para um túnel de luz, reviu a própria vida como num filme e reencontrou parentes já falecidos, mas, por algum motivo, sentiu que precisava retornar ao corpo. Algumas descrevem um profundo sentimento de paz e um estando ampliado de consciência, mas os relatos mais impressionante são os que incluem detalhes do que aconteceu enquanto elas estavam clinicamente mortas, e esses detalhes são confirmados por médicos, parentes e outras pessoas que assistiram aos procedimentos de reanimação. 

 

Isso nos leva à seguinte pergunta: se a consciência é produzida pelo cérebro, como ela pode continuar existindo depois que o cérebro parou de funcionar? Não há uma resposta fácil, a não ser para quem se escora em dogmas meramente impositivos — se Deus quis assim, então é assim e ponto final. À luz da ciência, o buraco é mais embaixo (a propósito, sugiro ler o livro "Experiências de Quase Morte – Ciência, mente e cérebro", do neurocirurgião Edson Amâncio).

 
EQMs e vida após a morte são coisas diferentes, mas correlacionadas. Tudo se resume — se é que podemos "resumir" conceitos tão complexos — à incerteza sobre o que acontece "depois" (ou se existe um "depois"). Os religiosos acreditam na imortalidade da alma, mas o que é a religião senão a evolução do misticismo que levou nossos ancestrais a endeusarem o Sol, a Lua, os raios, os trovões, os eclipses e tantos outros fenômenos que hoje sabemos serem naturais? 
 
Os católicos não acreditam em reencarnação. Para eles, a alma é única e eterna, e a morte carimba o passaporte que autoriza os "bons" a ingressarem no Reino dos Céus — depois de uma escala no Purgatório — e despacha os "maus" para as profundezas da Inferno, onde serão cozidos em óleo fervente ou assados em espetos por toda a eternidade (qui caberia abrir um parêntese para discutir o conceito de eternidade, mas vou deixar para fazê-lo em outra ocasião. Quanto ao inferno, recomento a leitura desta anedota sobre o "inferno brasileiro").
 
Os espíritas acreditam que a alma sobrevive à morte física e passa para um novo plano astral, que Deus nos criou simples e ignorantes, sem discernimento do mal e do bem, e que quem pratica o mal reencarna várias vezes, até evoluir espiritualmente, e quem pratica a caridade, o bem e o amor só reencarna se quiser. Segundo o Espiritismo, os espíritos desencarnados possuem a capacidade de se ligar a outros espíritos, encarnados ou não, de acordo com a sintonia e a afinidade dessas almas 
— o que explicaria a existência de lugares com diferentes níveis vibratórios, uns mais sofredores e infelizes, outros mais plenos e felizes.
 
O Judaísmo dá margem a múltiplas interpretações. Os judeus acreditam na sobrevivência da alma, mas não têm um roteiro definido sobre o que acontece depois da morte 
— ou mesmo se existe vida após a morte. Segundo a Cabala, a alma é imortal, e as provações que cada um enfrenta em vida levam a seu aperfeiçoamento. Segundo eles, existem 3 tipos de almas, e o desligamento do corpo não é imediato (podendo levar de 30 dias a 1 ano). Enquanto a alma está ligada ao corpo, não há possibilidade de reencarnação, daí os familiares do finado cobrirem os espelhos da casa e rezarem o Kadish.
 
A exemplo dos católicos, os evangélicos acreditam no juízo final e na existência de Céu, Inferno e Purgatório. A diferença é que, segundo eles, as almas ficarão adormecidas até Jesus voltar à Terra e decidir quem irá com ele para o Reino dos Céus e quem passará a eternidade num lago de enxofre e fogo. Já os protestantes descartam a reencarnação, mas não a existência de Céu e Inferno. Segundo eles, o julgamento ocorre não pelas ações da pessoa em vida, mas pela fé que ela teve na palavra de Deus e pelo amor ao Senhor. 
 
Os budistas acreditam que o espírito reencarna, podendo voltar como gente ou como animal, dependendo de sua conduta durante a vida (esse ciclo se repete até que o espírito se liberte de seu carma). No Japão, além de flores no caixão, uma tigela com arroz cozido, água, um vaso com flores, velas e incenso são colocados sobre uma mesa, para que nada falte ao morto. Para os islâmicos, a vida é uma preparação para outra existência. A morte dá início ao primeiro dia na eternidade, onde as almas dos muçulmanos ficarão aguardando o juízo final. Quem seguiu as leis de Alá e as tradições dos profetas é enviado para o Paraíso; quem foi desviado por Cheitã é despachado para o Inferno.
 
Segundo o Candomblé, as pessoas são formadas por elementos constitutivos perecíveis (corpo) e imperecíveis (ori), e a vida continua por meio da força vital (o ori retorna em outro corpo, mas dentro da mesma família. Não há punição eterna nem ideia preconcebida de Céu e Inferno; a morte é considerada uma passagem para outra dimensão, onde os espíritos se reunirão aos guias e orixás. Já na visão dos umbandistas, o universo é formado por sete linhas, cada qual regida por um orixá, e a morte é considerada uma etapa evolutiva (clique aqui para mais detalhes sobre as religiões afro-brasileiras).
 
No Hinduísmo, a pessoa é a alma, não o corpo físico. Após a morte, a alma se separa do corpo e parte rumo a outra dimensão. Almas evoluídas voltam em altas castas, como a dos brâmanes, composta por filósofos e sacerdotes. Guerreiros e políticos pertencem à casta dos xátrias, e os menos evoluídos reencarnam como comerciantes (casta dos vaishas) ou trabalhadores (casta dos sudras). Quem consegue se desapegar do mundo material e atingir um patamar elevado não está obrigado a reencarnar.
 
Para os batistas, quem aceitar Jesus terá uma vida de paz e felicidade no Paraíso, e quem não aceitar, uma vida de dor, angústias e sofrimento no inferno. Já os adventistas acreditam que os mortos dormirão até o momento da ressurreição, quando então os que cumpriram seu papel na Terra ganharão a vida eterna e os demais desaparecerão. Para os sectários da Cientologia — como John Travolta e Tom Cruise — o thetan (espírito) sai em busca do novo corpo no qual retornará à vida. 
 
Observação: Fundada em 1952 pelo escritor de ficção científica L. Ron Hubbard, a Cientologia se define como "o estudo e manejo do espírito em relação a si mesmo, universos, e outras formas de vida". Segundo seus sectários, 75 milhões de anos atrás existiam dezenas de planetas governados como uma confederação por Xenu, um líder maligno que enviou bilhões de espíritos para a Terra. Assim, os terráqueos são reencarnações desses extraterrestres — que são imortais e continuam reencarnando ad aeternum.

Continua... 

terça-feira, 16 de abril de 2024

MUSK X XANDÃO

 

Dono da terceira maior fortuna do planeta e de empresas como Tesla, SpaceX, Neuralink, The Boring Company, SolarCity e X (que todo mundo continua chamando de Twitter), Elon Musk ganhou as luzes da ribalta tupiniquim ao ameaçar descumprir decisões do STF e ser incluído no inquérito das fake news. 

Ao se tornar campeã de audiência (em nível local e internacional) a minissérie Musk x Xandão levou água ao moinho do bolsonarismo (mesmo com seu "mito" multiencrencado e na bica de ver o Sol nascer quadrado, essa caterva não para de moer).
 
No início de março, uma comitiva de deputados brasileiros capitaneada pelo rebento do capetão apelidado de "Dudu Bananinha" pelo ex-vice-presidente Hamilton Mourão passou uma semana em Washington (EUA) tentando convencer parlamentares republicanos de que o Brasil não é mais uma democracia. O bloco "Free Brazão" incluiu deputados que frequentam inquéritos relatados por Moraes. Além de Zero Três, integram essa seleta confraria Alexandre RamagemBia KicisCarla ZambelliCarlos JordyAndré Fernandes e Zé Trovão, que dançam ao som da música executada nos bastidores pelo chefe do clã das rachadinhas, mansões milionárias e joias sauditas. 

O multibilionário sul-africano — cuja trajetória você pode conferir neste artigo — imaginou que a parceria com o bolsonarismo o ajudaria a inibir incursões de Moraes pelo Planeta X. Conseguiu pulverizar o projeto de lei que regularia as plataformas digitais, mas tirou das supremas gavetas ações mediante as quais as togas farão por pressão das circunstâncias o que os parlamentares abdicaram de realizar por opção. Em outras palavras, a esgotosfera ainda não se livrou do Código Penal. 
 
Musk chamou Moraes de "ditador do Brasil", acusou-o de aplicar multas pesadas ao "X", de ameaçar prender funcionários da plataforma e de "forçá-lo a bloquear determinadas contas populares no Brasil". Também questionou as indicações do "advogado pessoal de Lula" e de um "membro do partido comunista" para o STF e acusou "Xandão" de manter Lula na coleira — como se os Poderes não fossem independentes no Brasil e a prerrogativa de depor ministros do Supremo, exclusiva do Senado.
 
Como era esperado, as bravatas contribuíram para anabolizar o discurso de ódio, desinformação e manifestações antidemocráticas. Também como era esperado, as redes sociais se dividiram, mas duas manifestações contrárias ao empresário chamaram a atenção. Numa, o presidente do Senado disse que "no fundo, tudo se resume a uma busca por lucro"; na outra, que viralizou nas redes, um ilustre desconhecido acusou Musk de não criar nada, apenas comprar empresas como a Tesla ou contratar gênios, como fez na SpaceX.
 
Musk não é um empresário típico, e tampouco está preocupado em perder dinheiro. Sua fortuna é estimada em quase R$ 1 trilhão, o que torna inócua a aplicação das multas decretadas por Moraes. E a ameaça de prender funcionários do X no Brasil é chover no molhado, já que o próprio dono do circo disse estar pensando em levar seu trupe para outras paragens. 
 
Observação: Durante a pandemia, contrariando todas as normas estaduais e locais de paralisação e isolamento social, Musk anunciou que reabriria a fábrica da Tesla em Alameda, no norte da Califórnia. Confrontado, ameaçou levar sua produção para outro lugar — a fábrica continua lá, mas ele abriu outra no Texas). Beligerante como poucos e ególatra como muito, o empresário já comprou com Bill Gates (que apostou na baixa das ações da Tesla e lhe pediu para investir em seus projetos sociais) e desafiou Mark Zuckerberg para um pugilato que seria transmitida pela rede X (apesar do entusiasmo do desafiante, a luta nunca aconteceu).
 
A manutenção de Chiquinho Brazão atrás das grades deu ao megaempresário a aparência de um extraterrestre que desceu no meio de uma colônia de bolsonaristas e, depois de informar ao Planeta X que firmou uma aliança com libertários no Brasil, foi flagrado abraçando o crime organizado. Rápido no gatilho, Moraes lustrou diante das câmeras da TV Justiça a estrela de xerife do saloon virtual. "Talvez alguns alienígenas não saibam", disse ele, "mas passarão a aprender e tiveram conhecimento da coragem e seriedade do Poder Judiciário brasileiro." Ao promover o "alienígena" a investigado no inquérito sobre milícias digitais, o magistrado lançou-o no mesmo caldeirão criminal em que ferve o alto-comando da malsucedida articulação que tentou abrir a cela de um dos acusados de encomendar o assassinato de Marielle. 
 
Em meio a esse salseiro, Xavier Milei se encontrou com Musk no Texas e lhe ofereceu ajuda na cruzada contra "Xandão". A vassalagem chegou dias depois de a chefona da chancelaria da Argentina postar no X que suas embaixadas estão abertas à concessão de "refúgio a todos que são perseguidos por compartilhar valores de liberdade". Mas a oferta de "colaboração" do anarcocapitalista situa-se no mesmo limbo onde repousam as reformas econômicas que ele prometeu durante sua campanha à Casa Rosada. Na prática, o lero-lero é tão inócuo quanto a bazófia de Musk de descumprir decisões emanadas do Supremo.
 
A união Musk-Milei deve ser compreendida no contexto da recessão democrática que leva ao surgimento, expansão e diversificação de espécies de dinossauros políticos que empurram o mundo para um novo Período Jurássico — desgraça adiada na Brasil pela derrota de Bolsonaro em 2022. Por motivos que só o fanatismo atávico e a cegueira mental explicam, o bolsonaristas e seu arcaísmo ainda pululam no Brasil, e os devotos do dejeto da escória da humanidade enxergam no chilique do dono de uma das plataformas mais tóxicas das redes sociais a oportunidade para prolongar o processo de subversão que corrói a democracia por dentro, substituindo as fardas e os tanques pela industrialização do ódio e da desinformação.
 
A volta da política à Era Mesozóica já é realidade em países como Hungria, Rússia, Polônia, Geórgia, Filipinas, Nicarágua e Venezuela. A ultradireita que triunfou na Argentina também aterroriza a Itália e a Alemanha, avança na França e não prevaleceu em Portugal por um triz. Aos pouquinhos, os dinossauros vão formatando sua Internacional Jurássica. Ainda que o direito de se expressar livremente não inclua o direito de ser levado a sério, convém não descuidar dos ruídos.
 
Na avaliação do presidente do Congresso, o avanço da PL que visa regulamentar as redes sociais é inevitável, mas o imperador da Câmara já avisou que a chance de o projeto ir a plenário em meio a essa crise é "nenhuma". Assiste razão a Arthur Lira: num cenário extremamente polarizado como o atual, as chances de dar merda são consideráveis. 
 
Resumo da ópera: Ainda que a "dolosa instrumentalização criminosa do X", que levou Alexandre de Moraes a incluir Elon Musk no inquérito das Fake News, não tenha ficado bem clara, é inegável que o quixote desabusado afrontou a soberania nacional. Como bem observou o presidente do Judiciário, "decisões judiciais podem ser objeto de recursos, mas jamais de descumprimento deliberado", e qualquer empresa que opere no Brasil está sujeita à Constituição Federal, às leis e às decisões das autoridades brasileiras. 

Reza a sabedoria popular que, quanto maior o alvo, mais fácil é acertá-lo. Musk arrasta um ego tão gigantesco quanto o de Lula. Se"Xandão" levar adiante essa pendenga, poderá atingi-lo por aí, mas deixará o Supremo numa sinuca de bico: caso a Corte dobre a aposta e derrube o acesso ao X no Brasil, o custo será astronômico, mas eficácia, pífia — basta recorrer a uma VPN para burlar a proibição.
 
Aguardemos, pois, os novos e emocionantes capítulos que certamente virão.

terça-feira, 26 de março de 2024

DANDO NOME AOS BOIS (PARTE 4)

 

Na festa do 44º aniversário do PT os desafios da legenda foram insinuados na lista de presentes e ausentes. Abaixo de Lula e respectiva cuidadora destacaram-se José Dirceu e Delúbio Soares — uma dupla com um enorme passado pela frente — e o vice Geraldo Alckmin, que até anteontem dizia que eleger Lula era promover a volta do criminoso à cena do crime. A ausência mais notada foi a de Fernando Haddad, cuja aprovação pelo mercado financeiro cresceu de 43% para 50% desde o final do ano passado, enquanto a rejeição de seu chefe disparou de 52% para 64% no mesmo período.

 

O PT foi fundado em 1980 com o propósito de fazer política sem roubar nem deixar roubar, mas fez da corrupção a pedra fundamental do projeto de poder de seu xamã. Embora os petistas se valessem desde sempre da experiência secular dos comunistas em aparelhamento do Estado para disseminar a corrupção nas prefeituras administradas pelo bando, o fedor de podre só contaminou a atmosfera quando Roberto Jefferson, o barítono do Mensalãodenunciou o que acontecia nos porões palacianos. 

 

Durante as gestões de Lula e Dilma os cofres públicos foram saqueados pela mais vil agremiação de ladrões que já rastejou pelo Planalto. Além de enriquecer os envolvidos e ensejar a distribuição de bilhões em propina na forma de caixa 1, caixa 2, dinheiro vivo, depósitos em contas secretas e vantagens dissimuladas, o dinheiro pilhado bancou as campanhas presidenciais de 2006, 2010 e 2014. 


Resumo da ópera: Mensalão e Petrolão transformaram o "partido do futuro" em "partido do 'faturo'", e adubaram a semente do bolsonarismo. 


Na campanha de 2022, Lula anunciou que seu terceiro mandato seria o último. Eleito, voltou a acalentar o sonho da reeleição. Em tese, Haddad seria a melhor escolha para renovar o arco democrático que se formou em 2022, mas Lula sempre sufoca lideranças emergentes que tenham potencial para lhe fazer sombra, e assim se torna uma "palmeira hegemônica e solitária no gramado da esquerda".


Lula já culpou a OTAN e o presidente Zelensky pela invasão da Ucrânia, garantiu Putin não seria preso durante sua visita ao Brasil e fez malabarismos para não culpá-lo pela morte do opositor Alexei Navalny. Ele próprio enviou uma carta ao Kremlin parabenizando o déspota pela "vitória" (com receio de que um apoio expresso do Itamaraty aumentasse ainda mais a reprovação de seu governo). Criticou o trabalho do presidente do BC na calibragem da política monetária e ameaçou intervir na Petrobras e na Vale (derrubando em bilhões o valor de mercado das duas maiores empresas do país). 


ObservaçãoA ingerência do governo em companhias abertas vem contribuindo para azedar ainda mais o humor de investidores em relação ao Brasil. Analistas do banco de investimentos Goldman Sachs recomendam a troca de ações de estatais brasileiras por ações de empresas privadas depois que o intervencionismo do governo superou o desequilíbrio nas contas públicas no ranking dos principais riscos no Brasil. 


Na Segurança, a percepção sobre a força do crime organizado não mudou com Dino e tudo indica que não mudará sob Lewandowski. Se a economia foi bem, o desemprego diminuiu, o PIB cresceu e inflação ficou sob controle, não foi graças a Lula, mas apesar dele. E a sensação de melhora ainda não se disseminou entre as pessoas que vão à feira e ao supermercado. Incumbido de desenvolver estratégias para mudar, o marqueteiro baiano Sidônio Palmeira (que atuou na campanha de 2022) precisará da ajuda dos Orixás para de moldar com fumaça a jabuticaba do presidente, já que não existem árvores dando frutos na paisagem.]


Parecendo acreditar que sua impopularidade se deve a "problemas de comunicação", Lula manda seus 38 ministros baterem o bumbo, como se houvesse grandes coisas a alardear. Na reunião do último dia 18, a ministra da Saúde deixou a sala em prantos. Os responsáveis pela Comunicação Social e pela Justiça e Segurança Pública também ficaram sob a mira do chefe. Alguém deveria lembrar o presidente de que as pessoas não se transformam no que não são, e que cabe a ele combinar os atributos dos escolhidos às funções a serem exercidas.


A percepção sobre a força do crime organizado não mudou com Flávio Dino e, pelo que tudo indica, vai mudar sob Lewandowski, que vem vinha tentando de tudo para demonstrar sua serventia. O tudo não quis nada com ele até domingo, quando uma operação da PF resultou na prisão de três supostos mandantes do assassinato de Marielle Franco. Quanto à perseguição aos foragidos da penitenciária de Mossoró — que, segundo o ministro, "está se desenvolvendo com êxito" —, basta dizer que já se passaram 40 dias e foram gastos mais de R$ 6 milhões sem que o paradeiro dos fugitivos se tornasse menos incerto e mais sabido.

 

Na terceira gestão da tal "palmeira hegemônica" — que terá 81 anos quando e se iniciar seu tão sonhado quarto mandato — o PT sobrevive ao presente reciclando o passado. As manifestações que partidos, sindicatos e movimentos sociais identificados com o governo petista realizaram no último sábado foram dispersas e pulverizadas em duas dezenas de cidades. O contraponto com o ato em que Bolsonaro lotou sete quadras Avenida Paulista em fevereiro foi instantâneo. Lula farejou o cheiro de queimado e declinou do convite de ornamentar o fiasco com sua presença, mas não se livrou do contraponto político: no plebiscito do asfalto, a esquerda lulista levou água para o monjolo da estratégia bolsonarista.


Atormentado com o cerco criminal das investigações sobre o golpe, as joias e os cartões de vacina, Bolsonaro oscila entre dois papéis. Nos inquéritos da PF, faz a pose do fraquinho perseguido; em seu rolê pelo país, exibe o figurino do cabo eleitoral com musculatura para mobilizar a rua contra sua prisão — que, tudo indica, é mera questão de tempo. Quando a sentença chegar, ela será cumprida, mas o bolsonarismo não irá para a cadeia com seu "mito". A hipótese de convulsão social é um delírio do ex-presidente golpista, mas sua militância, que continua nas patas do coice, dificilmente voltará para a garrafa, até porque a pior cegueira é a mental e o pior cego é o que não quer enxergar. 


Onde há política, há cisão. Dividir para conquistar é uma tática usada desde sempre por facínoras, ditadores e populistas. Nos EUA — paradigma dos países democráticos —, Donald Trump voltou à cena atacando os imigrantes e culpando Biden pelas "onze pragas do Egito". Por estas bandas, Lula continua praticando ad nauseam o execrável "nós x eles" que inaugurou em 2002. Bolsonaro foi gestado e parido pela mesma polarização que ressuscitou o pontifex maximus da Petelândia, e ambos se retroalimentam do ódio que disseminam. 


O "coisa" e seus baba-ovos não passam um sem atacar o lulopetismo, seja com meias verdades, seja com mentiras grotescas. Lula, o PT e seus satélites respondem à altura — isso quando não disparam o primeiro petardo. Para quem está a uma distância segura desse patético furdunço, chega a ser divertido ver as torcidas organizadas duelando por seus bandidos de estimação, comparando Mensalão e Petrolão com rachadinha, golpe de Estado, falsificação de documentos, contrabando de joias e por aí afora. Lobotomizados pela polarização e cegos pelo fanatismo, essa escumalha só enxerga crimes quando quando quem os comete está "do outro lado da balcão".


Ao atiçar a polarização, Lula se distancia do "eleitor mediano" que o ajudou a subir a rampa pela terceira vez impedir a morte matada da democracia. Com suas manifestações chochas, a petralhada fornece doses extras da seiva vital que mantém vivos o bolsonarismo e o antipetismo, num círculo vicioso que só o diabo sabe como, quando e se vai terminar. 


Quem tem dois neurônios minimamente funcionais sabe que "a turma de cima" não caiu do céu — políticos demagogos, populistas e corruptos não brotam por geração espontânea, mas pelo voto dos apedeutas — e que há distinção entre "eles" e "nós", apenas uma separação eminentemente oportunista. 


Triste Brasil.

quinta-feira, 21 de março de 2024

APOCALIPSE DA INTERNET?

TANTAS VEZES VAI O JARRO À FONTE QUE UM DIA LÁ DEIXA A ASA.

O avanço das investigações pode levar algumas pessoas que foram à Paulista apoiar Bolsonaro a considerar a hipótese de terem sido logradas. 
É evidente que isso não se aplica aos fanáticos nem os adeptos da ruptura institucional, apenas àqueles que, por alguma razão, acreditavam que o dejeto da escória da humanidade é vítima de uma narrativa oposicionista. 
Os ex-comandantes do Exército e da Aeronáutica foram escolhidos pelo golpista por serem afinados com ele, e tudo indica que seus depoimentos guardaram relação apenas com os compromissos de elogio à verdade e fidelidade aos preceitos inerentes às prerrogativas das fardas estreladas. 
Claro que para enxergar essa obviedade requer olhos (a pior cegueira é a mental) e inferir que o "mito" tentou usar as FFAA em seu projeto golpista  tanto antes quanto depois das eleições de 2022  exige ao menos dois neurônios minimamente funcionais. 
Sabe-se agora que o encastelamento do aspirante a tiranete no Alvorada não decorreu de doença ou depressão pós-derrota, mas da urdidura de uma tramoia para anular o resultado das urnas e continuar no poder. Exibindo sua extraordinária capacidade dedutiva, Sherlock Lula revelou no dia 18 que o golpe só não aconteceu porque "o coisa" é um "covardão". 
Interessa dizer que nossa banânia passou por mais essa provação, que a verdade vem sendo posta e, dando tudo certo, seus detratores serão punidos.

Profetas, videntes e assemelhados trombeteiam vaticínios apocalípticos desde o início dos tempos. No alvorecer da era cristã, respaldados no "Apocalipse de João", vates delirantes agendaram o "juízo final" para algum momento próximo virada do primeiro milênio, depois para 1033, para 1666, e assim por diante. 

Em 1806, uma galinha que passou a pôr ovos com a inscrição "Christ is coming" espalhou pânico nas Ilhas Britânicas — até que se descobriu que uma falsa vidente escrevia a mensagem na casca dos ovos e os enfiava de volta pela cloaca da adivinha emplumada. A Igreja Católica Apostólica (criada em 1836) anunciou que Jesus voltaria após a morte de seus 12 fundadores (o último bateu as botas em 1901) — anúncio que as Testemunhas de Jeová fazem desde 1870. À luz do Teorema do Macaco Infinito, talvez um dia alguém acerte. 
 
Rumores sobre um suposto alerta feito pela Nasa dando conta de um suposto "apocalipse da Internet viralizaram nas redes sociais no final do ano passado, mas nem a agência fez tal anúncio, nem o astrofísico Peter Becker, responsável pelo vaticínio, publicou um estudo que sustentasse suas alegações. É fato que os polos magnéticos do Sol se invertem a cada 11 anos, que essa inversão aumenta a frequência de erupções solares e que uma tempestade solar pode comprometer o funcionamento da Internet, mas fato é que isso jamais aconteceu — e nada indica que desta vez será diferente.
 
Essa teoria conspiratória surgiu a partir de um estudo feito em 2021 sobre os efeitos de uma ejeção de massa coronal extremamente intensa nas redes elétricas e de comunicações tradicionais e na internet global. No entanto, somente três casos foram registrados até hoje: 1) em 1859, o Evento Carrington provocou pane em quase todos os sistemas elétricos existentes na época e gerou auroras polares que puderam ser vistas de todo o planeta, inclusive em regiões tropicais; 2) em 1929, um evento ainda maior causou um incêndio de média escala na Estação Grand Central e derrubou a rede de telégrafos de NYC; 3) em 1989, uma ejeção moderada de massa coronal derrubou a rede elétrica Hydro-Québec, no norte do Canadá, deixando parte daquele país sem energia por cerca de nove horas. 
 
Para os arautos da desgraça, três décadas sem um evento majoritário é sinal de que ele está na bica de ocorrer. Há quem diga que a pandemia de Covid foi a prova provada de nosso despreparo para lidar com cataclismos dessa magnitude. Exageros à parte, numa sociedade extremamente dependente da tecnologia, uma tempestade solar capaz de deixar o planta sem energia elétrica, Internet, satélites, celulares, com noites iluminadas por auroras e aparelhos dando choque mesmo desligados da tomada... não vejo exemplo melhor de antessala do inferno. 

ObservaçãoUma explosão de solar categoria M7 ionizou o topo da atmosfera terrestre no último dia 10, deixando sem sinal de rádio por cerca de 30 minutos partes da África, do Brasil, da Venezuela e da Colômbia. O ciclo solar atual começou em dezembro de 2019. O anterior foi considerado tranquilo, com baixa quantidade de vento solar expelido da estrela no centro do nosso sistema, mas, de outubro de 2021 para cá, o Sol tem gerado manchas e erupções com maior frequência O pico é esperado para este ano. Com sua aproximação, a atividade deve ficar cada vez mais intensa, aumentando a quantidade de erupções e jatos de plasma solar.

terça-feira, 19 de março de 2024

MAIS SEGURANÇA NO GOOGLE CHROME

A MELHOR MANEIRA DE VOCÊ CUMPRIR SUA PALAVRA É NÃO EMPENHÁ-LA.

A pior cegueira é a mental e o pior cego, aquele que não quer enxergar. Isso explica milhões de toupeiras "enxergarem" Bolsonaro como uma pobre vítima de "perseguição política", mesmo à luz  de 27 depoimentos sobre a "suposta" tentativa do "suposto" golpe "supostamente" urdida pelo ex-presidente e seus "supostos" cúmplices. 
O general Freire Gomes e o brigadeiro Batista Júnior colocaram o "mito" no centro da trama golpista. O ex-comandante do Exército revelou que ele discutiu os termos de uma minuta de decreto golpista com os comandantes das FFAA, e o ex-comandante da Aeronáutica, que Freire Gomes ameaçou Bolsonaro de prisão caso ele insistisse no golpe. 
Exsudando a inocência de um recém-nascido em sua festa de batizado, o imbrochável incomível e inelegível afirmou: "Nunca assinei nada relacionado a isso. Até porque ninguém dá 'golpe' com papel". 
Houve um tempo em que eu tinha vergonha de ser brasileiro. Hoje, eu tenho nojo. 

O Google anunciou recentemente que o Chrome contará com um recurso que detecta tentativas de phishing em tempo real. A ferramenta integra a Navegação Segura do app e faz a checagem a partir de uma lista de sites suspeitos, que fica armazenada no dispositivo do usuário e é atualizada em intervalos de 30 a 60 minutos.

Observação: A má notícia é que alguns ataques de phishing usam páginas que ficam no ar por menos de 10 minutos, e nem todo dispositivo tem capacidade de ficar baixando atualizações da lista a cada hora. Seja como for, é sempre melhor pingar do que secar.

 

Com o novo recurso, o Google espera bloquear 25% mais tentativas de phishing. E para assegurar a privacidade dos usuários, utiliza criptografia e técnicas avançadas de proteção de dados (segundo a empresa, nem ela tem acesso às informações sobre os sites visitados).

 

O Chrome oferece dois níveis de proteção, e o novo método de verificação fará parte da Proteção Padrão — a Proteção Reforçada já conta com uma verificação em tempo real, baseada em checagens de lista usando inteligência artificial. Para conferir se seu navegador já conta com a nova ferramenta, acesse as Configurações, vá em Privacidade e segurança (na barra lateral) e toque (ou clique, conforme o caso) em Segurança. Se a Proteção Padrão estiver selecionada, nenhuma ação adicional será necessária.

quinta-feira, 7 de março de 2024

NÃO HÁ NADA COMO O TEMPO PARA PASSAR E O VENTO PARA MUDAR

 

"Nada será como ontem amanhã" — título de uma série da Rede Globo baseada no romance "O Mundo Inimigo", de Luiz Ruffato, e verso da canção homônima composta por Milton Nascimento e Ronaldo Bastos — é um brocardo que não se aplica ao "país do futuro" que nunca chega e que tem um imenso passado sombrio pela frente. Para o Brasil começar a mudar (para melhor), o povo precisa aprender a votar (é mais fácil galinhas criarem dentes) e a fervura no caldeirão da polarização, baixar (é mais fácil porcos criarem asas). 

Em pleno século 21, a despeito da dissolução da União Soviética e da queda do Muro de Berlim, ainda se fala em "esquerda e direita" como se falava durante a Guerra Fria. Essa divisão político-ideológica surgiu na França, durante a Assembleia Nacional Constituinte de 1789, quando os revolucionários que apoiavam mudanças radicais e igualdade social sentavam-se à esquerda no parlamento, e os conservadores que defendiam a monarquia e a ordem tradicional, à direita. 

O ministro Luís Roberto Barroso, presidente de turno do STF, disse recentemente que "as instituições funcionam na mais plena normalidade, com convivência harmoniosa e pacífica de todos". Sua excelência pode dizer o que quiser e acreditar no que lhe aprouver, naturalmente. Em o ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA, o escritor português José Saramago (que foi laureado com o Nobel de Literatura em 1998) anotou que "a cegueira é uma questão privada entre as pessoas e os olhos com que nasceram", e que "a pior cegueira é a mental, que faz com que não reconheçamos o que temos pela frente". 
 
Nossa democracia lembra aquelas fotografias de antigos reis africanos, que copiavam os trajes e os trejeitos dos governantes de nações mais evoluídas, mas não aprendiam suas virtudes. Na foto, o que se tem no Brasil parece coisa de primeiro mundo, mas, na vida real, não passa de uma cópia barata e malsucedida do artigo legítimo. Temos uma Constituição, uma Câmara de Deputados, um Senado e até um presidente do Congresso. 

Temos uma Corte Suprema, onde os juízes são chamados de ministros, usam togas pretas como os reis africanos usavam cartolas, e às vezes escrevem até uma frase inteira em latim). Temos eleições a cada dois anos, e mais de 30 partidos políticos — que custam bilhões de reais aos contribuintes. Temos até uma Justiça Eleitoral  um exemplo único no mundo, na avaliação do eminente ministro Dias Toffoli). Temos políticos que, salvo raríssimas exceções, se elegem para roubar e roubam para se reeleger. Temos um Parlamento onde as leis são criadas para favorecer criminosos, e parlamentares que são a favor de tudo e contra qualquer outra coisa, desde que sua impunidade não seja comprometida. Enfim, não falta nada, exceto a democracia.
 
Temos muitas leis, mas pouca vergonha na cara. Dias atrás, a "direita bolsonarista" e a "esquerda lulopetista" se uniram para aprovar a admissibilidade da PEC da blindagem. Com o apoio do Centrão de Arthur Lira, a admissibilidade da proposta indecente foi aprovada com 304 votos a favor, 154 contra e duas abstenções. Se conseguir o apoio de pelo menos 3/5 dos 513 deputados em dois turnos de votação na Câmara e 49 votos favoráveis dos 81 senadores (também em 2 turnos de votação), a aberração será promulgada pelas Mesas das duas Casas Legislativas 
— lembrando que propostas de emenda à Constituição são elaboradas pelo Legislativo sem qualquer ingerência do Executivo. 
 
Atual presidente do Senado e do Congresso, Rodrigo Pacheco disse que a PEC é inconstitucional e que a mandará para o "porão do esquecimento" do Congresso se ela for aprovada na Câmara. Em resposta, o imperador da Câmara e condestável do Centrão afirmou que ainda não existe uma proposta de medidas para blindar parlamentares de operações da PF; o que se tem é apenas uma "discussão sobre procedimentos". A boa notícia é que caberá ao STF decidir se esse desatino parlamentar contraria ou não os ditames da Constituição; a má é que os ministros são rápidos como o raio quando se trata de conceder habeas corpus a bandidos de estimação, aumentar os próprios salários e autorizar despesas com mordomias, mas lerdos como lesmas ao julgar corruptos de alto coturno. 

Observação: O julgamento da AP 1025, que resultou na condenação de Collor a 8 anos e 10 meses de reclusão, demorou quase 8 anos, e mais um ano se passou até que os ministros começassem a apreciar os embargos de declaração impetrados pela defesa. Na véspera do feriadão de Carnaval, assim que Alexandre de Moraes abriu placar pelo indeferimento do recurso, Dias Toffoli vestiu a fantasia de paladino e emperrou o julgamento com um pedido de vista.
 
Com a vinda da família real portuguesa para o Rio de Janeiro (1808), o príncipe regente criou a Casa da Suplicação do Brasil, que é considerada a versão 1.0 do STF. A função de corte constitucional foi adicionada nas pegadas da Declaração da Independência, com a criação do Supremo Tribunal de Justiça (que foi rebatizado mais adiante como Supremo Tribunal Federal). Passados mais de 200 anos, os paramentos, rapapés, salamaleques, linguagem empolada, votos repletos de citações em latim e outras papagaiadas supremas ainda exalam o bolor dos tempos do Império. 
 
Nas sessões plenárias, os ministros trazem os votos prontos, mas fingem prestar atenção às sustentações orais de procuradores, advogados, amici curiae e quem mais subir à tribuna para fazer solilóquios. Depois que o relator lê seu voto, os demais se p
ronunciam na ordem inversa ao tempo de casa (ou seja, do novato ao decano). Em havendo empate, cabe ao presidente do Tribunal dar o voto de Minerva. Pelo regimento interno, suas excelências podem usar o tempo que desejarem para expor e fundamentar as decisões. Em vez de dizer simplesmente se acompanha ou não o voto relator e, em caso divergência, expor em poucas palavras os motivos da discordância, a maioria se delicia com cada minuto de protagonismo oferecido pelas câmaras da TV Justiça. Ricardo Lewandowski levou 10 horas e 27 minutos para ler seu voto na ADPF 5; Eros Grau, 8 horas e 45 minutos na ADPF 153; Marco Aurélio, 7 horas e 30 minutos no HC 84.078; e Celso de Mello, 7 horas cravadas no RE 574.706. 
 
Voltando à questão da inconstitucionalidade da PEC da blindagem, o que esperar desse arquipélago de 11 ilhas (na definição do ex-ministro Sepúlveda Pertence) que muda a própria jurisprudência ao sabor dos ventos político-partidários? Ou não foi isso que aconteceu em 2019, com o sepultamento da prisão em segunda instância, ou em 2021, com o "descondenamento" de Lula e sua subsequente reinserção no no tabuleiro da sucessão presidencial? Ou, também em 20121, quando 
Gilmar MendesNunes Marques, Alexandre de Moraes, Dias Toffoli, Rosa Weber, Cármen Lúcia e Ricardo Lewandowski tiram da suprema cartola a suspeição do ex-juiz Sergio Moro? 
 
Continua...